A Reunião dos Heróis

Em Direção ao Destino


P.O.V. Ted

Minha mente está a mil. Alguém realmente esteve nesse mundo antes. As consequências disso podem ser... Catastróficas. O que será que essa tal de Beatriz influenciou no meu mundo, na minha vida? Milhões de pensamentos surgem em minha mente. E se alguns dos maiores mistérios do último século estiverem relacionados com a prática de magia? Será que ela foi uma das causadoras de tudo isso que está acontecendo agora?

Eu odeio profundamente ficar sem respostas. Desde que tudo isso começou eu me sinto como eu não soubesse nem um décimo de tudo o que está acontecendo. São muitas perguntas e poucas respostas.

Começou com a Mensagem Um: Percy, na praia, falando coisas que, no momento, não pareciam fazer o menor sentido. Mesmo agora, procuro entender o motivo de tudo aquilo:

“Você foi o escolhido. De algum jeito, você é especial. O mundo vai entrar em caos. Personagens de livros estão vindo a esse mundo! Heróis e vilões. Seu objetivo é reunir o maior número de Heróis para lutar contra o mal! Meu nome é Percy Jackson, filho de Poseidon, herói da Profecia dos Sete. Fui mandado para protegê-lo.”

Ok. Percy foi enviado até mim e a Zeke para nos proteger – mais especificamente, um de nós dois - mas por quê? E quem teria enviado ele? Por que essa pessoa queria nos ver protegidos?

Na noite do mesmo dia em que encontramos Percy, tive um sonho. O sonho fez menos sentido que a Mensagem de Percy. Ah! Esse sonho também era uma mensagem. A Mensagem Três. É provável que a mesma pessoa que me enviou Percy tenha enviado o sonho também. Não poderia ter me enviado um sonho mais compreensível?

Na casa de Umbridge encontrei a Mensagem Quatro: o mapa. Consegui compreender mais ou menos o modo como o mapa funciona. Preciso encontrar um personagem antes para que ele apareça no mapa. Aí vem a pergunta: quando foi que encontrei Severo Snape, já que ele aparece no mapa? Reviro minha memória e não me lembro de nenhum momento em que eu tenha visto ele. Não face a face.

Tem mais um problema: onde está a Mensagem Dois? Já fiz esse questionamento antes e ainda não consegui a resposta. E quando conseguirei a Mensagem Cinco? Se é que ela existe. E quanto à Profecia? Ela “bugou” ainda mais minha mente:

"Tudo começou com uma descoberta;
Logo os outros seguiram pela mesma reta.
Chegaram sem saber como voltar;
Com a segunda chance a chave aparecerá.
O herói e o vilão não planejados;
Ambos carregam dois grandes fardos.
A luta entre os que saíram do papel;
Terminará no lugar onde a terra toca o céu"

O quarto, quinto e sexto versos ainda me deixam confuso. Que segunda chance? Quem é esse herói e quem é o vilão? Quais fardos são esses?

A pergunta principal: porque os personagens vieram?

Bem, uma das únicas coisas que descobri foi: os egípcios estão por trás de grande parte das coisas. As marcas nas costas dos personagens, o símbolo do Olho de Hórus na Mensagem Quatro e a magia de Tot para rastrear personagens são grandes exemplos disso.

Acredito que Tot possui a resposta para boa parte dessas perguntas. Espero mesmo que sim.

— Bem, depois que vi aquele símbolo, entrei em uma encruzilhada — o velho continua — Não só estive esperando por Amy e Dan, não. Alguns dias atrás, eu enviei um deus grego atrás de uma peça importante para o futuro dos mundos. Escritos e profecias dizem que existe alguém de um lugar desconhecido dos deuses que possui habilidades inimagináveis. Esse alguém tem o poder de salvar-nos a todos. Infelizmente, será extremamente difícil acha-lo, apesar das informações estranhamente detalhadas sobre essa pessoa... Por isso tentei enviar algumas “mensagens” para esse indivíduo, mas não sei se a primeira sequer chegou... Imagine a que enviei através de Hipnos...

