14- As pedras reais

14- As pedras reais:

Observei minha imagem através do espelho e me virei para as cinco meninas que me observavam um tanto ansiosas.

— Gostei.- sorri para elas, que suspiraram aliviadas e voltei a me olhar no espelho.

Depois de um pequeno acidente com Mel envolvendo xixi e coco, tive que trocar o vestido branco e simples, por um longo, de manga curta e azul.Ele era bem simples, com uns babados aqui e ali, mas era perfeito.E eu amei.O cabelo foi preso em uma trança e eu decidi usar sapatilhas.Não atrapalharia caso eu precisasse correr ou me abaixar.

— Vamos, Srta Lork?- Lucy colocou a cabeça para dentro de meu quarto e eu assenti.

— Muito bem crianças.Quero os três obedecendo as meninas.Sem palhaçadas, ouviu bem Connor Lork?- perguntei seriamente ao meu irmão.

— Sim, Helena.- ele disse calmamente.Sorri.Dei um beijo na testa dos meus bebês e um na de Connor.- Volta logo, em.- ele pediu e eu assenti.

— Sempre.- murmurei antes de agarrar as muletas e sair andando em direção a porta.Desci de elevador até o Hall.Todas as meninas já estavam lá.A família real estava mais a frente, conversando entre si.Faltava algumas medidas de segurança a serem seguidas, por isso que tivemos que esperar mais um pouco.

— Lucy pediu para trazer para você.- Kile me surpreendeu ao tocar em meu braço com seu próprio ombro.Olhei para sua mão e sorri.Havia um prato com torradas com geleia, um pedaço de pão com manteiga e três pedaços de Bacon.Em sua outra mão, havia um copo de suco de laranja.

— Delicia.- murmurei colocando uma das muletas apoiadas no corpo de Kile.Ele bufou.- Não bufe encima da minha comida.- reclamei e agarrei o bacon.Mordi um pedaço e o mastiguei.- Quer um pedaço?- perguntei a Kile.Ele assentiu animado e eu sorri, colocando o Bacon a sua frente.Ele mordeu um pedação e o mastigou.

— Mais um.- ele pediu e eu estendi o Bacon.Ele o pegou com os dentes e eu peguei o suco.Tomei um gole e coloquei na mão de Kile novamente.Ele o tomou e eu não reclamei, Kile tinha a mania de comer minha comida.

— De onde vocês se conhecem?- Ane perguntou curiosa, se colocando ao meu lado.Mordi um pedaço do pão.

— Ele era um dos guardas responsáveis para me passar as medidas de segurança.E depois, ele foi obrigado a ser meu guarda-costas.- respondi depois de engolir o pão.Tomei mais um pouco do suco.

— Ele ficou na sua casa?- Ash perguntou surpresa, se colocando ao meu outro lado e olhando para Kile.

— Melhor do que ficar em uma van.- ele murmurou e eu assenti.

— Ele foi útil.Espancou o cara que me fez quebrar a perna.- sorri um pouco e as duas arregalaram os olhos.

— Você não nos contou isso.- elas reclamam e eu e Kile rimos.

— Não era necessário.E Liam não fez queixas, quanto menos pessoas soubessem, melhor.- Kile deu uma risada depois do que eu falei e olhou mais a frente.Olhei também e vi que Carter lhe fazia uns sinais.Arregalei meus olhos e Kile assentiu, voltando a olhar para mim.Aquela era uma linguagem feita especialmente feita para os guardas.Eles aprendiam isso durante seu treinamento.Kile a me ensinou enquanto estava em casa.

Carter fez cinco sinais.Fechou a mão em punho, isso significava grupo de pessoas.Depois bateu o punho no outro punho, isso significava tumulto.Depois, entrelaçou as mãos, o que significava se unir.As juntou, o que significava proteger.E ergueu o dedão, o que significava proteger de qualquer jeito.

Entendi tudo isso no sentido: Tem um grupo de pessoas no centro que estão tumultuado, ou seja, é necessário que os guardas se unam e protejam as selecionadas e a família real de qualquer jeito.

