A Senhora da Sorte

As costelas estão intactas


Pablo a ajudou a se levantar e praticamente a carregou até a ala hospitalar.

— Você tem certeza de que não quer que eu vá falar com a diretora? Você parece estar bem machucada, é justo que Derek pague os seus medicamentos mesmo que tenha sido sem querer.

— Não, Pablo, não quero o time de lacrosse inteiro me chamando de fresca. Já basta os problemas que tenho.

— Hum, tá bom então.

Andrômeda estava sentada na maca esperando a médica voltar com o resultado do raio X.

— Você parece entediada aqui. - disse Pablo para quebrar o silêncio.

— Eu já estava vindo pra cá mesmo. - ela deu de ombros.

A médica retornou com um sorriso no rosto.

— Boas notícias! As costelas estão intactas, e seu pé vai ficar bom logo, também não está quebrado, nenhum osso deslocado. Vou receitar uns analgésicos e anti inflamatórios, você vai ficar bem.

Pablo respirou aliviado, mas Andrômeda deu um sorriso amarelo. Ela sabia bem que Lana estava tentando matá-la, mas não sabia o motivo. Primeiro a garota tentou quebrar o pé dela, e depois mandou um armário do time de lacrosse a esmagar.

— Ótimo. - disse Andrômeda.

— Você não deveria estar na aula, Sr Hinostroza? - perguntou a médica.

— É, sim. Eu só queria saber se ela estava bem mesmo. - disse Pablo corando.

— Obrigada, Pablo, mas você pode ir, não perca mais tempo de aula por minha causa. - disse Andrômeda.

— Está bem, Andy, vou te visitar mais tarde. - disse ele saindo do consultório.

Andrômeda não teve tempo de dizer que não era uma boa ideia.

— Consegue andar, Andrômeda? Ou quer que eu ligue para os seus pais?

— Eu posso ir andando. - retrucou ela.

— Mas você vai precisar de pelo menos 15 horas de repouso antes de se movimentar normalmente.

— Hum, certo. Vou descansar em casa.

Andrômeda apanhou o cartão de atestado médico para ir para casa, os alunos o chamavam de “o passe livre”, e andar até em casa foi mais fácil do que ela pensara.

O problema foi que ela tomou alguns medicamentos no consultório da escola, e agora estava mais distraída do que nunca, percebeu tarde que tinha errado a rua de sua casa.

Ela não estava na sua rua, mas sim na de Lana.

Isso mesmo, Lana! Como se não bastasse estudar na mesma escola que aquela psicótica, Lana morava uma rua antes dela.

Andrômeda poderia ter voltado, mas decidiu seguir em frente e fazer a volta até sua casa. Quando se aproximou da porta de Lana viu sua mãe deixando um grande saco de lixo que mal cabia na lixeira.

A mãe de Lana não viu Andrômeda, ela estava tentando enfiar o saco na lixeira, mas não conseguiu e acabou deixando ali mesmo no chão e voltou para dentro de casa.

Andrômeda continuou caminhando na velocidade que seu pé machucado permitia, quando passou em frente à casa de Lana olhou com curiosidade pro saco grande. Pareciam ter cadernos ali dentro, ela olhou com mais atenção, e viu através do saco, estava escrito “Diário”. Os olhos dela quase saltaram da cara. Diários? E se fossem de Lana? Andrômeda agarrou o saco e meio que mancou correndo até sua casa.

Chegando lá, tudo que ela queria era correr para o quarto e ver o que tinha naqueles diários.

Mas assim que chegou ouviu sua mãe chamar.

— Andrômeda? - seu tom parecia enfurecido.

Andrômeda subiu as escadas cautelosamente fingindo não ter ouvido a mãe e enfiou o saco de diários em baixo da cama.

— Andrômeda!! - berrou a mãe.

— Estou indo.

Ela desceu as escadas com dificuldade e foi até a cozinha onde estava sua mãe.

Ela estava com o rosto muito vermelho e as sobrancelhas arqueadas, as mãos apertando os quadris. Ela supôs que sua mãe estava brava com alguma coisa.

— O que houve? - perguntou Andrômeda com medo da resposta.

— Qual é o seu problema?? Por que continua procurando briga com a coitada da Lana Winters?

— Como é? - Lana era qualquer coisa menos coitada.

— Não se faz de desentendida, ela deu queixa para a diretora! - gritou sua mãe, Andrômeda piscou. - Ela me ligou e disse que você a culpou por um garoto desastrado do time esbarrar em você e ainda empurrou ela!

— O quê? - Andrômeda não conseguia acreditar na cara de pau da Lana.

— Eu não acredito que você fez isso, ela é praticamente nossa vizinha! Eu vou ter que ir lá ver se ela está bem, mais uma vez.

— Você não tem que acreditar nisso porque eu não fiz isso, a última vez que falei com Lana foi quando ela tentou quebrar o meu pé!

— Ela mencionou isso e disse que foi um acidente, e que ia se oferecer para pagar os remédios de você não a tivesse jogado no chão!

— Eu não fiz isso!

— Sorte a sua que ela não se machucou muito, só quebrou uma das unhas pelo que sei.

— Que bom pra ela. Mas eu não fiz isso, mãe.

— Você está de castigo, Andrômeda! E sua detenção na escola começa amanhã.

— O quê? Detenção? Por algo que eu nem fiz?

— Cala a boca e vai já para o seu quarto, eu não quero ver você usando a internet nem tão cedo.

Uma lágrima quente escorreu pelo rosto de Andrômeda quando ela se virou para ir para o seu quarto.

