Katherine já esperava que não fosse nada fácil passar pelos verdugos, sabia que não sairiam todos do labirinto, iriam ter baixas, mas mesmo assim era difícil de aceitar.

Perderam Clint, Jeff, Jimmy também se foi. Depois de terem que correr sem parar, com arranhões por todo o corpo, e de terem perdido pessoas queridas e nem poderem parar para lamentar a perda delas, agora se encontravam em frente a uma porta com uma placa brilhando escrito ‘SAÍDA’, o C.R.U.E.L. não via limites quando o assunto era brincar com a cara deles.

— É sério? – disse Caçarola

— Só podem estar de brincadeira com a nossa cara... – resmungou Katherine

Foi Thomas que tomou a iniciativa de abrir a porta, todos estavam tensos com o que poderia aparecer atrás daquela porta. Katherine já estava cansada de perder aqueles que ela amava, não achava que conseguiria seguir em frente se mais uma tragédia acontecesse.

Esperando o que quer que aparecesse atrás daquela porta Kathy segurou a mão de seu irmão e a mão de Minho que estava à sua esquerda. Aparentemente, não havia nada que iria ataca-los ali.

Luzes piscavam, um alarme estava acionado e tocando, corpos estavam no chão. Ao passarem por aquele corredor macabro, de um dos lados havia uma parede com um vidro que dava visão para uma sala e lá dentro estavam duas macas com dois corpos cobertos por lençóis brancos, pelo jeito estavam mortos.

Katherine continuou andando de mão dado com Minho, aquilo estava ficando cada vez mais estranho e assustador. Continuaram andando até entrar em uma grande sala, a qual não era desconhecida por Kathy, era a mesma sala de suas memórias, mas agora sem as telas super modernas. Todos os vidros estavam quebrados, tinham alguns fios soltando faíscas, algo muito ruim tinha acontecido ali.

Algumas TVs e computadores estavam funcionando, ali puderam ver imagens da clareira, era assim que os criadores os vigiavam e sabiam tudo o que eles faziam.

Thomas se aproximou de uma bancada e apertou um botão vermelho que estava piscando, a imagem da mulher de cabelos brancos das lembranças de Katherine apareceu no telão.

— Paige... – sussurrou Kathy

— Olá. – disse a gravação – Meu nome é Dra. Ava Paige. Sou diretora do Catástrofe e Ruína Universal – Experimento Letal, se estão vendo isto, completaram as provas do labirinto. Gostaria de estar aí para parabeniza-los, mas as circunstâncias parecem ter impedido. Imagino que estejam muito confusos, com raiva, assustados... só posso lhes garantir que tudo que aconteceu a vocês, tudo o que fizemos com vocês, teve um propósito. Não vão se lembrar, mas o sol queimou nosso mundo. Bilhões de vidas perdidas para incêndios, fome... sofrimento em escala global.

Katherine não conseguiu continuar olhando as imagens terríveis passando no telão, virou de costas para as imagens, sentiu que Minho voltou a segurar a sua mão, olhou para ele e percebeu que ele entendia como ela se sentia.

Mesmo que não quisesse não conseguia ignorar a voz da mulher.

— Os jovens teriam de ser testados e até sacrificados num ambiente hostil onde se estudasse a atividade cerebral. Tudo para entender o que os tornava diferentes, o que tornava vocês diferentes.

Temos que fazer alguns sacrifícios para alcançar a paz.

Katherine se lembrava agora de quando Paige tinha falado sobre isso com eles.

— Infelizmente, seus testes mal começaram. Logo vão descobrir que nem todos aprovam nossos métodos.

“Thomas você tem que entender tudo o que estou fazendo é para o bem daqueles adolescentes. Eles não merecem ir pra aquele lugar!”

“Mas é tudo para um bem maior, eles vão nos ajudar a encontrar a cura.”

“Só vamos matar todos eles como ratinhos de laboratório! Vá em frente conte tudo à Paige, mas eu vou continuar salvando quantos eu puder.”

