Zaniah corria pela beira da praia. Não reconhecia onde estava, mas era lindo. Alguns metros longe de si, ela enxergava Sirius. Ele, por outro lado, mantinha seu olhar fixo na água, sem virar seu rosto nem poucos milímetros.

— Sirius! – Zaniah gritou, mas o irmão nem mesmo mudou a direção de seu olhar.

Ele ficava lá, parado. Como se fosse apenas uma estátua. Seus cabelos negros rebatiam-se ao vento, assim como sua capa.

— Sirius! – Gritou mais alto. Nada. Nem uma leve movimentação aconteceu. Seu coração apertou no peito.

Continuou correndo, focalizando seu irmão, enquanto tirava os cabelos de seu rosto, para que não atrapalhassem a visão.

Só se deu conta de que algo estava errado quando começou a sentir suas pernas doerem. Quanto tempo havia corrido? Por que Sirius não estava nem um centímetro mais perto de si? Pelo contrário, por que quanto mais corria, mais seu irmão parecia se afastar?

— Sirius! Por favor! – Gritava, agora com as lágrimas lhe inundando os olhos e descendo por sua bela face. A maresia grudava em seus cabelos e em sua pele, deixando-a gosmenta. A gota de água salgada chegou em seus lábios entreabertos, sendo seguida por outra e outra e muitas outras.

Quando Zaniah viu, chorava desesperadamente. Seus joelhos falharam e ela caiu na areia, perdendo a esperança de alcançar seu irmão, pois esse se afastava cada vez mais, mesmo que inconscientemente.

Fechou seus olhos, afim de espantar algumas lágrimas que continuavam caindo e, quando os abriu novamente, a paisagem havia mudado.

Estava em Pembrokeshire, a praia dos Lestrange. A mesma praia que teve seu primeiro treinamento com o Lorde das Trevas e onde foi, depois de alguns meses, torturada por ele.

— Não, não, não. Está fazendo tudo errado. – Disse a voz aveludada atrás de si. O corpo de Zaniah arrepiou-se com o som, numa mistura de euforia e medo. – Zaniah, o que conversamos sobre sentimentos, hm? – A voz disse em tom reprovador. – Eu lhe avisei sobre se deixar levar pelas emoções. Eu avisei que eu não queria que você fosse para esse lado, mas olha só onde estamos. – Ele disse, enquanto contornava o corpo da Black, colocando-se a frente dela. – Eu estou tão decepcionado com você. – Ele falou, mas seu tom não era de tristeza, e sim de repulsa. – Eu tornei você a minha principal soldado, mas eu não vejo como você poderia ser mais ingrata do que está sendo. Olhe para você, Zaniah. – O bruxo mais experiente disse enquanto apontava para o corpo ainda agachado na areia. Tirou sua varinha do bolso e com um movimento contínuo, criou um traço negro como piche na areia, ao lado esquerdo de Zaniah. – Está fora da linha de novo. – A voz era calma, mas os olhos azuis estavam em fúria. – Você não me deixa escolha, Zan. Nem uma escolha. – Riddle olhava para a mais nova com desprezo. – Crucio.

A dor foi lacerante. Igual a que havia sentido naquele dia, meses atrás, mas não menos pior. A diferença era que agora não tinha plateia. Eram apenas eles dois. A caça e o caçador.

Sem uma plateia, Zaniah não tinha um orgulho para manter.

Então ela gritou.

Gritou até sentir que suas cordas vocais iriam explodir.

Gritou até não ter mais fôlego.

Gritou.

E enquanto gritava, seus olhos estavam presos ao seu torturador, os olhos azuis se divertindo com a situação, enquanto saía uma risada maléfica de seus lábios.

— Eu prometi, Zaniah Black, que colocaria você de volta na linha sempre que precisasse. – Ele falou e, com um movimento de varinha, moveu Zaniah até que ela estivesse em cima do traço preto construído antes. O cansaço a fazia querer fechar os olhos.

— Zaniah! – Ela escutou uma voz ao fundo, uma voz familiar. – Zan! Vamos! – A voz parecia desesperada.

Algo gelado tocou sua testa e então ela voltou a enxergar.

Estava em seu dormitório, no Salão Comunal da Sonserina, na sua querida Hogwarts.

Ao seu redor tinham diversas cabeças, mas ela não conseguia decifrar a que rostos pertenciam.

— Ela acordou. – Disse a mesma voz familiar de seu sonho, parecendo aliviada. – Respire, Zan, ok? Apenas respire.

E ela fez o que a voz pediu. A cada vez que inspirava, sentia que estava mais próxima de chorar. Resmungava baixinho, tentando impedir suas lágrimas de caírem.

Sentiu uma mão tocar seu rosto, afastando uma das lágrimas que começara a cair e segurou firme aquele membro. Conhecia aquele toque.

— Shh... – O dono da mão tranquilizou-a. – Você está bem. Estamos com você.

Outro objeto gelado tocava sua nuca agora. Sabia que o início de novembro não era quente, mas aquele contato gelado era muito bem-vindo. Percebeu, então, que seu corpo estava muito quente e que ela suava. Seu colar gelado lhe causava um tipo de alívio na região do pescoço.

— O que a... conteceu? – Ela pediu baixinho, ao conseguir recuperar a voz.

— Você estava aos berros, Zan. – Reconheceu a voz de seu irmão, Régulos. – Juliet e Mad correram para nos avisar, porque elas não conseguiam acordar você.

