A Razão do Rei

Capítulo 14


“Não sei precisar quanto tempo demorou até que minha mãe aparecesse, mas pareceram horas para mim. Quando enfim ela parou à porta, não olhou para mim:

– Alteza, o rei mandou chamá-lo. – foi tudo o que ela disse, e ficou parada em postura rígida, esperando.

Thranduil se levantou e me estendeu a mão. Eu ergui a mão para segurá-la, e só então percebi que estava tremendo. Ele pegou minha mão e a beijou suavemente.

– Não importa o que meu pai diga. Eu não vou deixar ninguém me separar de você.

Nós paramos à porta da sala do trono mais uma vez. Ele pôs os dedos delicadamente sob meu queixo e ergueu minha cabeça.

– É assim que você deve entrar lá comigo. – ele sorriu de leve, parecendo subitamente confiante. Eu não entendia por quê. Respirei fundo. Minha mãe abriu as portas.

Todos nos encaravam, exceto os guardas, que estavam em forma. Tanto Oropher quando Mestre Elrond pareciam absolutamente tranquilos, mas a rainha parecia ter chorado um pouco. Eu não tenho certeza, mas posso jurar que Lady Arwen piscou para mim. De todo modo, seus olhos sorriam. Thranduil e eu nos aproximamos solenemente e nos curvamos. Foi Mestre Elrond quem quebrou o silêncio:

– Sua Majestade Oropher e eu ponderamos sobre suas palavras, jovem Thranduil, e também ouvimos o que Arwen tinha a dizer. – ele fez uma pausa. – Diante da infelicidade de ambos com nosso acordo, não nos resta outra opção, que não liberar-lhes de seu compromisso. Quem somos nós para obrigar-lhes a um casamento contra sua vontade, por mais que nos fosse desejável? Por isso, Thranduil Verdefolha, filho de Oropher Verdefolha, eu o desobrigo de seu compromisso com minha filha e com minha casa, e nenhum ressentimento haverá entre Valfenda e Greenwoods por essa razão.

Thranduil se ajoelhou diante dele:

– Muito obrigado, Mestre Elrond. Eu nunca duvidei de sua sabedoria e compaixão. Obrigado por não penalizar minha casa nem meu reino por minhas ações egoístas.

Ele se levantou, e nós dois olhamos para Oropher, que apoiava o queixo na mão esquerda. Ele ergueu uma sobrancelha e se endireitou no trono.

– E quanto a Syndel, meu senhor? – Thranduil falou com uma calma fingida.

– Bem... – o rei começou. – A lei e a minha vontade me dizem que o correto seria bani-la agora mesmo de Greenwoods e proibi-la de pisar nesta Floresta pelo resto de sua vida e maldizê-la até o fim dos tempos. – Thranduil enrijeceu e se pôs a minha frente, num gesto automático. – No entanto... – ele se levantou e andou até a nossa frente. – Foi-me pedido que reconsiderasse... E como me parece que nenhuma força em Arda será capaz de separá-lo dessa daí... – ele olhou para mim, e eu me coloquei ainda mais atrás de seu pai, tentando escapar daqueles olhos frios. – E por respeito a quem me pediu por vocês... Eu permitirei que Syndel permaneça neste reino. Se! – ele praticamente gritou. – Se você, meu filho, juntar o que lhe resta de honra e parar de se comportar como um indigente, fugindo à lei de seu próprio rei.

Thranduil se pôs novamente de joelhos, e eu o acompanhei, abaixando a cabeça.

– Obrigado... Meu pai.

– O-Obrigada, Majestade.

– Não pensem que com isso eu lhes dou minha benção. Em nada essa união me agrada e você, Syndel Luz-lunar, ainda precisará se provar digna de meu filho, se quiser que eu abençoe o... “Amor” de vocês. – eu pude ouvir as aspas e a hostilidade em sua voz, mas não me importei. O alívio de saber que não precisaria mais fugir, naquele momento, era maior do que tudo.

– Eu prometo que farei o meu melhor, Majestade.

– Como assim? O que aconteceu? – Sam perguntou, quando Legolas fez uma longa pausa depois de tomar um pouco de água de seu cantil. – Oropher simplesmente aceitou assim, fácil?

