Antes de chegar a tenda de Ren passei pelo refeitório e vi amoras na mesa. Sou apaixonada por amoras e resolvi sequestrar o pote todo. Quem sabe Ren também não se tornaria fã de amoras?

Entrei em sua tenda e vi que Anthony já havia lhe alimentado então entrei e me sentei no banco. Ele parecia estar dormindo e pensei se deveria acorda-lo. Não precisei decidir, pois ele ergueu a cabeça e se deitou de forma que pudesse me ver.

– Ren trouxe amoras pra você! - disse pondo algumas em minha mão e enfiando na jaula.

Ele ficou me olhando sem reação e começou a aproximar a boca da minha mão. Só então fui perceber a besteira que estava fazendo, ia perder a mão! Ele abriu a boca e eu estremeci, então pegou as amoras delicadamente da minha mão. Senti-me aliviada e dei uma risada, pois sua língua fazia cócegas. Fui lavar a mão e voltei a me sentar.

– Ren ainda não sei que história conto pra você.

Olhei para as amoras no pote e lembrei-me de uma história que minha mãe havia contado pra mim.

– Sei que prometi não contar uma história triste hoje, mas é uma de minhas histórias preferidas! Os gregos que contavam essa história. O nome é Píramo e Tisbe.

Ren pareceu interessado, pois logo se sentou e passou a me olhar com mais atenção.

– "Píramo era o mais belo rapaz, e Tisbe a mais bela donzela em toda a Babilónia. Os seus pais ocupavam casas adjacentes e a proximidade juntara os jovens até qua a relação amadureceu em amor. De boa vontade teriam casado se os pai não o tivessem proibido. Uma coisa, porém, não podia proibir - que o amor brilhasse com igual ardor no peito de ambos. Conversavam por sinais e olhares, e o fogo coberto ardia mais intensamente. Na parede que dividia as duas casas havia uma fenda causada por alguma falha na estrutura. Ninguém tinha reparado nela antes, mas os amantes descobrim-na. Permitia uma passagem para a voz, e varias mensagens começaram a passar de um lado para o outro através da abertura. Com um de cada lado da parede, as respirações dos dois amantes misturavam-se. " Parede cruel", diziam, "porque mantém dois amantes separados? Mas não seremos ingratos. Devemos-te; confessamos, o privilegio de transmitir palavras de amor a ouvidos desejosos de as escutar". Tais palavras eram ditas de cada lado do muro e, quando chegava a noite e se tinham de despedir, era com beijos sobre a parede que o faziam, cada um de seu lado, não se podendo aproximar mais."

– Já ouvi tanto essa história que ate a decorei. - disse lembrando de minha mãe. Ren me olhava com a cabeça baixa. - Continuando.

– " Em uma manhã, encontraram-se no lugar de costume, concordaram que, na noite seguinte, quando tudo estivesse quieto, abandonariam as suas casas para fugirem. Iriam se encontrar no túmulo de Ninus, devendo o primeiro a chegar esperar o outro aos pés de uma árvore de frutos brancos. Tudo estava combinado e esperaram impacientes o anoitecer. Cautelosamente, Tisbe saiu pé ante pé sem que a família percebesse e, com a cabeça coberta por um véu negro, dirigiu-se até o local do encontro e sentou-se debaixo da árvore. sentada sozinha, na luz do luar, percebeu, vindo da floresta, uma leoa que, carregava uma parte se sua ultima caçada. Tisbe desesperou-se e fugiu e procurou refugio em uma caverna. Ao fugir deixou o véu cair e a leoa, achando ser um animal, o estraçalhou deixando-o aos pés da árvore todo ensanguentado. Píramo, tendo se atrasado, aproximava-se do local de encontro. Ao ver as pegadas de leão a cor fugiu de seu rosto. Pouco depois encontrou o véu. "Oh, meu amor", disse, "fui a causa da tua morte! Tu, mais digna de viver do que eu, tombaste como primeira vítima. Seguirei-te. Eu sou o culpado causador ao tentar a um lugar de tal perigo sem que estivesse aqui para aguardar. Pegando no véu, levou-o ate à árvore e aí o cobriu de beijos e lagrimas. " O meu sangue também manchará a tua textura", disse pegando sua espada e enfiando-a no coração. Por esta altura, Tisbe, ainda temendo mas não desejando decepcionar seu amado, saiu, procurando Píramo. Ao chegar no lugar de encontro recuou, e um tremor percorreu o seu corpo. Correu ate seu amado, abraçando o corpo sem vida, derramava lagrimas nas feridas e beijava sua boca. "O que fez isso contigo meu amor? Responda-me. É a tua Tisbe que fala!" Ao nome de Tisbe, Píramo abriu os olhos para fecha-los em seguida. Ela viu o véu em sua mão e a espada. "Tu mesmo te matou por minha causa. Eu posso ser corajosa também uma vez na vida e o meu amor é tão forte como o teu. Vou segui-lo na morte, e a morte, a única que nos separa, não me impedirá de juntar a ti." Assim dizendo, enterrou a espada no peito e morreu deitada em seu amor. O sangue tingiu as frutas brancas todas de vermelho e, ensopando a terra atingiu as raízes, de tal modo que a cor vermelha subiu através do tronco ate os frutos. Os pais concederam o desejo dos filhos e os deuses também. Os dois corpos foram enterrados juntos. A árvore desde então produz frutos púrpuras, que ao entrar em contato com a roupa deixa uma mancha que não sai assim como o sangue de Píramo e Tísbe."

– Essa história é muito linda! É a história das amoras, Ren! - disse olhando para ele. - Acho que você iria gostar de Romeu e Julieta também, mas deixo para uma próxima.

Fiz um carinho em sua pata. Ren ronronou e deitou de barriga pra cima para acariciar sua barriga e assim eu fiz. Lavei a mão dei-lhe boa noite e fui para meu quarto. Tomei um bom banho, troquei de roupa e deitei na cama. Fiquei pensando por que Ren não me atacará ainda, ele já tivera varias oportunidades. Adormeci com esse pensamento.