A Verdade
Capítulo 30
Depois de Don insistir muito, fomos para casa. Tomei um banho e coloquei qualquer pijama. Entrei no quarto da minha filha e sentei-me no chão. Peguei o ursinho que ela mais gostava que estava jogado no chão e fiquei lá, olhando pra ele. As lágrimas não paravam de cair. Temia que aqueles dois fizessem algo ruim à ela.
- Anne? – disse Don, entrando no quarto e sentando ao meu lado. – não fique assim, pelo amor de Deus. Eu não suporto te ver desse jeito.
- Eu quero minha filha, Don. Eles vão fazer mal a ela.
- Vai ficar tudo bem, vamos salvá-la.
- Aquela vadia, eu não devia ter confiado nela. Se eu tivesse te ouvido...
- Não se culpe você não tinha como saber. – disse segurando minha mão.
- Acho que o seu celular está tocando. – disse.
- Deve ser algo importante. Eu já volto.
- Tudo bem.
Ele pegou o celular que estava em cima do trocador e atendeu.
- Flack.
- Oi é o Danny. A equipe de resgate recebeu uma ligação de um homem. Ele disse que sua irmã foi esfaqueada.
- E daí?
- E daí que o cara que ligou foi Vitor Hale.
- Vocês tem certeza disso?
- Claro Flack! A casa fica em Bed Stuy, na Putnam Avenue.
- Estamos indo. – ele desligou.
- O que houve?
- Vitor Hale ligou para a emergência. Parece que a Simone foi ferida.
- E Lívia?
- Não sabemos. Coloque uma roupa e vamos...
Não esperei ele terminar a frase e já fui para o quarto. Coloquei qualquer coisa que eu vi na frente e desci correndo as escadas. Entrei no carro e fomos para Bed Stuy. Chegamos à rua e já havia grande movimentação de policiais. O resgate ainda não havia chegado. Flack aproximou-se de Mac, que estava em frente à porta da casa. Fiquei atrás deles, junto com Stella.
- Vamos resgatar nossa menininha. – comentou Mac.
- Vamos. NYPD! ABRAM A PORTA. – ordenou Don, que logo em seguida deu sinal para os policiais derrubarem.
Os dois entraram e viram Simone sentada no sofá, aparentemente muito calma.
- Simone? Você está bem? – perguntou Stella.
- Acho que sim.
- Foi o seu irmão quem fez isso?
- Foi. Ele ficou bravo comigo. Eu queria devolver a criança, mas... – ela se deitou.
- O resgate está vindo.
- Onde está minha filha, Simone? Fala!
- Lá em cima.
Subi correndo as escadas. Entrei em um quarto vazio, mas Lívia não estava lá. Entrei no segundo quarto e vi um homem alto perto da janela. Pude ver que minha filha estava sentada no batente da porta e meu corpo estremeceu. Peguei minha arma e apontei em sua direçao.
- Vitor?
- Oi detetive. – disse sem se virar.
- Tira ela daí, por favor.
- Cadê meu dinheiro?
- Vitor, você não vai querer jogá-la daí.
- Não me pressione. Senão, sua filhinha voa. – Lívia começou a chorar. – DE NOVO NÃO, MAIS QUE INFERNO! CALA ESSA BOCA, MENINA. EU NÃO AGUENTO MAIS. – estava visivelmente irritado.
- Vitor, calma. Vamos fazer um acordo, sim? Me dê minha filha e eu te dou o dinheiro.
- Eu sei que você não está com o dinheiro, sua vadia.
- Vitor, por quê? Porque está fazendo isso?
