A estrada até aqui

Crescer é (não) se contentar


Mais uma vez, tentei retornar à rotina normal e cansativa de universitário prestes a se formar. Manter a cabeça ocupada era bom, todavia estar ali lembrava Sasuke. Por isso achei que estava enlouquecendo quando fui assistir a uma palestra de Tsunade Senju, PhD em Medicina e mestre em Psicologia. Nem sei dizer exatamente como fui parar naquele evento muito menos o que ela dizia. No entanto, não consegui deixar o local até o fim. Havia alguma coisa nela... Como se eu a conhecesse.

Naquela noite, tive um sonho. Ou melhor, uma memória retornou.

Passei o dia seguinte pesquisando sobre ela, cometendo possíveis crimes ao investigar seu passado acadêmico e seu abandono da carreira de docente antes de sumir do mapa e realizar aparições relapsas em universidades e outros eventos da área da saúde, como a que presenciei. Em alguns dias, já possuía seu endereço em mãos.

Fui diversas vezes à sua casa, mas nunca era atendido.

Ainda assim, observar à distância me deu oportunidade de estudar mais seu estilo de vida. Quase sempre havia um garoto andando de bicicleta em frente à sua casa durante a tarde, antes de chamarem-no para dentro.

Numa de minhas tocaias, a porta do meu carro foi aberta com força que quase a arrancou.

A mulher sentou-se ao meu lado com cara de poucos amigos.

— Não sei quem é você nem porque me persegue, mas chamarei a polícia se não sumir daqui para sempre.

— Sou Itachi Uchiha e preciso da sua ajuda.

— Para quê? Seu TCC? Dispenso.

— Ouvi boatos sobre a senhora. Que se afastou da docência por suspeitas de estar envolvida com o oculto, bruxaria.

Ela deu uma risada amarga.

— É mesmo? Então devia se afastar. Por que está aqui?

— Porque acredito nisso.

— Boatos, fofocas... Você me parecia mais inteligente na palestra.

— Então lembra-se de mim, mas acho que não apenas da palestra. – disparei, cerrando os punhos. – A senhora estava lá, não é?!

— O que está dizendo, garoto?

— A senhora me atingiu na cabeça naquele dia. Na estrada, perto do acidente.

— Eu não sei o que está falando. Apenas suma daqui e não volte mais.

Senhora Tsunade deixou o carro e seguiu para casa, agarrando o garoto pelo pulso e olhando-me como ultimato.

Mesmo assim, retornei na semana seguinte, porém não estava mais lá. De acordo com os vizinhos, mudaram-se repentinamente. Seguiu seu dom e desapareceu do mapa mais uma vez.

Algumas coisas exigem tempo. Resiliência é uma virtude (ou arte) que tive que desenvolver, pois, apesar de encontrá-la novamente ser um objetivo, tinha outras coisas para lidar também.

A formatura chegou. Tive que decidir se retornava para casa ou continuava na capital, onde possivelmente teria mais chances de esbarrar com a senhora Tsunade. Optei por ficar ao lado de minha mãe, mesmo que ela não tivesse pedido por isso.

Alguns meses depois, como coincidência do destino, a cidade recebeu uma nova professora para nossa pequena escola. Ninguém menos que a bela moça da lanchonete, Izumi.

Foi um tanto estranho no começo. Havia expectativas e um tanto de mágoa quanto a promessa quebrada, porém não demorou para que a história trágica dos Uchihas chegasse a seus ouvidos (ora, cidade pequena) e qualquer desapontamento sumiu. Quando nos encontramos outra vez, também não havia pena em seus olhos.

Pouco a pouco fomos nos aproximando. De repente, estávamos almoçando junto a minha mãe, que também pareceu sorrir menos triste conforme criava laços com a nora. Não demos nome inicialmente, todavia não tinha outra maneira de denominar nosso relacionamento. Apenas aconteceu. Foi como bálsamo para nossas feridas. Algo saudável, belo e recíproco, que defini ser amor.

Assim, completou-se mais um ano. O segundo desde a morte de Sasuke.

Decidi refazer o trajeto. Minha mãe não sabia, óbvio, não permitiria, mas eu ainda tinha perguntas e precisava de respostas. Dessa vez, parti do que antes seria o ponto de chegada, um caminho definitivamente mais curto e menos nostálgico. Escondi-me. A chuva veio e passou. Pouco depois, o carro perdeu o controle e o acidente se repetiu.

Assistir àquela cena não foi menos doloroso. Os questionamentos ainda rodavam por minha mente. Como poderia ser possível? De novo e de novo? Não bastava a morte acontecer uma vez?

No entanto, pude reparar detalhes. Um deles foi a figura misteriosa se aproximando. Dessa vez, contudo, eu peguei-a de surpresa. Pelo menos, tentei.

Assim que me aproximei, como num sexto sentido, a mulher virou para me encarar. Parecia surpresa em ver-me ali ou talvez por não ter notado minha presença antes.

Ela era alta e forte. Tomou a chave de roda de mim num momento de distração e acertou-me nas costelas.

— Eu avisei que deveria ficar longe. – ela revelou seu rosto.

Aproveitei o breve momento de guarda baixa e usei o taser para imobilizá-la. Creio que as roupas molhadas, de alguma forma, aumentaram a potência, pois desmaiou.