Outubro correu depressa, assim como novembro. Zaniah, mergulhada em sua rotina cansativa, não via os dias passarem, estava sempre ocupada com alguma coisa.

Inclusive, naquele momento, Darwin lhe implorava para que ela assumisse seu turno de monitoria daquela noite.

— Por favor, Zan! – Ele pediu mais uma vez, os olhos cintilando em desespero.

— Por que você não pode ir? – Zaniah perguntou um pouco irritada. Estava trabalhando numa tarefa de Aritimância e Darwin a atrapalhava naquele momento.

— Digamos que eu tenha me embaralhado nos horários e eu nem tenha começado a redação de Transfiguração, que, pelo o que eu me lembre, é para daqui dois dias. – Ele falou sorrindo nervoso para a Black.

— Darwin Burke, tu estás seguindo o planejamento que eu fiz para ti? – Zaniah perguntou exaltada, largando a pena em cima do pergaminho.

O silêncio do garoto foi a resposta necessária.

Zaniah franziu a testa, bufou e voltou a escrever em seu pergaminho.

— Zan, eu prometo que, se você me cobrir hoje a noite, eu começo a seguir o seu planejamento estudantil! – Darwin falou desesperado.

— Você já deveria estar fazendo isso. – Zaniah falou sem se dar o trabalho de retirar os olhos do que escrevia.

— Por favor... Além do mais, você está fazendo esse trabalho de Aritimância e ele é para daqui uma semana! – Darwin argumentou.

— Se estivesse seguindo o planejamento, Darwin Burke, estaria fazendo a mesma coisa! – Zaniah respondeu irritada.

— Zan... – Darwin choramingou. – Por favor. – Ele suplicou. Algo no seu tom de voz fez o coração da garota derreter.

— Darwin, - Ela disse enquanto recolhia seu material da escrivaninha ao lado da lareira no Salão Comunal da Sonserina. – O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo? – A garota disse com um sorriso ladino em seu rosto.

Quando se levantou, Darwin correu para abraçá-la.

— Você é a melhor do mundo. – Ele falou, seus braços envolvendo o corpo da garota. Zaniah correspondeu o aperto.

— Eu sei. – Ela falou com uma risada e então os dois se separaram. Darwin sorriu.

Zaniah terminou de arrumar seu material e olhou acusadoramente ao Burke.

— Acho bom você fazer seu trabalho, ouviu bem?

— Sim, senhorita Black. O mais rápido possível. – Darwin respondeu, batendo continência. Zaniah riu.

— Zan. – Ouviram Rabastan chamar, enquanto descia as escadas dos dormitórios. O cabelo molhado delatava que ele recém saíra do banho.

— Oi! – Zaniah sorriu para ele, enquanto ia em sua direção.

— Vim te chamar para dormirmos. – Ele falou com a voz macia.

Zaniah perdeu o sorriso.

— Eu vou cobrir a monitoria do Darwin hoje. – Ela falou

Rabastan pareceu surpreso.

— Ah, ok. Eu não sabia.

— A decisão é bem recente. – Zaniah disse sorrindo levemente.

— Certo. – Rabastan parecia confuso. – Que horas você chega? – Animou-se.

— Bem, eu não sei... Imagino que ali por uma da manhã... – Zaniah falou, pensando nas vezes que ela fazia suas próprias monitorias.

— Você vai pro meu dormitório quando chegar? – Rabastan perguntou, suplicando ao mesmo tempo.

— Se você quiser que eu vá... – Zaniah falou.

— Eu sempre quero, sua boba. – Rabastan disse sorrindo divertido. Deu um beijo na testa da namorada. – Boa ronda, gatinha.

Zaniah se despediu e subiu até seu dormitório para guardar seu material. Colocou seu pijama por baixo do uniforme, colocou sua capa e prendeu o M, de monitora, ao lado do brasão da Sonserina.

Desceu apressada até a saída do Salão Comunal, quando percebeu que não sabia quem era sua dupla de ronda. Virou-se rapidamente, procurando por Darwin, sentado na mesma escrivaninha que ela estava antes.

— Darwin, quem é a sua dupla na monitoria? – Perguntou.

— Ahn? – Ele ergueu sua cabeça do pergaminho. – Ah, sim, esqueci de te avisar. É com a Evans, Lily Evans.