É, realmente nem todos aprovavam esse “método” e agora Katherine tinha certeza de que ir contra o C.R.U.E.L. tinha sido a melhor decisão que tinha tomado, mesmo com ela sendo mandada para a clareira todo seu esforço para salvar os outros adolescentes tinha valido a pena. Ela só se culpava por não ter conseguido fazer o mesmo por Newt.

— Pode ser tarde demais para nós – continuou Ava – para mim, mas não para vocês. O mundo lá fora os aguarda. Lembrem-se: C.R.U.E.L. é bom.

Katherine se assustou com o som do tiro, mas ao mesmo tempo se sentiu aliviada. Se aquela mulher estava morta, talvez tudo fosse ficar melhor agora, não é?

Só naquele momento Kathy percebeu o que estava na sala em sua frente, um corpo, uma mulher vestida de branco. O corpo de Ava Paige. Katherine soltou a mão de Minho e se aproximou onde deveria ter uma parede de vidro. Os outros também se aproximaram com ela. De repente portas se abriram a direita deles para um grande corredor.

— Acabou? – disse Chuck

— Ela disse que éramos importantes. – disse Newt

— Importantes para sermos usados como ela quisesse... – disse Kathy

— Que faremos agora? – disse Newt

— Eu não sei. – disse Thomas se virando para Katherine

— Vamos finalmente sair dessa mértila de lugar... – disse ela – e ver o que nos espera lá fora... seja o que for, teremos uns aos outros.

Katherine segurou a mão de Thomas para dar forças tanto para ele quanto para ela mesma para enfrentarem o que fosse que tinham pela frente. Mas antes que pudessem começar a andar, ouviram uma voz que não achavam que ouviriam de novo, ou nem tão cedo.

— Não.

Era Gally, e ele não estava em seu melhor estado. Tinha um revólver na mão.

— Gal! – Kathy avançou

— Não! – impediu Teresa – Ele foi picado.

Realmente foi isso que aconteceu, seus olhos estavam escuros como os de Ben depois de ter sido picado. Na mão direita ele carregava o revólver e na esquerda ele tinha a mesma “chave” que Thomas e Minho tinham pego do verdugo que mataram no labirinto. De alguma forma ele tinha conseguido sair da clareira ou sozinho ou seus companheiros tinham todos morrido.

— Não podemos sair. – disse ele

— Nós conseguimos Gally. – Thomas tentou argumentar – Já saímos. Estamos livres.

— Livres? – disse indignado – Acha que estamos livres lá fora?

— Gally, já está tudo acabado... – Kathy tentou se aproximar – Estamos juntos aqui, podemos abandonar este lugar.

— Não. Não há como escapar desse lugar. – ele levantou a arma apontando para ela

— Gally, por favor... você tem que me escutar... podemos dar um jeito, só abaixe a arma.

— Eu pertenço ao labirinto.

— Abaixe a arma Gally. – pediu Newt

— Todos nós pertencemos! – continuou ele

Foram segundos para que a tragédia acontecesse. Gally disparou, Chuck empurrou Kathy, Minho atirou sua lança acertando em cheio o peito de Gally.

— NÃO!

Katherine gritou e correu até Gally, o garoto tentava puxar o ar, com Katherine como suporte ele foi caindo de pouco em pouco no chão. Primeiro de joelhos depois deitando de lado.

— Gally! Gally, por favor, por favor, por favor, você não pode fazer isso comigo...

Por mais que Katherine lamentasse, não havia nada que ela pudesse fazer, ela nem ao menos iria ter tempo de lamentar a morte de seu amor. Mais uma pessoa foi vítima dessa tragédia.

— Thomas...

Kathy se virou e viu Chuck caindo no chão amparado por Thomas e com a mão no peito. Ela se arrastou até eles.

— Chuck... – chamou ela

A blusa de Chuck estava vermelha, Gally o tinha acertado.

