A Vida de Alguém...

26 de janeiro de 2014


Oi,

Eu poderia chegar e dizer que minha vida é uma droga, mas não é. Tudo o que eu perdi antes, valeu a pena. Hoje dou um pouco mais de valor. Minha mãe foi embora, e hoje, mora numa distância de seis a oito horas. Meu pai tem uma namorada. Digamos que perdi os dois, mesmo ainda os tendo. Às vezes digo que talvez doa menos quando alguém morre que ter alguém que você ama vivo, mas que está vivo só para os outros. Dói um pouco. Mas eu consigo superar. Sempre consigo. Tenho meus amigos agora.

Hoje resolvemos assumir. Não começar a namorar, mas parar de esconder. Fomos pra rua com algumas pessoas e ficamos juntos. Nos beijávamos como se não tivesse ninguém ali. Não que a gente se agarrasse e ficasse de sem-vergonhice na rua. Mas a gente parou de correr das pessoas. É bom deixar escondido por um tempo mas... depois de um tempo enjoa. E eu não quero enjoar dele. Nunca.

Acho que um dia terei de dar um nome a ele. Vou pensar em um nome legal e que combine com ele. Charlie? Charlie é um nome que combina. Ele tem cara de Charlie. Mas acho que é americano demais pra ele. Pedro? Não. Preciso pensar em um nome para um garoto branco, baixo (em comparação aos outros garotos, é baixo) e bonito. Talvez na próxima carta eu tenha um nome pra ele. Enquanto isso, prefiro pensar nos momentos que passamos juntos.

Tem momentos que eu começo a pensar em coisas ruins, o que me faz mal. Começo a lembrar da minha mãe, que mora longe. Fico imaginando como ela está e começo a pensar em como seria se ela morresse agora. É duro, mas é a vida. Só que, se acontecer hoje, eu não vou saber. Ou talvez saiba, mas não agora. E a família dela não gostaria de me ver lá. E me trataria mal. Mas ela é minha mãe. E eu tenho medo de perdê-la. E meu pai viaja muito. Não é sempre pra longe e agora ele está de férias por causa do filho. Mas quando ele vai trabalhar, fica viajando direto. E de carro. E sozinho. Tenho medo de que algo aconteça. Pensar nessas coisas me faz mal. Isso me assusta. Minha cabeça dói muito e eu choro. E eu não gosto de chorar, porque fico com a respiração difícil de manter. Tenho que parar de pensar nessas coisas.

Toda vez que penso na minha amiga, começo a pensar coisas ruins. Ela é minha melhor amiga e o pai dela está doente. Ele tem câncer. Não sei aonde, mas a situação na casa dela é difícil. Estava conversando com ele um dia desses e disse que tinha vontade de tirá-la da casa dela.

– Esse pessoal prende muito ela. Acham que a vida dela tem que girar em torno disso agora.

– É, tem horas que eu tenho vontade de aparecer lá, pegar todas as coisas dela, colocar em uma bolsa e arrastar ela pra cá.

Fiquei imaginando como seria se eu pudesse fazê-lo. Ela é minha amiga. Faria isso feliz. A gente briga às vezes, mas a amizade vale a pena. Conversamos há mais de um ano e meio... mas nos conhecemos há dois. Eu era da turma da bagunça e ela, da turma da frente. E ele sentava com ela e com uma outra amiga. Que por sinal, é o símbolo da meiguice para nós. Às vezes me enche o saco, mas ela é uma amiga legal. Sempre que eu preciso, ela tá pronta pra me ajudar. E foi ela que juntou nós dois, então não tenho do que reclamar.

Tem horas que penso como seria ficar sem meus amigos. Acho que eu piraria. Eles compram minhas brigas, e, se eu tentar impedir, eles me batem. Porque somos amigos. E amigos fazem isso, não é? Acho que sim, porque eu sempre faço esse tipo de coisa por eles. Ainda não fiz nada de tão grandioso, mas acho que não preciso. Sempre tento ser uma boa amiga e demonstro isso pelos mínimos detalhes. Porque não sei demonstrar. Mas tento, eu juro. E os amo. Muito mesmo.

Agora vou dormir. E acho que você também deveria ir, considerando a hora... espero que você tenha uma boa noite. Tentarei ter. Se minha cabeça parar de doer.

Com amor,
Alguém.