— Bem Srtas, chegou a hora de irmos para o desfile.- Lucy disse e começou a a colocar as meninas nos carros.Eram cinco em cada.Mas havia 9 carros e três vans.Percebi que as Selecionadas que foram mandadas para casa também estavam aqui, conosco.Terminei meu suco, e meti mais um pedaço grande de Bacon na minha boca.Kile acenou para mim e se afastou depois de me entregar a muleta.

Eu, Ash, Ane, Clara e Lian Yu fomos em um carro.Eu fui na frente, com o motorista.Eu ocupava mais espaço por conta da perna e das muletas e Lucy disse que eu iria na frente e pronto.Eu fui.A viagem demorou exatos 23 minutos.23 minutos de muita risada, não só da parte das meninas, como também da do motorista.

Apesar de nós divertimos, ficamos quietas no instante que chegamos no centro.Estava lotado de pessoas.Havia pessoas animadas, que sorriam e erguiam seus cartazes apoiando o desfile, a Seleção e todo o resto, mas haviam aqueles que erguiam seus cartazes em protesto a Seleção, alguns chingavam os reis e a família real, creio eu que aquilo era consequência da eliminação das Castas.

Taylor parou o carro e desceu dele, se esquivando das pessoas.Três guardas pararam ao lado do carro e nos ajudou a sair.Fomos guiadas para dentro de um enorme prédio.A todo instante sentia mãos me tocando, puxando meu vestido.Era muito estranho, admito.

— Srtas, estão Bem?- Lucy perguntou no instante que atravessamos a porta.Assenti, me encostando um pouco na parede.Minha perna doía.Toquei o gesso e percebi que uma parte dele havia se quebrado, e aquilo estava interferindo no resto da estabilidade da estrutura do gesso.

— Droga.- Kile resmungou no instante que viu o gesso.- Consegue pelo menos ir até o carro?- ele perguntou se referindo ao carro alegórico a uns 10 metros de distância da minha pessoa.Era basicamente flores, tecido e muito dourado.

— Sim.- resmunguei e me desencostei da parede.Caminhei até a escada, segurando os gemidos de dor.Eu iria desabar quando Kile me surpreendeu me pegando no colo.

— Relaxa.- ele pediu ao ver meu olhar assustado.Segurei as muletas junto ao corpo e Kile subiu as escadas.Caminhamos até a frente do carro e Ash segurou uma das cadeiras para poder me sentar nela.- Direto para o médico real assim que chegarmos.- ele mandou e eu assenti.

— Eu queria essa cara na minha cama.- Ash murmurou enquanto observava Kile se afastar.Ri e dei um tapa em seu braço.

— Ele é comprometido, Ash.- falei e ri de sua cara decepcionada.

Todas as garotas foram se acomodando nas cadeiras.A família real se sentou nas cadeiras que estavam em um degrau de mais ou menos 1 metro.Então, eles estavam bem acima de nós.

— Sejam simpáticas meninas!Sorriem e acenem!- Lucy falou no instante que as portas do galpão se abriram e o carro começou a andar.Me limitei apenas a sorrir e a acenar, tentando ao máximo parar de me preocupar com minha perna e focar nas pessoas.

— Olha que lindo!- Ash disse animada e apontou.Havia um cartaz Grande, com um desenho de uma ruiva e duas loiras.As três eram extremamente parecidas comigo, Ash e Ane.Antes mesmo de conseguir ver quem o fez, eu estava no chão.Uma parte de meu rosto ardia e estava molhada.

— SE ABAIXEM!- ouvi a voz do Rei, mas eu não consegui me mexer.Outra pedra atingiu com força meu estômago.

— KEDAN!- ouvi a princesa gritar e depois que a terceira pedra me acertou, consegui rastejar por entre a confusão de pessoas.Minha visão estava embaçada, o sangue pingava de meu rosto.Mas eu não parei.As pedras vinham sem parar e quando vi que Osten seria acertado por uma, agarrei minha muleta e a acertei, a jogando longe.

— Helena!Você está sangrando!- Ahren disse quando chegou ao lado de Osten.

—Dane-se, precisamos tirar as pessoas daqui!- exclamei alto.

— SE ABAIXEM!- George gritou e no instante seguinte, eu, Ahren e Osten estávamos no chão, e várias pedras atingiram a parede de metal atrás de nós.Cobri minha cabeça e a de Osten e esperei.

