A Ultima Fuga

Capítulo 65- O Passeio


As crianças estavam excitadas com tudo o que viam, especialmente com os fogosos cavalos conduzidos por cavalheiros de cartola e fraque, que com suas botas polidas pareciam figuras de revistas ilustradas. Havia poucas mulheres a cavalo, mas como o sol brilhava, algumas estavam com os landaus e caleças abertos. Protegidas do frio por casacos de pele, elas se dirigiam ao encontro das amigas, para ficarem a par dos novos boatos, que contariam com detalhes nos chás da tarde.

Emily sabia que o aparecimento de Spencer com as crianças provocaria comentários. Pararam para falar com vários amigos de Spencer, e eles caçoavam:

- Parece que foi domesticada, Marquesa! -exclamou uma Lady- A famosa Ladra de Corações transformou-se, com rapidez, em uma respeitável mãe de família.

- As crianças são seus enteados?- perguntou uma jovem ruiva, com azedume.

- Não. São filhos de Aria- replicou Spencer.

- Aria? Ela já voltou da índia?- perguntou a ruiva

A volta de Lady Aria era uma novidade.

- Já, mas Edward está doente. Por isso estou tomando conta das crianças- explicou Spencer.

- Compreendo - disse a ruiva.

Emily viu que ela olhava para Spencer com olhos sedutores. Parecia uma gata disputando um prato de leite.

- De qualquer forma, Spencer, nunca podia imaginar você, como uma Mãe de família!- declarou com tom mordaz a ruiva.

Acentuou as últimas palavras, lançando um olhar a Emily que fingiu ignorá-lo.

-Há intenções desconhecidas em todos nós respondeu - Spencer, em tom idêntico.

E antes que a ruiva atirasse outra seta venenosa, elas já se afastaram.

Spencer olha para Emily e percebe que ela não estava muito contente.

Quando regressaram à casa, as crianças tinham as faces coradas e falavam entre si, sem parar. Spencer seguiu Emily até o hall:

-Quem era aquela mulher/- diz Emily

-Ela era a Paige te falei dela quando nos conhecemos- diz Spencer

-Por isso ela me olhou daquele jeito- diz Emily- custava você dar menos confiança para ela

-Desculpa mas não podia ser mau educada em publico nem na frente das crianças- diz Spencer

-Tudo bem- diz Emily

- Se não precisa mais de mim, vou a Epsom. Quero ver meus cavalos galoparem amanhã cedo. E fui convidada para um jantar, quer ir comigo?- diz Spencer

-Não posso sair deixando as crianças sozinhas- diz Emily

-Eu não queria ir mais preciso- diz Spencer

- Claro, você tem que ir replicou – diz Emily- Foi muito amável comigo, e minha ama deve chegar esta tarde.

-Não eu...- falava Spencer

- Milady- Biron interrompeu- Lady Aria deixou um recado. Pediu para eu dizer a Milady que Lord Ezra está melhor e que ela vem passar a tarde aqui.

- Oh, isso é maravilhoso! -exclamou Emily, antes que Spencer pudesse falar.- Estou tão contente! Escutaram, crianças? Papai está melhor e mamãe vem ver vocês esta tarde.

As crianças gritaram de alegria e subiram as escadas ruidosamente. Iam dizendo a Emily todas as coisas que contariam à mãe quando ela chegasse.

Somente quando Emily chegou ao primeiro andar, lembrou-se de perguntar a Spencer, virando-se para ele: - Milady estará aqui parao almoço?

Spencer ergueu os olhos para o rosto de Emily.

- Sim respondeu- diz Spencer

-Muito bom- diz Emily sorrindo

Emily pensava que Paige tivera razão, ao dizer que era estranho ver Spencer com as crianças. Ela era tão elegante e inspirava tantas paixões, que era difícil imaginá-la ligada à vida familiar.

No entanto, Perdita sabia que ninguém poderia ter sido tão carinhosa com as crianças como Spencer. Spencer devia ter uma verdadeira esposa e filhos...

Emily achou estranho que a idéia não lhe desse alegria. Contudo, era claro que um dia, os quartos seriam ocupados por um herdeiro. E Spencer não gostaria de ser mãe de um único filho!

Emily pensou em sua infância. Ela sentira falta de outra criança para brincar. A tal ponto, que inventara ter um irmão e uma irmã...

O irmão imaginário significara mais para ela. Com ele Emily brincara muito. Ele quem a induzira a fazer coisas ousadas, como caminhar sobre o alto muro que cercava o jardim, ou pular pela janela do quarto para brincar no feno recém-cortado, depois de já ter ido para a cama.

Enquanto lavava as mãos e penteava os cabelos de Taylor, imaginava como Spencer teria sido em criança. Com certeza, fora uma menina bonita, inteligente e altiva à primeira vista.

Como conseguiu atingir aquela idade e continuar solteira apesar das armadilhas e tentações em que se vira envolvida?

Talvez ela esteja mesmo procurando sua alma gêmea! disse a si mesma, lembrando-se da conversa da noite passada.

Onde quer que estivesse a esperá-la, sua alma gêmea seria bonita, com olhos claros e brilhantes. Teria uma pele clara e seria muito elegante que Spencer acharia irresistível.

A imagem que ela idealizava era, de certa forma, depressiva. Principalmente quando se olhou ao espelho e viu seu rosto com seus cabelo castanho e seus olhos castanhos e sua boca carnuda. Sentiu um súbito desgosto por sua aparência. Mas, depois de prender os cabelos, virou-se com petulância. Por que desejava ser diferente?

A beleza é superficial dissera sua baba muitas vezes, quando ela era criança. Mesmo assim, pensou Emily, seria bom ser linda, para que Spencer a olhasse como tinha olhado a Princesa!