– Cho Kyuhyun? - perguntou o jovem Jongwoon sem se importar com a forma com a qual o homem havia adentrado a cafeteria, algo muito peculiar para alguém comum, mas minha mente estava assustada demais para prestar atenção nisso – Não temos ninguém trabalhando aqui com esse nome, senhor.

– Você me ouviu dizer que ele trabalha aqui? - respondeu o homem de modo frio, fazendo-me encolhe na cadeira onde estava.

– Chega de exibicionismo – ordenou Jongwoon em tom sério, enquanto meus olhos estavam fixos na mesa, mas o homem pareceu não se importar com a ordem. Seus olhos frios passearam pela cafeteria buscando por mim.

– Ei! Você! – disse o homem estranho fazendo-me encolher mais ainda.

– Eu? – perguntou Sungmin tremendo apavorado.

– Não – respondeu o homem com sua voz grave e fria caminhando em direção a nossa mesa. Seus passos fortes eram escutados a distância e cada vez que seu coturno negro tocava o solo, a atmosfera ao redor parecia congelar – Moleque, olhe para trás! – ordenou ele sem parar seus passos, mas Jongwoon interveio.

– Saía! – ordenou ele.

Ouvindo o som dos passos cessarem, meu coração também paralisou. Minha respiração descompassada havia se tornado insuportável e lentamente passei os olhos pela face atônita de Sungmin. Ao perceber que ele fitava algo fixamente, virei minha cabeça lentamente para trás, tentando descobrir o que era digno de tanta atenção. Jongwoon segurava o antebraço esquerdo do homem desconhecido, impedindo-o de prosseguir, mas lentamente se abria um sorriso sádico nos lábios frios dos desconhecido.

– Não me toque! - ordenou ele vagarosamente e com apenas um motivomente, jogou o garçom para a parede.

Como se fosse feito de pano, Jongwoon voou de encontro a parede, fazendo um alto estrondo ecoar pela ar. Por causa da dor e da confusão mental, o rapaz deixou com que seu corpo escorregasse pela parede indo de encontro ao chão. Seu irmão mais novo, correu para socorrê-lo e com a ajuda de Jongjin, ele se ergueu. O homem de pele extremamente clara retomou sua caminhava, mas antes que chegasse a mim, a voz do garçom mais velho, interrompeu seus passos.

– Eu já disse que não há ninguém com esse nome – disse Jongwoon cerrando os dentes com força e sendo seguido pela completa escuridão.

Chamei pelo nome do mais velho no mesmo instante, buscando suas mãos com as minhas. Um rugido alto se escutou no ar sendo seguido por uma forte ventania. Por causa da tempestade, não era possível ver o sol, mas ainda sim entrava um pouco de luz pela porta de entrada. Pela distância que estávamos dela, vi apenas uma sombra negra correr em minha direção e agarrar meu ombro esquerdo quando finalmente consegui tocar a mão do mais velho.

As portas da cafeteria começaram a bater com força por causa dos ventos e ameacei protestar em meio à ventania, mas seja lá quem fosse, me puxou com tanta força que perdi as mãos de Sungmin, sendo obrigado a me levantar de qualquer jeito e segui-lo. Peguei minha mochila que descansava na cadeira ao lado e pensei em correr naquela escuridão, mas uma segunda mão agarrou meu pulso direito.

– Kyuhyun, o que está acontecendo? - perguntou aquela voz meiga, que reconheci como sendo de Sungmin, em meio a um suspiro baixo, mas eu não tinha tempo de explicar nada e mesmo sem saber quem me arrastava pela escuridão, simples agarrei a sua camiseta e comecei a puxá-lo comigo.

No meio daquela correria, atropelei ao balcão da cafeteria e ameacei cair, mas a pessoa insistente continuou a me puxar até que entramos na cozinha. Lá ainda havia luz e pude observar a face de quem me puxava, enquanto ele trancava a porta da cozinha.

– Jongjin? - perguntei franzindo o cenho intrigado, mas ele voltou a me puxar pelo braço, parando apenas para abrir a porta dos fundos, que dava em um beco escuro e inundado pela chuva que em momento algum havia parado.

