Um dia antes de embarcarem no Expresso de Hogwarts, Joseph Lestrange enviara para todos seus sobrinhos de consideração e seu filho uma caixinha com algum objeto tosco dentro. No caso de Zaniah, por exemplo, era um grampo de cabelo, sem nenhum de seus “dentinhos”. Junto do objeto que, até então, não fizera sentido nenhum para nenhum deles, vinha um breve bilhete.

É uma Chave de Portal. Já combinei com Dumbledore, vocês não embarcarão no Expresso de Hogwarts amanhã. Ao invés disso, amanhã, as 11hr15min o Portal abre.

Nos encontramos em Pembrokeshire.

Com carinho.

J.Lestrange.

E assim como prometido, eles não embarcaram no Expresso de Hogwarts. Aqueles quinze minutos entre a partida de todos os outros alunos e a espera para a ativação da chave de portal foram torturantes para Zaniah. Régulos não falava com ela havia três semanas, dês da confusão com Snape e Lily, onde ela defendeu a nascida trouxa. Juliet estava tomando seu lugar como princesa da Sonserina, ainda mais agora que Bella e Andrômeda já haviam deixado Hogwarts e Narcisa estava no último ano. Uma parte de Zaniah tentava não ligar, mas a outra sentia raiva da Avery estar tomando o lugar que sempre fora da Black por direito. Afinal, a família Black era muito mais nobre que a Avery. Bartolomeu ainda conversava com ela, mas nunca tocando no assunto “Marotos” ou “Lily Evans”. Mesmo assim, sentia que não era a mesma coisa e às vezes lhe parecia que o Crouch a encarava como se fosse explodir a qualquer momento.

Estavam todos nos jardins, de frente ao lago, quando Rabastan se aproximou dela. Em uma mão, a armação quebrada de um óculos repousava. Sua chave. Zaniah rapidamente virou-se em sua direção, encontrando os olhos verdes, marca Lestrange, que já haviam mexido tanto com ela. Não era difícil, para si, ler Rabastan. Naquele momento, ele era a pessoa mais compreensiva do mundo pelo seu olhar e parecia divertido com alguma coisa.

— Sabe, Zan, eu nunca fui muito fã de Severus. Mesmo ele sendo amigo de Régulos, nunca fui com a cara dele. – Ele falou a olhando, com cuidado. Mais uma vez Zaniah sentiu que esperavam que ela fosse explodir.

— Por que ele é mestiço? – Zaniah perguntou curiosa.

— Porque ele é detestável. – Rabastan sorriu de uma forma divertida para ela.

Zaniah não teve tempo de responder que concordava plenamente com ele, assim como James também concordaria, pois logo sentiu um puxão no seu estômago e a sensação desconfortável, porém familiar, de estar aparatando a preencheu. Quando abriu os olhos novamente, sentiu a areia fofinha debaixo de seus tênis, ouviu as ondas do mar se quebrando agressivamente, sentiu a brisa praiana mexer seus cabelos e o cheiro da maré preencher suas narinas. Adorava aquele lugar, mesmo que não fosse seu. Depois, percebeu que Juliet era erguida por Darwin e sacodia a areia de suas roupas. Sorriu venenosa com a cena, afinal, Avery nunca teria a elegância necessária para ser a verdadeira princesa da Sonserina.

Mas depois o foco de sua visão mudou, pois ouviu a voz furiosa de Orion Black direcionada a si mesma, e foi inevitável não olhar em sua direção. As mãos fechadas de seu pai indicavam qual seria o primeiro contato que os dois teriam depois de meses sem se ver. Zaniah fechou os olhos e esperou pela pancada, que nunca chegou. Ao invés disso, uma voz melodiosa, no entanto imperativa, ordenou forte.

— Orion, deixe ela comigo. – O Lorde das Trevas disse, paralisando o patriarca Black e obrigando Zaniah a abrir os olhos. A expressão que Tom Riddle tinha só deixou uma certeza no pensamento de Zaniah: Preferia ter recebido o soco de seu pai.

Respirou fundo, a espera dos acontecimentos seguintes. Mas o que não esperou, no entanto aconteceu, era ser arremessada em direção ao grande oceano atrás de si. As ondas agitadas a jogavam de um lado para o outro e seu primeiro reflexo foi passar a arrebentação para que chegasse a um local mais calmo. No entanto, o mar agitado como estava, não formou um único ponto de arrebentação, fazendo Zaniah ter que nadar ainda mais para o fundo e engolindo água salgada no processo. Mergulhou, na tentativa de escapar da força da maré e recebeu resultado. De forma apressada começou a nadar para frente. Seu cérebro, agora sentindo-se a salvo, voltou a raciocinar devidamente. Riddle leria sua mente para ver o que ocasionou tal ação. Zaniah precisava deixar a mente aberta, até um certo ponto. Se Tom percebesse que ela fechava, ficaria irado pela Black estar lhe escondendo algo, mas se visse seus encontros amigáveis com James e sua descoberta sobre a magia dos nascidos trouxas, provavelmente a mataria. Isso se ele já não o fizesse de qualquer forma. Assim, decidiu manter ao alcance de Tom o momento em que James a salvou, na Torre de Astronomia e o fato de Zaniah ter visto nele um grande amigo, assim, ajudando Lily, o amor de seu amigo, por consideração a Potter e pelas palavras machistas de Snape. Tom já sabia das leituras feministas de Zaniah, de qualquer forma.

