A aposta

Não pode ser


Suspirei, inspirei e segui com esse processo por um bom tempo. Estava observando o pergaminho em minhas mãos, completamente confusa. Quem foi o imbecil que me mandou aquilo?

Aquela letra não negava... Malfoy.

Descabelei-me, completamente estupefata. Não podia ser aquele asqueroso... Ou podia? E por que raios eu o conheço tão bem? Lógico que o idiota em questão pensou que não reconheceria sua letra. O que ele queria? Fazer-me de idiota com esse joguinho de admirador?

Idiota. Idiota. Idiota.

Eu estava possessa, aquilo só podia ser uma brincadeirinha de mau gosto. E se fosse... Ah, não iria me importar em ir direto a Askaban. Por outro lado... E se aquilo fosse verdade? Meu coração idiota deu um salto no peito e eu não entendi o motivo. Talvez – pensei. Fui até a janela, e me empoleirei na árvore a minha frente – ela fora plantada no mesmo dia em que nasci.

Mas lógico que eu, Rose Weasley, uma doce menina, não tinha o mínimo de sorte. Enrosquei-me em um galho frágil e estabaquei-me no chão. Ri horrores comigo mesma, sem conseguir me mexer.

Fiquei ali deitada por um bom tempo, com uma dor aguda na cabeça, observando o céu cinzento de outono como se fosse algo muito interessante. Já havia se passado algum tempo e estava realmente surpresa de não terem mandado um grupo de aurors ainda. Eu definitivamente odiava Scorpius Malfoy, ele tinha aquela mania irritante de me tirar do sério só pelo fato de existir. Bufei. Aquele projetinho de gente, aquele... Aquele idiota. Energúmeno. Ridículo. Lindo.

OPA! Pare a terra que quero descer. Tinha pensado aquilo mesmo? Oh meu Merlin, só tinha uma explicação para aquilo tudo. Loucura. Definitivamente eu deveria me internar.

– Rose? - era Lily, que se aproximava de mim. – O QUE HOUVE COM VOCE?

A olhei sem entender, lógico que eu estava horrível... Uma coruja quase arrancou a juba que chamo de cabelo e cai de uma árvore, o que era considerável. Mas eu não podia estar tão feia assim, podia?

– Seu rosto está sangrando - a olhei abismada, como é que eu não senti isso? Merda. Xinguei o Malfoy e todas suas gerações anteriores. Aquilo era culpa dele. Fiquei tão perdida em pensamentos que sequer me dei conta da minha cara.

Passei as mãos em minha testa, e realmente havia um corte ali. Ardeu. Senti algo quente em minhas mãos.

É ai que eu digo Merlin só pode me odiar. Por quê? Por que tinha que fazer a besteira de olhar em minhas mãos?

– Rose??

***

Scorpius andava de um lado para o outro no quarto de sua casa, observava o teto, a janela, a cama. Bufou.

– Eu te mato, Zabine – murmurou. Aquilo tudo era culpa de seu amigo. Ele não devia ter mandado aquela carta imprestável. Uma parte de seu subconsciente dizia a ele que a culpa era dele próprio por não segurar seu amiguinho dentro da calça. E por ser muito orgulhoso. Mas o mesmo ainda culpava Zabine.

Ele estava com uma expectativa que o surpreendia. Aquilo não era normal. Aquela maldita daquela ruiva.

Odiava o jeito como sorria, como andava graciosamente, odiava aqueles olhos extremamente azuis e lindos, aquela boca em forma de coração... Sacudiu a cabeça. Que porra ele estava pensando?

Aquela garota era insuportável. E agora ele estava ali fazendo a maior merda de sua vida por que não conseguiu deixar de lado as provocações de Zabine. Aquele traidor.

Ele queria saber a reação dela ao ver a carta, e isso o intrigava. Não por ser curioso, isso ele era e todo mundo sabia. Mas sim por querer tanto que ela sorrisse. Bufou novamente.

– Merda.

– O que foi cara? Assim você vai furar o chão - era Albus Potter, um de seus melhores amigos. Sim, um Potter. Scorpius não entendia o por que de toda aquela intriga com as duas famílias - que, aliás, melhoraram muito ao longo dos anos, exceto Ronald, é claro -, ele sabia da história toda, mas não aceitava certos fatos. Albus era um panaca, mas fora um dos únicos a não julgá-lo pelo passado de seu pai. E pasme, o filho de Harry Potter era um de seus colegas de quarto, da sonserina. Riu, o destino era uma grande merda mesmo.

– Acho que seria bom te internar - Potter falou seriamente – loucura é coisa séria.

O encarou sério por alguns minutos e logo após começou a rir. Scorpius não aguentou e riu também. Albus era um louco, assim como ele.

– Por que tava andando pra lá e pra cá? - Potter indagou. Scorpius ficou sem graça. Não iria contar da aposta a ele. Além de primo da Rose, Albus era o melhor amigo da mesma. Potter o mataria a facadas e depois lançar-lhe-ia um feitiço só pra confirmar. – se está a fim de cavar um buraco com os pés, posso te ajudar.