– Fuga tecnólogo! Rápido! Vá para qualquer lugar, menos a sua casa! Agora vá de uma vez – ordenou ele fazendo sinais com as mãos.

Olhei apreensivo para Sungmin e novamente para aquele rapaz que parecia ter plena coinciência de meus poderes. Minha cabeça ainda não conseguia relacionar nem metade do ocorrido, mas não protestei, simplesmente assenti para o menor e puxei Sungmin comigo para a chuva. Assim que a porta se fechou atrás de nós, pude ouvir a voz do mais velho me perguntar algo.

– O que ele quis dizer com tecnólogo? – perguntou o hyung sob a chuva um tom mais alto que o normal para que sua voz se sobressaísse naquela tempestade.

– Não faço ideia – menti soltando sua roupa e voltei os olhos para a porta fechada da lachonete. Os ruídos foram substituído por um estrondo e imaginando que a porta da cozinha podia ter sido arrombada, agarrei a mão de Sungmin com força - Mas é melhor irmos - disse passando os olhos sérios para face do maior e o puxei para a saída.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – Pedro on

Pensei em seguir para o meu quarto, mas ao passar pela sala, lembrei-me das ordens de Heechul e me apressei em limpar o que meu tênis havia sujado. Passei na área de serviço para pegar um pano molhado, mas deixei o casaco onde estava, não queria uma lembrança forte como aquela e os hyungs ainda estavam todos acordados. Depois eu pensaria com calma no que fazer.

A chuva continuou e enquanto eu limpava a sala, Leeteuk e Heechul deixaram o apartamento cada um indo para seu respectivo trabalho. Era fato que nenhum deles acreditava em Simão e tio KangIn para cuidar de mim, mas os dois tinham uma rotina, tinham responsabilidades e já havia passado tempo demais desde a minha chegada, eles precisavam reorganizar suas vidas. Isso me fez sentir um pouco mal, pois por minha causa eles haviam deixado seus postos de diretores, principalmente Leeteuk que estava sempre comigo, mas Simão e tio KangIn trataram de me animar, chamando-me para um campeonato de videogame.

Por volta das seis horas partimos para a cozinha, pensando no que faríamos para o jantar. Tio KangIn queria que comprássemos comida e dissemos que nós havíamos feito, mas Simão se negou, dizendo que Heechul hyung perceberia no mesmo instante. E depois de muita discussão, pegamos um livro de culinária e fomos fazer comida francesa, o país nativo de Heechul. Eu gostaria de dizer que o jantar ficou uma delícia, que descobri um novo talento e que esse era na cozinha, mas a comida ficou tão ruim que pedimos pizza. Como Heechul e o líder estariam muito atarefados e chegariam bem tarde, depois do jantar me reuni com os dois mais velhos para assistir ao noticiário.

A notícia que pegamos pela metade, falava de uma cidade vizinha que estava ficando alagada por causa da forte tempestade que durava a mais de um dia no local, mas felizmente a previsão para Seoul era que amanhecesse chuvoso, mas depois o céu ficaria apenas nublado.

– E agora vamos com o caso de cinco jovens que foram encontrados mortos em um beco da zona central de Seoul – disse a âncora do telejornal, fazendo minha respiração cessar.

– Como está indo o caso delegado Kwon JunHyuk? - perguntou a repórter coreana de belos e lisos cabelos negros.

– Até agora não conseguimos grandes evidências de quem possa ter praticado esse homicídio... – o homem continuaria com seu semblante sério e voz grave, se não tivesse sido interrompido por uma mulher aos prantos que entrou correndo na frente da câmera.

– Eles não sabem de nada! Meu bebê morreu e a polícia incompetente nem ao menos tem noção de quem possa ter feito aquilo... – a mulher de meia-idade parecia ser a mãe de um dos jovens e estava completamente revoltada com aquela situação.

Antes que ela saísse completamente de cena sendo arrastada por polícias devidamente fardados, ainda escutei ela gritar “foram monstros, monstros mataram meu bebê!” o que fez meus olhos se arregalarem mais ainda. A repórter sorriu desconfortavelmente para a câmera e voltou a se aproximar do delegado que secava a testa com um lencinho.