/*

Zaniah, desde que virara monitora, conhecia a entrada para os Salões Comunais de todas as Casas de Hogwarts, no entanto nunca havia, de fato, ido até um deles. Mas, como dizem, para tudo na vida há uma primeira vez, não é? Então, naquele momento, lá estava ela, escorada no corrimão da escada que ficava de frente ao quadro d’A Mulher Gorda, a entrada do Salão Comunal da Grifinória.

Lily.

Há quanto tempo não falava diretamente com ela? A última vez que lembrava de ter feito isso fora no ano anterior, separando um possível fiasco que Snape faria nos Jardins. Naquela ocasião, Zaniah deixara claro para o garoto do sétimo ano que estaria sempre pronta para proteger a grifina. Depois daquilo, não havia mais socializado com nenhum grifinório, nem mesmo seu irmão.

Viu quando a garota de cabelos acajus claros saiu de dentro da passagem. Sua expressão era firme e seus ombros estavam tencionados, aparentemente estressada. Até que ela viu a Black.

— Zaniah. – Falou num suspiro surpreso. Seus ombros relaxaram automaticamente e seus olhos verdes esmeralda brilharam.

— Lily. – Zaniah respondeu o cumprimento. – Imagino que Darwin não a tenha avisado, mas ele estava indisposto hoje, então vou ocupar seu lugar na ronda, se não for problema, é claro.

Lily sorriu amável e Zaniah sentiu-se culpada por seguir um homem que a classificaria como escória.

— Problema nenhum, Zan. – Ela falou e, depois de usar o apelido, pareceu se arrepender. A Black apenas sorriu.

— Certo, como fazemos a divisão? – Zaniah perguntou, seguindo a Evans que já se movia à ala leste do castelo.

— Darwin normalmente fica com a parte Sul, Oeste e as Masmorras, já que vocês sonserinos têm mais facilidade em se localizar naquele lugar. – Lily falou. Zaniah não pôde evitar perceber que ela tratou Darwin pelo seu primeiro nome.

— Por mim, ok. – Zaniah disse. – Onde podemos nos encontrar depois? Digo, para te passar o relatório?

— Pode ser no quadro d’A Mulher Gorda novamente, se não for um problema.

Zaniah apenas assentiu.

— Certo, vejo-te depois. – E saiu em direção à ala Sul.

Os treinamentos com Riddle lhe deram experiências utilizáveis em rondas, como, por exemplo, escutar coisas muito baixas. Sempre que fazia rondas, Zaniah se dedicava completamente àquela função. Então, algumas horas depois de percorrer os lugares afim de conferir que estava tudo certo, a Black voltou para a entrada da Torre da Grifinória. Passaram-se alguns minutos e Lily não chegara. Zaniah começou a se preocupar com a garota, até que ouviu passos no corredor e algumas vozes sussurrando. Ela não conseguia entender o que diziam nem os identificar. Por precaução, escondeu-se atrás de uma parede. A vozes se aproximavam.

— Aparentemente não tem ninguém aqui. – Uma voz grave falou. Zan reconheceu, era James.

— Então entrem de uma vez, Zaniah pode chegar a qualquer momento. – A segunda voz falou. Era feminina. Não demorou para que Zaniah percebesse ser Lily.

— Zaniah? O que ela vai fazer aqui? – A voz rouca de seu irmão, Sirius, perguntou.

— Ela cobriu Darwin Burke na monitoria dessa noite, está vindo para cá para fazer o relatório da ronda dela. – Lily explicou rapidamente. – Entrem de uma vez!

— Está maluca? – Sirius perguntou afoito, erguendo o tom de sua voz. – Se Zaniah está vindo para cá eu vou ficar. Quero falar com ela.

— Jura, Sirius? Agora? – Lily parecia preocupada.

Zaniah rastejou para longe da parede, como uma verdadeira cobra.

— Tenho meu relatório, monitora Evans. – Zaniah falou enquanto surgia perto da luz, assustando-os. – Alunos da Grifinória fora de suas camas depois do horário de recolher, no corredor à frente da entrada de sua Casa. – Apontou ao grupo na sua frente.

— Zaniah! – Sirius exclamou, parecendo emocionado.

Seus olhos azuis cintilavam sob o luar, a dois metros de distância um do outro, Zaniah pôde observar que ele estava sujo, cheio de terra e com alguns arranhões.

James, ao seu lado, não estava muito melhor. O cabelo, normalmente bagunçado, parecia um ninho de ratos. Ao seu lado, Lily estava tão intacta quanto na hora que saíra da passagem da Casa dos Leões. Atrás de Potter e Black, o garoto baixinho que os acompanhava diariamente, Peter Pettigrew, parecia se esconder do olhar de Zaniah.

