James não sabia o que dizer. Ele não sabia realmente o que dizer. Ele sabia. Ele sabia o quanto o irmão tinha andado obcecado com aquela história toda. Sabia que Albus tinha ficado pior depois de ele se ter aproximado ainda mais de Rose. Mas não sabia que o irmão tinha ido tão longe. Rose nunca lhe tinha contado.

—Porquê que eu nunca soube disto? – perguntou James voltando-se para Rose – Como é que nunca me contaste isto? E tu, Albus, como é que foste capaz de fazer isso com a tua própria prima?

—Sirius por favor, deixa isso para outra altura. Ele não está bem. – pediu Rose.

—Como é que eu posso deixar isto para outra altura? – perguntou James, incrédulo. Agora ele percebia o medo que Rose sentira por Albus durante um tempo. Ele achava incrível a forma como a prima conseguiu ultrapassar isso e voltar a ser amiga de Albus.

—Eu mereço, Rose. Eu mereço ouvir todas as verdades. Eu sou um monstro. – disse Albus.

—Tu não és um monstro, Al. – disse Rose encarando Albus. Colocou as suas mãos sobre o rosto de Albus para que este o encarasse – Tu não és um monstro. – largou o rosto de Albus e dirigiu-se a Scorpius – Leva-o. Vê o que se passa. Eu já vou.

Scorpius agarrou em Albus e colocou um dos seus braços em volta do corpo de Albus para o conseguir levar. Despediu-se de James e Rose e saiu do Três Vassouras.

—Como é que foste capaz de nunca me teres contado isto? – acusou James mal Scorpius fechou a porta – Eu pensei que eramos amigos.

—E foi exatamente por sermos amigos que eu não te contei. Ele é teu irmão. Eu não queria que visses esta parte dele. Eu não queria ver a desilusão no teu olhar pelo que o teu irmão tinha feito. – disse Rose.

—Tu devias ter-me contado. Ele é meu irmão. É minha responsabilidade ver que ele não faz asneiras. Eu devia ter percebido que ele estava disposto a fazer mal às pessoas para conseguir o que queria. Se ele fez isto contigo que és prima dele imagina o que ele poderia ter feito com a Sarah caso a Octavia não descobrisse a verdade.

—O que é que a Sarah tem a ver com o Albus? – perguntou Rose, confusa.

—O Albus depois conta melhor. Mas o resumo é que ele e a Octavia acabaram e a razão foi a Sarah. – contou James – Mas não desviando o assunto.

—Sirius, eu não quis contar. Ele arrependeu-se logo. Ele prometeu nunca mais fazer uma coisa dessas. E eu acreditei nele. Sim, eu fiquei com medo dele durante um tempo mas isso foi por causa do trauma de ter sido levada à força. Mas foi só isso que aconteceu. Ele só me prendeu. Mais nada.

—Só Rose? A sério? – perguntou James, incrédulo – Isso não é só. Ele perdeu completamente a cabeça e devia ter sofrido as consequências. Tu dizes que foi uma situação isolada. Mas e se não foi? E se realmente ele precisa de viver obcecado com algo?

—Eu não acredito nisso, Sirius. – disse Rose, convicta - Vá lá, Sirius. É do Albus que estamos a falar. Temos de acreditar nele quando diz que não voltará a fazer mal a alguém. Por favor, Sirius.

—Eu vou dar-lhe o benefício da dúvida. – concordou James – Mas quero que fiques de olho nele. Eu tenho receio do que ele possa fazer à Sarah. Ele acredita que ela foi a verdadeira razão do fim do seu namoro com Octavia.

—Eu não o vou deixar fazer nenhum disparate, Sirius. Eu prometo. – prometeu Rose. Aproximou-se de James e abraçou-o – Eu estava cheia de saudades tuas.

—Eu também, pequena. – sussurrou James – Agora toca a ir para Hogwarts antes que descubram que a Prefeita-Chefe está a infringir as regras.

—Manda um beijinho meu à Domi. E às crianças. Estou ansiosa por voltar a vê-las. – disse Rose abraçando mais uma vez James.

—Vou ter saudades, pequena. Cuidado para não te aleijares no caminho.

—Eu tenho sempre cuidado. – respondeu Rose com um sorriso, despedindo-se de James e saindo do Três Vassouras.

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A semana passou mas nada mudou entre Albus e Octavia. Eles passavam um pelo outro e não falavam. O namoro tinha realmente acabado.

Albus ponderou falar com Octavia. Ele sabia que lhe devia ter contado que andava a investigar Sarah. Albus tinha todo o direito de estar chateada consigo. Mas, por outro lado, o seu orgulho impedia-o de falar com ela. Ela podia ter razão a esse respeito mas existiam coisas que ela tinha dito naquela noite que o magoaram. Magoaram-no de forma que ele nunca tinha sido magoado.