– Pelo menos o laudo médico indicando a causa da morte saiu? – perguntou a mulher ignorando completamente a cena que a pouco havia ocorrido, mas eu sentia aquilo como uma alfinetada pela demora da polícia.

– Quatro dos cinco jovens tiveram um aneurisma cerebral – disse o homem tremendo.

– Ao mesmo tempo? – perguntou a repórter arregalando aos olhos.

Eu não conhecia bem aquela doença, se é que era mesmo uma doença, sabia apenas que um ator famoso brasileiro havia morrido com isso, e pelo tom da mulher tive a confirmação dos meus questionamentos. Aquilo era raro, acontecer em quatro pessoas ao mesmo tempo, ainda mais sendo eles todos jovens, não era algo normal.

O delegado tremeu mais ainda, levando a mão com o lenço à testa. As gotas de suor não paravam de brotar-lhe na testa, mas meu estado sentado entre tio KangIn e Simão era de igual afobamento.

– Garanto que se o Leeteuk estivesse aqui, nos daria uma aula sobre aneurisma cerebral – comentou tio KangIn abraçando a almofada que estava em seu colo e fazendo-me quase pular pelo susto.

– Omo! Como pode pensar nisso? – perguntou Simão fitando ao mais velho indignado – Nós temos que investigar essas mortes. Desde que o Pedro chegou estamos parados, temos que tomar providências, ainda mais em um caso como esse, que parece mais uma briga de gangues onde uma delas tem a sorte de ter um incomum no meio – afirmou Simão sem tirar os olhos de tio KangIn, enquanto na televisão o delegado tentava explicar a causa da morte dos jovens.

– Se são duas gangues, já temos um bom motivo para não nos metermos – retrucou o mais velho dando de ombros.

– Eu li sobre essa notícia no jornal e no início, mesmo estando meio óbvio, eu tinha esperanças que não fosse obra de nenhum mutante, mas pelo jeito o que eu temia se concretizou, então precisamos fazer algo, antes que esse incomum mate mais pessoas.

– Omo! Mas que tipo de poder poderia causar aneu... Essa coisa ai no cérebro, no cérebro de outra pessoa? – questionei dando de ombros, tentando fazer Simão desistir de sua investigação, mas por dentro eu estava super inquieto e receoso.

– Realmente não faz sentido – respondeu tio KangIn pensativo.

– Deve ser um poder raro que consegue causar doenças nas pessoas, como se fosse o poder do Leeteuk hyung, só que invertido – sugeriu o mais alto, também pensativo.

– Falando em poderes, quais são os de vocês? – perguntei passando os olhos na face de um e depois na face do outro, tentando repentinamente mudar de assunto.

– Aish! E você acha que nós temos algo haver com isso? – retrucou tio KangIn arregalando aos olhos ofendido.

– Não tio KangIn! Claro que não! – afirmei rapidamente, tentando amenizar aquele clima estranho que havia se instalado e com medo de ser o próximo a ser acusado – É só que uma vez eu perguntei a vocês e vocês mudaram de assunto, e ainda não entendi muito bem isso de ter sei lá quantos poderes. Quero saber quando eles vão parar de aparecer e quais vocês possuem.

– Bem, na sua idade eu não possuía tantos poderes Pedro – falou Simão atraindo a atenção para si – Na verdade o meu primeiro poder, tirando a telecinese é claro, veio com treze anos e os outros vieram em sequência.

– E qual foi esse poder? – perguntei me ajeitando melhor no sofá.

– Super força – respondeu ele com um sorriso torto.

– Não lembro a ordem dos meus, só sei que quando o Heechul e Leeteuk me encontraram eu já possuía a pirocinese, a visão de raio-x e obviamente a telecinese. Super velocidade, palma supersônica e duplicação vieram depois – respondeu tio KangIn fitando ao chão pensativo.

