A Ultima Fuga

Capítulo 12- A fuga


P. V. Spencer

Ela sabia que não ia dormir. Mas isso não tinha importância. Devia ficar atenta para não perderem a hora em que Emily deixaria a estalagem. Além disso, tinha que pensar no plano do falso casamento. Se a farsa viesse à tona, o escândalo chegaria sem dúvida aos ouvidos da Rainha. As outras alternativas eram: aceitar o casamento com Alison, ou recusá-lo e ser banido da Corte. Ou ter um casamento de conveniencia com Paige ou um sem amor com Toby.

Naquele momento, como já o fizera antes, Spencer achou que qualquer solução seria melhor do que o que o destino lhe reservava. Não sei por que sempre me sinto atraí do por mulheres bonitas, mas de péssimo caráter! Somente uma mulher sem sensibilidade estaria preparada para fazer chantagem contra mim, como Alison pretendia.

Maldição! Eu vou fazer isso. Mais, para demonstrar a ela que seu método sórdido falhou!

Parecia impossível que o mundo agradável e generoso que ela sempre conhecera, abrigasse pessoas como Alison e Lord Noel. Tinha pena da mocinha adormecida na cama. Se aceitasse o plano, estaria salvando não somente a si mesma mas a ela também.

Lembrou-se do rosto aterrorizado de Emily quando penetrara no quarto. Quase pôde ouvir o horror em sua voz, ao me contar o que ocorrera após a morte da prima. Nenhuma mulher devia sofrer assim!

A vontade de Spencer era ir até lá em baixo e dar um tiro naquele porco. Em seguida, compreendeu que seria uma tolice, qualquer que fosse o resultado. A menos que ela matasse Lord Noel ou Emily seria forçada a voltar para junto de seu tutor.

Um esposa assumia, automaticamente, o controle e responsabilidade de qualquer assunto referente à esposa. Spencer tinha certeza de que, se consultasse um advogado, descobriria que Emily devia permanecer sob os cuidados de seu tutor até completar vinte e um anos ou se casar.

O casamento, portanto, era a única resposta. Spencer se pôs a pensar no estado civil que desconhecera até então. E que ela, como Emily, jurara jamais conhecer a não ser em circunstâncias excepcionais.

O fogo enfraquecera. Spencer se levantou para atirar um pedaço de lenha na lareira, e percebeu que Emily tinha dormido. Ela podia ouvir a respiração suave, e ver o desenho do seu corpo. "Pobre menina..." pensou "pelo menos, enquanto dorme, não tem consciência do que a espera."

Havia possibilidade da mocinha não conseguir fugir. Lord Noel era um homem astuto. Naturalmente, seus criados estavam de vigia fora da estalagem, para o caso de Emily deixar o esconderijo.

P.V. Spencer Off

Spencer caminhou com cuidado através do quarto. Com infinita cautela girou a chave e entreabriu a porta devagar. Podia ver o patamar da escada e, pelo corredor, o andar térreo. Havia uma grande lareira acesa, cujas chamas iluminavam todo o hall. Como ela esperara, Lord Noel estava sentado em uma poltrona, ainda calçado com as botas brilhantes de montaria.

Guiada pelo bom senso, Spencer fechou a porta, trancando-a em seguida.

- Ele está lá?- diz Emily a voz era baixa e assustada.

- Dormindo diante da lareira- Spencer

- Que horas são? perguntou Emily, sentando-se na cama.

- Quatro horas.- Spencer

- Acho que eu devo ir, agora. A lua iluminará meu caminho. O criado que está com Lord Noel, não dorme bem. Contou-me que se levanta muito cedo, antes dos passarinhos.- Emily

- Talvez seja melhor você ir- concordou Spencer.

Emily saiu da cama. Spencer puxou os cobertores e atirou os lençóis para o chão.

- Que vai fazer?- perguntou Emily.

- Uma corda respondeu ele. Você terá mais firmeza. Quando chegar ao chão, eu tornarei a colocar os lençóis na cama.- Spencer

Ela não fez mais perguntas. Enquanto ele amarrava os lençóis, e experimentava a sua resistência, dirigiu-se à lareira e apanhou o traje de montaria.

- Acha que vai estar bem? Eu devia ir com você e ajudá-la a montar- diz Spencer preocupada

- Não! As coisas se complicariam se você fosse visto ao voltar. Eles teriam certeza de que você me ajudara a fugir. Mas, se Lord Noel vir você partir sozinho, perderá a esperança de que eu me encontrava na estalagem.- Emily

- Por que ele está tão certo de que você se encontra aqui?- Spencer

- Ele me seguiu sem perder de vista, até que a tempestade desabou. Não há outro lugar onde eu pudesse ter me escondido. Esta estalagem é isolada, sem outras casas ou vilarejos por perto.- Emily

- Espere você tem algum dinheiro?- Spencer

Ela balançou a cabeça. Spencer apanhou algumas libras no bolso. Emily hesitou por um momento. E Spencer pensou que o dinheiro seria recusado. Mas ela estendeu a mão.

- Muito obrigada- Emily

- Você deve ir para o Dragão- disse Spencer- Explique que tem um encontro comigo mais tarde, esta manhã. Peça um quarto e descanse.

-Obedecerei, Milady – exclamou Emily com um toque de riso na voz.

Depois, caminhou na ponta dos pés para a janela e abriu-a. Spencer recomendou:

- Não olhe para baixo. Segure-se bem aos lençóis.

Emily escorregou para fora, atrapalhada com a saia. Ela olhou para baixo, agarrou-se ao

lençol com uma das mãos, e com a outra segurou a calha, começando a descer devagar.

- Pule!- ordenou o Spencer.-Você está bem?

Por um instante, ela hesitou. Mas obedeceu em seguida. Mesmo se encontrando apenas a alguns centímetros do chão, tinha impressão de que a distância era grande. No entanto, soltou-se do lençol e caiu. O chão não era tão duro quanto imaginara. Na verdade, ela caíra sobre um canteiro. Levantou-se e olhou ao redor.

Para alcançar a estrebaria onde deixara o cavalo, teria que atravessar um pátio iluminado pela lua. Seria fácil ser vista. Respirou fundo para ganhar coragem.

Espiando para baixo, o Spencer viu Emily lhe acenar, antes de correr com cuidado, a cabeça inclinada, através do pátio em direção ao estábulo.

Ela recolheu os lençóis, atirou-os ao chão a seu lado, e ficou à janela, ouvindo... Estava frio. As estrelas começavam a se esconder. A noite terminaria brevemente. Não havia um som no interior da estalagem.

Depois de algum tempo, que lhe pareceu muito longo, e quando já temia que alguma coisa tivesse ocorrido, escutou o som dos cascos de um cavalo. O som soou bem definido sobre as pedras. Depois o ruído desapareceu, como se o cavaleiro cavalgasse sobre grama macia.

Spencer permaneceu em suspenso até que distinguiu, à distância, uma mancha escura

movendo-se contra a brancura da neve. Foi visível apenas enquanto atravessava um campo. Depois desapareceu na escuridão das árvores. Ela não pôde ver mais nada.

Respirou fundo. Emily tinha fugido. Ao menos, uma parte do plano fora bem sucedida!

Fechou a janela e voltou ao calor moderado do quarto. Desatou os nós dos lençóis, enquanto caminhava. Quando se acercou da lareira, viu a certidão e a licença de casamento sobre a mesa. Ficou de pé, olhando para os papéis por um instante. E então, com um sorriso súbito, ergueu a mão e os olhos para o teto, como fizera antes:

- Salve, Imperador! Aqueles que estão nascendo o saúdam