Parecia um bom plano e ela já se esforçava para manter todas as lembranças com James dentro de uma caixinha secreta em sua mente. Aquelas lembranças deveriam ser inacessíveis.

Quando conseguiu, sentiu seu corpo viajar pelo ar, soube, ali, que o Lorde das Trevas a puxara para fora do oceano, ao ver que ela, quebrando as expectativas dele, conseguira se safar com certa agilidade da fúria da maré. Sentiu seu corpo se chocar contra a areia fofa num baque dolorido. Uma ardência percorreu seu corpo, fazendo Zaniah soltar a respiração com um resmungo baixo. Sentiu-se vulnerável e não escutava nada ao seu redor. Uma forte ânsia de vomito lhe subiu a garganta e Zan só teve tempo de virar o, dolorido, corpo para regurgitar toda água marítima que ingeriu.

Ao espichar os olhos, pode perceber que muitas pessoas estavam ao seu redor pela quantidade de pares de pé na areia. Eles veriam sua punição de camarote, então. Girou o corpo novamente, encarando o céu antes de ter seus ouvidos preenchidos pela voz de seu mestre.

— Crucio.

Dezenas de milhares de facas escaldantes perfuraram o corpo inteiro de Zaniah. Ela quase gritou, mas proibiu a si mesma de dar esse gostinho de quem estava ali para ver sua humilhação. Concentrou-se em sua mente e em deixar as memórias de James escondidas. Seu corpo tremia pela dor e pelo esforço que ela fazia. Sentiu-se contorcer quando Riddle pareceu intensificar ainda mais a maldição, mas não se permitiu gritar ou proferir qualquer mísero som que entregasse a dor que sentia. Quando Riddle parou, Zaniah percebeu que estava de lado na areia. Abriu os olhos e encontrou, novamente, os olhos verdes de Rabastan. Eles transmitiam pavor e piedade. Zaniah poderia ter sorrido, não fosse a dor excruciante que sentia.

— Olhe para mim, Zaniah. – A voz do Lorde das Trevas lhe ordenou e, com muito esforço, Zaniah virou seu corpo novamente.

Riddle sorriu sínico.

— Crucio.

E, mais uma vez, Zaniah não gritou. Segurou as lembranças de James na caixinha escondida e tentou se concentrar em qualquer outra coisa. A primeira distração invadiu sua mente de forma veloz, como se pulasse na sua frente. Era a imagem dos olhos de Rabastan e, naquele momento, todas as lembranças que tinha encarando aqueles olhos verdes lhe preenchiam.

— Eu vou te pegar, Lestrange! – Um Régulos de cinco anos gritava enquanto eles corriam ao redor do jardim da Casa de Campo dos Black’s.

— Aí que você se engana, Black! – Rabastan corria atrás do irmão do meio. Ao ver que Régulos quase o alcançava, o Lestrange mais novo se dirigiu para Zaniah, que estava sentada na varanda olhando os dois brincarem, segurando seu braço. – Você não pode me pegar aqui! Zaniah é ponto morto!

A garotinha Black o olhou emburrada.

— Eu não estou morta!

— Não, Zan... Significa que você está me protegendo.

— Ah!

Riddle conseguiu afastar aquela lembrança, mas ela foi substituída por outra rapidamente.

— Sonserina! – O Chapéu sobre Zaniah bradou, após longos 6 minutos em sua mente, fazendo a mesa da extrema esquerda se unir em aplausos e urros. Após a professora McGonagall retirar o Chapéu de sua cabeça, Zaniah desfilou confiante e contente para a mesa da Sonserina, onde foi abraçada por Juliet, á selecionada, suas primas e seu irmão. Logo depois, encontrou um par de olhos verdes brilhando contentes em sua direção.

Sentiu Tom sair de sua mente, ele parecia tão exausto quanto ela. Afinal, ele circulara sua mente inteira em busca de respostas e não encontrara nada além de Potter salvando a vida da garota. Tom sentiu-se extremamente irritado com a Avery por causar aquela vontade sobre Zaniah. Parou de executar a maldição sobre o corpo da jovem bruxa sangue puro e extremamente talentosa e sentiu, dentro de si, que aquilo era o que bastava para continuar tendo-a como pupila.