Já Octavia também se impediu de falar com Albus. Se lhe perguntassem se estava arrependida de ter acabado o seu namoro com Albus, a sua resposta seria que não sabia. Foi isso que respondeu a Rose quando esta foi falar consigo. Ela estava magoada por ele lhe ter ocultado o que andava a fazer. Ela odiava mentiras e Albus tinha-lhe praticamente mentido. Mas ela sabia que o tinha acusado de coisas injustamente. Ela tinha-lhe dito que ele precisava de estar sempre obcecado com algo. E consequentemente acusou-o de andar a ver coisas. Como tinha feito quando andava obcecado com Rose. Mas no fundo, Albus tinha razão. A intuição dele era perfeita, isso Octavia tinha de admitir. Ele tinha razão sobre Sarah.

Naquela manhã, Hogwarts estava diferente. Octavia conseguia ver isso. Pessoas passavam aos sussurros. Hogwarts estava mais agitada que o normal. Octavia só conseguia concluir uma coisa dali. Alguma fofoca tinha sido soltada e era o mais recente assunto de Hogwarts.

A sua pouca curiosidade sobre o assunto não demorou a desapareceu. Por muitas paredes de Hogwarts estava escrita uma frase. A frase que tinha originado a fofoca.

Parece que afinal a nossa querida Sarah Finnigan gosta de mulheres.

Ela foi a mais recente conquista da nossa conhecida Molly Weasley.

Octavia não conseguia acreditar no que os seus olhos viam. Como é que alguém podia ser tão cruel ao ponto de fazer aquilo? Por momentos, Octavia pensou em Albus. Albus suspeitava do segredo de Sarah mas nunca lhe chegou a revelar o que achava que o segredo era. Seria possível que tivesse sido Albus a fazer aquilo? Seria Albus cruel a esse ponto? Octavia esperava que não.

Da mesma forma que Octavia não falava com Albus, ela também não falava com Sarah. Assim como Albus, também Sarah traíra a sua confiança. Mas naquele momento isso não importava. Naquele momento, Octavia só queria encontrar Sarah. O bem-estar da melhor amiga era a sua maior preocupação, naquele momento.

Octavia procurou por todo o lado. O salão principal. O dormitório. Os jardins. Sarah não estava em nenhum lado. O que ela dava para ter o Mapa do Maroto que Albus tinha. Assim conseguiria descobrir o mais rápido possível Sarah.

Perto da entrada da biblioteca, Octavia avistou Molly acompanhada de Roxanne. Octavia não sabia, mas também Molly andava à procura de Sarah.

—Bom dia. – cumprimentou Octavia – Por acaso não viram a Sarah?

—Também ando à procura dela. – respondeu Molly – Mas tu não tinhas deixado de falar com ela? – perguntou.

—Há coisas mais importantes que uma zanga. Neste momento o mais importante é o bem-estar da Sarah. Com licença. – disse Octavia afastando-se e continuando à procura de Sarah.

—Elas não estavam chateadas? - perguntou Roxanne a Molly.

—Parece que já não. – respondeu Molly com um tom levemente enciumado que não passou despercebido a Roxanne, mas que esta preferiu não comentar.

A verdade é que durante aquela semana, Molly e Sarah tinham-se aproximado. Octavia deixara de falar com Sarah e Molly tornara-se o seu apoio. Sarah era incrível. Agora Molly sabia-o.

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Só na hora de almoço é que Octavia se lembrou da sala das Necessidades. Aquele era o único sítio onde ainda não tinha procurado.

O primeiro sinal de que Sarah estava na sala das Necessidades era que Octavia não conseguia entrar. Apenas se conseguia entrar na sala das Necessidades, quando ocupada, se pensava no mesmo que a pessoa que estava no seu interior tinha pensado. Isso também não foi um problema para Octavia. Octavia sabia qual era o local favorito de Sarah quando estava mal. O seu quarto. Bastou-lhe pensar nisso e a grande porta castanha apareceu à sua frente.

Verde era a cor característica do quarto de Sarah. Verde como os Slytherin. Os lençóis da grande cama eram verdes. O pequeno sofá era prateado. Uma grande bandeira dos Slytherin enfeitava a sala das Necessidades transformada.

—Como é que me encontraste? – perguntou Sarah com a voz embargada.

—Confesso que não foi fácil. – respondeu Octavia com um leve sorriso. Aquele ódio que sentiu durante toda a semana esvaiu-se completamente ao ver a face de Sarah – Mas depois de descobrir onde estavas não foi difícil entrar. Afinal o teu quarto é o teu refúgio.