- Gostaria de saber onde eles estavam, Evans, e porque eu não devo delatá-la ao Diretor Dumbledore por dar cobertura a três alunos que estão, claramente, quebrando as regras.

O rosto de Lily empalideceu.

— Você não entende. – Ela falou com um fio de voz.

Lily estava estática, Sirius não parecia conseguir falar e Pettigrew tremia de medo. Naquele momento, James tomou a frente.

— É algo muito maior do que nós, Zaniah. – Ele falou sério. – Podemos esclarecer as coisas, mas não esta noite.

A Black arqueou uma sobrancelha.

— E por quais motivos, exatamente, eu deveria deixa-los passar impunes? – A garota rosnou.

A expressão de Sirius suavizou.

— Eu juro pela Arya que algum dia você saberá porque nós precisamos fazer o que fizemos. – Ele falou. Zaniah sentiu raiva do irmão quando ele prometeu em nome de sua antiga hipogrifa, que morrera quando Zaniah tinha nove anos.

— Ela será eterna, Zan. – Um Sirius mais novo dizia à irmã que chorava compulsivamente em seu quarto, longe dos olhos do pai.

— V-você jura? – Ela perguntou enquanto soluçava.

— Eu juro. – Ele respondeu calmamente, segurando na mão da irmã. – Juro pela própria Arya. – Ele adicionou, confortando a irmã que continuava chorando de tristeza.

Dês daquele dia “jurar pela Arya” era considerar a promessa divina, impossível de ser quebrada. Uma prova da confiança entre os irmãos. Havia anos que Zaniah não utilizava daquelas palavras, muito menos as ouvia.

Não sabia explicar o que a movimentou naquele momento. Se a perguntassem o porquê de apenas assentir ao irmão e sair andando de volta às masmorras sem punir ninguém, ela não saber dizer.

No entanto, saberia dizer o sentimento que estava entalado em sua garganta há muito tempo. Saberia dizer que queria ter abraçado o irmão e pedido por socorro, por abrigo.

E, mais uma vez, não saberia dizer porque não o fez.

/*

Chegou no Salão Comunal da Sonserina sentindo-se exausta. Olhou à porta do seu dormitório e, com um suspiro cansado, deu meia volta, em direção ao dormitório masculino do sexto ano.

Abriu a porta de madeira com cuidado, tentando não fazer barulho para não atrapalhar a noite de sono dos garotos. Mesmo sem quase nada de luz no quarto, dirigiu-se tranquilamente até a cama de Rabastan. Retirou sua capa e seu uniforme, ficando apenas com seu pijama de inverno. O Lestrange acordou quando o colchão afundou.

— Zan? – Perguntou ainda sonolento. A garota apenas escorregou para dentro das cobertas e envolveu Rabastan num abraço.

— Shh. Volte a dormir. – Ela sussurrou enquanto fazia carinho em seu braço.

Rabastan abriu minimamente o olho.

— Você está bem? – Perguntou.

— Estou ótima. – Zaniah mentiu. Aconchegou-se mais contra o corpo dele e, antes que percebesse, já caía na inconsciência.

/*

Zaniah desviou de um balaço rebatido por Theo.

— Tá querendo me matar, Nott? – Perguntou enquanto voava. A resposta que recebeu foi uma risada.

Darwin lhe jogou a Goles e ela jogou para Easton Satches, mais novo artilheiro da Sonserina. Satches devolveu a Goles para ela, que arremessou no gol, sem dar chance para Rabastan defender.

Mandou um beijo para ele enquanto ria de sua cara, em resposta, Rabastan lhe mostrou a língua.

No outro lado do campo, Régulos apitou, sinalizando que o treino havia acabado.

— Ótimo treino hoje, time. – Ele falou quando já estavam todos no chão. – Mad, Theo, as pontarias estão impecáveis. Easton, vamos começar com o sistema de te deixar mais atrás, na defensiva. – O garoto do terceiro ano assentiu. – Darwin, Zan, sem comentários para vocês dois. – Régulos riu. – Entrosamento perfeito, não erram um passe.

Zaniah e Darwin se deram soquinhos com as mãos.

— Rabastan, boas defesas hoje. – Régulos disse simplesmente. – Em uma semana temos o recesso de Natal, em seis dias é o último jogo do quadrangular. Temos que fazer a Corvinal comer poeira.

— Como estão as outras equipes? – Madeline perguntou.