- Eu sempre levei uma vida difícil. Cresci nesse lugar imundo. Minha mãe era uma prostituta drogada e meu pai? Eu sei lá quem é meu pai! Tive que cuidar da Simone quando ela nasceu. Eu cuidei da minha irmã. Nós passamos fome. Até que eu cansei dessa vida miserável e me juntei com as gangues, sacou? Assaltava pequenas lojas. Vendia drogas. Até que a minha mãe morreu. Ela tinha AIDS. Ai um dia, eu caí. Fui preso, fiquei dez anos numa cela cheia de homens fedidos e asquerosos que fizeram coisas que você não pode imaginar. Virei a putinha deles. Sai de lá decidido a mudar. Arrumei um emprego na construção civil. Minha irmã cresceu num orfanato e depois, virou babá. Um dia, ela me contou sobre a sua fortuna. Eu fiquei com muita raiva porque você tinha tanto dinheiro e nunca tocou na grana. Porra! Você tem mais de dez milhões de dólares no banco e nunca usou? Você tem problema? Ai eu fiz a cabeça da Simone pra gente sequestrar a menina e pedir o resgate. Com esse dinheiro, minha vida mudaria completamente. Eu iria embora desse país pra sempre. Só que a Simone ficou com remorso. Queria levar a menina de volta pra você. Nós brigamos e eu... Eu não quis machucar a minha irmã. Ela só...
- Tem muita coisa mais importante do que dinheiro nesta vida, Vitor. Você teve a chance de ser uma pessoa boa. De ter outra vida, mas você quis ir de novo para o caminho errado. Você vai ser acusado por sequestro e tentativa de homicídio. Você vai ficar um bocado de tempo preso.
- Faz essa menina calar a boca, por favor.
- Me devolve ela. Eu vou colocar a arma no chão. Viu? – disse colocando a arma no chão. Me aproximei e vi que ele estava com uma pequena faca na mão direita, que estava toda ensanguentada. Lívia olhou para mim e aos poucos, parou de chorar.
- Mama. – ela disse esticando os braços para o meu lado.
- Oi meu amor, eu estou aqui. Por favor, Vitor.
- Anne? – escutei Flack me chamar. – o que esse desgraçado pensa que está fazendo? Solta minha filha!
- Você tem certeza? Se eu soltá-la, ela vai cair.
- Não! Calma, Vitor. – eu pedi.
- Ela começou a chorar de novo! Eu não aguento mais! Fica quieta menina dos infernos! – disse puxando minha filha bruscamente e praticamente jogando-a no chão. Flack correu e o algemou e eu fui pegar Lívia, que ainda estava chorando.
- Calma, princesa, a mamãe está aqui. – disse abraçando-a e descendo as escadas.
- Graças à Deus. – disse Mac.
- Como ela está? Esse sangue todo na roupa dela é da Simone?
- Provavelmente, as mãos de Vitor estavam com sangue.
Fui para fora e respirei aliviada. Finalmente, aquilo tudo havia terminado.
- Como ela está, Anne?
- Bem Tyler.
- Fico feliz.
- Hey, Alanis! – gritei.
- Oi Anne. Que bom que tudo isso terminou.
- Também acho.
- A moça acabou de sair da cirurgia. Ela vai ficar bem.
- Que bom. Sabe, faz um tempinho que eu não saio de férias e agora eu preciso delas.
- Concordo plenamente. Vai ter suas férias, você merece descansar um pouco.
- Obrigada. – virei para o lado e Flack colocava Vitor na viatura.
- Vamos pra casa? – ele disse.
- Pelo amor de Deus, vamos. – ele beijou a testa de Lívia e em seguida, beijou a minha. Quando chegamos, Lívia estava dormindo e eu decidi deixá-la dormir no meu quarto. Coloquei minha cabeça no travesseiro e virei para olhar Don.
- Da próxima vez, nós contratamos a Nanny McPhee.
- Agora você faz graça, não é?
- Claro. Eu te amo.
- Eu também te amo, detetive. Boa noite.
- Boa noite.
Depois de muitos anos, tive uma noite de sono tranquila.
No mês seguinte, Don e eu tiramos férias. Decidimos viajar para o Havaí, pois aquele lugar me lembrava a minha mãe.
