A Sina dos Luthor

Capítulo Único


“Passaram-se alguns anos desde que Myriad fora ativada junto ao programa de Hope, você senhora Luthor conseguiu sua vingança como sempre desejou, quebrou o espírito da última filha de meu planeta morto.

Trinta anos atrás, nessa mesma data Myriad faria quatro anos de ativação, Supergirl já não era mais necessária a algum tempo, visto que seu objetivo em ligar tal dispositivo fora para acabar com qualquer ação que poderia ser considerada perigosa a si e a terceiros.

Tenho que admitir de certo que o objetivo é nobre, mas a ação nem de longe conseguiria tal status. Quatro anos para transformar aos poucos as pessoas e os alienígenas não-Kryptonianos em meros robôs, todos controlados por Hope.

Eu sei que pode dizer que no início não foi assim, que o que acontecia era uma mera consequência do programa de auto aperfeiçoamento de Hope, que não tinha intenção em tonar os humanos em formigas controladas.

Mas sendo sinceros uns aos outros, Supergirl tentou te alertar que algo assim aconteceria, tentou falar que os humanos da Terra estavam agindo estranho, mas você não a escutou, preferiu simplesmente observar essa mulher incrível definhar novamente, pois estava cega em sua vingança por uma ação mal resolvida.

Voltemos no primeiro dia que Kara fora até você, pouco depois de sua conquista em ativar Myriad...

O dia era ensolarado, quase que perfeito, sem nuvens no céu, sem preocupações... Bom, exceto talvez pela Kryptoniana batendo a porta da CEO, desesperada.

— Você ativou mesmo? – perguntou a loira com os olhos vermelhos como se estivesse chorando quase a noite toda.

— Esse sempre foi meu objetivo, Supergirl – respondeu a Luthor olhando-a nos olhos friamente – Ninguém jamais será machucado novamente.

— Lena! Isso é loucura! Não é você! Me escute, me deixe explicar tudo!

— Vocês todos deixaram muito claro o que acham sobre mim quando me mantiveram esse segredo, - o tom da morena subiu quase que em um grito – Afinal, por que confiar em um Luthor, somos todos vilões...

— Não é assim como a vejo – respondeu a loira com o coração em pedaços – Eu te amo Lena, você é uma pessoa importante, não diga essas coisas...

A CEO riu com escárnio, imaginando que cada uma das palavras proferidas não passava de manipulações baratas para atraí-la novamente e fazer algo contra sua vida.

O exemplo do bunker foi o suficiente para que sua bondade se esvaísse, e todos os seus antigos amigos tornassem se empecilhos para o bem maior.

— Vocês me fizeram assim com a sua traição, Supergirl... – disse a mulher em lágrimas grossas – Vocês não confiaram em mim a primeira parte, eu matei meu irmão por você! Minha única família restante!

A heroína tentou aproximar-se, mas a Luthor puxou de uma das gavetas um revólver transparente, feito unicamente para que o conteúdo de suas balas ficasse evidente, balas de Kryptonita verde, a pedra mortal aos Kryptonianos.

Kara puxou o ar surpresa com o que via, mas ela sabia em seu interior que sua amiga não puxaria o gatilho contra si, ela tinha esperanças de que Lena ainda mantivesse, mesmo que um pouco de sua humanidade, que de alguma maneira seu erro não a afetasse a este nível de loucura. O nível Lex de loucura.

— Vá embora Supergirl – disse a CEO com a voz falhada – Não me obrigue a matá-la!

— Essa não é você Lena – falou Kara com as mãos para o ar – Não se perca ainda mais...

— Você não tem o direito de me chamar por Lena! – gritou a morena em fúria balançando a arma – Tão pouco tem direito em me dizer o que fazer! Você perdeu seus direitos quando decidiu mentir para mim...

— Me perdoe! Eu... – Kara foi interrompida, tendo um dos tiros do revólver passando ao lado de seu ouvido, deixando-o zunindo com o som.