– Lembro-me das suas brigas com o Heechul – falou Simão rindo, fazendo o mais velho rir também, mas devido a minha careta de desentendido o mais alto parou de rir e me explicou – É que o KangIn e o Heechul hyung descobriram seus poderes ‘sônicos’ praticamente no mesmo dia e quando eles descobriram essa habilidade, eles não eram imunes a ela, então um ficava soltando o poder no outro. Além do grito supersônico, o Heechul possui também empatia, hidrocinese, vidência e visão aguçada, mas o que ele mais usa é a vidência.

– Do líder é atmocinese, poder de cura, voo, invisibilidade e um dom muito estranho que chamo de sexto sentido aguçado, mas não sei se tem um nome próprio – informou tio KangIn sorrindo animado.

– Sexto sentido aguçado... – repeti para mim mesmo e tentei repassar todos aqueles poderes em mente, mas estava faltando de alguém – Quais são os seus cinco Simão? – perguntei fitando ao maior e espalmei a mão esquerda para fazer a contagem – Super força, conserto de eletrônicos, super audição... – parei segurando o dedo médio pensativo, tentando recordar quais eram os dois que faltavam.

– Magnetocinese e geocinese – respondeu o mais alto com um sorriso calmo em sua face, que imediatamente fez um crescer em meus lábios. Era tão bom ver Simão sorrindo daquela forma descontraída, que era inevitável não abrir um sorriso.

– Omo! Os poderes do tio KangIn os melhores – afirmei depois de pensar por longos segundos.

– E são mesmo – respondeu o mais velho sorrindo de modo convencido – Sempre achei os poderes do Leeteuk hyung os mais parados, sabe? Do Simão também são bons para uma luta, da Cinderela... Os que ele copiou de mim são bons também – concluiu ele com a voz repleta de desdém, por citar o hyung-nim.

Nesse instante escutamos o barulho da porta ser aberta. Encolhi-me no sofá com medo, enquanto Simão se levantava desperto. Tio KangIn fitou ao maior, mas antes que este pudesse ir até a entrada da sala, Heechul hyung apareceu afrouxando sua gravata vermelha.

– Estou tão cansado, espero que tenham feito o jantar – o maior afundou novamente seu corpo no estofado vermelho – Donghae, o Dongwoon pediu para lhe entregar isto – disse o hyung me entregando uma caixa comprida e embalada em um papel de presente colorido e seguiu para o corredor dos quartos, mas antes que ele desaparecesse do meu campo de visão, perguntei o porquê do presente já que não era meu aniversário – Eu disse a mesma coisa, mas ele insistiu, dizendo que tinha visto enquanto andava pelo shopping e lembrado de você – disse ele um tom mais alto que o normal e escutei o barulho de uma porta ser fechada, provavelmente de seu quarto.

– Quando é seu aniversário Pedro? – perguntou tio KangIn sentando bem ao meu lado, curioso quanto ao presente.

– Já passou – respondi sem dar importância.

– Do Heechul foi no dia que fomos ao Brasil buscá-lo – disse tio KangIn também sem dar importância.

– Sério? – perguntamos eu e Simão ao mesmo tempo.

– Sim e antes que pergunte se teve festa a resposta é não, porque depois de um tempo, paramos de fazê-las. Não tem graça você assoprar uma vela de cinquenta anos tendo cara de vinte – respondeu o mais velho ignorando ao Simão.

– Isso é verdade – comentou o maior – O que me admira é lembrar o dia do aniversário do Heechul hyung – falou Simão abrindo um gigantesco e cínico sorriso.

– Ha-ha-ha – foi tudo o que o mais velho respondeu se erguendo do sofá e tomando o caminho da cozinha.

Simão tocou meu joelho e avisou que ia tomar um banho. Sozinho na sala, coloquei meus pés devidamente limpos sobre o estofado impecável e abracei as minhas pernas. Em qual parte eu havia me tornado um assassino? Pensei apoiando a testa nos joelhos. Não demorou muito para que o líder, igualmente cansado, chegasse do hospital.

– Boa noite Pedro – cumprimentou ele sorrindo e bagunçou meus cabelos seguindo para os quartos.

Do sofá maior onde estava acomodado todo esse tempo, pude vê-lo seguir para o quarto ao fim do corredor, antes que a porta do corredor se fechasse sozinha. Ele realmente me parecia cansado, mas eu precisava falar com alguém sobre aquele quinteto, nem que fosse apenas para saber sua opinião sobre tudo aquilo, mas eu precisava.

