O que realmente estava acontecendo? Nem eu sabia.

Abri os meus olhos e me vi deitada numa cama? Cheirava produtos de limpeza. Encarava um teto branco e quando olhei para o lado vi grossas cortinas e um aparelho que fazia “bip-bip”. Onde eu estava?! Tentei me levantar, mas minha cabeça doía.

O que diabos tinha acontecido comigo? Eu estava no meu quarto beijando a Regina, e... Então aqui.

Minha mãe passou pela cortina sendo seguida pelos meus pais e Regina e o médico logo atrás.

— O que estou fazendo aqui?_ perguntei com a voz rouca enquanto todos me encaravam.

— Emma, você tropeçou no colchão depois que saiu do banheiro e caiu batendo a cabeça com tudo!

—Depois que eu tomei banho? _ eu estava totalmente decepcionada com a verdade! Eu queria ter tido o diálogo com ela! Eu queria ter beijado ela de verdade! Era tudo um sonho. Foi tudo um sonho. Eu não havia beijado Regina Mills.

— Sim. _ Regina respondeu preocupada.

—Eu fiquei desacordada muito tempo? Onde foi que eu bati?

— Umas duas só. _ Ela respondeu chegando mais perto da cama _você bateu na beirada da mesa, sua cabeçuda!

—Nossa. _ olhei para os meus pais _ Desculpa?

— Emma, não precisa se preocupar. _ meu pai disse.

—Você só vai ter uma dor de cabeça forte, não deu nada na TC, podem ficar tranquilos. _ o medico disse. _ Eu vou libera-la, mas tem que ficar de observação, tudo bem?

—Tudo, eu fico de olho nela. _ Regina disse antes mesmo de meus pais que olharam para o médico e concordaram com a cabeça.

— Só não deixe sua namorada cair de novo. _ eu engasguei com minha própria saliva e fiquei vermelha, não queria nem saber qual foi a reação de meus pais.

—Nós não... Ela não... Eh... _ ela tropeçava nas palavras e na vergonha.

—São amigas. _ minha mãe disse com um sorriso cumplice no rosto deixando meu pai confuso.

— Qualquer coisa como tontura, vômito, tragam ela, mas eu acho muito difícil já que o exame não deu nada.

Meus pais saíram com o médico me deixando com Regina. Estávamos ambas sem graça com o comentário do médico. Ela estar sem graça era um sinal positivo ou negativo?

Só depois disso que percebi que eu estava vestida uma camisola de hospital.

—Onde estão minhas roupas? _ me levantei e quando fui descer da cama senti uma forte dor e me desequilibrei._ Nossa...

—Emma!_ exclamou e me segurou.

—Só foi uma dor e... _ Olhei para ela que estava me segurando ainda com os braços por debaixo dos meus . Estávamos muito próximas e eu lembrei do meu sonho, delírio? Sua boca estava a no máximo 10 centímetros. Seu corpo estava colado no meu, ela estava com o moletom que tinha colocado quando tomou banho. Eu segurava ainda a cama, ela deve ter percebido todo o meu desconcerto.

—Você quer que eu chame seus pais?

—Não só foi uma dor forte e o médico disse que é normal, só... _ apontei para a porta do pequeno banheiro que me esperava.

—Suas roupas, sim. _ entrei no banheiro e pude ver a sombra de Regina encostada na porta. Eu havia levado dois pontos pequenos na testa, ainda dava para ver um pouco de sangue seco em minha sobrancelha. Lavei o meu rosto tentando recobrar meus sentidos. Eu ficaria com um baita galo amanha, fora a dor de cabeça. Como eu cai? Era tudo um branco, só lembrava, ou tinha imaginado mesmo, que continuei conversando com ela e...

Tirei a camisola, horrorosa do hospital a deixando no banheiro mesmo e vesti meus moletons, a blusa estava um pouco suja de sangue entretanto serviria só para chegar em casa.

Respirei fundo e sai do banheiro fazendo com que Regina desse um pulo ao ser pega no flagra. Ela estava encostada na porta tentando ouvir o que eu estava fazendo.

— Vamos enfermeira, meus pais já devem estar nos esperando. _ disse rindo.

—Eu só estava preocupada com minha amiga.

— O medico disse namorada. _ eu disse rindo e ela ficou envergonhada. _Vamos.

Ela foi ao meu lado até os meus pais que estavam conversando na entrada do hospital. Só depois que eu vi a camisa do meu pai manchada de sangue e a de Regina também.

Entramos no carro em silencio.

— Me desculpem pelo susto, sério. Agora que percebi o que aconteceu.