— Se Lufa-Lufa ganhar da Grifinória e nós ganharmos da Corvinal, as posições ficam Texugo, Cobra, Leão e Águia. – Régulos respondeu. – Mas se a Grifinória e nós ganharmos, fica Cobra, Leão, Texugo e Águia. – Ele completou.

— Então temos que torcer pra Grifinória no próximo jogo? – Rabastan perguntou enquanto envolvia a cintura de Zaniah com um dos braços.

— Exatamente. – Régulos disse com um suspiro. Visivelmente, nenhum deles ficou feliz ou confortável com essa notícia.

Eles caminharam em direção ao prédio do vestiário.

— Nada como dividir em duas o vestiário feminino. – Mad falou depois que elas entraram.

— Céus, nem me diga! – Zaniah falou aliviada, enquanto tirava o uniforme grosso de quadribol. - Espero que não neve no dia do jogo.

— Dezenove de dezembro? Acho difícil não nevar... – Mad falou e Zaniah apenas fez um biquinho de tristeza, fazendo a Nott rir.

— Tem poucas coisas no mundo tão boas quanto um banho quente depois de um treino congelante. – Zaniah falou enquanto entrava debaixo do chuveiro.

— De acordo! – Mad respondeu, relaxando os músculos ao entrar em contato com a água quente.

Elas tomaram seus banhos em silêncio, relaxando o corpo.

— Que dia vai ser o jogo da Grifinória? – Zan perguntou.

— Um dia antes do nosso. – Mad respondeu.

— Não vamos poder treinar na véspera, então. – Zaniah concluiu.

— Da forma que seu irmão está nos fazendo treinar, acho que não é nem necessário. – Madeline falou alongando os ombros. Zaniah riu de leve e concordou.

— Precisamos vencer esse ano. – A Black disse, Mad a olhou. – Sirius vai terminar Hogwarts esse ano, precisamos vencer.

— Não quer dar essa última glória ao seu irmão? – Mad perguntou.

— Depois do balaço que ele lançou em Régulos ano passado? Não, obrigada. – Zaniah falou lembrando-se. – Pergunto-me o que teria acontecido comigo se Darwin não tivesse sido rápido e me segurado. – Um arrepio percorreu pelo seu corpo. No acontecimento ela ficara tão preocupada em salvar Régulos e permitir que ele pegasse o pomo que nem se preocupara com o que aconteceria com ela depois de se chocar contra um balaço.

— Darwin é um bom amigo. – Madeline disse enquanto pensava. – Sempre o vi como uma pessoa muito leal.

Zaniah pensou.

— É verdade. Ele sempre esteve do meu lado. Mesmo quando nós não éramos tão próximos como atualmente.

— Pois é, né? – Mad disse refletindo. – Eu lembro que nos primeiros anos você e Bartô eram muito próximos e Juliet e Darwin também.

A Black assentiu.

— Com o tempo nós nos fortalecemos muito, sabe? Hoje confio em Darwin tanto quanto no Bartô.

— Vocês têm alguma coisa diferenciada, sabe? – A Nott falou. – É como se vocês passassem uma sensação tranquilizadora a todos. É impossível não confiar em vocês.

Zaniah sorriu, mas dentro dela seu coração afundou.

Perguntou-se se por isso James, Lily e Sirius não haviam desistido dela, mesmo depois de tanto tempo. Eles confiavam nela? Como? Como Zaniah poderia permitir que pessoas que ela traíra confiassem nela? E Darwin? Ela não esquecera a forma como Lily falou dele, como se fossem próximos.

Alguma coisa estava errada, mas ela não sabia identificar. Não conseguia entender o que estava errado, então não conseguia identificar.

Suspirou fundo e saiu do vestiário com Mad.

/*

— Como foram de treino? – Juliet perguntou quando os sete entraram no Salão Comunal da Sonserina.

— Foi bom. – Darwin disse, sentando-se no sofá ao lado da lareira, que aquecia todo cômodo.

— Estou exausta. – Zaniah disse jogando-se no mesmo sofá ao lado de Darwin.

Bartolomeu riu ao perceber que Zan não ocupava sua poltrona.

— A Rainha desceu até a plebe? – Perguntou, enquanto levava as mãos perto do fogo.

Zaniah riu leve.

— Eu mereço negligenciar um pouco minhas responsabilidades. – Ela disse, enquanto apoiava a cabeça no ombro do Burke.

— Sim, merece. – Juliet disse, sentando no sofá a frente. Bartô sentou ao seu lado, e iniciou uma conversa sobre o Campeonato Sul-Americano de Quadribol com Darwin. Juliet puxou o livro que lia naquele momento e se concentrou nele.

