Olá Sirius,

Tenho a dizer-te que estou cheia de saudades tuas. Das nossas conversas, dos nossos momentos juntos. Eu sei que estivemos juntos no outro dia mas foi mesmo pouco tempo. Pouco tempo para matar as saudades.

Estou preocupada. Estou com medo.

Existe algo que eu não te contei para não te preocupar. Algo que eu pensei não passar de uma brincadeira de mau gosto mas que pode estar a assumir proporções muito maiores. Algo que eu nunca pensei que pudesse acontecer comigo.

No dia que regressamos a casa, no Natal, eu recebi um bilhete. Um bilhete de alguém a dizer que a minha relação com o Scorpius tinha os dias contados.

Confesso-te que não liguei muito ao papel. Passei as férias sem grandes preocupações. Isso até ter recebido um segundo bilhete. E depois um terceiro. E por aí fora.

Nessa altura o Scorpius ficou sem me falar uma semana por lhe ter escondido isso. Foi uma semana complicada, Sirius.

Como te disse, a situação está a tomar proporções que eu nunca imaginei que pudesse acontecer. A melhor amiga da Octavia, a Sarah, foi chantageada por essa mesma pessoa.

A Sarah envolveu-se com a Molly (tu sabes como é a nossa priminha, muito amor para dar). O problema é que a Sarah ainda não tinha assumido a sua homossexualidade. E a pessoa que me anda a mandar bilhetes descobriu esse pequeno grande segredo. Chantageou-a. Disse-lhe que tinha de acabar com o meu namoro com o Scorpius. Mas ela não o fez. E sofreu as consequências disso. Hogwarts foi pintada com o segredo da Sarah. Foi a pessoa que anda a mandar bilhetes. A Sarah não fez o que essa pessoa mandou e viu cumprida a chantagem.

Um aparte, este era o segredo que o Al queria provar, daí estar a investigar a Sarah.

Têm sido tempos difíceis mas sempre tive o Scorpius ao meu lado. Nós estávamos mais unidos do que nunca por causa disto. Eu estou muito preocupada e sei que o Scorpius também está. Mesmo que não o queira mostrar à minha frente.

Mas aconteceu uma coisa ontem à noite que me magoou muito. Na realidade, foi algo que o Scorpius disse.

Ontem, o Liam Kane, ele pertence aos Ravenclaw, estava a falar comigo e acabou por colocar a mão em cima da minha (eu sei que se isso se passasse com a Domi, tu também fazias uma cena de ciúmes). Eu tirei a minha mão imediatamente.

O Scorpius viu. O Scorpius viu e começou logo a dizer que de certeza que o Liam tinha sido chantageado e era por isso que se estava a fazer a mim. O Scorpius praticamente afirmou que mais nenhum rapaz me olharia da maneira que ele me olha. Ele praticamente afirmou que mais nenhum rapaz é capaz de se interessar por mim.

Eu também não quero isso, eu estou muito feliz com o Scorpius. Mas magoou-me ele dizer isto. Fez-me sentir inferior. Fez-me sentir indesejada.

Como estão as coisas por aí? Conta-me coisa, Sirius!

Com todo o carinho da tua prima,

Rose

Rose enrolou a carta que acabara de escrever e dirigiu-se ao corujal. Ainda faltava algum tempo para a primeira aula, por isso Rose tinha tempo.

O que ela não esperava era encontrar Liam no corujal.

—Bom dia. – cumprimentou Liam com um sorriso.

—Bom dia. – respondeu Rose mostrando um sorriso fraco. As palavras de Scorpius não lhe saíam da cabeça.

Cleópatra encontrava-se, por ironia do destino, ao lado de Gryffie, coruja de Scorpius.

Rose amarrou a carta em volta da pata de Cleópatra e mandou-a seguir viagem até à casa de Sirius. Rose sabia que Cleópatra não demoraria. O céu estava completamente limpo e o risco de chuva era praticamente nulo.

—Já tomaste o pequeno-almoço? – perguntou Liam com o seu típico sorriso no rosto. Rose negou – Eu também não. Vamos juntos?

Rose acabou por concordar. Inicialmente o seu plano era evitar o salão Principal. A última pessoa que ela queria ver naquele momento era Scorpius. Mas ela também não quis recusar o convite de Liam. Ele estava apenas a ser simpático.

Rose sabia que havia a hipótese de ele estar a ser chantageado para a separar de Scorpius mas também havia a hipótese de não ser nada disso.

Como era de esperar, a primeira pessoa que Rose viu ao entrar no salão Principal foi Scorpius. Os seus olhares cruzaram-se por breves segundos. Mas segundos suficientes para Rose ver as faíscas que ressaltavam dos olhos de Scorpius. Ele não estava contente. Rose sabia-o. Mas ela também não estava. E, de certa forma, aquela ação era uma maneira de mostrar isso a Scorpius.