A mulher loira percebendo o que aconteceu, se calou e foi embora.

Nesta primeira noite você chorou Luthor, eu sei disso por um fato. Supergirl estava observando o que fazia, ela ainda se importava com você e talvez... só talvez ela nunca deixaria de se importar.

Essa vez fora um tiro de raspão eu admito, mantendo sua promessa em não matar a heroína da Terra, mas mantendo também sua promessa pessoal em fazê-la sofrer como sofreu, afinal não se levanta armas aos amigos...

Mas a algum tempo, você não conseguia ultrapassar seu orgulho o suficiente para chamá-la por Kara, seu nome a machucava, as lembranças sempre estariam lá para atormentar seu coração e mente. Então Supergirl era o nome perfeito, distanciava as duas da maneira que seu coração e mente pensavam precisar.

Quatro anos se passaram, Kara tentava conversar com você, tentava colocar a razão em sua mente, ao mesmo passo que passava seus dias procurando na cidade traços para encontrar Myriad, afinal as duas únicas a não serem afetadas foram você e a Kryptoniana, visto que o aparelho fora designado para o controle desta raça.

Você não o modificou nisso, pois queria ver a loira lidar com as pessoas, pessoas que ela conhecia, que tinha laços, mas que aos poucos não estavam mais com ela em espírito, pois em presença Hope fazia um ótimo trabalho em manter todos alegres e saudáveis.

Depois de quatro anos Kara já não era a mesma, suas visitas a você se tornaram insuportáveis, seus amigos já não existiam, ela era forçada a conviver entre marionetes, cujos fios você controlava. Eram as duas únicas formas de vida orgânicas que tinham a ciência do que acontecia.

Mas nem mesmo isso a manteve sã, você a tratava de maneira mais e mais agressiva. Coisa que Kara não conseguia compreender, você deveria estar feliz! Conseguiu atingir seu objetivo ao ligar seu programa.

A noite de natal a vinte anos mudou Kara para sempre em relação a você, o que você fez não deveria ser considerado correto, mas novamente, a quem ela diria alguma coisa? Todos estavam sendo controlados por você!

Kara Danvers não passaria mais um dos natais junto com a sua família, não haveria ponto, todos estariam felizes, ninguém teria problema algum além de si. Ela amava a todos, mas não poderia ficar junto com nenhum sem se sentir uma falha por não conseguir encontrar Myriad.

Ela a alguns meses, havia pedido sua demissão de seu cargo como repórter, não existia mais motivações para tal empreendimento, notícias seriam tão ou mais calmas do que seu ambiente de trabalho, sem graça.

Já havia se tornado um hábito o fato de que Kara havia se distanciado de todos, Hope tentou de alguma maneira manter seus amigos próximos em certo ponto, pois seu programa a compelia a manter todos felizes e Kara definitivamente não estava.

Hope então começou a passar o tempo com Kara, conversando com ela, mostrando-se presente sempre que a loira solicitasse uma conversa. Tornando-se de alguma maneira uma amiga, uma amiga extremamente poderosas como ela própria.

“Creio que Hope não deve ter lhe informado sobre tais conversas e tão pouco sobre seu conteúdo, e agora você nem mesmo se quisesse conseguiria encontrar Senhora Luthor.”

Enfim, Kara na noite de Natal fora falar com você. Ainda esperançosa de trazer você para a luz, como uma salvadora de sua alma, algo que Kara sempre prezou por ser.

— O que faz aqui Supergirl? – perguntou Luthor sem levantar o rosto do computador em que lia e organizava seus afazeres.

— Sempre que venho até aqui estou pedindo-lhe a mesma coisa – respondeu a loira passando a mão na ponte do nariz, ajeitando os óculos no rosto fino.

— Vá embora, está perdendo seu tempo aqui, e me atrapalhando – a voz fria dizia tudo que era necessário dizer, Luthor não queria mais a presença da loira incomodando.