— Você está falando dessa Mensagem aqui? — pego o mapa do meu bolso e lhe mostro.

Tot fica estático. Ele olha diretamente para o mapa, extremamente surpreso, depois levanta o rosto para mim, e de volta para o mapa. Ele o abre. O que antes mostrava a Guiana Francesa, agora mostra o Suriname. Metade dos nomes que já estavam antes reaparecem. Fico triste ao perceber que o de Remo não está lá. Nem Rachel, nem Dolores e nem Snape.

Percy Jackson

Ian Kabra

Beatrice Prior

Agora novos nomes surgem após aparecer um leve brilho:

Reyna Ramírez-Arellano

Nellie Gomez

Katniss Everdeen

Poseidon

Tot

Agora nós somos oito. Com mais eu e Zeke, dez. Cinco foram para cada lado. Isso se não contarmos com Amy e Dan. Reyna fica desconfortável ao ver seu nome ali, mas nada comenta.

— Então é você... — Tot me olha com entusiasmo — Agora tudo faz sentido! Se você tem o Mapa, deve ter as outras Mensagens também... Você deve ter se encontrado com Hipnos também! Mas onde ele está?

— Bem... Não me encontrei com ele. Hipnos fora capturado junto com a Mensagem. Consegui recuperar a Mensagem, mas não tivemos tempo para procurar o deus. Uma amiga nossa ficou responsável por procura-lo — respondo, sentindo-me culpado.

— Entendo... — diz o velho, pensativamente. — Mas e quanto às outras Mensagens? Conte-me sua jornada, Ted. Estou curioso para saber tudo o que aconteceu.

Conto-lhe minha história desde que encontrei Percy na praia até o momento presente. Percebo que Reyna e Poseidon também escutam meu relato com atenção e Percy vai acrescentando informações. Será que para todo personagem que encontrar eu terei que contar essa história novamente?

Sinceramente, não me incomodo com tanta atenção voltada para mim. Na verdade, sempre que algo incrível ou surpreendente acontecia comigo, eu logo me reunia com os amigos da Vila onde eu morava e lhes contava a história, observando suas caras surpresas e interessadas.

— Não restam mais dúvidas: você é o Escolhido. Você será o responsável por nos levar de volta aos nossos mundos! — Tot exclama em tom profético.

— Uou. Calma aí. Não sou nenhum desses clichês de livro de aventura, não — contesto — Encontrei o mapa por que fui atrás dele, duvido que isso tenha sido profetizado.

— Não é somente o mapa, Ted. — Tot pega um pequeno diário de cima da mesa e começa a folheá-lo — Pelo que me contou, você recebeu a Mensagem Cinco mais cedo do que eu pretendia lhe mostrar. — Ele me mostra uma página de seu diário.

Nela está a profecia de Rachel.

— Como você conseguiu isso? — Percy pergunta antes de mim.

— Nós, egípcios, temos nossos meios de nos comunicarmos com o futuro.

Reyna franze as sobrancelhas, provavelmente se lembrando do meio que os romanos tem de se comunicar com o futuro.

Quero lhe chamar a atenção para esses versos: “O herói e o vilão não planejados/Ambos carregam dois grandes fardos”. — Tot continua — Você é esse herói que ele menciona.

Remo pensava a mesma coisa.

Por que você acha isso?

Tot permanece um tempo em silêncio, ponderando suas próximas palavras. Ele está pensando se deve omitir alguma informação, contar tudo ou não me contar nada.

— Acho que terei de lhe mostrar a Mensagem Seis. — Ele pega o diário e volta para a primeira página.

Ah não!

Mais uma profecia:

“Para uma exótica garota a verdade se mostrou.

Por levar dois legados, ela foi a encarregada.

Porém, um século mais tarde foi que tudo começou;

Com um de seus legados no lugar e na hora errada

No litoral da Bahia, fará seu primeiro e verdadeiro contato;

Com um personagem reconhecido vindo de outro mundo.