Scorpius balançou a cabeça, Potter ainda seria internado algum dia desses por sua família.

– Eu, er... - tentou pensar em uma desculpa convincente, mas nada vinha a sua mente, por fim falou uma asneira qualquer – estava pensando na vida.

Mas que merda de desculpa era aquela? Nem ele acreditou em si mesmo.

– Hum.

Sabia que Potter não havia acreditado em uma palavrinha sequer. Mas por hora decidiu não falar nada, o que deixou Malfoy aliviado.

– Onde você estava cara? - perguntou, mudando de assunto enquanto ainda tinha sorte. Albus sempre o perturbava em sua casa em todos os feriados que ambos eram liberados de Hogwarts. Era quase um morador secundário. Sua mãe amava-o e até seu pai simpatizava com o mesmo. Lógico que para Draco Malfoy simpatizar com alguém foi preciso anos de convivência.

Porém, Albus não havia aparecido o dia todo.

– Olha que lindo - Potter riu - Sentiu minha falta.

Scorpius bufou com falsa irritação. Como disse antes, Potter era um panaca.

– Estava com Rose no St. Muguns.

Scorpius arregalou tanto os olhos, que Albus teve a ligeira sensação de a qualquer momento elas saltarem e saírem correndo. O loiro levantou-se rapidamente da cama, que havia sentado há poucos segundos durante a conversa.

– O QUE ACONTECEU COM ELA?

Albus riu internamente, não havia acontecido nada grave a sua prima. Apenas um pequeno corte rapidamente solucionado com uma poção curativa. Mas mesmo assim, ver o Malfoy naquele estado frenético de perturbação só confirmou o que ele quase tinha certeza. O idiota gostava mesmo de Rose. Mas era tão cego que não via. Assim como Rose. Decidiu brincar um pouco com o amigo, só para ter certeza.

– Ela caiu da árvore, machucou-se muito - falou, com preocupação. Se não fosse bruxo, seria um excelente ator.

Malfoy ficou branco como a neve.

– Eu preciso vê-la agora mesmo - falou, exasperado. Claramente, Malfoy não estava ciente de seus movimentos e suas emoções.

Albus continuou observando-o, rindo internamente. Malfoy continuava exasperado. Albus riu.

Scorpius o olhou como se o mesmo fosse um inseto raro. Potter gargalhou, Scorpius era o mais cego dos seres.

– Por que você está rindo, idiota? - o loiro perguntou-lhe, visivelmente irritado.

– Ela está bem, cara.

Malfoy observou Albus peculiarmente. Dividido em chocar-se com sua atitude desesperada ou matar o cretino a sua frente. Lógico que ele não odiava Rose tanto assim, na verdade nem tinha tanta certeza se a odiava. Apenas não simpatizava com a mesma. Ela era simplesmente o ser mais irritante da face da terra. Não desejaria nenhum dano físico a ela, claro. Mas reagir daquela forma? Que merda foi aquela? Estes pensamentos o remeteram a aposta idiota. Bufou. Tanto por sua burrice quanto pela raiva que sentia de Albus.

– Foi apenas um pequeno corte - Potter falou, agora recuperado de seu ataque de risos - Ela caiu realmente na árvore, estava tentando apoiar-se em um galho e puff. Mas lógico que a desesperada da Rose tinha que desmaiar após ver o sangue em seu rosto. Acredita que ela passou quase uma hora deitada onde caiu? Sem ver o sangue?

Scorpius riu um pouco, aquilo era a cara da Weasley. Potter continuava tagarelando sem parar. Scorpius perdeu-se em seus pensamentos. Não entendia por que conhecia tão bem a Weasley, lógico que com tanta convivência - tanto em Hogwarts quanto na toca -, acabariam se conhecendo um pouco. Mas não daquela forma. Malfoy sabia dizer cada prato preferido da ruiva, cada gesto e que emoção esboçava, podia escrever um livro sobre a Weasley. Aquilo o perturbava, aquela sabe-tudo-irritante. Resmungou consigo mesmo alguns palavrões, quando Albus falou algo que chamou sua atenção.

–... ela me disse que recebeu um pergaminho de um suposto admirador - o moreno falou distraidamente, Albus não era mulher mais recebera o “dom”da fofoca tal como se fosse uma.

O loiro engoliu em seco – De quem? – tentou fazer seu tom mais indiferente possível, porém sua voz saiu um pouco exasperada. Sorte que Albus não notou.

– Ela não quis me dizer – Malfoy soltou um suspiro de alívio momentâneo, pois o que veio a seguir quase o fez cair pra trás – Mas me disse que sabia quem era. Reconheceu a letra.

Burro. Burro. Como não percebeu que ela poderia reconhecer sua letra?

Maldita aposta, como iria vencê-la agora?

Rose iria matá-lo.

Não se a conquistasse, pensou. Aquilo pareceu-lhe uma boa idéia na hora. Na hora.