Matt parou em frente ao gramado, ainda faltavam horas para o jogo começar. A Seleção dos Cavaleiros brasileiros iria enfrentar equipes de comunidades mágicas e de comunidades de Cavaleiros de outros países do mundo em suas competições.

Um jogo-teste havia sido marcado para aquecer a equipe.

Estádio Jornalista Mário Filho.

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Enquanto os demais colegas de time finalizavam o aquecimento, Matt refletia consigo mesmo. Fitou o gramado e as arquibancadas, no momento vazias, mas que em breve seriam ocupadas pelos torcedores. Do mesmo modo que havia sido na Guerra Galáctica, os torcedores, tanto convidados quanto o público pagante, imaginavam se tratar apenas de uma seleção amadora, mais preocupada com o futebol arte (o que explicaria as performances acima da média em razão do cosmo e da força sobre-humana dos Cavaleiros) do que propriamente com o resultado ou em exibir força diante dos adversários.

Para Matt isso estava de bom tamanho. Era melhor que as pessoas não conhecessem sobre os Cavaleiros totalmente. Já haviam salvo o mundo algumas vezes, sem esperar nada em troca, nenhuma recompensa nem sequer um simples “obrigado” de alguém. Mas o cavaleiro de Fênix agradecia por ele e seus amigos estarem vivos e terem chegado vivos até ali. Agradecia também pela vida de todas aquelas pessoas que iriam assisti-los jogando.

Era melhor quando os inocentes não sabiam quem os estava protegendo. No entanto, o cavaleiro de Fênix, alternando-se entre olhar para o interior do estádio e fechar os olhos momentaneamente, não refletia apenas sobre isso. Era tudo uma experiência nova; eles representando o Santuário e a ordem dos Cavaleiros em uma situação pacífica, uma competição esportiva, ao invés de se preocuparem com batalhas contra deuses e contra outros inimigos da deusa Atena.

A aliança com os bruxos da Ordem da Fênix (que nome legal!!), do Ministério da Magia e da Escola de Magia Hogwarts havia caído como uma luva para todos. Como se estivesse destinada a acontecer. Dois mundos que haviam vivido tanto tempo sem saber um da existência do outro e, agora, eram aliados, caminhando juntos. Ajudando uns aos outros a resolver diversos problemas, inclusive relativos a inimigos em comum.

Mas não era apenas por isso que a aliança povoava os pensamentos de Matt naquele instante. Souberam que Lino Jordan, o comentarista de quadribol (esporte dos bruxos, praticado com vassouras) iria irradiar os jogos da Seleção Brasileira de cavaleiros. Além disso, Bore Sutto, velho conhecido dos garotos de Bronze, iria participar também das transmissões. O que Matt não daria para poder ter acesso a um fone de ouvido durante os jogos para poder escutar o que Bore e Lino estariam comentando e narrando, de que forma, com quais jargões e gírias, ao longo da partida. A combinação do velho japonês com o comentarista esportivo britânico com alma jovial parecia incrível, e não poderia ter ocorrido numa melhor hora.

Faltava pouco tempo para acabar o aquecimento. Matt tirou a jaqueta da seleção Brasileira, ficando com o uniforme clássico do Brasil: camiseta amarela, calções azuis, meiões brancos. O cavaleiro de Fênix adotara chuteiras vermelhas para a competição, em relação ao fogo, seu elemento principal. Havia enviado recentemente para Isabella uma música da cantora Paula Fernandes, “Pássaro de Fogo”. Conversar com ela em meio a músicas que mandavam um para o outro havia se tornado uma rotina gostosa no universo particular de ambos. Outro dia ele havia se deparado com uma coleção de poesias, e uma delas inspirou ele a chamar Isabella de sua “Flor de Is”, em referência ao nome da moça e ao título de uma das poesias.

Ele a procurou rapidamente pelas arquibancadas, mas se deu conta de que, por faltar algumas horas ainda para o jogo começar, ela e as demais garotas do Santuário provavelmente ainda não tinham chegado ou se acomodado em seus assentos.

Já com seu aparato de jogo em ordem, Matt se preparou para descer novamente ao vestiário para a última preleção; o professor de Educação Física do Santuário, que fazia as vezes de treinador da equipe, provavelmente não pegaria leve com eles só por se tratar de um jogo treino. Ajeitou, também, a braçadeira de capitão; os meninos o haviam escolhido por aclamação. A decisão final havia recaído entre ele e Betinho, o cavaleiro de Pégaso. Mas Betinho, que queria e preferia seguir outros estigmas associados à constelação de Pégaso que não o da liderança, abriu mão da disputa em favor do amigo. Depois disso, Matt escolhera uma braçadeira de capitão vermelha, com a letra C em amarelo no centro. Usou o vermelho também pelo mesmo motivo das chuteiras, mas também porque a cor vermelha era uma cor que causava diferentes e polarizadas sensações nas pessoas do Brasil. Rsrs.

Ia descer ao vestiário quando uma voz o tirou de seus pensamentos, repentinamente.

— Matt?

Olhou em volta. Próximo de onde estava, acenando para ele da arquibancada, estava seu amigo Rudolf, professor de História oriundo lá do Rio Grande do Norte e que se encontrava, inexplicavelmente, nesse momento, de pé na arquibancada do Maracanã, chamando pelo cavaleiro de Fênix.