—Isso acontece filha. _ meu pai disse atento ao transito. Regina como resposta alcançou a minha mão no banco traseiro do carro e a apertou mantendo-a ali por mais alguns instantes antes de puxa-la de volta.

Chegamos em casa tomei o remédio que o médico havia prescrito e nos fomos para o meu quarto.

Eu estava de pernas cruzadas já cobertas pela minha coberta e já tinha trocado de blusa.

—Emma, qualquer coisa nos chame, qualquer coisa mesmo. _ meu pai disse

—Tá bom, eu também tenho a enfermeira particular_ puxei Regina para mais perto _ esqueceram?

— Se ela espirrar, eu chamo vocês. _ Regina disse sorrindo. Meus pais saíram do quarto e fecharam a porta. _ Vou trocar esse moletom... Você me empresta? Só trouxe esse.

—Claro, na terceira porta. _ ela se encaminhou até o guarda-roupa e pegou um moletom cinza. Tirou o seu moletom num movimento rápido me dando a visão de suas costas brancas e seu sutiã preto. Engoli a pouca saliva que havia se acumulado com aquela visão. Ela colocou logo o meu moletom. Ela se virou para mim e me pegou no flagra.

—Emma, tudo bem?_ ela me pegou no flagra.

—Ah... Eu... Tudo!_ respondi quando o comando do meu cérebro enfim chegou na língua._ tudo joia.

—Tô começando a achar que o médico analisou errado o seu exame, tá mais retardada que o normal._ Disse sorrindo e se abaixando para deitar no colchão.

—Vamos ver um filme? Pega ali o meu computador. _ ela se levantou e pegou meu notebook ligando-o. Eu cheguei para o lado abrindo espaço para ela se sentar. Ela olhou para o espaço e depois para mim. _ Vem logo, Rainha Má_ bati no colchão.

—Rainha Má?

—Foi um apelido que demos para você logo depois do... Você sabe, pensávamos que você era mal. Desculpa por te julgar errado sem ao menos te conhecer.

—Nossa... _ ela pareceu abalado com a minha sinceridade. Ficou ali parada com o notebook em mãos.

—Rê, me desculpa, agora eu sei como você é e me arrependo disso._ olhei para ela com minha cara de cachorro pidão. _ Vem, senta aqui do meu lado logo, rainha. _ sorri e fui correspondida.

— O que vamos assistir?_ ela me questionou sentando ao meu lado. Joguei a coberta em suas pernas, cobrindo-a.

—Uma série: Grey’s Anatomy.

— Como? _ me perguntou confusa.

— O que?_ fiz cara de espanto e levei minha mão ao meu peito para incrementar a cena._ Não acredito, você não conhece Grey’s? De que país você é? De que mundo você é?

— Eu só passo meu tempo livre estudando. Não vejo series.

—Ah não, não posso deixar. _ puxei o notebook para o meu colo já colocando o primeiro episódio que eu já tinha baixado. _ Agora sim, deleite-se ao assistir a maior serie de drama médico do mundo ao lado da maravilhosa pessoa que sou eu. Vamos sofrer e amar junto com a Meredith. Olha, tem o George, o Alex você começar odiando, mas ele é um mozinho, tem a Miranda, o Derek, nossa nessa primeira temporada, no final é muito... Greys é Greys. Só não se apega a ninguém, ok?

—Tá bom, quem sou eu para opinar.

Enquanto assistíamos o episódio eu me pegava segurando a respiração sem motivo algum e tentava solta-la de um jeito que Regina não percebesse a minha anormalidade de ser eu. Sentia o cheiro do meu sabonete e seu perfume a cada vez que ela se mexia. Nossas pernas se encostavam, separadas apenas pelo tecidos das calças, a mesma coisa acontecia com os nossos braços. Ela prestava atenção na história do episódio como se sua vida dependesse daquilo. Nem percebia quando eu a olhava de relance apenas para me certificar de que ela estava realmente assistindo.

— E aí? Gosstou? _ a questionei quando o episodio acabou.

—E... interessante. Gostei muito da série. A Meredith e o bonitão ficam juntos não?

—Sim, você quer ver o próximo?

Mesmo se ela não quisesse não podia negar o meu pedido ao ver a minha animação.

—Você vai mudar esse seu “interessante” logo. _ dei play e peguei o meu celular. _ O Killian iria surtar com o seu “interessante” ele respira Greys e foi ele quem me apresentou. _ digitei rapidamente uma mensagem para Killian falando sobre a opinião dela sobre a série já sabendo que surtaria.