Zaniah sentiu seu corpo pesar, sua nuca aquecer e suas mãos perderem o movimento, ao mesmo tempo que sentia que seria incapaz de se manter de pé, pois suas pernas eram gelatina. Sua cabeça começou a girar e só ouviu mais uma frase dita por Riddle.

— Impressionante. – Ele falou, parecendo divertido. – Eu apliquei a maldição com vigor e ela não gritou nem uma única vez.

Depois disso, Zaniah mergulhou na escuridão da inconsciência.

Enquanto isso

Sirius Black procurava sua irmã em todos os cantos do Expresso de Hogwarts, com Lily Evans em seu encalço. Precisava tirar ela de perto dos companheiros de Casa, pois sabia que eles lhe jogariam às cobras quando chegassem na Mui Nobre e Antiga Casa dos Black’s. Passaram de cabine por cabine, vagão por vagão e não encontraram Zaniah. Nem Zaniah, nem os sonserinos que normalmente a acompanhavam. Foi quando avistaram Snape que o coração de Sirius se encheu de esperança.

Abriu a porta do vagão abruptamente, fazendo o garoto se assustar um pouco, tirando os olhos da janela e encarar a dupla que se encontrava na porta de seu vagão.

— Lily! – Ele falou eufórico.

— Onde está Zaniah? – Ela perguntou rapidamente, não dando espaço para que o moreno falasse algo.

— O quê? – Ele perguntou confuso. Não a vira dês da saída de Hogwarts, afinal. Nem ela, nem nenhum integrante da Realeza da Sonserina. – Por que eu saberia?

— Porque você está sempre nos pés do Régulos, e o Régulos sempre está por perto dela. Então me diga de uma vez, Ranhoso. Onde está Zaniah? – Sirius falou cuspindo as palavras. Sentia-se desesperado por não saber do paradeiro da irmã.

Snape estava irritado.

— Eu não ando sob os pés de ninguém, Black! – O garoto rugiu.

— Ah, claro que não! – Lily falou, debochando. – E meu nome do meio é Walburga. – Ela revirou os olhos, mas rapidamente acrescentou. – Sem ofensas, Six.

— Ah! Não me ofendo. Não é como se achasse um nome bonito de qualquer forma. – Ele falou mexendo nos cabelos de Lily, que havia se tornado uma boa amiga. Mas logo depois pareceu voltar ao problema de antes.

— Desembucha, Snape. Onde eles estão?

— EU NÃO SEI! – Severus levantou, indignado. – Não vejo nenhum deles dês de que saí de Hogwarts!

Sirius bufou. Voltaram à estaca zero. Virou as costas saindo. Lily ia atrás de si, quando sentiu seu braço ser segurado. Virou-se para ver os olhos de Snape a olhando.

— Lily, por favor, vamos conversar. – Ele implorava.

— Não temos o que conversar! – Ela falou, exaltando-se. – Eu não quero mais ser sua amiga e não vou voltar a ser! – Ela sentia que estava ficando vermelha. – E não me chame de Lily! Pra você é Evans, Ranhoso! – Puxou seu braço e voltou em direção a Sirius. Ele sorria pela atitude da mais nova amiga.

— Você e Zaniah estão competindo pra ver quem me deixa mais orgulhoso? – Pediu sorrindo e Lily riu levemente, mas parou ao avistar a professora McGonagall no final do corredor. Correram em sua direção.

— Senhor Black e Senhorita Evans! Nada de correr pelos corredores do trem, francamente! – Ela ralhou com eles e os dois logo se desculparam.

— Professora, você sabe do paradeiro de Zaniah? – Sirius perguntou afoito.

Minerva franziu o cenho.

— Os pais dela e de alguns outros alunos pediram a autorização da escola para que eles voltassem para casa com a Chave de Portal e o diretor Dumbledore lhes concedeu. – Minerva lhes explicou. Sirius passou a mão no rosto preocupado, agradeceu a professora e apertou o passo até sua cabine. Lily, ao seu lado, parecia tão preocupado quanto ele. Chegaram na cabine e o Black pegou um pedaço de pergaminho, rapidamente rabiscando algumas palavras.

Você está bem? Avise-me se precisar de qualquer coisa.

Amo você.

S.O.B.

Amarrou na sua coruja, abrindo a janela da cabine e ela alçou voo.

Lily ainda a encarava preocupada, enquanto James, Remo, Peter, Dorcas e Marlene dividiam os olhares entre os dois, confusos com a situação. Sirius fechou a janela e escorregou o corpo até o chão, suspirando alto.

Só esperava que Zaniah estivesse bem.