— Chuck, olhe pra mim! – disse Thomas desesperado – Aguente firme, está tudo bem.

— Thomas, Thomas...

Chuck entregou algo para Thomas, algo esculpido em madeira. Katherine estava sem reação, só conseguia passar a mão pelos cachos do garotinho e continuar chorando, seu coração estava despedaçado.

— Ta... tudo bem... Kathy...

— Chuck... me desculpe...

Chuck tomou a mão dela que estava em seus cabelos e lhe deu um olhar como que tentando fazer com que ela se sentisse melhor e que tudo ficaria bem. Katherine se inclinou e lhe deu um beijo na testa.

— Obrigado...

Essas foram as últimas palavras do pequeno Chuck, seus olhos ficaram fixos no teto.

— Chuck... Chuck?

Thomas chamava desesperadamente o garoto, Katherine deixou que o amigo liberasse seus sentimentos e se aproximou do corpo de Gally.

— Gally... – chamou ela – Por favor, você tem que voltar pra mim... Gally... – Kathy encostou sua testa na dele, suas lágrimas caíram no rosto do garoto – Volta pra mim Gal... eu te amo...

De repente a “porta para a liberdade” se abriu e através da luz do mundo exterior pessoas com equipamentos de segurança e armas invadiram a sala. Eles começaram a levar os garotos e Teresa para fora, tiveram que arrastar Thomas de cima de Chuck.

— Gally, por favor, levanta! – disse desesperada – Gally...

Duas pessoas se aproximaram para leva-la. Mas ela lutou para que a soltassem.

— Não! Por favor, ajudem ele! Não vou embora sem ele!

Katherine se agarrou ao corpo de Gally se negando a deixa-lo naquele lugar horrível.

— Gally...

Por um segundo Katherine podia jurar que ouviu um suspiro vindo do garoto, mas não teve tempo de ter certeza, pois foi arrastada dali com muita dificuldade.

— Não! Não posso deixa-lo! Não posso! Gally!

Com muitos gritos e várias tentativas de voltar para perto do garoto, Katherine foi levada. Ao sair, tudo a sua volta era repleto de areia, o sol estava muito forte. Foi levada para um helicóptero, lá dentro estavam seus amigos, aqueles que sobraram. Ela tentou pela última vez sair dali, mas o helicóptero já estava voando e Newt a segurou antes que mais uma tragédia acontecesse.

— Newt... não podemos deixa-los lá... – ela soluçou

Newt não teve tempo de dizer nada, foi interrompido por um dos homens que os levaram até lá.

— Estão bem? Não se preocupem, estão seguros agora.

Eles puderam ter uma visão melhor do locar em que estavam, da janelinha puderam ver sua antiga casa, o labirinto em meio ao deserto.

Newt não conseguiu dizer nada, estava surpreso, confuso e triste com tudo o que aconteceu, só o que conseguiu fazer foi abraçar sua irmã e tentar passar o máximo de confiança e conforto pra ela.

— Temos que voltar... não podemos deixá-los lá Newt... por favor...

— Kathy...

— Newt... por favor...

Katherine se aninhou nos braços de seu irmão e chorou, chorou por todos que foram mortos pelos verdugos quando invadiram a clareira, chorou por Ben e os outros que foram banidos por terem sido picados, chorou por aqueles que ficaram quando disseram que iriam seguir Thomas, chorou pelo pequeno Chuck e por último, mas nem perto de ser menos importante, chorou por Gally, se culpou por não tê-lo arrastado junto com ela, por não ter dito que o amava antes, chorou porque sabia que agora seu coração não estava só faltando pedaços, mas os que sobraram estavam destruídos, chorou até cair no sono, mas seu sono não era melhor do que a realidade.

Katherine teria que ser forte, mais do que ela já foi até agora, muitas coisas ainda lhe aguardavam naquele novo mundo, conheceria pessoas novas e, infelizmente, teria que lidar com novas perdas.