—Já planeaste o que vais fazer na próxima visita a Hogsmeade? – perguntou Liam enquanto pegava numa panqueca à sua frente.

—Provavelmente devo ir com o Scorpius e o Albus. A menos claro que as coisas continuem como estão. – desabafou Rose prendendo a atenção de Liam.

—As coisas entre ti e o Scorpius não estão bem? – perguntou Liam.

—Eu preferia não falar disso, Liam. – pediu Rose.

—Claro. – concordou imediatamente Liam – O fim do ano está próximo. Daqui a algum tempo dizemos adeus a Hogwarts.

—É verdade. – concordou Rose mesmo sabendo que aquilo não seria um adeus definitivo. Rose sabia que voltaria – Já pensaste o que vais fazer?

—Desde pequeno que sempre me imaginei a trabalhar no ministério. Mais especificamente, na secção de Controlo do Mau Uso dos Artefactos Muggles. O mundo muggle sempre me encantou. – confessou Liam – A minha mãe é muggle. E durante toda a minha vida, eu sempre convivi com os dois lados. E eu gostava muito de continuar com os dois lados. E este trabalho dá-me isso. Percebes o que eu quero dizer?

—Claro. – respondeu Rose – O mundo muggle é realmente algo fascinante. As invenções que eles criam, sem qualquer tipo de magia. Tudo o que eles constroem.

—Exato. – concordou Liam, sorrindo – Só é pena que nem toda a gente pense como nós. Pessoas que conseguem ver a beleza da magia e a beleza do que eles chamam ciência.

—Mesmo. – concordo Rose mostrando também um sorriso – Em vez disso preferem rebaixar os muggles. Como se eles fossem seres inferiores. Coisa que eles não são. Como os elfos. Como os duendes. Somos todos iguais. Ninguém se deveria sentir inferior.

—Concordo plenamente com tudo o que disseste. Sinto pena das pessoas que pensam de outra maneira. – disse Liam.

—Sabias que a minha mãe criou um clube para lutar pelos direitos dos elfos?

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Scorpius estava completamente possesso. Ele não conseguia acreditar que, depois da discussão que tiveram, Rose continuasse a falar e aos sorrisinhos com o Kane como se nada tivesse acontecido. Rose nunca tinha feito nada do género. Rose nunca o tinha desafiado.

Albus caminhava ao lado de Scorpius sem dizer uma única palavra. Naquele momento, as paredes pareciam mais interessantes que falar com o melhor amigo. Ele sabia que Scorpius estava furioso. Ele sabia o quanto Scorpius queria socar o rosto de Kane. Se estivesse na mesma situação, Albus estaria como Scorpius.

—E depois de toda a discussão, ela ainda é capaz de andar aos sorrisinhos com o Kane? Como é que ela é capaz de fazer uma coisa destas? – soltou Scorpius no meio daquele silêncio agitado – Eu disse-lhe. Disse-lhe que ela estava a ser enganada. Disse-lhe que o Kane apenas se aproximou dela porque de certeza que foi chantageado pela pessoa que lhe anda a mandar bilhetes. E mesmo assim, ela continua de sorrisinhos para ele?

—Ela não vai simplesmente deixar de lhe falar. – respondeu Albus, defendendo a prima e recebendo um olhar mortal do melhor amigo – E como é que tens tanta certeza que o Kane está assim com a Rose porque foi chantageado? Ele não pode estar simplesmente interessado na Rose? Ela é bonita.

—Claro que ele não está interessado na Rose. – respondeu Scorpius sem medir as palavras – O interesse dele foi muito repentino.

—Exatamente como o teu, Scorpius. – retrucou Albus – Como é que tu podes afirmar com certeza que o rapaz não está interessado na Rose? Por acaso achas que mais ninguém, para além de ti, possa gostar da Rose?

—Não foi isso que eu disse. – defendeu-se Scorpius.

—Mas é o que parece, Scorpius. E se disseste isso à Rose, talvez ela tenha entendido o mesmo. E isso não é coisa que se diga a alguém, Scorpius. – disse Albus perante o olhar do amigo.

—Acho que fiz asneiras das grandes.

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Scorpius tentou durante o resto do dia falar com Rose. Mas foi completamente impossível. As únicas alturas em que viu Rose foi durante as aulas. Mal a aula terminava, Rose desaparecia da sua vista. Por várias vezes tentou ir atrás dela mas foi impossível. Scorpius tinha mesmo feito asneira.