Finalmente o maldito barulho parou.Os gritos cessaram.Agora só havia choro e muita confusão.Estávamos de volta ao galpão.Os meninos saíram de cima de mim e eu fiquei deitada no chão, finalmente sentindo o cansaço me atingir.

— Helena?- Ahren perguntou, tocando meu braço.

— Estou bem.Quem mais foi atingido?- perguntei e aceitei a sua mão.Me sentei e ignorei o vestido cheio de sangue.Meu sangue.Dane-se.Ahren tirou seu paletó e o colocou gentilmente ao lado de meu rosto.Gemi de dor.

— Kedan e mais três selecionadas.- ele respondeu e eu assenti, gemendo mais uma vez.Foram dois cortes em meu rosto.Um na testa e outro na bochecha.Duas pedras na cara.Duas.

— Helena, meu Deus!- Lucy arregalou os olhos assim que me viu e se agachou ao meu lado.

— Não, não.Eu estou bem.Vá ajudar as outras meninas.- Peguei minha muleta ao meu lado e tomei impulso para se levantar.

— Está louca?Sente-se!- Lucy mandou, mas eu já ajudava as outras a se levantarem.Várias delas choravam e eu as guiei para a escada.Os carros estavam na garagem, então, as mandei entrarem ali e falei para que esperassem mais três meninas entrarem para poderem partir.

Fui guiando cada menina até a escada e as mandava entrar nos carros.O rei viu o que eu estava fazendo e começou a me ajudar, e logo Ahren e George faziam o mesmo.

— Srta Lork, Você vai na van com as outras três selecionadas que foram atingidas.Quatro guardas iram com vocês, para lhes prestar pronto-socorro.- O rei ordenou e eu assenti.Ajudei Lian Yu se levantar e descemos as escadas.A garota chorava como eu nunca vi alguém chorar antes.Seu braço sangrava por debaixo do tecido branco.Eu só sei que já não sentia mais parte do meu rosto.A dor era suportável.

Entrei logo depois de Lian Yu com a ajuda de um dos guardas.Meu gesso simplesmente caiu no chão do galpão.Que lindo.Fechei a mão em punho e trinquei a mandíbula.Aquela merda doía.

— Nós vamos estabilizar isso, Ok?- O guarda disse no momento que a van começou a andar.- Rodríguez, me ajuda aqui.- O guarda chamou e outro guarda se juntou a ele.Era uma van cheia de quinquilharias, e havia tecido e um tripé de câmera.Ele usaria aquilo para estabilizar a minha perna. -Você vai segurar o cabo e eu vou amarrar, sim?- Ele disse ao Rodríguez, que prontamente assentiu.- Srta, se quiser gritar, faça a vontade.- disse e eu assenti, fechando os olhos e encostando minha cabeça na parede de metal.

Rodríguez posicionou o cabo debaixo da minha perna.Nisso, eu já dei um soco na lataria.Quando ele fez o primeiro nó, foram três socos um mais forte que o outro.

— Assim você quebra a mão!- Rodríguez falou e eu resisti ao impulso de manda-lo a merda.

— Diego, acho melhor você ficar na sua.Ela vai te socar primeiro se continuar falando.- O guarda que cuidava de Maura Gause disse de bom humor.No segundo nó, o guarda estendeu o braço e eu o soquei com força.- Acho que desloquei o braço.- O guarda ofegou e o terceiro e último nó foi feito.

— Eu quero morfina.- gruni quase morrendo e os guardas riram.

— Você aguentou bem.Outras meninas teriam desmaiado ou estariam chorando e pedindo pela mãe.- O guarda que prendeu o cabo na minha perna falou sorrindo.

— Não posso pedir por algo que eu não tenho.- murmurei baixinho e tenho certeza que sooei armagurada.Ele riu, se sentando ao meu lado e pegando uma caixa vermelha.Era a caixa de pronto-socorro.

— Você tem sim uma mãe, vocês apenas não podem se falar, mas acredite, ela está lá encima olhando por você.Te ajudando a suportar essa dor.Te ajudando a criar seus irmãos.Te ajudando a se manter sã.Você tem mãe e ela ainda te ajuda muito.- ele disse seriamente, colocando gaze sobre os cortes.

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