Darwin entrou animadamente na conversa com Bartolomeu, e as vibrações de sua voz, sentidas por Zaniah que estava encostada nele, começaram a lhe acalmar. Seus olhos começaram a pesar e ela se entregou ao mundo dos sonhos.

Sentiu-se ser carregada em braços firmes.

— Darwin? – Chamou, procurando pelo amigo que estava ao seu lado.

— Sou eu, Zan. – Ouviu a voz de Rabastan corrigir.

— Onde está Darwin? – Perguntou, confusa. Não entendia porque ele não a acordara. Tentou abrir os olhos, mas o cansaço não permitiu.

— Foi pro dormitório dele, eu acho. Estou te levando ao meu.

Algo em Zaniah protestou. Ela ansiava pela sua cama, no seu dormitório, com suas amigas.

— Não, Rabs. – Falou, a voz rouca de sono. – Eu quero dormir no meu quarto esta noite.

Zan sentiu quando o corpo do namorado estancou no lugar. Ele deu meia volta e caminhou em direção aos dormitórios femininos, lentamente.

— Eu não posso entrar, Zaniah. – Ele falou ao parar na frente da porta do dormitório da garota. A porta se abriu.

— Darwin. – Rabastan cumprimentou. – Como estava ali dentro?

Zaniah despertou um pouco.

— Eu, Bartô e Theo temos permissão das meninas para entrar. – Ele explicou.

— Hm. – Rabastan disse apenas.

Zaniah se remexeu no colo do namorado.

— Ela pediu para eu deixá-la aqui hoje, não está dormindo, mas não está acordada. – O Lestrange falou.

— Quer me entregar? – Darwin perguntou, estendendo os braços e indo em direção a Zaniah.

Rabastan o olhou com o cenho franzido e aproximou o corpo de Zaniah do seu.

— Pode deixar que eu faço. Só preciso entrar no quarto. – Ele falou, então cutucou o ar onde a porta ficaria fechada e mostrou uma barreira invisível que o impedia de passar.

— Vou chamar a Juliet. – O Burke disse apenas.

Alguns segundos depois, a garota Avery apareceu.

— Eu, Juliet Avery, permito que Rabastan Lestrange acesse o dormitório feminino do Quinto Ano.

A barreira cedeu e Rabastan entrou no quarto. O lugar era organizado, muito diferente do seu próprio, e aconchegante. Bartolomeu estava atirado na cama de Juliet e os gêmeos compartilhavam a cama de Madeline. Darwin estava parado no batente da porta, Juliet ao seu lado.

Rabastan colocou Zaniah em sua cama, por cima das cobertas. Olhou para cada um dos amigos que estavam no quarto e saiu a passos largos, puxando a porta a fazendo bater.

O baque fez Zaniah pular em sua cama, acordando de vez.

— O que foi isso? – Ela perguntou um pouco zonza.

Os outros cinco se entreolharam.

— Zan, teve algum motivo especial para você ter pedido para dormir aqui hoje? – Bartô perguntou.

— Bem, aqui é meu dormitório, né? Espera-se que eu durma aqui. – Ela falou com um tom de obviedade.

— Claro, claro. – Darwin disse cortando Theo que parecia querer falar alguma coisa. – Você tem razão, Zan, é seu quarto. É aqui que você precisa ficar.

Zaniah suspirou alto e começou a tirar seus sapatos. Céus, ela odiava ficar com calçado em cima da cama.

— Os últimos dias eu me senti monopolizada pelo Rabastan. – Admitiu em voz alta o que custou a admitir a si mesma. – Quanto mais atenção eu dou pra ele, mais atenção ele quer. – Ela falou se levantando e indo guardar seu tênis. – Quero dizer, é ótimo passar tempo com ele, mas eu sinto falta de vocês. – Ela falou enquanto gesticulava com os braços. – Então eu percebi que se cada vez que ele quiser atenção eu estiver disponível, ele vai achar sempre que eu preciso fazer suas vontades. Preciso voltar a equilibrar as coisas. E isso inclui preferir dormir aqui no meu dormitório, com as minhas amigas ao invés de dormir com ele.

Juliet sorriu e foi até a amiga de longa data. Abraçou-a de lado.

— Você escolheu um péssimo dia para vir dormir aqui, Zan. Digo, se sua intenção era fofocar com as garotas, não é um bom dia. – Bartolomeu disse e a Black fez uma expressão confusa. – Resolvemos, de última hora, que vamos dormir todos aqui hoje.

