A Vilã Morre No Final .

8) Cuidado com o curto circuito


Fui buscar a Sofia na casa da amiguinha, ela veio dizendo as novidades.

– O que aconteceu Tomás?

– O que? – Olhei um pouco aqueles olhinhos, eu poderia dizer que estava com dor de cabeça, mas ela era minha melhor amiga, e daí que tinha 6 anos? – Sabe a Luiza?

Contei a ela como fiz com você. Ela parou um pouco, deu umas duas lambidas no sorvete, e por fim ponderou.

– Acho que você está muito atrapalhado.

Concordei imediatamente.

– Mas não adianta sofrer agora, porque a gente não relaxa um pouco?

Viu? Ela é uma sábia. Fomos relaxar no parque, deitamos na grama e ficamos adivinhando a forma das nuvens. A mamãe voltou e nós conversamos tomando sopa de ervilha no jantar. Passei uma semana fazendo o típico personagem de férias, da televisão para o computador, às vezes eu e a Sofia íamos passear e era o momento que eu me distraía.

Resolvi por fim tomar a iniciativa. Bati duas vezes na porta.

– Oi Tomás! – Luiza abriu a porta, vestia uma blusa cinza e um shortinho jeans

– Oi Luiza – Eu encaixei as mãos nos bolsos da bermuda – Eu queria lhe convidar para ir ao cinema hoje

– Ótimo – Ela mexeu no cabelo – Pensei que você tinha esquecido de mim

– Nem pensar – Sorri

Fomos ver um filme água com açúcar, depois chegamos a uma pizzaria.No caminho de volta vínhamos conversando no ônibus, e eu estava prestando toda atenção, além do mais, não era algo difícil. Ela era muito boa de conversa, aliás, nós estávamos nos dando muito bem. O problema todo começou quando o ônibus quebrou.

Preciso fazer algumas considerações agora. Primeiramente, eu gostaria de bater palminhas para o acaso, se o carburador do ônibus não tivesse quebrado eu talvez continuasse essa história de uma maneira convencional, previsível. Depois queria lhe lembrar de algo que eu disse antes que essa história iria ficar diferente, lembra? Pois bem, é mais ou menos agora.

Descemos do ônibus num bairro bem barra pesada.

– Acho melhor a gente pegar um táxi, não vai rolar esperar o próximo ônibus aqui – Eu segurei na mão dela e fomos caminhando pela rua procurando um vestígio de táxi

As casas nas quais havia luz havia também discussões, palavrões e som de coisas quebrando (sendo quebradas).

– Nossa não tem um táxi na rua – Ela disse isso e desviou de um rato que vinha correndo de uma lata de lixo.

Caminhamos mais uns metros até percebermos que a rua não tinha saída.

– Ótimo- Ela disse isso e nós nos viramos para fazer o caminho de volta.

Não houve tempo para tanto, quando nos viramos uma voz berrante avisou para ficarmos quietos e calados, obedecemos. A mão de Luiza apertou a minha, tentei acariciar sua mão com meu polegar para dizer que ia ficar tudo bem, o que na verdade eu não tinha certeza. Eles eram 4. Um baixinho com capuz cobrindo o rosto foi o que se aproximou primeiro.

– Passa tudinho otário – Eu estendi tudo que estava no bolso e a carteira- E você também desgraçada – Luiza também obedeceu.

– Até que tu é bem bonitinha – Um rechonchudo com boné vermelho e blusa preta apareceu sem se preocupar em esconder a própria fuça ,ele estendeu a mão alisou sem prudência o rosto de minha acompanhante.

– Não encosta nela não, amigo – Eu puxei Luiza mais para perto de mim, longe dele.

– Qual é vacilão?- Ele foi até os dois amigos que estavam um, talvez dois passos atrás, trouxe um objeto que eu não tive tempo para discernir o que era de primeiro – Tem medo de perder tua vidinha não otário?

Ele bateu com aquilo na minha cabeça, agora eu sei , com toda certeza, que era uma barra de metal. Eu caí e pela segunda vez em pouco tempo eu vi o céu estrelado sem ter estrela. Ouvi a Luiza perguntando se eu estava bem , mas a voz dela parecia distante, do outro lado de uma ponte. Tentei me levantar,será que alguém poderia fazer o chão parar de rodar? Apoiei as mãos nos joelhos e tentei levantar mais uma vez, mas uma segunda pancada atingiu minhas costas, caí de novo.

– Não faz isso!Por favor- Foi o que Luiza disse.

Eu sou persistente sabe? Tentei levantar mais uma vez, ledo engano. Levei um pontapé no queixo, aí as estrelas foram embora e o céu ficou todo escuro, a última coisa que eu lembro foi de ter ouvido um grito da Luiza. Depois disso quando acordei já estava em outro lugar. Infelizmente, não consigo lhe contar com riqueza de detalhes como tudo aconteceu, não eu.