O elfo sorriu:

– É claro que não... Eu também pensei a mesma coisa, quando minha mãe me contou a história. – ele se virou para Aragorn. – O que aconteceu foi que Lady Arwen interferiu por meus pais. Ela exigiu que ele perdoasse minha mãe e aceitasse que ela permanecesse com meu pai, em troca do perdão dela a Greenwoods. Oropher sabia que Mestre Elrond concordaria com qualquer coisa que a filha pedisse, naquela situação, então ele não teve outra escolha.

“A mãe de meu pai ajudou a convencê-lo também. Ela estava com um medo terrível de perder o único filho. Ela sabia que ele jamais aceitaria ser separado de minha mãe. Com a própria esposa contra ele, Oropher realmente não tinha saída.

– E não houve mesmo nenhum tipo de ressentimento entre Valfenda e Greenwoods depois disso? – Boromir perguntou, surpreendendo até a ele mesmo com o seu interesse por aquela história.

– Não... Mas Oropher é orgulhoso e se tornou frio em relação a Valfenda. Ele nunca mais visitou aquele reino e evitava qualquer contato com ele que não fosse estritamente necessário. Mesmo o comércio entre os dois reinos cessou. Mas Lady Arwen se tornou a melhor amiga de meus pais, e eles frequentemente iam a Valfenda para visitá-la, nos dias de paz. Ela estava presente no casamento deles e no dia da celebração do meu nascimento. Aliás, foi ela quem avisou os meus pais de que eu estava chegando. – ele sorriu.

– Como? – Merry parecia confuso.

– Mestre Elrond teve uma visão de que o herdeiro de Thranduil estava a caminho, e Lady Arwen fez questão de ir a Greenwoods dar a notícia. Ela surpreendeu meus pais enquanto eles caçavam na floresta. – ele riu de leve. – Foi uma surpresa e tanto, especialmente porque eles não eram casados ainda.

Os outros se entreolharam, um tanto constrangidos. Legolas riu:

– Meus pais nunca foram muito comportados.

– E aí Oropher foi obrigado a aceitar o casamento. – Pippin estava se divertindo com a história.

– Foi. Mas minha mãe já vinha conquistando-o aos poucos... Especialmente quando Oropher a viu em batalha, lutando em sincronia com meu pai. Eles eram incríveis. Mais que incríveis. Eu pude vê-los algumas vezes, mas não consigo descrever. Era como se eles fossem um só. No fim, nem mesmo o coração frio de meu avô pôde resistir à força da personalidade de minha mãe. Ela não tardou em conquistar a todos no reino, especialmente depois que meu pai a apresentou formalmente no Baile da Estrela daquele ano.

– Aquele baile ao qual ela disse que não iria com ele nem em mil anos. – Frodo lembrou.

– É, esse mesmo. – Legolas confirmou, e os hobbits riram como se aquela fosse a coisa mais engraçada do mundo. O senso de humor dessas pequenas criaturas sempre foi encantador.

– Absolutamente todos aceitaram o casamento, sem exceção? – Gandalf perguntou. Lhe agradava muito o clima leve que se estabelecia naquele ponto da história, especialmente porque ele sabia o que viria a seguir, como era seu costume saber de tudo, é claro.

– Não... As amigas de minha mãe, especialmente Naïf, jamais se conformaram. Elas partiram de Greenwoods após a decisão do rei, buscando abrigo em Lothlórien. Pelo que eu saiba, elas se tornaram algumas das servas mais fiéis de Lady Galadriel. – ele fez uma pausa. – E teve os meus avós... Os pais de minha mãe. Eles... Eles jamais a perdoaram pelo que ela fez. Eles disseram que ela envergonhou o nome da família e a deserdaram. Ela viveu centenas de anos sem um nome, até poder se chamar Verdefolha.

– Eles nunca a aceitaram? Mesmo depois que ela se casou e se tornou a princesa deles?

– Não.

– Nem mesmo depois que você nasceu? Quero dizer, pelo menos entre os hobbits, um bebê geralmente une até as famílias mais ranzinzas. Até os Sacola-Bolseiro e os Tûk. – Pippin comentou, e nenhum dos hobbits discordou da “ranzinzice” atribuída aos Sacola-Bolseiro.

– Não, eles... – Legolas engoliu em seco e seu semblante se entristeceu de repente. Ele olhou para Gandalf, que assentiu. O elfo respirou fundo antes de prosseguir: – Minha mãe estava à minha espera quando o primeiro dragão veio atacar o povo de Valle. Eram tempos sombrios, em que o domínio de Morgoth* se estendia por toda a Terra-Média e seu mal atingia até àqueles que não entravam em combate direto com ele.

