A manhã chegou chuvosa. Uma coisa anormal naquela altura do ano. Os dias normalmente chegavam solarengos.

Rose decidiu levar a sua capa. Afinal estava um pouco de frio.

Makoto também já tinha acordado. Murmurou um breve bom dia e seguiu para a casa de banho.

De algum tempo para cá, Makoto e Rose apenas se ficavam pelos cumprimentos. Mais especificamente desde que Scorpius contou a Rose o porquê de Makoto estar tão próxima de si. A partir daí, Rose deixou simplesmente de lhe falar. Ela não queria ter Makoto como amiga e também não se sentiu na obrigação de lhe contar o porquê daquela sua atitude. No primeiro dia, Makoto ainda foi falar com Rose a pedir para lhe ensinar um feitiço, mas Rose recusou. A partir daí, Makoto não insistiu mais.

O salão principal estava cheio. Rose decidiu acordar mais tarde do que o normal. Naquele dia também podia, visto que era domingo.

A primeira coisa que fez quando entrou no salão foi olhar por toda a mesa da Gryffindor. Ela queria encontrar um certo loiro. No dia anterior eles tinham discutido e Rose não gostava nada de estar zangada com Scorpius. E, naquele caso, ela tinha maior parte da culpa. Scorpius estava apenas preocupado com ela e ela simplesmente negava-se a falar disso. Claro que Scorpius algum dia se ia passar com ela por causa da sua personalidade. E esse dia foi ontem.

Scorpius não estava no salão principal. Rose tinha a certeza disso porque olhou duas vezes. No lugar onde ele se costumava sentar apenas estava Dominique, Lily e Hugo. Estes até acenaram quando repararam que Rose estava a olhar.

Depois de tomar o pequeno-almoço, Rose decidiu que ia até à biblioteca. Como não tinha combinado com ninguém estudar, decidiu estudar sozinha.

—Rose. – ouviu Sirius chamar. Voltou-se para trás e cumprimentou-o. O seu aspeto estava diferente. James estava feliz – Sabes onde anda a Domi? – perguntou.

—Está no salão principal. – respondeu Rose.

—Obrigada. – agradeceu James – Espera só aqui um bocado. Vou chamá-la. Preciso de falar com vocês as duas.

—Ok.

Rose esperou que Sirius fosse buscar Dominique. Enquanto isso, Rose ficou a pensar no que Sirius queria falar com ela e com Dominique. Se calhar ia final admitir que se passava alguma coisa.

—Vamos até à sala das Necessidades. – sugeriu James quando chegou, com Dominique, junto de Rose.

Ambas concordaram e seguiram todos até ao sétimo andar. O caminho até lá foi marcado pelo silêncio entre os três. O único barulho que se ouvia era os seus passos e a conversa nos quadros. Durante o dia era uma festa total entre eles.

James passou três vezes à frente da parede em que aparecia a porta da sala das Necessidades. Mas, diferente das outras vezes, nenhuma porta apareceu. Isso só queria dizer uma coisa. Alguém estava no seu interior.

—Parece que temos de ir para outro sítio. – comentou James.

Acabaram por decidir que falariam numa das salas de aula. Como era domingo, todas estavam vazias.

Por coincidência, a sala que James escolheu, foi a mesma que Albus usou para manter Rose trancada. Rose reparou que a porta já estava composta. Provavelmente a diretora McGonagall tinha tratado disso logo na manhã seguinte.

James pegou em três cadeiras e formou um círculo com elas. Dominique e Rose sentaram-se nas cadeiras que James deixou livres.

James esfregava as mãos enquanto olhava para eles. Estava a ganhar coragem para começar a falar.

—Chamaste-nos aqui para estarmos a olhar para ti? – perguntou Dominique friamente. Ela estava magoada com James por causa do afastamento dos últimos dias. Ele não falava, não se preocupava com ela. Quando Dominique lhe perguntava alguma coisa, ele simplesmente respondia sim ou não.

—Domi. – contestou Rose.

—Domi nada. Ele anda há dias sem falar direito connosco e agora chama-nos e fica aqui calado.

—Ele não está bem, Domi. Tem calma com ele. – pediu Rose.

James olhava para as duas. Ele queria começar a falar, mas, ao mesmo tempo, ele não queria interromper Dominique. Se o fizesse, só a iria irritar mais e isso era a última coisa que queria.

—James que se passa? – perguntou Rose interrompendo Dominique que continuava a protestar.

James levantou o olhar e encarou Rose. Era isto que adorava na prima. Ela realmente se preocupava com ele. Ele não estava a insinuar que Dominique não se importava, mas quando Dominique estava chateada ou magoada, ela disparava para todos os lados. Exatamente como estava a fazer agora.

