Para a jovem, aquela era, com certeza, a noite mais longa de sua vida até então. Havia um silêncio perturbador que dominava todo o palácio de Keldabe. Um silêncio que impregnava as paredes, o ar e os ossos. Um silêncio mais ensurdecedor do que qualquer guerra já vista naquele planeta. Um silêncio tão assustador quanto um fantasma, escondido em cada um dos cantos de cada quarto e corredor, esperando apenas o momento certo para assustar alguém. Ninguém se falava, ninguém se olhava. Todos estavam isolados, apenas aguardando que o inevitável destino desse as caras naquele lugar, agindo como sempre agia: de forma rápida e implacável.

Talvez, fosse melhor dessa forma. Quanto mais rápido fosse, menos dor haveria. Assim, as duas irmãs teriam o menos a paz de saber que seu pai havia partido em paz, sem sofrimento. Mas já era tarde. O Mand’alor há muito agonizava, mas seu fim ainda não havia chegado. Sedado em sua cama, ele ardia em febre e suava frio. Mesmo completamente entupido de opioides, o homem ainda sentia dor. Uma dor que era visível em cada um de seus limitados movimentos. Em cada contração irregular de seus músculos. Em cada respiração entrecortada. Uma situação tão dramática que conseguira unir as duas jovens, sempre conflituosas, em um único objetivo: velar o pai em seu leito de morte.

Por fim, aconteceu. Satine Kryze ouviu quando o homem expirou pela última vez. Ao contrário de cada uma de suas custosas respirações, essa não foi interrompida: o ar saiu completamente de seus pulmões até que, por fim, houve silêncio. Não havia mais gemidos, não havia mais ruídos. Havia apenas silêncio. O mesmo silêncio que assolava todo o resto do palácio. Mas, também, havia paz. Uma paz inexplicável que vinha junto com a dor da perda, mas que informava às meninas que o sofrimento havia acabado.

A mais jovem foi a primeira a se levantar da cadeira que ocupava. Enxugando as lágrimas e arrumando os longos e ondulados fios ruivos atrás das orelhas, Bo-Katan Kryze se aproximou lentamente do corpo sem vida do pai. Como se fosse um animal enraivecido que pudesse atacar a qualquer momento, não um cadáver. A passos lentos, a jovem alcançou a cama e se sentou sobre o colchão. Assustada, ela levou a mão até o rosto do pai, constatando que, mesmo morto, ele ainda estava mais quente do que ela. Um calor residual da febre que o matara contrastando com o medo e com a insegurança da menina.

Tão lentamente quanto havia se aproximado, Bo-Katan se levantou e se afastou da cama, andando de costas sem retirar os olhos do corpo de seu pai. Por fim, ela se virou para a irmã: a filha mais velha, uma jovem loira e de pele pálida, estava em pé, no extremo oposto do quarto. Seu rosto estava coberto por lágrimas que havia momentaneamente parado de escorrer enquanto aguardava a confirmação do que ela já sabia que havia acontecido. Mesmo assim, ela precisava ouvir. Apenas assim aceitaria a verdade.

Nesse momento, Bo-Katan se ajoelhou, direcionando uma pomposa reverência à irmã.

— Longa vida à Mand’alor – disse a mais nova.

A voz ainda falhando com as lágrimas que ela tentava segurar.