A Senhora da Sorte

Fica esperta, Winters!


Andrômeda virou-se devagar e viu Daniel parado na entrada. Ela respirou fundo e disse:

— Há quanto tempo você está aí?

Daniel riu.

— Pouco tempo. Quem era seu...amigo?

Andrômeda ficou gelada. Será que ele a viu beijando Pablo? Aquele era o cara de quem ela gostava de verdade, seria uma porcaria se ele tivesse visto.

— Era, hum, o Pablo. - disse baixinho.

— Ah, por que ele veio te trazer em casa?

Andrômeda tentou falar algo, mas qualquer desculpa que inventasse parecia forçada. Não teria motivo algum para ele a acompanhar até em casa se não fossem namorados. Automaticamente, ela levou a mão ao peito e apertou o colar com força pensando no que ia dizer ao Daniel, quando de repente sua mãe abriu a porta.

— Ah, você chegou. - disse ela, e só então percebeu que Daniel estava lá. - Daniel!

— Olá, senhora Allen. Que bom te ver.

Daniel deu aquele sorriso lindo e Andrômeda ficou grata por não ter que dizer a ele que estava namorando outra pessoa.

— Você já jantou? - perguntou a mãe de Andrômeda.

— Não, mas...

— Então vai jantar conosco hoje.

E então, ela os arrastou para a casa.

***

O jantar foi longo e constrangedor. Quando Andrômeda passou o verão com Daniel na casa de praia da vovó, eles ficaram bem próximos, e ela falava dele o tempo todo, sua mãe os apoiou como casal apenas porque gostara muito de Daniel.

O problema era que sua mãe ainda não sabia que ela estava namorando o Pablo, e tratou ela e Daniel como casal o jantar inteiro. Por sorte, sua irmã mais velha, Ádria, a única da família que sabia do namoro, estava fazendo uma viagem com o pessoal da faculdade para conhecer indústrias nas cidades vizinhas.

O pai de Andrômeda também gostava muito de Daniel, eles conversavam como se fossem amigos de longa data, e quanto mais sua família interagia com aquele garoto maravilhoso, mais Andrômeda se contorcia de culpa em sua cadeira.

Depois do jantar, seu pai foi para o escritório como sempre e sua mãe foi limpar a cozinha, ela e Daniel subiram para o quarto dela.

Chegando lá, Andrômeda soltou os longos cabelos negros e coçou os olhos.

— Seu quarto é muito legal. - disse Daniel.

— Valeu.

Andrômeda estava distraída, não sabia ao certo o motivo de ter levado ele até lá. Ela sentou-se em uma das cadeiras e cruzou as pernas. Daniel sentou na cama e olhou ao redor.

— Estava com saudades de você. - disse ele.

— Eu também. - ela sorriu, mas em seguida sentiu gosto de ferro em sua boca.

Não estava fácil sentar ali e mentir para Daniel.

— Preciso te contar algo. - disse ela.

— Pode contar.

— Eu… estou namorando o Pablo. - despejou.

Daniel respirou fundo e encarou o chão por um tempo.

— Imaginei que você pudesse se interessar por outra pessoa, já faz um tempão que a gente não se vê, não posso te culpar por isso. - ele disse.

— Ah, Dan. Eu não queria que isso estivesse acontecendo!

— Não? Não queria namorar com ele?

— Não exatamente, eu só queria que ele ficasse feliz.

— E o que você ganha com isso?

Andrômeda sentiu um buraco abrir em seu peito, e apenas algo frio o tocava: o colar.

— Eu acho que gosto dele também. - mentiu – Eu não sabia que você viria me ver.

— Está tudo bem, Andrômeda. - disse Daniel.

— Mesmo? – ela disse.

— Não, né! Poxa, eu gosto de você, e vim te ver e você está com outro. - ele parecia extremamente desapontado.

— Escuta, Daniel, eu vou consertar isso. Não tô pedindo pra você esperar por mim nem nada, mas vou resolver essa situação.

— Desculpa, agora eu que estou confuso. Melhor eu ir embora.

Ele se levantou e foi em direção a porta.

— Dan, por favor.

Ela foi atrás dele, ele parou de repente e a abraçou.

E foi o melhor abraço do mundo, ela poderia ficar ali para sempre, e foi quando ela percebeu que não podia continuar com Pablo, pois estava realmente amando Daniel.

***

Pouco depois do longo abraço, Daniel disse que esperaria Andrômeda resolver sua situação com Pablo, e depois conversariam, e então foi embora.

Passado o momento de conforto pelo abraço, Andrômeda lembrou-se dos desaforos de Lana, como ela a fizera perder tempo, e de todas as vezes que ela aprontara, e, usando o anel conseguira se safar.

Lana Winters realmente conseguiu irritar Andrômeda Allen, e ela ia pagar por isso.

Andrômeda tinha um plano.

***

Depois de uma manhã longa e chata, Andrômeda almoçou e foi para a escola, era dia de aula de educação física, e a única parte boa disso era que ela daria início ao Projeto Detona Winters (PDW).

Na aula de educação física, depois que todas as garotas se trocaram, Andrômeda continuou enrolando no vestiário até ficar sozinha.

Pegou dentro de seu estojo um dos blocos de notas adesivas que a escola dava aos alunos, e escreveu na primeira folha com uma letra desleixada. Abriu o armário de Lana e o colou na parte de dentro, e depois foi para a aula como se nada tivesse acontecido.

***

Lana realmente arrasava no vôlei. Seu time ganhou as três partidas, e ela aproveitava pra dar instruções zoadas para Andrômeda Allen como, “corra em círculos”, “joga a bola para o alto e olha para cima”, a bola caiu em cheio na cara dela duas vezes.

Era maravilhoso ter um anel mágico que fazia com que as pessoas fizessem coisas idiotas. A vida de Lana ficara mais fácil desde que ganhara o anel da mãe.

Vitoriosa pelo jogo, Lana ficou papeando com as amigas enquanto as outras garotas iam para o vestiário. Ela odiava quando pessoas suadas encostavam nela, por isso evitava a multidão. Sentou-se na beirada da arquibancada e soltou os cabelos ruivos ondulados, estavam suados. Lana franziu o nariz, era hora de ir para o banho, ou se atrasaria para a aula.

Andou até o vestiário seguida pelas amigas. Elas estavam zoando uma garota do terceiro ano, e quando Lana abriu o seu armário, viu uma nota colada lá, da mesma cor que a escola distribuíra para todos os alunos. Discretamente ela a arrancou e leu escondido das amigas. A letra era descuidada, mas legível.

Aonde foi parar a sua pulseira de ouro branco? Espero que ela não tenha caminhado até a loja de onde você a roubou! Fica esperta, Winters.

— G.B”

Lana amassou a nota com força, e procurou em seu sapato pela pulseira, era onde ela escondia o anel durante as aulas, e passou a colocar a pulseira no sapato oposto. Ela não estava lá. Lana estava desesperada, mas respirou fundo. Olhou ao redor e viu embaixo de um dos bancos a ponta de outra nota.

— Vão para o banho, queridas. - disse para as amigas – eu já vou.

Sozinha no vestiário, Lana puxou a nota e leu.

Quer a sua pulseira de volta, Winters? Então posta no seu facebook uma foto sua sem maquiagem, sem filtro e sem photoshop, com a legenda “eu sou uma grande vadia” e deixe lá por uma hora. Só assim saberei o quanto você a quer de volta. Ou devo devolver para a loja? Você tem até às 19h.

— G.B ”

Lana então entendeu o que era G.B, significava grande vadia.