“Ninguém sabe porque aquele dragão, uma das crias de Glaurung**, se voltou contra aquele pequeno povoado que vivia apenas do que lhe trazia o Rio Corrente e nenhum ouro tinha a lhe oferecer. Acredita-se que ele tenha escapado das masmorras de Morgoth sem que ele próprio tenha percebido e tenha saído desgovernado por aí, de modo que aqueles homens apenas tiveram o azar de estar em seu caminho.

“O fato é que os líderes daquele povoado vieram a Oropher em busca de auxílio, e o rei atendeu. Aqueles homens eram amigos dos elfos verdes havia muitas gerações e já haviam nos auxiliado em outros tempos, quando os primeiros orcs começaram a invadir Ossiriand, como eram chamadas aquelas terras muito antes do nascimento de meu pai, quando o mundo ainda era completamente diferente.

– Mamãe?

– Hnm?

Syndel e Legolas observavam enquanto Thranduil e Oropher lutavam. Era apenas um treinamento, mas pai e filho estavam levando realmente a sério, e aquilo parecia uma verdadeira batalha. Toda a guarda assistia assombrada enquanto o príncipe demonstrava todo o seu talento e parecia ir aos poucos vencendo o rei. Aquilo fascinava a todos, principalmente aos mais jovens, que tinham crescido ouvindo histórias do grande Oropher nas grandes batalhas de outrora. Os corações de todos se curvavam a Thranduil, que prometia um dia ser um rei ainda maior que seu pai.

– Eu... – o jovem príncipe buscava as melhores palavras. – Eu não pude deixar de notar... Que há magia ocultando algo no lado esquerdo do rosto de meu pai.

Syndel enrijeceu em seu lugar. Ela sabia que Legolas perceberia, agora que ele havia começado a estudar mais a fundo a magia e a medicina élficas, mas ela tinha esperança de que demorasse um pouco mais. Contar aquela história sempre a entristecia, porque ela sempre se perguntara se tudo não poderia ter sido diferente, se ela tivesse estado lá no campo de batalha. Mas não havia escolha, agora que ele tinha notado. Ela suspirou e se levantou.

– Mamãe?

– Venha comigo, Legolas.

Os dois caminharam, deixando para trás os sons agudos das espadas de Thranduil e Oropher e os gritos da multidão que assistia. Syndel guiou o filho até a sala do trono, que sabia estar vazia, e se dirigiu a seu trono. Legolas se sentou em seu próprio, que ficava ao lado do dela. A sala do trono de Greenwoods começava a ficar pequena para o tamanho de sua família real. Oropher já havia dado início a uma reforma que resolveria o problema.

– Aqui podemos conversar em paz. Seu pai e Oropher ainda lutarão por muitas horas, ao que parece.

– O que aconteceu?

Syndel suspirou novamente e respirou fundo antes de começar a contar toda a história ao filho. Começou explicando sobre como o povoado dos homens que viviam próximos ao Rio Corrente fora atacado e sobre como nunca ficou claro o porquê de aquele dragão ter vindo tão ao sul.

– Thranduil! – eu chamei novamente, minha voz se tornando mais aguda com o pânico. Lágrimas de frustração escorriam por meu rosto enquanto eu me apressava atrás dele, que terminava de vestir a armadura.

– Não adianta, Syndel, eu já tomei a minha decisão. E meu pai está de acordo comigo. Você não vai a lugar nenhum.

– Então fique comigo!

Ele se virou, parando o que estava fazendo, e me olhou de alto a baixo, com olhos gentis. Eu pus as mãos sobre a barriga, num gesto automático. Ele deteve os olhos ali e sorriu. Devagarzinho, como que para não me assustar, se aproximou e colocou as mãos sobre as minhas. Quando falou, sua voz era macia e absolutamente irresistível:

– Você sabe que se eu pudesse, eu ficaria. Mas eu sou o capitão-mor da guarda agora, meu amor. E mais do que isso, eu sou o príncipe deles. Que tipo de príncipe eu seria, se ficasse aqui na segurança do meu palácio, enquanto meu rei e meu amado povo arriscam suas vidas? Como posso esperar que meu povo me ame e me respeite quando eu for o rei deles, agindo dessa maneira? – ele acariciava minha barriga devagar enquanto falava.

