Qual é o seu segredo?

P.O.V. Príncipe Maxon.

Eu estava passeando pelos jardins. Somente eu e meus pensamentos quando ouço aquela voz. Sempre aquela voz.

Cheguei de mansinho e ela estava na piscina, estranhei não estar usando um traje de banho, um biquíni ou maiô.

Ela estava boiando e olhando pra cima.

—Porque não está usando biquíni?

America levantou a cabeça para olhar pra mim. E olhou para o próprio corpo.

—Eu estou, mas por baixo da saída de piscina. Eu tenho muita vergonha de ficar de biquíni.

Ela saiu da água.

—Pode por favor, virar? Por favor.

—Claro.

Me virei, mas ainda assim vi pelo canto do olho quando ela tirou o vestido ensopado que já marcava seus belos contornos e o biquíni estava por baixo. Apesar de eu ser um cavalheiro, ainda sou humano e devo secretamente admitir que ver aquela ruiva de biquíni, suas pernas torneadas, sua pele branca e que parecia muito macia e estava molhada ainda por cima, aquela bundinha linda me fez ter pensamentos indecorosos.

Infelizmente, o que é bom dura pouco. Ela se secou e vestiu outra roupa por cima do biquíni.

—Pode, olhar agora.

Ela estava usando uma blusa simples escura com decote V e meia manga. E uma calça jeans skinny, Cargo também de lavagem escura e coturnos nos pés.

—Não vai passar calor com essa roupa?

—Não. É uma roupa prática.

—Me diga, qual é o seu segredo?

—Minha bisavó estava lá durante a explosão da bomba. Era pra ela ter morrido, mas ela não morreu. Minha mãe nasceu normal, como você, só que eu não. Eu nasci... mutante.

Mutantes são deformados.

—Mutantes são deformados. Você tem alguma deformidade?

—Não. Minha mutação é mental. Telepatia, telecinése, projeção, indução, compulsão. Meu pai me ensinou a lutar, ele era o melhor guerreiro que eu já conheci. Ele era um homem bom e honrado. Um herói

—Se seu pai era tão bom guerreiro, devia ter vencido.

—Ele teria vencido, se seu pai não tivesse trapaceado. Se ele não tivesse uma legião de guardas pronta para se meter no meio do duelo quando ele começou a perder.

—Você se inscreveu na Seleção como uma piada, realmente?

—É. Apesar de ter passado pela minha mente no dia em que te vi pela primeira vez como seria a reação do seu querido e amado pai vendo o crânio do seu filho, do seu Único filho ser rachado como um ovo de pato, vê-lo se quebrar como um ovo jogado no chão. Quando vi o meu pai ser tirado de mim, meu amado pai... bem, você não pode imaginar a dor á menos que tenha perdido um pai. Sabe o que os guardas fizeram com a minha mãe? Não. Imagino que não. Eles a estupraram e espancaram, deixaram-na pra morrer. Cuidei dela dia, após dia, usei o meu espírito para curá-la, eu quase morri, mas eu só curei a parte física. O que ficou lá dentro... não pude fazer nada.

Eu fiquei chocado.

—Ver o homem que destruiu a minha família de todas as formas possíveis sair de herói, todo dia, sair do balcão do seu Castelo de Marfim sorrir e acenar, enquanto todos aplaudem. Ver todas as garotas da vila ficarem animadas em serem exibidas como pedaços de carne para um garotinho mimado que não sabe nada do mundo! É, soa como um sonho virando realidade, não concorda?

Perguntou com ironia.

—Queria saber o meu segredo, Vossa Alteza Real? Agora sabe. Parabéns.

P.O.V. America.

Fui para o meu quarto e eu chorei, chorei como nunca tinha chorado antes. A dor era tão profunda que eu nem sabia onde começava.

—O que aconteceu com você? Porque está desse jeito?

—Você não vê essa luz em mim, mas isso é porque ele sufocou. Eles tiraram tudo de mim. Minha luz, meu amor, minha vontade de viver, meu direito de morrer. Isso não é viver, Anna.