—Porque é que estás aqui? – perguntou Sarah.

—Porque tu és a minha melhor amiga. As melhoras amigas estão juntas quando uma delas está mal. – respondeu Octavia aproximando-se de Sarah e abraçando-a – Eu estou aqui para o que der e vier. Nós vamos descobrir o canalha que fez isto e cortá-lo em pedacinhos.

—Obrigada por estares aqui. – agradeceu Sarah – Obrigada por teres esquecido a nossa zanga. E desculpa por não te ter contado mais cedo.

—Não agradeças, Sarah. As melhores amigas existem para isso. Se fosse ao contrário, eu sei que farias o mesmo. – disse Octavia, sorrindo – Eu compreendo, apesar de ter ficado magoada, o porquê de não teres contado logo. Eu imagino o quão difícil deve ter sido para admitires para ti própria. E eu admiro-te por me teres contado. Eu sei que agora toda a gente sabe mas o que tens de fazer é levantar a cabeça e ignorar todo este bando de coscuvilheiros.

—Vai ser difícil.

—Ninguém disse que seria fácil. E eu vou estar ao teu lado. – disse Octavia – E a Molly Weasley também. Com que então tu seduziste uma Weasley? – perguntou Octavia em tom de brincadeira arrancando um sorriso de Sarah.

—Nada disso. Eu nem sei porque fiz o que fiz. Num momento estava a caminhar e no outro estava a beijá-la.

—Vocês as duas… - começou Octavia.

—Sim. – respondeu Sarah – E foi incrível.

—Tu gostas dela? – perguntou Octavia – Foi assim que descobriste que gostavas de mulheres?

—Não Octavia. – respondeu Sarah assumindo um tom sério – A verdade é…a verdade é que eu descobri que gostava de mulheres porque me apaixonei por ti.

Octavia não conseguiu evitar a cara de choque. Mil e uma teorias tinham-se formado na sua cabeça sobre a forma como Sarah descobriu a sua orientação sexual, mas isto nunca lhe tinha passado pela cabeça.

—Por favor não fujas de mim. – pediu Sarah – Eu sei que não é recíproco.

—Eu não vou fugir de ti. – respondeu Octavia recuperando-se do choque – Eu vou ficar ao teu lado sempre. E vou querer saber mais coisas sobre ti e a Molly porque ela andava toda preocupada à tua procura. – disse e Sarah sorriu.

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Era fim do dia quando Sarah e Octavia saíram da sala das Necessidades. Como já tinham faltado às aulas da manhã, ambas não viram motivo para ir às aulas da tarde.

O que elas não esperavam era que, ao saírem da sala das Necessidades, tivessem Scorpius Malfoy à sua espera.

—Precisamos de falar, Sarah. – disse Scorpius.

—O que quer que seja podes falar à frente da Octavia. – disse Sarah.

—Muito bem. – disse Scorpius – A questão é a seguinte. Eu sei quando uma mulher está a fugir de mim e tu fizeste isso Sarah. Desde aquela conversa estranha que tivemos.

—Qual conversa? – perguntou Octavia.

—Uma conversa em que estivemos a falar dele e da Rose. – contou Sarah.

—Exatamente. – confirmou Scorpius – Foi das conversas mais estranhas que tive na vida e acredita que já tive muitas conversas estranhas. Agora a grande questão é, porquê que disseste que não podias fazer não sei o quê e porquê que disseste para eu e a Rose nos mantermos unidos.

—Porque há alguém a tentar separar-vos. – revelou Sarah chocando Octavia mas não Scorpius – Deduzo que pela tua cara, tu já sabias.

—É um facto. A questão é, como é que tu soubeste? – perguntou Scorpius ansioso pela resposta.

—Eu recebi um bilhete. – começou a contar Sarah – Recebi um bilhete anónimo a dizer para eu acabar com o teu namoro com a Rose. Que caso não fizesse isso, toda a Hogwarts iria saber que eu sou homossexual e que tinha estado com a Molly. Como já deves ter reparado, eu não fiz o que me disseram.

—Porquê que nunca me contaste isso? – perguntou Octavia mas a sua resposta não foi respondida porque Scorpius falou.

—Ameaçaram-te só para acabares com o meu namoro com a Rose. Um bilhete anónimo, tal como os que Rose recebeu. – concluiu Scorpius deixando Sarah e Octavia chocadas.

Mas ninguém estava pior que Scorpius. Ele sabia que tinha de levar os bilhetes a sério mesmo dizendo a Rose para não se preocupar. Agora ele não esperava que envolvessem terceiros para realmente acabarem com o seu namoro. Isto tinha-se tornado muito mais sério do que Scorpius poderia pensar.