Recebi a mensagem logo em seguida e ela me olhou com o canto dos olhos.

— Você não queria assistir a série, senhorita Swan?

—Sim e ainda quero, senhorita Mills. Só estava atualizando o meu amigo antes que ele mandasse o FBI atrás de mim. E estava falando sobre a sua opinião.

—Não acredito que disse para ele. _ me olhou incrédula e eu pausei a série.

—Vou ler o que ele respondeu. Eu mandei: assistindo Greys com Regina e ela disse “interessante”, ponto de exclamação. _ olhei para ela. _ Nada de mais, né? Nem falei para ele do meu tropeção e a visita ao hospital, senão já estaria aqui. E ele respondeu: Greys, corações, e... _ li a mensagem inteira antes de falar para ela não podia ler o que estava ali, que era: olha, já não shippo mais swan queen, você tem que faze-la mudar de ideia. _ E... você tem que faze-la mudar de ideia. Só isso.

Mandei outra mensagem perguntando o que seria Swan Queen.

—Ora, vocês duas juntas, né love? Você Swan, ela, a Queen. Bateu com a cabeça?

—Vai continuar trocando mensagens ai?

—Não, já parei. _ bloqueei a tela do celular com um sorriso no rosto.

Eu sei que lá para o terceiro episódio já não aguentava mais manter os olhos abertos, o remédio estava me dando sono desde o segundo e já havia passado da meia noite. Só sei que recostei minha cabeça em seu ombro e adormeci sentindo o seu cheiro de maçã.

Eu acordei, ainda zonza e desligada do mundo ao meu redor estiquei meu braço e alcancei meu celular no chão. 8:00a.m. Pisquei de novo e senti um peso em minha bacia e um braço me envolvendo na cintura. Abri um sorriso quando me dei conta de quem era. Senti ela passando seu nariz em minhas costas. Ouvi passos no corredor e meu coração acelerou. Depois, imaginando que meu pai já estaria com a mão na maçaneta, minha mão o chamou.

Obrigada mãe. Não sei qual seria a reação ao me ver dormindo abraçada daquele jeito a outra garota.

Eu estava tão confortável naquela posição, me sentia segura, ela passava sua perna por cima do meu corpo como se estivesse me protegendo de algo. Eu sei que adormeci com a cabeça em seu ombro, mas não imaginava acordar e ver e sentir seu abraço protetor. Fechei os olhos e voltei a dormir.

Quando acordei novamente era quase 10 horas. Ela já não estava me abraçando mais, me virei na cama e ela já não estava mais lá. Me sentei já entrando em estado de pânico, onde ela estava? Me levantei e andei em direção a porta. Quando toquei o metal frio da maçaneta a porta do banheiro se abriu, revelando Regina de jeans, uma blusa de frio e tênis. Respirei aliviada e corri e a abracei.

—Emma, aconteceu alguma coisa?_ me perguntou preocupada enquanto me abraçava.

—Acordei e você não estava lá..._ me calei antes de falar qualquer coisa que não devesse.

— Já tem um tempinho que acordei, mas ainda não desci para tomar café, estava te esperando.

— Tá, vou só trocar de roupa rapidinho. _ peguei uma calça de moletom e outra jaqueta de moletom e uma blusa qualquer, era minha roupa favorita de ficar dentro de casa no inverno.

Enfiei-me dentro do banheiro e em segundos me troquei.

—Vamos?

Desci e encontrei meus pais assistindo tv abraçados debaixo de um edredom. O casal mais fofo que eu já tinha conhecido, não digo isso porque são meus pais, afirmo só porque dava para ver como se amavam pelos olhos que brilhavam de modo diferente quando estavam pertos um do outro, quando se olhavam.

Quando eu era pequena perguntava minha mãe como eles haviam se conhecido e ela costumava responder que se conheceram na faculdade, não foi amor a primeira vista, mas era amor verdadeiro. Que se completavam. Pessoas que os visse por fora poderia falar que era história de contos de fada, entretanto quem os conhecia sabia que era a mais pura verdade. E ela também costumava falar que eu era especial por ser filha de amor verdadeiro, quando criança eu me achava a tal por isso, não nego.

— Bom dia garotas. _ Papai disse quando nos viu, logo depois foi imitado por mamãe._ A mesa ainda está posta, quer que eu faça panquecas?

—Não, não precisa, pode ficar ai na bolha de amor. _ encaminhei para a cozinha arrastando Regina pela mão.

—eles são fofos. _ ela comentou quando sentou à mesa.

