A Ultima Fuga

Capítulo 21- Continuação


Quando a porta se abriu, ela viu apenas um sonolento criado. Por um momento, imaginou se, afinal de contas, não estaria enganada. Mas, então, viu um o casaco de Spencer sobre uma cadeira do hall. Ela tinha chegado a tempo!

- Por favor, diga ao Marquesa Hastings que sua esposa veio encontrá-la, conforme o combinado.-Emily

-A Marquesa Hastings, Milady?- Empregado

- Sim, ela está nesta casa. Diga-lhe que estou aqui. Por favor.- Emily

O empregado ficou espantado. Então, lembrando-se de sua experiência, abriu a porta de uma saleta.

- Pode esperar aqui, Milady.- Empregado

Dê o recado a minha esposa, imediatamente!- Emily

O criado fechou a porta, mas Emily abriu-a em seguida com cautela. Pôde vê-lo subindo as escadas. Ele não se deteve no primeiro andar. Subiu o segundo lance de degraus.

Emily prendeu a respiração. Imaginou a reação de Spencer. Viria ao seu encontro, imediatamente?

Spencer podia pensar que ela cometera um erro, exigindo sua presença quando estava ocupada em outras coisas. Seria tão idiota para imaginar isso?

Através da porta entreaberta, viu o criado voltando. Descia as escadas devagar, mas antes que chegasse ao hall, a porta de entrada se abriu.

Emily deu um salto e seu coração pareceu pular para a garganta. Sabia muito bem quem estava ali!

- Onde está sua ama? perguntou um homem alto e moreno ao empregado.

Então, antes que o empregado pudesse responder, ele viu o casaco da marquesa sobre a cadeira. Soltou uma exclamação raivosa, e colocou o pé no primeiro degrau da escada. Emily se dirigiu ao hall.

- Boa noite, Alteza- disse ela.

O Príncipe voltou-se para ela, admirado. Nunca tinha visto o rosto de um homem expressar tanta surpresa.

- Preciso me apresentar -ela inclinou-se.- Sou a Marquesa Hastings, e estava ansiosa para conhecê-lo.

- Ansiosa para me conhecer?- repetiu o Príncipe.

- Sim. Fiquei muito desapontada quando soube, esta noite, que Sua Alteza não poderia ir à recepção de Lady Paimerston. Afirmo-lhe que esteve muito agradável. Na verdade,

todas as pessoas importantes, com exceção de Sua Alteza, estavam presentes.- Emily

Emily percebeu que o Príncipe não prestava atenção às suas palavras. Ele olhava para a sala vazia, atrás dela, como se pensasse encontrar a esposa ali.

Era um homem atraente, de expressão ousada. Seus olhos eram escuros e desconfiados, seus lábios carnudos. Usava compridas costeletas. Vestia uma capa de cetim vermelho sobre as roupas a rigor. Emily teve certeza de que ele segurava alguma coisa em sua mão.

- Onde está minha esposa?- perguntou ele, com voz rude.

- A Princesa foi muito amável. Mostrou sua casa a minha esposa e a mim. Nós estamos pretendendo fazer algumas reformas na nossa casa, agora que estamos casadas, e a Princesa foi de grande ajuda.- diz Emily

- Não tenho ideia do que está falando, Senhora -disse o Príncipe, irritado.- Vou falar com minha esposa.

- Ela está mostrando o salão a minha esposa- respondeu Emily- Eu ia com elas, mas meus pés estão cansados depois de tanto dançar.

- Com sua licença- disse ele, virando-se novamente para as escadas.

- Antes de subir- disse Emily, estendendo a mão suplicante- suponho que Sua Alteza podia me oferecer um copo de limonada. Estou com muita sede. Os salões de Lady

Palmerston estavam superlotados. Não era possível conseguir-se uma bebida.

Por um momento, pensou que ele ia recusar. Mas a diplomacia obrigou-o a se portar convencionalmente.

- Um copo de limonada!- disse, dirigindo-se ao salão onde ela estivera antes, e falando como se desconhecesse a bebida.

Havia uma mesa ao canto, sobre a qual descansavam garrafas e copos de cristal, e também uma jarra de limonada. O Príncipe encheu um copo e estendeu-o a Emily.

- E agora, se me desculpar começou.- o Príncipe

Emily interrompeu-o- Por favor, gostaria de um pouco de açúcar. A limonada está deliciosa. Mas gosto de coisas doces, embora já me tenham dito que não são boas para mim.

Novamente, a educação do Príncipe impediu que ele recusasse atender a uma Lady.

- Açúcar! exclamou como se praguejasse, enquanto procurava por entre as garrafas e copos.

- É muita gentileza sua. Eu acho que limonada é quase sempre muito amarga. Talvez, colham a fruta muito cedo.- Emily

Falava em voz baixa, compreendendo que ele não a ouvia, preso ao violento desejo de procurar a Princesa.

Então, com inexprimível sensação de alívio, Emily escutou passos atravessando o hall.

Estava de pé perto da porta. O Príncipe se encontrava de costas, ainda procurando o açúcar. Nesse instante, Spencer entrou. Com um simples olhar para o rosto de Spencer, Emily compreendeu que ela estava muito zangada.

- Será possível que você!- começou Spencer com voz de trovão.

Quando Emily a encarou para preveni-la, Spencer viu o Príncipe atrás dela. Houve uma pausa mínima, antes que Emily, sentindo a voz morrer na garganta, lhe dissesse:

- Aqui está, Milady. Estava justamente contando a Sua Alteza como a Princesa foi amável em nos mostrar a casa.- Emily

Compreendeu, enquanto falava, que nenhum dos dois a escutava. O Príncipe encarava Spencer com uma pergunta clara em seu semblante. Spencer conseguira adotar uma expressão estranha.