— O que significa que você vai fofocar com as garotas e com os garotos. – Theo disse sorrindo, fazendo o grupo explodir em risadas.

— Eu não conheço ninguém mais fofoqueiro que você. – Mad disse, colocando seu pé na cara do irmão, que o estapeou.

— Não é fofoca, é repasse de informações privilegiadas.

Mais uma vez, o grupo riu.

E aquela noite seguiu leve. Sem preocupações, sem intrigas, sem dramas, sem futuro. Eram só eles seis e suas conversas.

/*

— Você vem? – Régulos perguntou para Zaniah que estava sentada em sua poltrona. Era acompanhada por Bartolomeu, Juliet, Darwin, Madeline e Theodore.

— Não sei torcer para Grifinória. – Ela disse simplesmente.

— É importante vocês saberem as táticas dos adversários. – Antony disse, acompanhando Régulos.

— Por isso que meu irmão, o capitão, vai ir. – Zaniah disse. – Ele nos passa as táticas depois.

— Nem do time eu sou e estou mais preocupado com esse campeonato do que vocês! – Antony disse rude.

— Ninguém se importa. – Darwin disse indiferente. Antony o olhou feroz.

— Eu, com certeza, seria um artilheiro melhor do que você é, Burke. – O mais velho falou irritado, utilizando um tom pejorativo para tratar o mais novo.

— Acho que se você fosse melhor do que eu, a vaga de artilheiro seria sua, não minha. – Darwin falou sarcasticamente.

Antony, irritadiço como era, avançou para cima do Burke.

— Dolohov! – Zaniah exclamou exaltando-se. – Controle-se imediatamente. Eu não vou tolerar brigas dentro da minha própria Casa.

Antony parou, recompôs sua postura, encarou, irado, Zaniah e voltou para junto de Régulos e Rabastan. Zaniah trocou um olhar com o namorado, que mal conversara na última semana, e Rabastan então desviou o olhar, puxando Régulos para fora do Salão.

Zaniah inspirou fundo, irritada. Olhou para cima e soltou o ar. Focou seus olhos nas labaredas do fogo na lareira. Aquilo a acalmava de diferentes formas. Relaxou e suas respirações se tornaram ritmadas mais uma vez.

— Há quanto tempo estão assim? – Juliet perguntou. Zaniah não precisava de uma bola de cristal para saber que a amiga se referia a ela e Rabastan.

— Dês do dia da nossa festa do pijama. – Zaniah disse com uma risada amarga.

— Com todo respeito, mas que grandíssimo babaca. – Theo falou e Zaniah apenas assentiu, triste.

— Eu não acredito que ele seja tão possessivo e eu só tenha percebido agora. – A Black falou, inconsolável.

— Zan, às vezes nós ficamos cegos de amor e só enxergamos algumas coisas depois. – Mad falou com a voz suave, numa tentativa de consolo. – Não se sinta culpada. Resolva. O que você vai fazer quanto a isso?

— A melhor coisa para resolver os problemas, na minha opinião. – Zaniah disse. – Vou conversar com ele.

O tom de Zaniah deixou claro que aquele assunto estava acabado. Um tempo depois, resolveram fazer um campeonato de Snap Explosivo, meninas contra meninos. Bartolomeu venceu de Juliet, por um tris, e Theo perdeu para Mad, que jogava muito bem.

A disputa entre Zaniah e Darwin definiria a equipe vencedora. Juliet lançou a carta no meio dos dois, Zaniah fora a primeira a rebater, então Darwin conseguiu dar um tapa duplo, fazendo a carta mágica se erguer no ar. Com um movimento rápido, Zaniah a rebateu de volta à mesa, Darwin dera outro tapa e Zaniah mais um. Darwin deu um tapa de raspão que fizera a carta fumegar perigosamente. Com rapidez, Zaniah bateu duas vezes na carta e ela ergueu-se mais uma vez. Darwin tentou rebatê-la de volta à mesa, mas essa explodiu no meio do caminho, consagrando as garotas como campeãs.

Elas pularam animadas na comemoração, fazendo dancinhas alegres e debochando da cara dos três garotos. Zaniah jogou-se na sua poltrona enquanto ria. Juliet, marotamente, jogou uma carta do Snap na direção de Theo. Essa explodiu antes que ele pudesse ter qualquer reação. O cabelo do garoto se arrepiou, como se tivesse tomado um choque, e o grupo caiu em gargalhadas, algumas pessoas que presenciaram a cena riam também. Enquanto eles riam, a passagem da Casa se abriu e Régulos, Antony e Rabastan entraram, logo vendo o grupo rindo.