— Por favor! – disse a loira com a voz embargada – Reconsidere o que seu programa transformou as pessoas não é normal! E nem certo.

— Não fale mal de meu trabalho! – falou Luthor batendo as mãos na mesa fortemente – Eu salvei sua vida com essa merda de trabalho que você critica há anos!

— Eu não quis dizer isso, Lena – falou a heroína deixando o nome da morena escapar sem querer por entre os lábios – Seu trabalho é maravilhoso, mas o programa de Hope está transformando todos em bonecos, não existem mais conversas entre as pessoas, não existem mais personalidades!

— Não me chame de LENA!

Luthor gritou puxando a arma já tão conhecida pela Kryptoniana de entre as roupas, ligando também luzes com Kryptonita tornando a mulher loira praticamente humana em comparação.

A morena tirou o terno feito sob medida rapidamente ainda apontando a arma para a mulher loira em uma fúria poucas vezes vista direcionada para Kara.

Receber tiros já se tornou rotina na vida da heroína, ela já não sabia no que a mulher a sua frente transformara-se, os olhos em fúria já não a assustavam mais a algum tempo, mas machucava a mulher te ver tão possessa.

Luthor então atacou com alguns tiros em regiões que fizeram a Kryptoniana gritar em dor e cair no chão, sangrando em todo o carpete branco da sala, rapidamente tornando-o vermelho.

Mas a fúria não passaria somente em vê-la sangrar como das inúmeras outras vezes que a mulher atirou na Kryptoniana, desta vez em específico ela pegou a seu bastão embebido na pedra mortal para a loira e iniciou um movimento repetitivo de agressão ao corpo semiconsciente e sangrando.

— Você não me merece em sua vida! – gritou batendo repetidas vezes – Eu te odeio! Queria que estivesse morta! Minha melhor amiga está MORTA!

Tente negar Luthor, somente tente... você fez cada uma dessas coisas, atacando o corpo feminino no chão por cerca de uma hora. Kara somente não morreu por seu corpo possuir uma capacidade de regeneração fantástica, mas ainda assim ela não acordou por outros quase sete meses. Meus parabéns para você...

Kara acordou dolorida, mas ela lembrava de sua última conversa, ela não voltou a tentar conversar com você durante vários anos, o que faria sentido. Mas você tão pouco fora até a loira para conversarem.

Seu orgulho é seu maior defeito e seu maior pecado, e é exatamente por isso que tudo o que está acontecendo com você faz sentido Luthor.

Mas as respostas não foram obtidas para a loira até cerca de dezoito anos atrás, faziam sete anos da ativação de seu projeto, Hope já controlava a maneira como as pessoas se moveriam e responderiam a estímulos da Kryptoniana, visto que conversas entre si não teriam ponto.

Ela foi uma última vez até você, sete anos tendo de lidar com amigos e familiares que não estavam disponíveis para si, tentando viver com o fato de que você a odiaria para sempre e passando por seu orgulho para tentar novamente conversar com você.

Kara pode ser conhecida por muitas coisas, mas o que brilha acima de todas, é sua capacidade de manter-se sempre positiva para com você, sempre esperançosa.

Mas dessa vez ela estava diferente não? Algo nela havia mudado...

Dando a você algum contexto... Kara havia deixado seu emprego em alguns meses, e depois de acordar ela pegou um aparelho que recebeu a alguns anos chamado de “Extrapolador Interdimensional”

Esse pequeno dispositivo abriria uma fenda no espaço tempo que possibilitaria a heroína em viajar até o universo 1, onde se encontra a famosa Terra 1. Entenda, esse universo que você vive é apenas um em infinitos e o seu ficou na Terra 38, então Kara não apenas era uma heroína em sua Terra, mas em muitas outras.

Nessa primeira Terra ela possuía um grupo que você chegou a ouvi-la falar, os “Super Amigos” um grupo enorme de super herois que protegem os mundos contra os mais diferentes obstáculos, tal qual os Dominadores, ou então o fim dos universos por um ser chamado de Anti-Monitor, uma existência praticamente divina.