- Boa noite, Alteza- disse Spencer- É um prazer. Sentimos sua falta na casa de Lady Palmerston.

- Foi o que eu acabei de dizer a Sua Alteza- intrometeu-se Emily.

O Príncipe não falou. Havia qualquer coisa de terrível na expressão com que ele olhava para Spencer.

- Acho, que nos desculpará- disse Emily, afastando o copo de limonada- em irmos para casa. Estou cansada. Por favor, não se incomode mais em procurar o açúcar.

- Tem razão concordou- Spencer- Já é tarde.

- Boa noite, Alteza - Emily estendeu a mão ao Príncipe.- Muito obrigada por sua amabilidade. Estou muito satisfeita por tê-lo conhecido.

Ela fez uma reverência. O Príncipe segurou sua mão, levando-a aos lábios. Cumprimentou Spencer que tomava o braço da jovem, para conduzi-la à porta.

- Boa noite, Alteza -disse Spencer- Espero que venha à nossa casa brevemente.

O Príncipe continuou calado. Spencer dirigiu-se com Emily para a carruagem. Iam sem pressa, embora Emily sentisse o coração bater de medo. O criado fechou a porta. Houve um longo silêncio. Quando os cavalos entraram na Rua South Audley, Spencer perguntou:

- Como soube onde eu estava? – Spencer

- Foi outra armadilha- respondeu Emily, em voz baixa- planejada por Lady Alison. O Príncipe tencionava matar você.

Houve uma pausa. Emily sentiu seu coração disparar.

- Ora essa! - exclamou então Spencer - Será que todo o mundo enlouqueceu? Não posso acreditar que tais coisas estejam acontecendo comigo!

- Ele... teria... matado você!- murmurou Emily.

- Se é isso o que terei que suportar durante o resto da vida- desabafou Spencer- então, quanto mais cedo, melhor!

A viagem prosseguiu em silencio e quando chegaram em casa Spencer puxou Emily pelo braço a biblioteca. O mesmo sentimento de raiva obrigou Spencer a dizer:

- Espero, Emily, que futuramente você não interfira nos meus assuntos particulares.- Spencer

-O príncipe ia matá-la! -respondera Emily, com espanto- Ele tinha uma pistola sob a capa! Eu vi!

- Sem dúvida alguma, eu teria me defendido.- Spencer

Emily sai da biblioteca sem falar nada e vai para seu quarto. Spencer toma um vinho para acalmar sua raiva.

No dia Seguinte

Ao voltar de Epsom, Spencer compreendeu que tinha conseguido livrar-se da irritação que sentira aquela manhã, quando deixara Londres.

Conduzira os cavalos que estava treinando, até que ela e os animais ficaram exaustos. Mas, terminara por dominar-se. E agora, sentia-se envergonhada por ter sido cruel com Emily na noite anterior.

Ela ficara enfurecida. E justamente porque Emily a salvara, outra vez, de uma situação dificílima que, sem a sua intervenção, teria sido fatal. Mas, o fato de Emily ter descoberto a trama de Alison, e de ter ido à Rua Curzon salvá-la, fizera-a sentir-se enraivecida por ver que estava completamente errada.

Sabia agora que fora louca ao se deixar seduzir pelas lisonjas da Princesa. Ela não deveria ter permitido que a Princesa a convencesse a abandonar a recepção de Lady Palmerston, sem falar com Emily.

Agora, Spencer se acusava por ter sido tão cego, a ponto de não ver que Emily só poderia ter ido procurá-la se ela estivesse em perigo.

Pensara na ocasião, que Emily era tão inexperiente, tão ignorante da vida em sociedade, que ao descobrir onde ela se encontrava resolvera ir buscá-la para voltarem juntas para casa.

Estava extremamente irritada com Emily, ao entrar na pequena sala. Não obstante, ao deparar com o vulto alto do Príncipe, atrás de Emily, compreendera pela expressão

do rosto dela, que sabia do perigo que ela estava correndo e tentava salvá-la.

Um sentimento inferior a fizera ficar furiosa com a jovem, quando voltavam para casa.

Sabia que estava sendo injusta. Devia agradecer-lhe pelo que ela fizera para salvar sua vida. Mas, só podia sentir raiva e humilhação por ter sido apanhada em flagrante.

- Vou pedir-lhe desculpas! disse a si mesmo. Embora ela não tenha o direito de se aborrecer por qualquer coisa que eu faça!

O pior é que Emily parecera apenas interessada na segurança pessoal de Spencer, e não em sua própria moral. Mais uma vez, Spencer sentiu-se envergonhada. Estava dominada por uma sensação que ela não se lembrava de ter experimentado desde que era criança, quando era apanhada mentindo.

Parou os cavalos em frente à mansão, e atirou as rédeas ao palafreneiro.

- Uma boa viagem, Milady?- o homem.

- Excelente!- Spencer

Desceu e viu que havia uma carruagem fechada ao lado da casa. Imaginou se Emily teria visitas. Seria muito desagradável. Percebeu que já eram quase seis horas, muito tarde para alguém que não tivesse recebido um convite especial.

Estava quase na hora, também, de Emily se vestir para o jantar em casa da Duquesa de Sutherland em Stafford. O jantar seria servido cedo, porque depois todos iriam ao Teatro.

Spencer entrou no hall, e o mordomo a recebeu.

- A Marquesa esta recebendo Alguem...