Resignado que não conseguiria falar com Rose naquele dia, Scorpius jantou e voltou imediatamente para o seu dormitório. Rose não tinha aparecido para jantar.

—Estava uma coruja na janela com esta carta. – disse Thomas Crawford entregando a carta a Scorpius – As miúdas não te largam, Scorpius.

—Sabes como é. – respondeu Scorpius em tom de brincadeira.

Scorpius não abriu imediatamente a carta. Ela não tinha remetente. E, mesmo nunca tendo recebido nenhuma carta daquele género, ele sabia quem lha tinha mandado. Afinal Rose já tinha recebido muitas cartas daquelas.

Eu sempre gostei de ver Weasley morenos. James Sirius Potter e Albus Severus Potter são exemplos. Por isso apoio o relacionamento da Rose com o Liam. Mais morenos Weasley? Fico à espera para ver.

Quando deu conta, já o bilhete estava desfeito em pedaços. Ele sabia que o maníaco apenas o queria destabilizar. E a verdade era que estava a conseguir fazê-lo. E pior do que isso. Mais uma vez, sem fazer nada, ele e Rose conseguiram voltar a estar chateados. E tudo por culpa dele. Tudo por causa das idiotices que disse a Rose.

Scorpius levantou-se. Iria até à torre de Astronomia. Rose adorava o lugar. Rose apareceria. Ele tinha que acreditar nisso.

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Rose não apareceu no dia anterior na torre de Astronomia. Scorpius esperou. Horas e horas. Mas nada de Rose. Apenas o silêncio o acompanhou naquela noite.

Sem desistir, Scorpius levantou-se. Arranjou-se e saiu em direção ao salão Principal. Rose não lhe escaparia naquele dia.

Rapidamente o salão começou a encher, mas Rose continuava sem aparecer. Scorpius não percebia. Já à várias refeições que Rose não aparecia. Ela estava a alimentar-se do quê?

—Madrugaste hoje. – disse Albus sentando-se ao lado do amigo.

—Eu tenho de conseguir falar com a Rose. – disse Scorpius – Ela deve estar a pensar horrores de mim. Se fosse ao contrário, eu pensava o mesmo.

—Ela não está a pensar horrores de ti, Scorpius. Ela apenas está magoada. E com razão. – afirmou Albus desviando a atenção de Scorpius e encarando a entrada. Octavia acabara de entrar.

—E tu? Não achas que está na altura de falares com a Octavia? – perguntou Scorpius.

—Ela disse-me coisas horríveis.

—Tu também não tens a razão toda, Al. E por vezes temos de dar o braço a torcer. Imagina que ela é o amor da tua vida. Queres mesmo perdê-la por causa da tua teimosia? Por causa do teu orgulho?

—Não…

—Então acho que já sabes o que deves fazer.

As corujas invadiram o salão Principal. Cartas caíam por todo o lado.

Em frente a Scorpius caiu um sobrescrito vermelhor. Scorpius sabia o que era aquilo. Aquilo era um Gritador.

O instinto de Scorpius levou-o a pegar no pequeno envelope vermelho e correr o mais depressa possível para o exterior do salão Principal. Ele sabia que a qualquer momento aquilo explodiria.

No exterior do salão Principal, o envelope apenas de soltou das mãos de Scorpius e abriu-se.

COMO É QUE FOSTE CAPAZ? COMO É QUE FOSTE CAPAZ DE DIZER UMA COISA DAQUELAS À ROSE?

GARANTO-TE QUE SE ESTIVESSE AÍ JÁ ESTAVAS DESFEITOS EM PEDACINHOS. NÃO ME IMPORTO QUE SEJAS O MELHOR AMIGO DO MEU IRMÃO OU ALGO PARECIDO. EU AVISEI-TE QUE SE MAGOASSES A ROSE, SOFRERIAS.

NUNCA SE DEVE DIZER NADA DAQUILO A NINGUÉM! EU ESPERO BEM QUE TENHAS PERCEBIDO A MERDA QUE FIZESTE. ESPERO MESMO SCORPIUS HYPERION MALFOY.

James tinha-lhe mandado aquele Gritador. Rose tinha realmente entendido o que Albus tinha falado. Scorpius sentia-se completamente na lama. Ele nunca queria ter dito uma coisa daquelas a Rose. Claro que ele não achava aquilo. Rose era demasiado linda para mais ninguém se apaixonar por ela. De certeza que existiam pessoas que gostavam dela que ele nem sequer imaginava.

Scorpius levantou o olhar. À sua frente encontrava-se Rose. Esta encarava o pequeno sobrescrito vermelho espalhado em pedaços pelo chão. Também ela sabia a quem aquilo pertencia.

—Precisamos de falar. – pediu Scorpius em tom desesperado.