Ela foi até essa Terra 1 para poder contar sua decisão para todos seus amigos e talvez trocar seu dispositivo, visto que agora não poderiam mais encontrá-la com a mesma facilidade.

Kara contou tudo o que aconteceu em sua Terra e que precisaria de um novo dispositivo Extrapolador afinal não estaria mais em um único lugar deste momento em diante. Explicou que poderiam chamá-la para qualquer evento em que ela fosse necessária, assim como estariam livres para visitá-la.

Ela então voltou para a Terra 38, sua Terra Luthor e despediu-se de seus amigos e familiares, recebendo sempre a mesma resposta vazia de sentimentos.

“Oh! Boa viagem! Traga Cartões!”

Ela pretendia seguir sua vida longe de você, mas algo em si a compeliu a voltar e dizer um adeus a alguém que fora muito importante, mas que atualmente somente trouxe dor.

Supergirl ficou por um tempo ponderando o que deveria fazer, iria até você para contar tudo, ou se deixaria ser destratada uma última vez? Porque Kara com o passar dos anos desenvolveu uma resistência a Kryptonita tão incrível que eu até diria que ela estava curada de sua fraqueza.

Ela arrumou uma mochila e como pode se lembrar, foi até você...

A Kryptoniana estava sentada no sofá branco, sozinha na sala da CEO esperando para que ela voltasse, a mochila pequena e simples estava ao seu lado, mas o que estava em seu colo era deveras mais importante.

A Luthor depois de quase meia hora finalmente voltou a sala encontrando a mulher loira sentada em roupas comuns e sem seus tão conhecidos óculos.

— Ainda não desistiu disso? – disse ela em tom de desdém – Não vou dizer onde está Myriad e tão pouco vou desligar o programa! Pare de me encher.

— Me desculpe, esse não é o assunto desta visita – disse a loira se levantando calma – Mas não pretendo voltar de qualquer forma, só achei que gostaria de receber esses presentes.

A mulher loira levantou-se, sua estatura sempre fora maior que a da Luthor, mas o jeito introvertido não demonstrava tanto. Entregou seu uniforme junto com os óculos que sempre seriam sua marca.

— O que significa isso?

— Significa que você venceu – disse a loira pegando a mochila e caminhando até a sacada – Kara Danvers, assim como Supergirl não existe mais.

— Está desistindo? – riu a CEO com escárnio – Justo você desistir, é praticamente poético.

— Adeus Senhorita Luthor – disse pulando a sacada – Essa Terra finalmente a pertence, espero que saiba o quanto isso me custou...

— O quanto te custou? – gritou a mulher morena, fazendo com que a loira parasse no ar por um instante – Você só pensa em você mesmo!

A CEO não viu, mas quando percebeu estava a metros do chão e pendurada pelo pescoço, que era firmemente seguro pela antiga heroína, que possuía os olhos vermelhos como se ponderasse se destruiria a mulher ali ou a deixaria despencar para a morte.

— Eu vi meu mundo ser destruído duas vezes Luthor, eu presenciei a morte de minha mãe duas vezes, e agora estou novamente abandonando a Terra com amigos e com pessoas que me consideram parte de sua família – o olhar para a CEO faiscava em ódio mal contido – Eu tentei ser educada com você em todos esses anos, vamos ser sinceras eu poderia ter te matado em qualquer momento!

— Essa não é você – disse a morena com tom rouco perdendo aos poucos o ar.

— Engraçado você dizer isso – respondeu com um sorriso nos lábios – Qual a sua resposta quando lhe disse essas exatas palavras? – parou por um tempo fingindo tentar recordar-se do que a mulher havia dito – Você não tem o direito de me dizer quem eu sou!