Zaniah, ao avistá-los, tentou controlar sua risada, respirando profundamente, mas ao ver Theo com os cabelos castanhos bagunçados recomeçou a crise de risos.

Régulos andou até eles, sendo seguido por Lestrange e Dolohov.

O Black sentou na poltrona da esquerda de Zaniah, enquanto o Lestrange sentou na da direita. Antony, que normalmente se sentava junto aos gêmeos Nott no sofá, parou de pé atrás de Régulos.

Zaniah olhou o irmão.

— Quem venceu?

— Grifinória. Agora é com a gente. – Régulos disse respirando fundo.

— Vai dar tudo certo, Rég. – Zaniah falou abanando a mão. – Nosso time foi o campeão do ano passado, e a única mudança foi a saída do Alistair e a entrada do Easton. Vamos jogar bem como sempre, relaxe!

Régulos corrigiu sua postura e assentiu para Zaniah, aceitando seus conselhos. A Black olhou para os amigos no sofá, Theo já havia arrumado seu cabelo com magia. Mad e Juliet a olhavam com cuidado, enquanto os três garotos se revezavam para olhar Rabastan.

O Lestrange, namorado e noivo de Zaniah, estava em sua poltrona, com uma expressão de tédio, enquanto suas mãos estavam encolhidas em seu colo, algo difícil de acontecer, considerando que ele sempre tentava deixa-las ao alcance de Zan. Aquilo irritou a Black, que não disse nada. Estava começando a achar Rabastan irritantemente imaturo.

Thomas Yaxley e sua noiva, Eugênia Greengrass logo se juntaram ao círculo íntimo de Zaniah, na frente da lareira. Antony, aprovando os novos chegados, se dirigiu até o sofá. Zaniah fechou os olhos, apoiou os cotovelos nos braços da mesa e juntou suas mãos. Para quem estivesse a olhando, imaginaria que ela estava relaxada e confiante em sua posição. No entanto a verdade era que Zaniah tentava pensar. Odiava ficar daquele jeito com Rabastan, amava o garoto, afinal. Não se importava de correr atrás das pessoas que amava, mas a indiferença de Rabastan perante ela a machucava. E para melhorar, Régulos, seu irmão e melhor amigo de Rabastan, não tinha nenhum tato.

Abriu os olhos e girou seu rosto, olhando em direção ao namorado. Viu quando ele a espiou pelo canto do olho e voltou a olhar para as chamas crepitantes na lareira, ignorando completamente sua presença.

Aquilo atingiu Zaniah como uma faca no peito e ela se viu com os olhos marejados.

Mas Black’s não choravam. Não em público. Então, ainda segurando suas lágrimas, levantou-se e foi em direção ao seu dormitório, com pressa.

— O que aconteceu? – Régulos perguntou alarmado, estranhando o comportamento da irmã.

Juliet o fitou desacreditada. Já Bartolomeu fitou acusatoriamente Rabastan. Darwin, por outro lado, não se deu ao trabalho de culpar ninguém. Correu atrás de Zaniah, mas esta já havia entrado em seu dormitório e fechado a porta. Tudo que o Burke poderia fazer era sentar na frente da porta e escutar a amiga chorando. Ele contava quantos segundos ela ficava sem chorar, torcendo para que ela conseguisse se acalmar. No entanto, sempre que chegava entre o segundo 9 e 15, Zaniah retornava a chorar.

Podia escutar a discussão que se instalava no Salão Comunal, mas não prestou atenção nele. Ocorreu-lhe então, tentar conversar com Zaniah pela porta. No entanto, quando tentou falar, sua voz não saía. Percebeu que seus olhos lacrimejavam e que sua respiração estava descompassada. A dor de Zaniah lhe doía. O descaso de Rabastan lhe doía.

Como alguém poderia ser tão indiferente aos sentimentos de uma pessoa que o amava tanto? Céus, Darwin faria qualquer coisa para que Zaniah sentisse por ele apenas metade do que ela sentia por Rabastan.

Secou seus olhos quando ouviu passos na escada. Regulou sua respiração e encostou a cabeça na parede ao lado da porta. Então os donos dos passos chegaram. Juliet, Régulos e Rabastan. Rabastan parecia culpado, Régulos estava perdido e Juliet o olhava com pena.