– Você mesmo disse que nunca vai ser rei e que “príncipe” é só um título sem sentido para um elfo. – eu choraminguei, sabendo que ele tinha toda a razão.

Ele riu:

– Você nunca se esquece de nada, não é mesmo? – ele me deu um beijo rápido.

– Prometa que vai voltar. – eu pedi, desistindo. Eu sabia que jamais me seria permitido ir para a guerra naquele estado. Eu não conseguia nem vestir uma armadura.

– É claro que eu vou voltar. Para você... – ele sorriu e se ajoelhou. – E para esse moleque aqui. – e beijou minha barriga.

– Como você sabe que vai ser um moleque e não uma moleca?

Ele se levantou e abriu aquele sorriso torto que eu aprendi a amar, por mais irritante que seja.

– Eu simplesmente sei. Além disso, a Arwen disse que Mestre Elrond falou em um herdeirO. – os olhos dele brilharam.

– Ah tá, eu não vou discutir isso de novo. – dei língua para ele, que riu de novo. Eu estendi a mão para o rosto dele, fazendo-o olhar para mim. – Prometa que não vai fazer nada idiota? Que não vai sair lá “eu sou Thranduil, filho de Oropher, venha me matar!” de novo?

– Quantos anos você pensa que eu tenho? Cinquenta? – ele estava sendo sarcástico. – Eu não sou mais aquele jovem idiota daquela época, Syndel. Você me fez mudar, lembra?

– É por isso que eu me preocupo. Eu não vou estar lá para lutar com você. Há centenas de anos, nós somos uma dupla. Sem mim lá, quem vai te impedir de cometer idiotices? E quem vai te cobrir à distância, quando você estiver ocupado demais com os inimigos próximos?

– Não se preocupe, mamãe, eu vou ficar bem. – ele me abraçou. – Eu sou o melhor espadachim de Greenwoods, lembra? E eu não vou estar sozinho. Uma guarda inteira vai estar lá para me proteger. Centenas de arqueiros. Eu vou ficar bem.

– Por favor, fique... – eu enrosquei meus dedos nos cabelos dele.

Ao longe, os clarins de Oropher soaram, convocando a todos da guarda para se apresentarem no pátio frontal. Eu apertei ainda mais o meu abraço, mas Thranduil se desvencilhou com delicadeza e envolveu minha mão na sua. Ele olhou fundo nos meus olhos por um instante, sorriu para mim e se virou, apanhando a “Fúria” em cima da cama. Ele embainhou a espada e começou a andar. Eu o segui em silêncio, sem tentar conter as lágrimas que voltavam a escorrer.

Quando chegamos ao pátio, quase todos os elfos já estavam a postos. Apenas alguns dos capitães que tinham esse direito se despediam das famílias. Oropher estava à frente, olhando para os estandartes vermelho-e-dourados e acariciando o focinho de sua montaria. Ao nos ver, a rainha apontou para nós, e o rei veio em nossa direção:

– Você está pronto, Thranduil?

– Sim, meu senhor. Perdoe-me pela demora.

Oropher olhou para mim com olhos bondosos e estendeu a mão para apanhar uma das lágrimas que escorriam por meu rosto:

– Não se preocupe, Syndel. Nós estaremos de volta em breve.

– Meu senhor não vai reconsiderar e me deixar ir junto, não é?

– E pôr a sua vida e a vida do meu neto em risco? – ele afastou uma mecha do meu cabelo. – Não. – eu abaixei a cabeça, minha última esperança completamente perdida. Thranduil beijou o alto de minha cabeça, acariciando meu cabelo. – Vamos, Thranduil. Está na hora. O povo do rio tem pressa.

– Sim, senhor. – seu pai se virou para mim e eu ergui a cabeça. Ele me beijou breve e gentilmente. – Não se preocupe, meu amor. Eu vou estar de volta antes do que você espera. É uma promessa. – dizendo isso, ele soltou minha mão e se afastou, caminhando para sua montaria.

A rainha se aproximou e pôs as mãos sobre meus ombros, tentando me confortar.

– Eu sei como você se sente, minha querida. Mas fique tranquila. Thranduil é forte e se tornou um grande capitão e guerreiro. Ele vai guiar nosso povo e voltará um vitorioso, como tantas vezes o vimos fazer. Além disso, ele está com Oropher, que já sobreviveu a incontáveis batalhas. Ele irá trazê-lo de volta.

