A Verdade

Capítulo 26



No dia seguinte, acordamos por volta das sete, com o choro de Lívia. Fiz sua mamadeira e depois, dei-lhe um banho.

– Você pode fazer o café? – perguntei. – tenho que tomar banho.

– Posso sim. Coloque-a no carrinho. Já vou descer.

– Obrigada. – entrei no banheiro e tomei um bom banho. Me troquei rápido e quando desci, Don já havia preparado o café.

– O café está na mesa.

– Está com um cheiro ótimo.

– Agora é minha vez de tomar banho.

– Já tomou café?

– Já.

Ele subiu e eu tomei o café e comi torradas. Enquanto isso, Lívia estava quieta dentro do carrinho, mordendo um bicinho de borracha. Lavei a louça e vinte minutos depois, a campainha tocou. Fui abrir a porta e era a babá.

– Oi Sra. Flack. Como passou de ontem?

– Bem Simone, e você?

– Tudo ótimo.

– Entre, por favor.

– Com licença. – ela entrou e ficou parada. – sua casa é muito bonita.

– Obrigada.

– Essa é sua filha? – disse olhando para Lívia no carrinho. – que bebê adorável. Seremos ótimas amigas. – disse passando a palma da mão delicadamente no rosto da minha filha.

– Ela é um pouco agitada. Dorme pouco durante o dia. As mamadeiras estão no armário da cozinha, segunda porta à esquerda. Todos os itens de higiene e as roupas estão no quarto dela, na primeira porta à direita, subindo as escadas. Se você quiser levá-la para tomar um ar, pode levar, mas, por favor, tome cuidado. Todos os telefones de emergência estão ao lado do telefone, inclusive o meu, do meu marido e do meu pai. E também da recepção do departamento.

– Querida, é melhor irmos. – disse Don descendo as escadas. – bom dia, sou Don Flack. – disse apertando a mão de Simone.

– Prazer em conhecê-lo, Sr. Flack. Sou Simone.

– Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, nos ligue, por favor. Tudo bem?

– Tudo bem Sra. Flack. Pode deixar comigo.

– Tudo bem então. – eu e Don nos despedimos de Lívia e fomos para o trabalho. Eu estava preocupada em deixar minha filha nas mãos de uma estranha, mas Simone me parecia uma boa moça.

– A achei muito nova. – comentou Flack, quando já estávamos no elevador do NYPD.

– Ela tem boas recomendações.

– Ela pode ser uma irresponsável.

– Você queria que eu contratasse quem? A Nanny McPhee? A Jo Frost?

– Você exagerou agora hein? – ele riu.

– Até mais. – disse lhe dando um beijo.

– Até.

Eu sai do elevador e dei de cara com Alanis.

– Bom dia, Anne.

– Bom dia Alanis.

– Como vai Lívia?

– Muito bem. Obrigada por perguntar.

– Olha só quem voltou! Bem vinda de volta, Evans... – disse Tyler.

– Agora ela é Flack, se esqueceu? – observou Alanis.

– Oh, é mesmo. Você teve um bocado de sobrenomes, hein?

– Fazer o quê? Temos muito trabalho?

– Ah, as mesmas coisas de sempre.

– Que droga. – fui para a minha mesa e Tyler me situou das coisas que estavam acontecendo no departamento.

– Uma coisa que eu preciso te contar: não sou mais seu chefe.

– Como?

– Não nasci pra mandar em ninguém, Anne. Eu pedi ao superior para que eu voltasse à minha antiga função. Agora nossa chefe é a Alanis.

– Você tá brincando? Ela vai tornar nossa vida um inferno.

– Não vai. Ela achou um cara.

– O quê?

– Ela tá namorando.

– Oh, meu Deus. E ela leva jeito pra essas coisas? Ela é a pessoa mais fria que eu conheço!

– Corações de pedra amolecem, Annelies.

– Pois é.

Na parte da manhã não tivemos muito trabalho. Voltei para casa na hora do almoço para ver Lívia. Depois, voltei para o departamento. Naquele dia voltei cedo para casa.

No dia seguinte, fui para o departamento mais cedo. Nem havia chegado direito e já tive um chamado.

– Anne, Tyler. Vocês tem trabalho. – disse Alanis, da porta. Nos levantamos rapidamente e a seguimos.

– Onde é? – ele perguntou.

– Num colégio da região. Uma aluna foi encontrada com vários hematomas e um corte profundo no pulso. Pelo que a enfermeira me disse, ela foi abusada sexualmente.

Tyler e eu fomos para o colégio. Me surpreendi quando cheguei ao local.

– Ah, é aqui? – disse.

– Esse é o endereço. – nós descemos do carro.

– A ultima vez que estive aqui foi na formatura.

– Você estudou aqui?

– Durante todo o ensino médio. Esse colégio atrai coisas ruins.

– Por quê?

– No meu último ano, um amigo foi morto aqui.

– Claro! O caso Anderson. O pai matou o filho por causa de uma mulher! Eu morava em Chicago. Esse caso teve repercussão no país inteiro.

– Porque o pai do Luke era um político importante.

– Era sim.

– Ele foi executado há um mês.