De seu bem mais precioso será o guardião, de fato.

E com criaturas das trevas fará o seu legítimo segundo.

No novo mundo, a Reunião dos Heróis acontecerá.

Os legados, com suas forças, deverão se juntar.

E mesmo que suas habilidades cheguem a se igualar;

Somente o que tem algo a mais, o Escolhido, prevalecerá”

Leio duas, três, quatro vezes para conferir o que vejo. Mais uma profecia significa mais perguntas sem respostas. E esse ainda tem quatro versos a mais que a Profecia de Rachel!

Percy aproxima o rosto para ler o texto.

— Essa profecia parece um pouco... Diferente. Sei lá.

— Talvez por que você está acostumado demais com rimas emparelhadas — Reyna arrisca.

— E com os haicais de Apolo —o semideus acrescenta — mas acho que não posso considera-los como rimas...

A pretora romana abre a boca como se fosse corrigir Percy, mas ela decide não falar.

— Tot, o que é isso? — Ignoro a conversa de Percy e Reyna.

O velho deus paira seus olhos sobre a folha do diário.

— Essa profecia chegou até nós no início do século XVII. Os Magos daquela época não se preocuparam tanto, pois, como diz na própria profecia, somente um século mais tarde é que tudo aconteceria. Chegou o século XVIII e grandes acontecimentos ocorreram, mas a profecia ainda não havia se realizado. Não consigo lembrar-me de todos os detalhes. Essa mente mortal limita minha memória. Se puder me ajudar, eu agradeceria muito. Você é bom em história?

Essa pergunta foi como um tiro no estômago. Sou muito bom em história graças a meu pai, Roberto, que era professor desta matéria. Antes de morrer, ele costumava criar pequenas histórias baseadas em fatos, personagens e cenários históricos. Lembro-me ainda do conto do bebê-das-cavernas... Afasto os pensamentos deprimentes e me concentro na realidade.

— Sei o suficiente — respondo.

Tot se concentra ao máximo.

— Ok... Diga-me um artista famoso que morreu no início do século XVII.

Um artista famoso que morreu no início do século XVII? Esse artista deve ter nascido na metade do século XVI. Nessa época ainda ocorria o Renascimento Cultural. É bem provável que esse artista seja europeu. Como ele provavelmente nasceu após 1500... Então, no mundo de Amy e Dan, ele deve ter sido um Cahill!

— Shakespaere? — adivinho.

— Esse mesmo! A profecia chegou em 1616, no mesmo dia em que ele e Miguel de Cervantes morreram. Não sei se essas mortes possuem alguma relação, mas foi um grande choque para todos nós. Agora pense em importantes acontecimentos do século XIII.

— Essa é fácil. Revolução Industrial na Inglaterra, Revolução Francesa, Independência dos Estados Unidos, início da Idade Contemporânea e um monte de outras coisas...

— Ainda não chegou exatamente ao que eu queria... Diga nomes!

— Ok... George Washington, Pedro I, Napoleão Bonaparte...

— Bonaparte! — Tot me interrompe. — Esse cara aí mesmo. Se não me engano, foi em uma expedição francesa no Egito que a Pedra de Roseta foi encontrada!

— Pedra de Roseta? — Reyna pergunta — Ela tem alguma relação com essa profecia, então?

Tot põe as mãos na cabeça careca e se concentra.

— Não exatamente — finalmente responde — Os magos da época acreditaram que a profecia já estivesse acontecendo. Eles associaram alguns versos com acontecimentos estranhos daqueles anos, mas tudo não passou de coincidência. Acontecimentos estranhos ocorrem todos os dias.

— E o que isso tem a ver com a Pedra? — Percy pergunta impaciente.

— Os magos pensaram que os legados mencionados na profecia fossem objetos, ao invés de pessoas. Objetos poderosos. Eles sabiam da existência de tal artefato e saíram à sua procura. Magos traçaram aventuras pelo mundo inteiro, mas sem saberem que “Bahia” não é o mesmo que “baía”.

— Procuraram no lugar errado... — conclui Percy.