Eu não disse nada, apenas segurei a mão dela. Nós duas, juntas, observamos enquanto o exército de Greenwoods fazia suas reverências, tocava seus clarins, dava meia-volta e desaparecia além dos portões do reino.

O povoado do rio não ficava muito longe de Greenwoods, de forma que levava menos de um dia e meio para chegar lá a pé, se se mantivesse um bom ritmo. À noite, quando tudo estava escuro, era possível avistar as chamas do dragão, do alto das árvores. Eu não devia subir árvore alguma, mas fazia isso às escondidas, ansiosa por ver qualquer sinal positivo. Mas o fogo só me deixava apreensiva.

“Thranduil havia partido havia três dias. O sol passara pouco do meio do céu e eu dormia um sono perturbado em meio à febre que me castigava desde a noite anterior. Havia sido a terceira noite de batalha e a pior delas, pelo que a fumaça que o vento trazia nos fazia pensar. A minha angústia só crescia, meu coração estava apertado e minha mente se enchia de cenas terríveis. Minha imaginação me pregava peças, e eu podia jurar ouvir os clarins de Oropher tocando uma marcha fúnebre, vindo ao longe. A rainha e as elfas médicas se preocupavam e tentavam de todas as formas me acalmar, mas só quando o sol já estava alto no céu conseguiram me fazer dormir, em meio aos calafrios da febre e dos meus sonhos e delírios funestos.

Foi então que, enquanto eu dormia, uma sentinela avistou ao longe o exército de Oropher voltando. O estandarte erguido indicava que a batalha havia sido vencida. O dragão estava morto. A sentinela correu a tocar os clarins de vitória, indicando que o rei estava retornando e os portões se abriram com grande estrondo e as ruas se encheram de alegria. Eu despertei imediatamente, apesar dos esforços da rainha e das minhas cuidadoras, e não houve força que me mantivesse na cama. Eu me vesti às pressas e me dirigi o mais rápido que meu estado permitia em direção aos portões do reino. Lá, eu me juntei aos elfos que cantavam e riam e choravam de alegria.

Assisti enquanto o exército se aproximava e os elfos cansados e de armaduras lascadas e chamuscadas ganhavam forma. Não demorou muito para que eu divisasse os contornos de Oropher, que vinha altivo, ereto e orgulhoso em sua montaria. Vê-lo me fez sorrir. Mas ao olhar ao lado dele, meu coração pareceu congelar. A montaria de Thranduil estava vazia.

Então eu me esqueci de tudo e sem me importar com gravidez nem com coisa alguma, passei correndo pelos portões. Escorreguei e por pouco não caí direto no fosso que há envolta dos muros do reino, mas não me importei e continuei correndo. Ao me ver, Oropher fez o exército parar e desceu de sua montaria.

– Syndel! – ele tentou me segurar, mas eu o empurrei e passei direto por ele, buscando desesperadamente com os olhos.

E então eu o vi. Deitado em uma maca, Thranduil vinha carregado por quatro guardas. Comecei a chorar compulsivamente assim que o vi, mas uma parte de mim se sentiu aliviada. O fato de que ele não estava coberto indicava que não estava morto, embora estivesse muito pálido e de olhos fechados. Eu corri em direção a ele. Alguns guardas se colocaram à minha frente, tentando me impedir, o que me surpreendeu.

– Saiam da minha frente! – eu gritei. – Thranduil!

Os guardas não se moveram, e eu comecei a me desesperar.

– Thranduil!! – gritei novamente e tentei forçar a passagem por entre os guardas, mas eles não cediam.

– Syndel... – uma voz muito fraca chamou de trás dos guardas e o som dela fez meu coração parecer pesar uma tonelada. Ele não soava como Thranduil. Ele mal parecia vivo.

Ao ouvi-lo, os guardas cederam e abriram passagem. Thranduil havia entreaberto os olhos e parecia tentar estender a mão para mim, embora mal conseguisse erguê-la. Ele parecia péssimo. Eu corri para ele. E quando me aproximei, meu coração pareceu parar por um instante, e uma náusea quase incontrolável subiu queimando minha garganta. Eu pus a mão sobre a boca, tentando contê-la, e o fluxo de minhas lágrimas aumentou ainda mais, coisa que eu julgava ser impossível.