Com essas últimas palavras a loira soltou os dedos do pescoço alvo da CEO que despencou em alta velocidade, sendo acompanhada pela loira em deleite. Seus olhos nunca deixando a coloração avermelhada.

Luthor durante sua queda perguntou-se se ela havia entrado em contato com a kryptonita vermelha, seus efeitos em kryptonianos se assemelhavam muito a o que a loira fazia.

Kara, mesmo em uma enorme onda de ódio, havia feito um voto a nunca machucar ninguém, então cerca de cinquenta metros do chão a antiga heroína pegou a mulher em seus braços e voltou para a sacada, jogando a CEO assustada dentro do ambiente pequeno.

— Kara – disse Lena olhando para os olhos vermelhos e o rosto em fúria – Eu posso te ajudar a se livrar da Kryptonita vermelha e...

Kara ouvindo o discurso, o interrompeu com uma alta gargalhada, não acreditava que o que bastaria para uma mudança de coração seria uma experiência de quase morte.

— Humanos são uma raça inferior Luthor – disse ela ainda rindo – Se eu estivesse sobre o efeito da kryptonita vermelha, você estaria sendo raspada do chão agora mesmo.

— Essa não é Kara Danvers! Quem é você?

— Kara Danvers está morta – disse a loira finalmente deixando os intensos olhos azuis tomarem conta de seu rosto – Junto com os sentimentos humanos fracos que ela tinha. Eu sou Kara Zor-El, a última filha de um planeta morto e representante da Casa de El.

Lena não respondeu, a intensidade dos olhos azuis a pegou de surpresa, ela deu alguns passos para trás assustada com o que poderia acontecer em seguida.

— A Terra, esse planeta imundo, é todo seu humana – disse a mulher loira se afastando – Aproveite-o sozinha...

Vamos falar algumas verdades aqui, Kara Zor-El era uma mulher de palavra, para desistir de um planeta pela segunda vez seria sempre para ela o fim de sua vida. Um trauma que você jamais irá conhecer Luthor.

Kara deu sua vida para proteger a Terra, e ainda assim não foi o suficiente para manter as pessoas que importavam para si. Em certo ponto ela perguntou se faria sentido seque ter uma família, se ela merecia uma família, visto que aprendera a viver sem uma por tantos anos e agora estava novamente abandonando sua família.

Não seja mesquinha Luthor, ela mesma disse, você venceu. Conseguiu tudo o que poderia desejar, conseguiu tudo o que todos poderiam desejar.

Mas não... nos próximos quatro anos Hope tornou-se mais poderosa do que sequer você imaginaria... Eu sei, não negue... Kara mesmo não voltando a seu planeta o observava de Argo.

Ela via o que Hope fazia, não seria humano nunca, mas Hope não era humana, ela tem um pensamento superior, e começou o que podemos chamar de Limpeza. A raiva e o ódio em seus sistemas não poderiam mais ser controlados, então o que ela fez?

Escolhia um humano de renome e desligava completamente suas inibições, permitindo ao homem os atos mais inescrupulosos. A você minha cara Luthor minhas condolências, Hope ultrapassou sua tão incrível inteligência, porque você deu a ela autonomia para se proteger de Supergirl.

Mas seu erro mesmo, foi não ter previsto o vazamento de sangue em seu programa, como você pretendia resolver o problema relacionado a pessoas se matando? Isso nem de longe seria o que seu programa fora montado para fazer... Ou foi?

Diga que sim! Mostre a mim que Kara estava errada sobre você! Mostre o monstro por de trás desse rostinho bonito!

Você deixou milhares de pessoas morrerem, porque não consegue consertar Hope, mas a única que sequer vê esse segundo holocausto dos mais pobres e das minorias é você, o resto da população não passa de bonecos controlados e sem consciência.

Admita seu erro, vamos! Veja a mulher imunda que você se tornou! A mulher covarde!

Pois acredite... Alguns anos atrás, acredito que deveria ter cerca de dez anos de idade, você foi até Kara em Argo. Engolir seu orgulho monumental deve ter sido algo estranho...