Seu olhar então focou em Juliet, sua melhor amiga, que segurava os objetos gelados contra seu corpo.

— Você chamava por Sirius no começo. – Ela falou, parecendo preocupada. – Mas não passava de resmungos. Depois você começou a gritar como se tivessem lhe matando, então tentamos acordá-la. Como não conseguimos, chamamos os garotos.

— Você nos deixou preocupado, Zan. – Darwin disse, se aproximando dela. Reconheceu sua voz como a voz familiar que a chamava.

Lembrou-se dos olhos azuis, afogados em diversão por torturá-la. Lembrou da gargalhada maligna que seu torturador dava.

Sentiu seu corpo tremer, mas esse logo foi apertado por Rabastan. O dono da mão que Zaniah ainda estava agarrada.

— Quer que te levemos à enfermaria, meu bem? – Rabastan perguntou numa voz suave e carinhosa.

Zaniah negou rapidamente.

— Não, não precisamos de mais alarde do que já criamos.

— Zan, tem certeza? – Régulos perguntou preocupado. – E se for outra crise de pânico? Juliet disse que você chamava pelo Sirius.

Zaniah negou novamente.

— Não é uma crise de pânico. – Ela falou convicta. – E os gritos não foram por causa de Sirius. – Ela falou num tom de voz mais baixo agora, como se estivesse envergonhada de toda atenção.

— Você quer uma poção calmante? – Bartolomeu perguntou. Zaniah lhe sorriu.

— Neste momento eu só quero um banho, gente. Eu suei muito. – Zaniah falou e Juliet logo lhe deu a mão, para acompanhá-la ao banheiro.

Soltou a mão de Rabastan com pesar para se apoiar na melhor amiga.

— Eu não vou sair daqui. – O dono dos olhos verdes disse em sua forma mais doce.

Zaniah apenas assentiu enquanto seguia a Avery para dentro do banheiro.

Seu banho fora rápido e gelado. Seu cabelo não havia sofrido muitos danos com o suor, então não seria necessário lavá-lo naquele momento.

— Jubs, que horas são? – Pediu para a amiga quando percebeu que não entrava um mísero raio de luz no Lago Negro.

— Duas e meia da manhã de sábado, Zan. – Juliet falou, parecendo cansada após alcançar um pijama de cetim limpo para a amiga.

— Dês de que horas estão tentando me acordar? – Zaniah pediu de forma tímida.

— A uma e meia eu e Mad saímos para chamarmos os rapazes.

Zaniah engoliu em seco. Fazia pelo menos uma hora que estavam acordados por sua causa.

— Não fique assim, Zan. Você teria feito o mesmo por nós. – Ela disse e Zaniah apenas assentiu, ainda se sentindo um pouco tonta para falar.

As duas saíram do banheiro e encontraram Mad e os sete rapazes, Theo, Darwin, Bartô, Rabs, Rég e Antony, esperando.

Zaniah apenas lhes sorriu simples e pôde observar que Theo se aconchegava junto da irmã na sua cama. Darwin e Bartô beijaram sua bochecha e se despediram, voltando ao seu dormitório. Rabastan lhe estendeu os braços e ela logo o abraçou forte, sentindo toda segurança que a presença de Rabastan lhe passava.

— Quer dormir comigo hoje? – Rabastan sussurrou no seu ouvido, para que só ela escutasse. Zaniah se arrepiou, mas não sabia dizer se foi pela voz do Lestrange tão baixa perto de seu corpo ou se foi pela ideia de dormir com ele pela primeira vez dês de que começaram a ficar juntos.

— Quero. – Ela disse no mesmo tom. Rabastan apertou ainda mais seu corpo contra o dele.

Num movimento rápido, e aparentemente sem muito esforço, Rabastan tirou Zaniah do chão, segurando-a em seus braços, como se ela fosse uma noiva. A Black se aconchegou no peito do garoto, que foi saindo do dormitório feminino do quarto ano atrás de Dolohov e Black.

Quando chegaram no dormitório masculino do quinto ano e Zaniah foi posta sobre a cama do Lestrange, respirou o máximo que pôde o cheiro dele, que reivindicava todo colchão, travesseiro, lençóis e cobertas.

Seu corpo automaticamente relaxou e ela sentiu que conseguiria dormir sem pesadelos naquele momento.

— Rabastan... – Ouviu Régulos dizer, numa espécie de ameaça silenciosa.

— Eu sei, Régulos, não seja estúpido. – Rabastan disse, parecendo ofendido.

Zaniah suspirou alto com a ideia do irmão.

— Cale a boca, Régulos Arcturos.

Antony riu e deitou-se na sua cama. Zaniah, já de olhos fechados, sentiu quando o colchão atrás de si afundou e braços envolveram a sua cintura, puxando-a em direção ao corpo que lhe abraçava. A intensidade do cheiro de Rabastan aumentou, assim como o relaxamento de seu corpo.

Foi ali, quase pegando no sono, que Zaniah teve seu momento epifânico. Onde entendeu o significado do seu sonho. Não os significados banais, muitas vezes ligados ao horóscopo, ou com significados, muitas vezes, desastrosos.

Não.

O real significado é o que aquilo que seu subconsciente já sabe, então ele precisa transmitir ao consciente.

Zaniah nunca teria Sirius de volta enquanto Riddle estivesse tão próximo dela.

Agora, só lhe bastava saber o que lhe importava mais.