A Tempestade

três: submissão


— Sua proposta é tentadora, Ludwig, meu caro —Vash Zwingli mantinha-se sentado, respeitosamente, à sua poltrona de couro, o corpo relaxado e o semblante tranquilo. Seus olhos não se desviavam da moeda de cobre que examinava entre os dedos, para logo em seguida posicioná-la com cuidado sobre a torre que se estendia à sua frente, na mesa, composta por dezenas de outras moedas idênticas. — Mas...

O som do tiquetaquear frenético do relógio de parede sustentava a atmosfera por quase um minuto inteiro. Ludwig estava de pé, encarando com disfarçada impaciência a estranha formação à sua frente, que continha não só o excêntrico suíço e sua torre de cobre, mas também Lili Zwingli e Elizaveta, que flanqueavam o anfitrião de forma bizarramente imóvel.

— Mas...? — perguntou o visitante, irritado após contar o trigésimo quarto tiquetaque. Vash envolveu a cintura da jovem companheira, trazendo-a para perto de si, e completou sua resposta.

— Mas não possuo a menor intenção de abdicar da segurança que minha neutralidade me proporciona. É sempre um prazer revê-lo — despediu-se, acenando para os seguranças armados que guardavam a porta. Quando os dois fizeram menção de aproximar-se, Ludwig apoiou-se sobre a mesa, derrubando todas as moedas. Elizaveta conteve a respiração por um segundo ao lado da poltrona de couro, os braços pressionando o ventre e todo o corpo ficando, de alguma forma, ainda mais rígido.

— Você parece não fazer ideia do que está em jogo aqui, Zwingli — Ludwig conseguia sustentar um tom de voz aceitável, mas seus olhos queimavam de preocupação ao encarar seu interlocutor. — Sua cooperação seria de valor inestimável para...

— Eu espero que você consiga remontá-la — interrompeu Vash, apontando para as moedas espalhadas por seu colo e por todo o piso. — Uma vez que é tão incapaz de refazer seu próprio país que veio implorar-me por ajuda.

O relógio cantou mais três vezes e a pressão do braço de Zwingli sobre o tronco de Lili fez a menina abafar um gritinho agudo.

— Eu não vou — continuou o suíço, posicionando-se ainda mais próximo ao visitante. — tomar partido nas suas briguinhas. Eu sou neutro, Ludwig, e assim permanecerei.

— Herr Zwingli... — interrompeu-lhe Elizaveta, que se calou com um simples aceno de mão do outro. Ludwig manteve-se atento e em silêncio.

— Aprenda a lutar suas próprias batalhas.

— Gilbert... Com sua ajuda, eu poderia trazê-lo...

— Você sabe — a voz de Vash ganhou rigidez e, com um movimento, ele fez Lili fluir gentilmente até seu colo. À medida que falava, acariciava o queixo da menina com uma das mãos, sem encará-la. Elizaveta desviou o olhar. — muito bem onde seu irmão está agora, e que não será difícil tirá-lo de lá.

— Não duvido nada que Edelstein se oponha.

— Roderich Edelstein pode ter sido uma grande força no passado, e é até natural que você, em especial, o admire por isso, Ludwig, mas agora ele não passa de um falido. Tão decadente quanto o seu irmão.

O orgulho fraterno de Ludwig causou-lhe certo desconforto, mas Vash continuou.

— Traga-o de volta. Garanto que será imensamente mais fácil que mudar minha posição.

Com um sorriso cínico, o suíço suspirou, apoiando o próprio rosto sobre o tronco da garota em seu colo.

— Mas seja bonzinho. Afinal, Elizaveta está se mordendo de medo de que você machuque o nosso pobre pianista rebelde. — a morena bufou de leve, a expressão endurecida. De olhos fechados e o nariz sobre os seios frágeis de Lili, ocultos sob o vestido, Vash Zwingli acenou para que Ludwig se fosse.

— Está é sua palavra final?

Não obtendo resposta, virou-se para sair. Não pôde, porém, conter um último comentário.

— Para alguém que se orgulha tanto de sua neutralidade, Zwingli, não entendo o porquê de tantos seguranças, tantas armas...

Vash respondeu com um sorriso, e Ludwig compreendeu que era hora de ir.