—Você quer morrer?

Os guardas invadiram o quarto e adivinha quem estava lá liderando eles? O Rei.

—Guardas, prendam essa difamadora!

—Difamadora? Difamar implica em mentir.

Eu facilmente dei cabo dos guardas.

—Assassina.

—Não. Não como você, eu nunca matei ninguém. Eu poderia ter matado o seu filho enquanto ele dormia e nenhum dos seus guardas poderia ter me impedido. Mas, eu percebi que... se fizesse isso, não seria melhor do que você. Estaria causando dor á sua esposa e eu a conheci, ela não é nada como você. Me lembra da minha mãe.

Ele me apontou uma arma.

—Eu acredito que as pessoas que fizeram a minha família sofrer merecem viver em agonia, mas vocês já vivem em agonia não é? Eu não preciso fazer nada. Sua vida é uma mentira. Você é um homem amargo, cheio de arrependimento e raiva e por isso sinto pena de você. Lamentável criatura da escuridão.

P.O.V. Rei Clarkson.

Eu estava apontando uma arma para aquela maldita traidora.

—E agora você vai morrer.

—Oh, Vossa Majestade... você já me matou. Eu morri muito antes deste momento. Morri no dia em que você e os seus guardas assassinaram meu pai e estupraram e espancaram minha mãe. Isso? Isso é só uma mera formalidade. Está pronto agora? Mostre ao seu filho e sua esposa quem você é de verdade.

Ela estava na mira, a arma estava literalmente no peito dela.

—Atira! Você não consegue não é? Porque não é um guerreiro, é um maldito covarde que não faz... nada sozinho.

Então, ela me desarmou rapidamente e com uma só mão quebrou o meu braço com uma única mão, então torceu de novo.

—Isso. Isso mesmo grite. Grite como a minha mãe gritou! Ninguém vai te salvar, ninguém dá a mínima. Ninguém gosta de você. Não de verdade. Você é um meio para um fim e nada além disso.

P.O.V. America.

Eu acordei e estava suando frio. Foi um diabo dum pesadelo.

Eu não ataquei o Rei, foi um pesadelo. Mas, sei o que preciso fazer para me sentir melhor.

Não, não vou matar ninguém. Me levantei de fininho, coloquei o robe, abri a janela e pulei. Sai e fui bem passando o distrito um, fundo na floresta. E eu gritei o mais alto que os meus pulmões aguentavam.

Me senti melhor, queria uma garantia de que nada sairia errado no tal baile. Infelizmente, as coisas nem sempre saem como planejado.

P.O.V. Príncipe Maxon.

Ela estava linda naquele vestido azul, deixou as outras concorrentes no chinelo. Infelizmente as coisas começaram a desandar quando imagens dela começaram a aparecer no telão, ela bebê, criança e imagens do corpo de seu pai, filmagens do dia em que as tropas invadiram a província da Carolina, as atrocidades que os guardas e meu pai fizeram com sua família.

America continuou a dançar, a valsar comigo.

—Você está bem?

—Estou. Só vamos acabar com isso como você disse.

—Você está estonteante se não for óbvio.

Disse tentando consola-la.

Mas, então vi as lágrimas começarem a brotar nos olhos dela.

P.O.V. America.

Tudo começou a ficar tão distante. Tentei segurar o choro, mas tudo em volta começou a chacoalhar.

—Você está fazendo isso?

—É minha honra anunciar a vencedora do desafio de melhor traje de gala de hoje, da Casta cinco, a senhorita America Singer.

Disse Gavril Fadaye, o apresentador.

O meu namorado Aspen, veio correndo e me abraçou.

—Está tudo bem, só deixe sair... do jeito que você precisava esse tempo todo.

E eu chorei. De novo. É, essa sou eu. Sou como um molusco, por fora minha casca é dura e eu aprendi a lutar quando sou encurralada num canto, mas por dentro sou mole e frágil como cristal.