Aquilo não estava certo.

***

Andrômeda bufou e bateu a porta de seu quarto, ela se jogou na cama e tremia de raiva. Lana fez mais uma vez o que sempre fazia, machucava Andrômeda de alguma forma e sempre a fazia parecer culpada.

Ela realmente queria bolar um plano para desmascarar aquela louca e provar para todos que ela nunca foi culpada de nada. Mas os pensamentos estavam tão embaraçados. O quarto estava tão desfocado, ela desabou em um sono profundo, e sonhou que raspava o cabelo de Lana com uma daquelas máquinas de salão de beleza.

***

Andrômeda acordou com o soar da campainha, ela tentou olhar a hora em seu relógio de pulso, mas o quarto estava escuro, ela presumiu que essa era a hora que ela deveria estar chegando da escola. Ela levantou da cama e abriu a porta afim de ouvir quem tocou a campainha.

— Olá, senhora Allen, a Andrômeda está melhor? Eu prometi passar aqui para vê-la.

Era a voz de Pablo.

— Ela está bem sim e está dormindo.

Sua mãe soou rabugenta.

— Ah, certo. Pode dizer a ela que passei aqui por favor?

— Digo sim.

— Obrigado, tchau. - disse ele um tanto desapontado.

— De nada, diga um oi para sua mãe por mim.

— Claro. - disse Pablo mais distante.

Andrômeda ficou muito grata por sua mãe ter despistado Pablo. Muitas coisas aconteceram durante as férias.

Sua família decidiu viajar para o chalé da vovó Allen que ficava na praia em outra cidade, e perto dele havia outros chalés de outras famílias, e o da avó ficava ao lado do da família Foster.

No primeiro dia, Andrômeda estava emburrada, lá não pegava o sinal de celular e nem sequer tinha internet, aquilo era a própria experiência de exclusão social. Até que ela decidira se jogar no calçadão da praia sem se importar mais com nada, e conheceu o garoto que fingiu que ia pisar em cima dela.

— Que calçada mais linda! Encontrei a beleza da praia.

Andrômeda abriu os olhos de mau humor e soltou um longo suspiro.

— Essa foi a cantada mais idiota que já ouvi.

— Não foi uma cantada. - retrucou o rapaz – Foi um elogio.

Ele estendeu a mão para ela, e ela aceitou. Uma vez de pé ela pôde notar que o rapaz era bem bonito, ele sim era a beleza da praia. Cabelo louro escuro, olhos verdes intensos, ele sem dúvidas passara longas horas no sol, estava bronzeado e com os lábios ressecados.

Andrômeda sorriu.

— Eu sou Daniel Foster. - ele disse.

— Andrômeda Allen.

A partir daí os dois ficaram inseparáveis e Andrômeda se apaixonou por Daniel. Até que três dias depois, ele finalmente a beijou, e eles se beijaram todos os dias até que chegou o dia de voltar para casa.

Daniel não morava na mesma cidade que ela, mas prometeu ir vê-la assim que possível. Os dois se falaram algumas vezes por mensagem desde que Andrômeda voltou para casa e ela realmente queria vê-lo de novo.

Ela sequer pensara em Pablo durante as férias, tampouco em seu convite para tomar sorvete, e pensando bem, ela nem gostava de sorvete, só aceitou porque estava afim dele na época.

E agora Pablo havia sido tão atencioso com ela, a ajudara e foi gentil, mas ela não estava mais tão interessada nele, ela estava sentindo saudades do Daniel, e se sentiu péssima por conta dessa situação.

Ela sentou-se na cama novamente e ficou parada, pensando no que ia fazer.

Sua mãe abriu a porta de repente.

— Andy?

— Oi.

— Eu fui muito grossa com você, desculpe. Eu não sabia que você tinha se machucado tanto.

— É.

— A médica da escola me ligou, você tem que tomar alguns remédios, me dê a receita que eu vou cuidar disso.

Andrômeda caçou o papel dentro da mochila, e o colocou nas mãos da mãe.

Afrodite parecia sem graça e arrependida.

— Seu amigo veio te ver, o Pablo. Achei que você ainda tava dormindo.

— Tudo bem.

— Venha jantar, seu pai acabou de chegar.

— Certo.

Andrômeda não conseguiu disfarçar que estava muito chateada com a mãe, ela nem sequer deixou ela falar mais cedo, mas a acompanhou até a cozinha.

As coisas correram bem durante o jantar. Ninguém mencionou o mais novo incidente entre Andrômeda e Lana, e ela ficou grata por isso.

Depois do jantar, Andrômeda tomou um banho, e se sentiu ainda mais sonolenta, ela sentou na cama pensando em ler os diários, mas quando se esticou para alcançar a sacola pegou no sono.

Ela teve sonhos estranhos e turbulentos. Primeiro estava com Daniel na praia, e Pablo apareceu e ficou muito bravo e triste por ela estar com outro e disse algo do tipo “ainda bem que não te entreguei o meu segredo de família”.

O sonho mudou, ela estava deitada no meio do pátio da escola, e Lana pulava em cima dela, pisando-a com seu salto agulha 12cm, e Pablo e Daniel assistiam a cena com um sorriso no rosto.

— Bem feito, Andy. - disse Pablo.

— Quem mandou mentir para nós? - disse Daniel – Queria os dois, ficou sem nenhum.

— Beije meus pés, “Andy”. - disse Lana gargalhando.

Felizmente, Andrômeda acordou com o bip de seu despertador.