A filha das sombras
Sim, eu sou um Nefilim.
Era madrugada e Nara acordara repentinamente no meio da noite. Deu um longo suspiro e sentiu uma dor aguda penetrando a sua pele. Saiu da cama e foi até o banheiro. Parada, ela viu em sua pele logo abaixo da costela direita, marcas de garras. Ao ver aquilo ela não consegue acreditar. Desceu as escadas e foi em busca de sua mãe. Chamou-a incansavelmente em vão. Ela não estava em casa. Mas aonde ela poderia estar numa hora dessas? Assim ela pensou. Nada estava fora do lugar e não havia nada de suspeito. Prendeu os cabelos e sentou-se na janela da sala e ficou vendo a lua, a rua quieta e sem nenhuma movimentação. Estava esperando sua mãe, talvez. O mais interessante é que ela não se lembrava da noite passada. Dos demônios, do Leviatã, do anjo, nada. Isso até um certo momento era muito estranho. Quieta e sozinha, primeiro ela sente um arrepio. Um arrepio que lhe cobre todo o corpo. Olha para trás e não vê nada. Num segundo sua cabeça começa a doer. Uma dor insuportável. Junto com a dor, a menina parece ver algumas coisas. Lembranças maquiavélicas vão se formando em sua mente aos poucos. Ela põe as mãos na cabeça e não suporta mais. Em seu pensamento ela consegue ver alguém alí junto com ela. Como se estivesse a observando. Depois vê uma enorme porta branca e uma maçaneta dourada. Nara cai no chão. Caída e quase sem forças ela vê passos queimando o chão de madeira. Passos estes que vem em sua direção. Nara se levanta do chão e sobe as escadas. Algo a segue e vai queimando tudo pelo caminho. Algo invisível, misterioso e assustador. Ela ao subir as escadas olha para trás e vê o fogo tomando de conta da sala. Sobe e entra no quarto. Tranca a porta e começa a arrumar sua mochila com algumas coisas. O que ela pretendia, nem ela mesmo sabia. Ouviu pancadas tremendas na porta. Alguém pretendia entrar. Nara consegue abrir a janela e joga a mochila para fora primeiro. Depois ela consegue sair e pular na rua escura. Parada e imóvel, ela vê sua casa queimando bem diante dos olhos dela. Não podia fazer nada, e isso doía ainda mais. Agora ela não conseguia entender o porque daquilo ter acontecido. Ignorou seu pensamento.
_ Pelo menos você saiu ilesa.
Ela se virou e viu uma sombra negra formando-se por trás dos arbustos.
_ Quem disse isso?
Ela pegou uma pedra do chão afim de se defender.
_ Calma menina boba, vou me apresentar, mas primeiro solte isso. Não vou te machucar.
Ela largou a pedra no chão úmido.
_ Meu nome Hiroshi e também sou um nefilim como você.
_ Um o quê?
_ Acho que colocaram algum feitiço em você. Não consegue se lembrar de nada?
_ Não sei do que você está falando.
_ Bom, então vou ter que fazer você lembrar de tudo.
Ao terminar suas palavras os dois são surpreendidos por uma luz do poste que falhara de repente. A luz do primeiro poste da rua se apaga. Assim como o segundo, o terceiro, o quarto.
_ Que bom, eles estão vindo.
_ Eles quem?
_ Os anjos.
Um raio de luz quase cegou os dois. De lá saiu uma mulher linda. Alta, cabelos longos e cacheados, sua armadura estava presa á sua mão esquerda, sua pele estava limpa, mas Nara perebera um pouco de sangue saindo de sua boca.
_ Vi que você conseguira escapar do ataque.
_ Quem é você?
_ Sou Anael e governo alguns anjos lá em cima, inclusive Simiel que por ventura deves conhecê-lo.
_ Desculpe, ela não se lembra mais de nada.
Hiroshi disse um pouco desanimado.
Nara não parava de olhar para o anjo. Era tão bonita. Mas não entendia. Uma mulher com um nome de homem?
_ Nós anjos não temos sexo.
_ Como v-v...
_ Pude te escutar daqui.
_ Vamos, venha até mim. Farei você se lembrar de quem você é.
Nara se aproximou temerosa. Anael tocou em sua cabeça e soprou em seus olhos. Nara deu um passo para trás e coçou os olhos.
_ Meu deus! Como isso está acontecendo?
Suas memórias vieram a tona em sua cabeça como uma enxurrada dedúvidas, perguntas, porquês, lembranças, nomes.
_ Ae, agora sim.
Anael ignorou a pequena comemoração de Hiroshi.
_ Você está bem?
_ Sim, agora sei quem sou. Vamos.
_ Para onde? Respondeu o anjo.
_ Preciso saber o que aconteceu com minha mãe e logo mais cedo tive uma visão e algo me diz que nós precisamos ir até o alabama, pois alguém está em perigo.
_ É isso aí. Vamos combater o mal.
Nara revirou os olhos e mais uma vez ignorou ele e quase chorou ao saber que ele iria acompanha-la durante sua jornada.
_ Ele precisa mesmo vir?
Nara perguntou ao anjo que estava parado e observava a casa da menina. As cinzas e o resto da casa ainda estava queimando.
_ Sim, ele também é um Nefilim igual a você e tem experiência e poderá te ajudar.
Experiência de quê? Pensou ela. Ele parecia um idiota e tinha um corte de cabelo ridículo. Anael caminhou até a entrada da casa e no meio das cinzas encontrou um pó negro e colocou-o no nariz.
_ Enxofre. Rápido, nós temos que sair logo daqui.
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