– Fiquei sabendo disso. – nós entramos no colégio e ele estava igual.

– Esse lugar é enorme! Parece um resort.

– Eu sempre o comparei com um presídio de segurança máxima, mas tudo bem.

– A mensalidade deve ser caríssima.

– E é. Eu odiei quando meu padrasto me pôs aqui. Eu estava bem estudando onde estudava, não tinha porque ele me matricular aqui. Ele disse que lá eu estava segura. Hoje eu entendo porque ele se preocupava.

– Ele queria te proteger.

– É. Sou grata por ele ter feito isso.

– Olha só! Quem são eles? – escutei alguns alunos comentarem.

– Acho que eles são da polícia. – comentou outro.

– Ainda bem que vocês chegaram! – exclamou o diretor.

– Sr. Gandia. Como vai?

– Annelies? É você?

– Sim.

– Você mudou muito. Continua muito bonita.

– Poupe seus elogios, por favor. Onde está a garota?

– Na enfermaria. Você sabe o caminho.

– Obrigada.

– Anne! – ele gritou. – por favor, tem como você manter isso em sigilo? Você sabe como é aqui. E a menina é filha de um cara poderoso.

– Vou fazer o possível pra imprensa não ficar sabendo.

– Muito obrigado. O caso do Luke Anderson nos deu muito prejuízo.

– Eu sei. – virei as costas e Tyler e eu fomos para a enfermaria. A menina estava dormindo. Tinha muitos hematomas no rosto e seus pulsos estavam enfaixados.

– Oi sou a detetive Flack. E esse é o detetive Hopkins.

– Oi sou a enfermeira, meu nome é Esther.

– Pode nos contar o que aconteceu?

– Um dos professores a trouxe aqui. Ele disse que a encontrou na biblioteca, no sofá. Ensanguentada. Coitadinha!

– Porque vocês não a levaram no médico?

– Ela é filha de um político importante. Imagina se ela chega no hospital deste jeito?

– Ah, entendi. E se ela tivesse morrido, hein? A imagem desse colégio ficaria pior.

– Você não sabe como isso aqui funciona.

– Ah, eu sei sim. Todos os podres da administração deste colégio. Os donos são todos corruptos.

– Não diga isso, detetive.

– Tudo bem, ela tem algum trauma sexual?

– Tem sim. Muitos. Mais eu não sei como... Essa menina quase não sai daqui.

– Então o estuprador é alguém daqui.

– Não sei...

– Quem está ai, Esther? – a menina perguntou, ainda sonolenta.

– Uns detetives, meu bem.

– Oi. Sou a detetive Flack. Pode me chamar de Anne. Posso te fazer algumas perguntas?

– Pode. – ela disse se sentando.

– Como é seu nome?

– Diana.

– Bem, Diana, onde conseguiu estes cortes?

– Eu... não sei.

– Como não sabe?

– Não sei.

– Pode me dizer.

– Eu que fiz.

– Por quê?

– Eu quero morrer, detetive. – suas palavras me chocaram.

– Você não precisa fazer isso só por que...

– Eu quero ficar sozinha, pode ser? – disse visivelmente irritada.

– Como quiser. – eu disse saindo do quarto.

– Vai ser difícil. – comentou Tyler.

– E como.

Os dias foram se passando e nada de Diana contar o que realmente aconteceu. Por volta das cinco da manhã, Alanis recebeu uma ligação de Mac.

– Anne, Tyler, tenho péssimas notícias.

– O que aconteceu? – perguntei assustada.

– Sabe aquela garota do NY Academic?

– Sim, Diana Bell. O que tem?

– A encontraram morta. Taylor acabou de me avisar.

– Mais que merda! – Tyler praguejou.

– Onde?

– No colégio mesmo. Em cima de uma mesa de sinuca.

– Droga!

– Nossa equipe vai trabalhar junto com a de Mac. Não podemos perder tempo. Vamos?

– Claro. – nós três dirigimos novamente até a NY Academic. Quando chegamos, a faixa amarela isolava o colégio. Lembrei-me da morte de Luke. Todos os alunos ali no salão principal muito assustados com o ocorrido. Tyler e eu fomos até a sala de recreação, onde encontraram o corpo de Diana. Vimos Stella tirando algumas fotos e Flack conversando com algumas pessoas.

– Ah! Vocês chegaram. – disse Flack.

– Quem a encontrou? – perguntei.

– Um dos professores. Ele está um pouco abalado, segundo o diretor. Não conversei com ele ainda.

– Ela perdeu muito sangue. – disse me aproximando do cadáver, que estava com uma faca enterrada no peito.

– Que cena terrível, meu Deus. – Tyler disse, passando a mão direita na testa.

– Ninguém saiu daqui, não é? – perguntei a Flack.

– Não Anne, por quê?

– Porque o assassino está aqui dentro.

– Como você tem certeza disso?

– Você tem noção de como é o sistema de segurança desse colégio? Você já viu o tamanho dos muros? Percebeu quantos seguranças tem no local? Não dá pra ninguém fugir assim sem ser percebido.

– Então você acha que é alguém aqui de dentro?

– Eu não acho, Don. Eu tenho certeza.