—Em primeiro lugar, quero pedir desculpa às duas. Eu sei que ando mais distraído e calado nestes dias. Eu sei que vocês se preocupam comigo e eu não fui muito aberto.

—Tu não foste nada nestes dias. – riposto Dominique levando uma sapatada de Rose – É verdade.

—Deixa o teu namorado explicar, Dominique. Ele tem esse direito. – disse Rose.

—Obrigado Rose. Bem, eu sinceramente não sei como é que vocês vão reagir a isto. Se calhar até vão dizer que eu exagerei ou que não tinha razão nenhuma para estar a sim. Mas a verdade é que, nestes dias, eu venho pensado no futuro.

—Como assim? – perguntou Rose. Ela queria perceber a onde o primo queria chegar.

—Hogwarts está quase a acabar. Só há algum tempo é que me apercebi disso. Eu nunca pensei no meu futuro e quando finalmente a ficha caiu, eu não sabia o que fazer. Comecei a pensar que não tinha jeito para nada, logo não podia arranjar um trabalho quando saísse daqui.

—Eu também estou a acabar Hogwarts e ainda não pensei muito nisso. – ripostou Dominique. Ela continuava fria com James, atitude que Rose achava exagerada. Toda a gente tinha direito aos seus momentos.

—Mas tu Domi sempre disseste que querias seguir jornalismo. Desde o princípio que traçaste um caminho. Mas eu não. Eu sempre deixei andar as coisas. Mas agora eu decidi. Há uma coisa em que eu sou muito bom e essa coisa é o Quidditch.

—Queres tornar-te jogador profissional? – perguntou Rose. Ela sempre soube do gosto do primo pelo Quidditch mas nunca pensou que Sirius quisesse tornar aquilo numa profissão.

—Sim. Estive a ver e os Puddlemere United estão à procura de novos jogadores. As provas começam daqui a duas semanas.

—Então tu já pensaste em tudo, não foi? – perguntou Dominique levantando-se de repente e assustando James e Rose – Não pensaste por um momento em mim? Não pensaste em saber a minha opinião?

—Domi, se é o que ele quer…

—Esquece Rose. Nem te esforces em defendê-lo. – disse Dominique antes de sair deixando Rose e James para trás.

—O que é que se passou aqui? – perguntou James virando-se para a prima.

—Não sei Sirius. Ela costuma ser um pouco exagerada, mas nunca chegou a tanto. Queres que fale com ela? – perguntou Rose atenciosamente.

—Não é preciso. Eu mesmo falarei com ela. Mas obrigado na mesma. – agradeceu James. Rose sorriu.

James acabou por convidar Rose para darem uma volta pelos jardins. O céu tinha aberto e dificilmente choveria. Pelo menos era o que esperava Rose. Ela não queria ficar molhada.

Como há já alguns dias que não conversaram, James e Rose decidiram contar as novidades que tinham um para o outro.

Apesar dos dias que passaram terem sido muitos, as únicas novidades que Rose tinha eram acerca de notas obtidas em trabalhos. Como sempre, ela tirara a nota máxima. Já James comentou que as notas dos seus últimos trabalhos tinham sido mais baixas do que o costume. Possivelmente isto deveu-se ao facto de nos últimos dias não ter estudado com Rose. Não que ele fosse mau aluno, porque não era, mas sem Rose, James acabava por se distrair mais e deixar os estudos de lado.

Rose preferiu ocultar o que acontecera com Albus. Ela preferia manter aquilo em segredo. E também James era irmão de Albus e, se soubesse do que o irmão fez, possivelmente contaria aos pais e Rose não queria que isso acontecesse. Albus arrependera-se e prometera que não faria aquilo novamente. Se assim era, não havia necessidade de perturbar Harry e Ginny.

—Ainda não te contei a última novidade. – proferiu James.

—O que é que fizeste desta vez? – perguntou Rose entre risos. James tinha acabado de contar uma piada.

—Eu não fiz nada. – defendeu-se logo James – Porquê que haveria de ter feito algo? – James olhou para Rose e só de ver a cara dela percebeu aonde ela queria chegar – Ok está bem. Mas não, não fui eu que fiz alguma coisa. O que aconteceu é que o nosso querido amigo Scorpius está tramado.

Rose ao ouvir o nome de Scorpius voltou-se imediatamente para James. O que teria acontecido com Scorpius? Ele estaria bem?

—Como assim está tramado? O que é que lhe aconteceu? – perguntou Rose.