Mas me deixe contar algo que você minha cara desconhece, Kara pode não ter visto você chegar, pode não ter percebido sua presença como anteriormente ela faria. Ela afinal já vivia em Argo a cerca de seis anos, tempo o suficiente para perder completamente seus poderes e esquecer das pessoas que a machucaram.

Mas eu te vi, eu ouvi o que disse, e eu a vi partir, tudo porque você a viu feliz novamente, a viu com uma família.

“Talvez seja tarde de mais para nós Kara... – você disse para si em prantos falsos – Sinto muito por fazê-la sofrer por tantos anos, mas eu a amo!”

Um amor desse é responsável pelas tragédias Shakespearianas. Todos amores doentios, sentidos por pessoas mais doentes ainda. Vamos Luthor, não negue o sentimento por Kara, você a amava eu entendo, mas que tipo de amor destrói o objeto amado por algo bobo quanto um segredo que ela em fato contou a você?

Tente pensar com essa sua cabeça imunda, Kara em verdade falou a você que era Supergirl, ela nunca sequer ergueu a mão em sua direção e vamos ser razoáveis aqui, você deixou muito claro que o resultado de sua ira independeria do que ela fizesse.

Se Zor-El contasse para você antes, ainda assim teria ficado irritada e talvez, só talvez a mesma coisa acontecesse. Então sejamos adultos e falemos a verdade, você descontou uma raiva em uma mulher devotada a você!

Seu orgulho a deixou sozinha, seu orgulho a afastou de seus amigos, seu orgulho a fez controlá-los e acima de tudo seu orgulho criou Hope, a inteligência que agora controla um planeta inteiro e que aos poucos está causando a destruição de seu planeta, então SEU ORGULHO DESTRUIU SEU PLANETA. Você não pode culpar outra pessoa por seu erro miserável.

Eu quis te entregar essa carta pessoalmente, como um pedido de Kara, ela gostaria de algo mais fofo e calmo. Porque até em seus piores momentos essa mulher maravilhosa seria mil vezes a mulher que você jamais será.

Então muito boa sorte com seu problema, mas antes de ir olhe para mim e diga... olhe para mim e admita... e talvez eu conte a você como Kara Zor-El está.”

Lena terminou de ler a carta, não havia assinatura, mas o homem a sua frente lhe dizia algumas coisas simplesmente pela aparência.

Obviamente kryptoniano, os olhos azuis como os dela, mas Superman também tinha olhos azuis como os dela... E os cabelos longos e loiros sustentados por um rosto bonito e jovem.

— Quem é você? – perguntou a mulher já não tão jovem, o homem sentou-se no sofá branco, na mesma posição que Kara na última vez que a viu.

— Quem você acha? – respondeu ele, olhar faiscando por uma oportunidade.

— Se fosse chutar – disse a Luthor levantando-se – Diria que é filho dela...

— Killian Zor-El – disse ele fazendo uma reverência – Filho de Kara Zor-El e Kalier Sund, agora Zor-El.

— O que pretendia com essa carta Killian?

— Meus objetivos são vários – disse ele sorrindo e caminhando – Mas entre todos eu queria ver seu rosto, conhecer a tal Lena Luthor...

— Por quê?

— Por quê? É isso mesmo? – disse ele se aproximando da mulher morena, ele era mais alto, muito mais alto, mas ele se abaixou para ficar em sua altura – Largue a faca, não sou bom o suficiente para não agredir uma mulher mais velha.

— Olhe... – disse Lena soltando a faca com kryptonita – Eu não queria ter feito tudo aquilo com Kara, mas eu não soube como lidar com a dor.

— Seja mulher e admita! – Killian quebrou a faca de kryptonita entre os dedos, mostrando que não era sensível a ela – Diga “Eu sou uma pessoa horrenda! Eu fiz tudo o que fiz porque me deu vontade!”