Dois meses depois, era aniversário de Adam, e depois do expediente, busquei Lívia na escolinha e voltei para o laboratório, pois havíamos preparado uma festa surpresa para ele.
- Ah, pessoal, não precisava disso. –ele disse, meio sem graça.
- A gente te ama, Adam. – disse Sheldon.
- Apesar de você ser torcedor dos Pistons. – comentou Danny.
- Ah, cara os Pistons são os melhores dessa temporada.
- Eu concordo plenamente. – eu disse.
- Ela é tão linda, porque ela torce pros Pistons? – perguntou Don.
- Nem tudo é perfeito nessa vida, Flack. – disse Mac.
- Vamos fazer um brinde ao Adam. – disse Lindsay.
Nós brindamos com suco de laranja e ficamos conversando.
- E ai? Quando vocês dois vão aumentar a família? – perguntou Adam, que estava com Lívia no colo.
- Ah, é um caso a se pensar, não é, querida? – disse Don, virando-se para mim.
- É devemos pensar mesmo. Mais só pensar.
- Olha só, parece que a Lívia gostou do Adam. Ela ainda não chorou. – disse Stella.
- Estou pensando seriamente em congelar por uns vinte anos pra eu me casar com ela. – brincou.
- Sem gracinhas. Ela só vai pensar em namorar com trinta anos. Ou quarenta, depende do que eu e a mãe dela decidirmos.
- Eu tenho dó dessa criança. – comentou Tyler.
- Ninguém merece ter um pai como o Flack. – disse Danny.
- Olha só quem fala, não é Messer? A Lucy já tem quase dezesseis anos e você não a deixa nem respirar.
- Eu tenho que cuidar do que é meu, Don.
- Ela não vai ser nossa para o resto da vida. – disse Lindsay. – À propósito, você viu o menino que ela está saindo?
- O quê? Quem é esse filho da mãe que eu vou acabar com a raça dele.
- Calma! Ele é um bom rapaz. Ele tem o estilo parecido com o do... Como é nome dele mesmo? O vocalista do Guns N’ Roses?
- Axl Rose. – eu disse.
- Exato! Ele me lembra muito o Axl Rose.
- Eu acho que vou ter um ataque! Como a nossa garota namora um cara deste tipo? – ele estava muito nervoso.
- Em casa conversamos. – ela disse, por fim.
- Eu quero ver esse safado. Vamos embora, Lindsay. Até logo, pessoal. – ele disse.
- Tchau gente. – disse Lindsay rindo.
- Acho que esse cara vai ter problemas. – comentou Sid.
- Eu teria a mesma reação. – disse Don.
- Eu também. – disse Mac. – ainda bem que a Sophia não tem idade pra essas coisas.
- Você que pensa. – comentou Stella.
- O que você quis dizer com isso?
- Nada.
- Stella, a Sophia tem treze anos. Por Deus.
- Calma, Mac. É só um namoradinho. Nada de mais.
- É só um namoradinho? E daqui a pouco? Você vai dizer é só um bebezinho? Stella, por Deus. Vamos embora quero ter uma conversinha com essa menina.
- As coisas não estão boas para elas. – disse Adam.
- Não mesmo. Vamos embora, Anne?
- Vamos Don. Vem cá, amor. – disse pegando Lívia do colo de Adam. – tchau gente.
- Tchau Anne.
- Tchau pessoal.
- Tchau Flack.
Entramos no elevador e Don ficou em silêncio por um momento.
- Meninos só depois dos quarenta, ouviu mocinha? – disse olhando para Lívia, que estava em pé com um ursinho numa mão. Eu ri.
- Você não tem jeito, não é?
- Não. Tenho que proteger minha garotinha.
- Tudo bem, papai. Eu te amo.
- Eu também te amo, Annelies. Muito. - disse beijando minha mão.
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