Não surpreendia Darwin que ela soubesse o que ele estava pensando. Eram melhores amigos desde que nasceram, Juliet o conhecia melhor que qualquer um. Era a única que sabia de seus sentimentos por Zaniah.

— Juliet. – Rabastan chamou. – Deixe-me entrar, por favor. – Ele falou enquanto encarava a porta.

Juliet o olhou irritada.

— Por que eu deveria fazer isso? – Indagou. Sua voz não escondia o quanto estava brava com Rabastan.

O Lestrange baixou os olhos.

— Por favor. – Falou num fio de voz.

Juliet comprimiu os lábios, num gesto que Darwin sabia que significava que ela estava contrariada. Respirou fundo três vezes, de olhos fechados e, sem abri-los, falou em bom tom.

— Eu, Juliet Avery, permito a entrada de Rabastan Lestrange no dormitório feminino do quinto ano.

Rabastan correu até a porta e abriu-a devagar. Darwin olhou para dentro, a única coisa que visualizou foi Zaniah deitada em sua cama, as bochechas estavam vermelhas, mas ela parecia calma. Demorou para que Darwin percebesse que ela dormia.

Rabastan entrou devagar no quarto e fechou a porta com cuidado atrás de si, não deixando que fizesse barulho. Uma semana atrás tinha batido aquela porta com força ao deixar Zaniah ali. Agora se arrependia profundamente de tudo que fizera, ou não fizera, naqueles dias. Quando Zaniah se ergueu da poltrona, os olhos banhados pelas lágrimas, ele sentiu seu coração rachar em mil pedaços. Seu orgulho não permitiu que ele visse que magoava a pessoa mais importante do mundo para ele.

Aproximou-se com cuidado da cama da namorada, ajoelhando-se perto da cabeceira. O rosto de Zaniah estava sereno, mas as bochechas vermelhas e as pálpebras inchadas denunciavam que ela estava chorando. Uma adaga no coração de Rabastan doeria menos. Tocou a maçã do rosto dela com a ponta dos dedos, percebendo que sentia falta de tocar sua pele, coisa que ele não fazia há dias.

Zaniah emitiu um leve grunhido quando Rabastan terminou com o contato entre eles.

— Zan. – Ele falou baixinho, acariciou sua bochecha de novo. – Zaniah. – Repetiu. – Zan, acorde. – Falou, enquanto sacodia de leve a namorada.

Zaniah despertou. Respirou fundo e abriu minimamente os olhos, inchados.

— Zan. – Rabastan falou como se fosse uma palavra sagrada. – Meu amor, não fica assim. Por favor, fala comigo. – O garoto implorou.

Zaniah ergueu seu tronco, a procura de mais pessoas no quarto. Seus olhos se voltaram para Rabastan, que identificou com clareza a mágoa neles.

— Meu amor... – Rabastan começou a falar suavemente. Zaniah se virou de costas para ele e cobriu sua cabeça com o cobertor.

O Lestrange não a julgava por não querer falar com ele. Ele fora um grandíssimo babaca, sabia disso. Esperava que isso fosse fazer ele se sentir melhor consigo mesmo, mas muito pelo contrário, apenas machucou Zaniah.

— Amor, eu não vou sair do seu lado até eu saber que você está melhor. – Rabastan disse suspirando. – Você pode me afastar o quanto quiser depois, pode me fazer de capacho e limpar a sola do seu calçado em mim, eu não vou me importar. Mas hoje, agora, eu vou cuidar de você e não existe forma alguma que me faça mudar de ideia. – Ele disse e retirou seu calçado, entrou debaixo das cobertas junto dela e a abraçou por trás. Zaniah não se movimentou nenhuma vez, não o afastou, mas também não se aproximou.

Então Rabastan sentiu seu corpo tremer e, quando percebeu, Zaniah chorava baixinho, tentando abafar qualquer som. O coração de Rabastan quebrou mais uma vez. Ele apertou o abraço em Zaniah e beijou seus cabelos. Então, para o alívio do Lestrange, Zaniah se virou em seu abraço, ficando de frente para Rabastan. Enterrou seu rosto na curva do pescoço do garoto. Ela ainda chorava e ele sentia-se desesperado para acalmá-la. Acariciava suas costas enquanto ela soluçava baixinho no seu colo. Rabastan beijava sua testa a cada pouco.

— Vai ficar tudo bem. – Ele sussurrou. – Eu amo você.

E assim seguiu a noite, até que Zan pegasse no sono. Eles sussurrando que a amava e ela sentindo o calor da pele dele na sua.