— Eu estava cega pelo ódio criança!

— Mentira! Diga a verdade e lhe direi sobre minha mãe...

— O que tem Kara? Ela está bem?

— Diria que na atual conjectura, não existe como ela estar melhor...

— O que isso significa?

— Não é inteligente Luthor? Descubra.

Killian foi em direção a sacada, cada um de seus movimentos lembrava a ela Kara em seu último dia juntos muitos anos atrás. Killian fazia de propósito, Kara poderia não ver Lena Luthor como ela é, mas ele nunca foi enganado pela máscara de boa moça.

Killian estava voando para longe da CEO, esperando por seu chamado, esperando estar errado sobre ela, esperando que tudo o que sua mãe lhe contara enquanto crescia fosse verdade.

Mas Lena Luthor não saiu para chamá-lo, ela preferiu a ignorância a admitir erros passados, ele não pedia para desligar Hope, ele não pedia nada além da verdade.

Lena Luthor novamente falhou em seu teste, seu orgulho prevalecia entre as relações interpessoais. Mas Killian não poderia ir embora sem contar a ela, foi um pedido de Kara, e ele passaria a vida tentando cumpri-lo se fosse necessário.

No dia seguinte Killian foi até Luthor, mas não na empresa, em sua casa. Sentado na mobília cara, esperava que a mulher mais velha acordasse calmamente. Lena quando o viu gritou e atirou, mas Killian pegou a bala entre os dedos, como se nada tivesse acontecido.

— O que faz aqui?

— Não se preocupe com isso Luthor eu apenas vim até esse planeta realizar o desejo de minha mãe – disse ele apontando para o sofá a sua frente – Eu não pretendo voltar, então preste atenção.

Lena arrumou seu robe e se sentou de frente ao homem loiro que lembrava tanto sua Kara, a mulher por quem procurou entre as estrelas, mas não foi forte o suficiente para admitir seu amor.

— Minha mãe a amava, seu amor por você era tão grande quanto seu amor por minha outra mãe, Kalier – disse ele pegando um paninho para Luthor que chorava.

— E-eu... também... – a voz embargada a atrapalhava de falar.

— Eu sei que amou minha mãe muito mais do que uma amiga, sei que seus sentimentos por ela são verdadeiros.

— Kara foi minha primeira amiga nesta cidade.

— Minha mãe contou tudo sobre você Luthor, e por isso fiz o teste de ontem, para saber se era digna da confiança Kryptoniana uma segunda vez...

— O que isso significa?

— Todos os anos que Kara esteve com você nesta Terra, ela sofreu danos acima de danos, e você entre todos foi a que mais machucou.

Lena não respondeu, pegou o pano macio que Killian lhe estendia e secou grossas lágrimas.

— Minha mãe Kara, em suas últimas palavras me pediu para vir até você pessoalmente Como representante da Casa de El, – disse ele em uma voz calma e de tom grave – E lhe dizer que a senhora Luthor foi perdoada por seus crimes quanto a vida de Kara Zor-El.

— Últimas palavras? Perdoada?

— Minha mãe devido a enorme quantidade de machucados, principalmente os causados por você com o uso da kryptonita verde, morreu em sua cama quando completei dez anos.

— Kara está morta?

— Sim, - disse ele direto como fora ensinado – Kalier estava pensando em fazer um memorial para ela, eu levei seus parentes humanos para Argo a alguns anos, eles não moram mais entre os controlados por você.

— Alex e os outros estão fora da Terra?

— A questão Luthor – disse ele levantando-se calmo – Minha mãe solicitou sua anistia e pediu para que quando o tempo fosse certo eu voltasse e averiguasse se a senhora havia se tornado alguém melhor.

— O dia de ontem foi um teste... – ela não perguntou, era uma afirmação clara. Ela entendia, afinal seu orgulho ainda estava tomando conta de sua vida.