—São... é o casal mais fofo que existe._ a olhei. _ cereal? _ Regina continuava aérea. _ cereal?_ Sacudi a caixa na sua frente.

— Oh... sim. _ peguei uma tigela e coloquei na sua frente depois me virei para pegar o leite. _ dormiu bem, Emma?

—Claro! Maravilhosamente bem. _depois fiquei sem graça.

— Dor de cabeça? _ perguntou preocupada.

— Tá doendo só um tiquinho, doutora Mills. _ ela se levantou e veio em minha direção _ deixe-me ver. _ me sentei e ela segurou meu rosto em suas mãos.

— E aí? Viro um zumbi?

— Não, só tá com um galo e está roxo. _ ela ficou segurando o meu rosto mesmo depois de para de olhar para o corte, ela estava olhando nos meus olhos e eu nos dela. Regina acariciava minha bochecha com o polegar.

—Bom dia, meninas. _ minha mãe entrou na cozinha fazendo com que Regina tirasse suas mãos do meu rosto, abaixasse a cabeça e voltasse para seu lugar, mamãe apoiou os cotovelos na mesa. _ como passou a noite, Emma? Dor de cabeça? Tontura, vômitos?

—Tudo bem, mamãe. Só estou com uma dorzinha de leve no lugar.

— Não esquece o remédio._ tomou um copo d’agua e saiu.

— Cereal de letrinhas? Quantos anos você tem? Cinco? _ Regina me zoou quando despejou o cereal no leite e viu o seu formato.

—Ha-há-há, não. Meu pai que gosta desses diferenciados, tá? E são gostosos. _ puxei a caixa da mão dela. _ Não fale isso deles, eles não gostam._ tampeis o local onde seria os ouvidos da caixa. _ Não a escute, ela é a rainha má. _ cochichei perto da caixa.

—Ei! O que eu disse sobre me chamar de rainha má? _ ela me questionou com a cara fechada, mas entre risos.

—Tudo bem, majestade. _ disse rindo. _ vamos comer logo.

Tomamos o nosso café, cereal e cookies, enquanto lavava a louça ela ia guardando as coisas onde eu indicava. Arrumamos tudo para mamãe fazer o almoço. Hoje pelo jeito ia demorar mais.

— Você não ficou apertada na cama, não?_ Regina me perguntou enquanto arrumávamos a cama.

—Não, por que?

—Geralmente sou uma pessoa bastante espaçosa _ disse levantando o colchão no qual ela deveria ter dormido.

—Não, sem problema._ o que eu deveria ter falado: adorei o modo como me abraçou durante a noite, muito fofo e acho que estou apaixonada por você. _ Nem reparei. _ minha mente gritava um: mentirosa!

— O que vamos estudar agora? _ ela me questionou depois de sentar na minha cama.

— A primeira prova é a de química, não? _ ela confirmou com a cabeça_ então vamos de química.

Eu peguei meu caderno e o livro e ela apenas o caderno sentamos em minha cama uma de frente para a outra.

—Você sabia que a Zelena é minha prima? _ ela disse do nada enquanto resolvíamos um problema.

—O que? Você e a Zel?_ a única coisa que passou pela minha cabeça foi quando falei para ela sobre o que sentia em relação a Regina, sua prima. _ Ela nunca me disse. E não parece.

—Sim, somos muito amigas. A mãe dela é irmã de minha mãe. Conversamos sobre tudo.

Engoli em seco. Okay, “conversamos sobre tudo”, fiz uma anotação mental de matar a Zelena.

— Que legal! Ela é minha amiga, mas nunca me disse isso.

— É só pra ninguém pensar que ela pode me preferir a outros alunos. _ Ela explicou.

—Mas vocês conversam de tudo mesmo? Da vida dos outros?

— Emma! Por que a pergunta?_ me questionou rindo. _ Não somos fofoqueiras.

—Tá, tá. Como ficou sua equação da sete? _ ela me mostrou. _ Igual a minha. _ larguei os livros de lado. Não precisava estudar aquilo, dominava bem aquela matéria._ Qual sua matéria preferida?

—Só não gosto de humanas, mas vou bem._ terminou a frase balançando os ombros.

—Ui, humilde._ nos rimos.

—E você?

— Gosto de todas, mas prefiro química e biologia._ resolvi completar como ela. _ e vou bem em todas também._ ela voltou a atenção para o caderno em seu colo. _ Ah, qual é! Você sabe que não precisa estudar tanto, estudamos de noite. Me dá esse caderno aqui.

—Não Emma! _ puxei o caderno e ela puxou de volta mais forte, eu estava de joelhos e caí por cima dela rindo.