—Apaixonou-se. – respondeu James surpreendo Rose. De todas as respostas que esperava ouvir, aquela era a última. A última coisa que esperava ouvir era que Scorpius estivesse apaixonado. E a última coisa que Rose esperava também era sentir aquele aperto no peito. Aquelas palavras de James afetaram-na de uma maneira que ela não estava à espera. De repente, imensas perguntas formaram-se na sua cabeça. Por quem é que Scorpius estaria apaixonado? Porque é que não lhe contou nada? Será que lhe ia contar no dia anterior mas como se tinham chateado, ele não contou nada? Será que Scorpius não confiava completamente nela a ponto de não lhe contar aquele pormenor tão importante da sua vida?

Com todas estas questões a pairar na sua cabeça, Rose esqueceu-se completamente de James. Esquecera-se completamente que estava na presença deste. James observava-a intrigado.

—Não sabias? – perguntou – Pensei que o Scorpius te tinha contado.

—Ele não disse nada. – respondeu Rose, mas a sua voz saiu fraca.

—Está tudo bem, Rose? – perguntou James vendo a cara da prima.

—Sim Sirius. – respondeu Rose – Bem, eu tenho de ir andando.

—Eu vou contigo então.

James e Rose voltaram para dentro do castelo. Rose continuava a pensar no que o primo tinha dito. Scorpius estava apaixonado, quem diria?

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Rose optou por não ir jantar naquela noite. Estava sem fome. A sua cabeça levava-a sempre ao mesmo ponto. Scorpius estava apaixonado. Ela não conseguia parar de pensar naquilo. Ela não conseguia perceber quem é que o tinha conquistado. Ela estava triste. Triste por ver o Scorpius apaixonar-se por alguém. Aquele aperto que sentira mais cedo tinha a ver com isso. Ela estava mal por Scorpius estar apaixonado. Naquele momento, Rose via isso com clareza.

Pouco passava das dez quando Rose saiu do seu salão comunal. O seu destino era o mesmo de sempre, a torre de Astronomia. Ela precisava de pensar melhor nos novos sentimentos que começavam a surgir e nada melhor que o seu local preferido para o fazer. Mas, qual não foi o seu espanto, quando, ao chegar à torre, deu de caras com Scorpius. Este estava de costas, apoiado com os braços numa das varandas a olhar para o céu.

Rose ponderou ir embora. Realmente ela ponderou isso. Mas depois pensou no porquê de estar a fugir dali. Ela e Scorpius eram amigos, apesar de terem discutido no dia anterior. Não razão para ela sair dali.

—O Albus veio falar comigo ontem. – disse Rose assustando Scorpius. Este voltou-se para trás e observou Rose a aproximar-se.

—O quê? Mas ele fez-te alguma coisa? – perguntou Scorpius preocupado. Ele esqueceu completamente que tinha discutido com Rose ontem. Naquele momento, ele só queria saber o que se tinha passado.

—Não. Ele só veio pedir desculpas. Por me ter levado e pelo bilhete. Ele parecia bastante arrependido.

—Ainda bem que ele está. E ainda bem que ele percebeu a loucura que fez. Ele nunca devia ter feito uma coisa dessas por mais razões que ele achasse que tinha.

—Pois. – respondeu Rose.

Um silêncio incomodativo invadiu a torre. Scorpius e Rose calaram-se e encaravam-se. Por mais que tentassem esquecer, a discussão do dia anterior continuava ali presente como se tivesse a ocorrer naquele momento.

Scorpius deu um passo em frente, aproximando-se de Rose. Logo a seguir, Rose na direção dele e abraçou-o.

—Desculpa Scorpius. – pediu Rose entre soluços – Desculpa ter falado da maneira que falei contigo ontem. Tu só me querias ajudar e eu, só para não variar, afastei-te. Desculpa.

—Está tudo bem princesa. – disse Scorpius afagando os cabelos de Rose. Ai como ele gostava daqueles cabelos – Foi apenas uma discussão. O que importa é que agora estamos aqui e estamos bem.

Rose afastou-se e sorriu para Scorpius. Este continuava a encará-la. Aqueles olhos azuis brilhavam por causa das lágrimas, mas, mesmo assim, continuavam lindos. As pequenas sardas da face de Rose viam-se perfeitamente. Até dava para contá-las. Ai como Scorpius gostaria de passar tardes a contar as sardas de Rose.

Scorpius passou as mãos pela face de Rose e secou-lhe as lágrimas. Tudo isto sem desviar o olhar. Rose, por sua vez, também o encarava. Aquele olhar de Scorpius deixava-a intrigada. Porquê que ele lhe olhava assim?

—Scorpius…por quem é que estás apaixonado? – formulou Rose a pergunta que há muito se formava na sua cabeça.