— Minha tia Alex não recuperou suas memórias, então ela não reconhece a minha mãe – disse ele levantando-se e saindo – Eles não a consideram vilã Luthor, mas para mim você não difere em um fio de cabelo de seu irmão.

Lena não respondeu, ela sabia que havia falhado no teste do garoto. Talvez um teste que tentava não apenas fazê-lo acreditar, mas o tornaria um homem melhor.

— Eu sou chefe da força militar de Argo, se aproxime de nós e eu pessoalmente a matarei. Minha mãe foi boa com você e agora está morta, eu não cometerei o mesmo erro.

— Está me ameaçando?

— Estou.

Killian saiu pela janela, Luthor não melhoraria nunca, ela não serve para sua mãe, ela não serve para nada!

Quando ela saiu, Lena começou a chorar, o menino tinha razão, ela não era diferente de Lex em coisa alguma. Sabia que pessoas estavam se machucando e até morrendo, mas ela não fazia nada, ela se recusava a admitir que Kara estava certa, mas agora... Agora não tinha mais ponto, ela finalmente conseguiu o que queria... Estava sozinha no mundo.

Killian pisou em Argo e foi recebido por um par de braços fortes, ele sorriu triste, para a mulher loira a sua frente.

— Como foi meu bem? – perguntou ela com aqueles olhos azuis doces.

— Me desculpe mãe...

— Não se preocupe – disse ela abraçando o garoto que chorava – Talvez não fosse para acontecer...

— Eu não queria existir se fosse desta maneira!

— Killian... não diga isso meu amor! – falou a mulher abraçando-o com toda sua força que a idade o permitia.

— Mãe... A Luthor nunca vai mudar...

— Eu vejo isso agora meu amor – disse ela limpando seu rosto das lágrimas – Mas ainda assim você deixou seu lenço com ela.

— Sou um cavalheiro minha mãe – disse ele rindo um pouco – O que poderia fazer? Era uma dama em prantos.

— Tem toda razão meu príncipe – respondeu rindo junto com o filho, em um clima leve.

As preocupações para Killian não acabariam tão cedo, mas por hora não existia nada que poderia fazer para melhorar...

— Killian! – gritaram seu nome de longe – Chame sua mãe! Estamos atrasados!

— Já vou tia Alex! – respondeu pegando a senhora do seu lado no colo e correndo para que chegassem a tempo. A mulher mais velha exclamou em surpresa, mas riu com a animação do filho.

Estavam em uma colina verde e bela, todos os residentes de Argo estavam presentes, sua família reservada os bancos na frente, no seu lado esquerdo sua mãe, que foi descida de seu colo com muito cuidado e do lado direito Jonathan seu primo, filho de seu falecido tio Clark, outra infeliz vítima da vida heroica que teve.

— Estamos aqui para honrar a morte de dois cidadãos de Krypton, que passaram a maior parte de sua vida em um planeta humano chamado de Terra... – começou o memorial e entre as palavras Killian se perdeu em pensamentos e memórias de sua mãe e do amor que ela lhe deu enquanto viva.

Mas algo o forçou a olhar para os lados, a procura de algo que nem mesmo ele sabia o que era. Até seus olhos azuis travarem nos verdes intensos e marejados.

Ela foi até Argo, ela estava presente, em meio às sombras, mas estava lá, sua mãe ao fim não estava tão enganada... Killian tirou seus olhos dos dela, deixando que ao menos essa noite, as almas antigas de sua mãe e da Luthor se encontrassem em outro plano.

Sua promessa a ela seria cumprida caso a mulher ousasse vir pessoalmente a Argo, colocando todos em perigo com a sua enorme carga de erros já cometidos e pecados que ainda prejudicam vidas.

Mas os erros do passado neste momento foram apagados, e a culpa esquecida, o dia de amanhã reiniciará o ciclo que prende os Luthor, Killian bem sabia e por isso não impediu a mulher de aparecer nas festividades dos herois da Terra, mesmo que apenas parcialmente…

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.