— E na época errada — acrescento.

— Agora tudo isso aí está acontecendo. O que devemos fazer? — Reyna cruza os braços.

— A mesma coisa que vocês vieram fazendo esse tempo todo: precisamos encontrar e reunir a maior quantidade de personagens possível — explica. Tot pega um estranho celular de seu bolso da calça e o liga — Está quase na hora de partirmos. Devemos subir para nos despedirmos da América do Sul.

Eu ia protestar, dizendo que ainda haviam muitas perguntas não respondidas, mas Tot me impediu.

— Posso responder às suas perguntas no caminho — promete.

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Estamos no elevador quando Percy faz a primeira pergunta:

— Por que vocês, deuses, estão com uma aparência diferente das que vocês geralmente usam? Tipo, vocês são deuses...

— Sim, sim. No nosso mundo, podemos ter a aparência que quisermos, nós não temos isso pré-estabelecido. Não é fixo. Éramos entidades em forma humana. Nesse mundo, nossos poderes foram reduzidos ao extremo, não conseguimos manter nossa verdadeira forma, então o destino escolheu corpos aleatórios para preenchermos.

— E aqui estamos nós. — Tot aponta para seu rosto velho.

— Então os deuses estarão todos irreconhecíveis? — Reyna pergunta.

— Basicamente é isso. As únicas coisas que sobraram de quem eles eram no outro mundo são alguns fragmentos de poder e as próprias lembranças.

Chegamos ao décimo andar. Está bastante movimentado. A maior parte das pessoas está concentrada na popa, olhando para o porto de Paramaribo. Alguns ainda são loucos o suficiente para entrar nas piscinas e uns poucos estão jogando ping-pong ou sinuca na sala de jogos.

Juntamos-nos ao resto das pessoas na amurada, esperando pela partida do cruzeiro. A cidade, agora que a noite chegou completamente, é uma confusão de luzes. Zeke está lá em sua busca por Amy e Dan.

Como se tivesse lido meus pensamentos, Tot se aproxima e me entrega furtivamente seu celular.

— Poseidon me disse que seu irmão está com o outro. Se você quiser ligar pra ele a qualquer momento... — Ele fecha minha mão em torno do celular.

— Obrigado — agradeço.

Tot se afasta. Olho para o celular em minha mão fechada. Sinto uma estranha vontade de usá-lo, mas, ao invés disso, eu o guardo no bolso da calça.

O navio solta aquele seu som de buzina e começa a se mover. As pessoas gritam de comemoração, acenando para as pessoas que estão no porto. Olho para a cidade e para além dela. Vejo Rachel à procura de Hipnos, Remo caindo ao mar, Umbridge sendo atacada por travesseiros e seus Dementadores espalhados pelo céu. Vejo Ana Beatriz, a garota que encontramos no hotel, Mariana e seus irmãos gêmeos de Fortaleza, vejo meus amigos da Vila jogando vôlei na praia e minha mãe fazendo o café da manhã. Vejo Ian, Nellie, Katniss e Tris procurando pelos irmãos Cahill e Zeke os acompanhando.

Por um momento, enxergo todos eles no porto, acenando para mim. Quase aceno de volta, mas sei que não são realmente eles.

Viro as costas e me dirijo até o outro lado do cruzeiro... Mas Reyna segura meu braço.

— Não quer ver a saída do porto? — Ela me encara, mas não com olhos sérios e acusadores, mas com um tom mais amigável.

— Não quero ver as coisas que estou deixando para trás — explico. Me solto delicadamente de sua mão e vou até a proa do cruzeiro.

Olhando para o mar escuro e para as estrelas no céu, vejo o que o futuro me guarda. Por trás de toda sombra pode haver uma pedra e nem mesmo a luz das estrelas conseguirão iluminá-la. A única coisa que vejo em meio à escuridão é o reflexo da lua. Penso nas duas profecias, nas perguntas não respondidas.

Sei que as respostas estão nessa direção.

Olho para frente e vejo meu destino.