Estralei os dedos para o controle remoto que estava sobre a mesinha de centro, que era toda de madeira escura, e ele voou para mim. Rapidamente desliguei a televisão e saltei do sofá indo atrás do mais velho.

– Leeteuk! - entrei chamando ao maior, mas o quarto estava vazio. Eu jurava que havia o visto entrar ali, mas não havia nada além de duas camas de solteiro, um guarda-roupa gigantesco, três criados-mudos ao lado das camas sendo dois deles adornados por abajures brancos e um tapete de mesma cor com as bordas azul bebê e detalhes na cor laranja – Onde está o líder quando se precisa dele? - questionei sentando-me na cama mais próxima e fui surpreendido por um barulho.

A última porta do guarda-roupa foi aberta e de dentro dela saiu Leeteuk com duas toalhas brancas, uma enrolada em sua cintura e outra ele usava para enxugar seu cabelo de qualquer jeito. Arregalei os olhos ao observar seu peitoral bem definido, minha respiração falhou e só consegui sair daquela região com o grito assustado do líder que cobriu imediatamente ao peitoral com os braços e a toalha que usava para enxugar o cabelo.

– Ah, é você – disse ele desfazendo sua proteção, me matando de vez. Simplesmente joguei o resto do meu corpo para a cama e fitei ao teto branquinho, que era menos constrangedor e tentador que o peitoral definido do líder.

– Você está bem Pedro? - perguntou o líder parando ao lado de minha cama e inclinando-se sobre mim. Observei aquela face preocupada que barrava a luz e seus cabelos molhados que pingavam constantemente em minha face.

Sem resistir abaixei minha visão um pouco mais, acompanhando uma gota que rolava por seu pescoço indo de encontro ao seu peitoral. Engoli a saliva exagerada que minha boca estava produzindo e desviei do líder ficando de costas para ele.

– Sim, eu estou bem, estou muito bem, e ficaria melhor se você se vestisse – falei me segurando para não correr, se eu fizesse isso poderia ser estranho, mas eu não aguentaria ficar vendo-o desfilar seminu por muito tempo.

– Qual é o problema Pedro? - perguntou Leeteuk sentando-se na mesma cama que eu. Parei de respirar no mesmo instante – Você quer falar comigo sobre alguma coisa importante? - perguntou ele tocando suavemente meu ombro esquerdo.

Saltei da cama no mesmo instante e corri para a porta, mas antes de dar uma de louco e fugir sem mais nem menos, virei para o mais velho, enquanto minhas mãos buscavam a maçaneta da porta muito discretamente.

– Eu falo com você depois, deve estar muito ocupado agora, ocupado e com sono, amanhã conversarmos – falei tudo de modo tão nervoso que mal conseguia segurar a maçaneta.

– Olha Pedro eu sei como é ter doze anos e sei que seu corpo está passando por mudanças e que você não vê mais as garotas como... - e ele continuaria com seu discurso sobre puberdade se eu não houvesse o interrompido.

– Aigo! Não diga essas coisas – falei fazendo uma careta desesperada e abri a porta de qualquer jeito, mas tio KangIn estava barrando o caminho – O que você quer? - perguntei aos berros desesperado.

– Eu só vim perguntar se há uma cama sobrando e se no chuveiro está saindo água quente, só isso – respondeu o mais velho recuando assustado com o meu tom.

– Tem cama sim, mas não sei sobre a água, tomei banho na água fria – respondeu Leeteuk ainda acomodado na cama sem se importar em se exibir para KangIn e me traumatizar pelo resto da vida.

– Então vou ficar aqui mesmo – respondeu tio KangIn assentindo com a cabeça e então me fitou – Posso passar? - perguntou ele, já que eu ocupava toda a entrada.

Simplesmente gritei e corri para o meu quarto. Por que aquilo tinha que acontecer comigo? Por que eu não podia ter uma prima noona que me ensinasse a beijar como a maioria dos meninos da minha sala? Por que eu tinha que ficar tão balançado por um beijo de um menino? Omo! Em meus doze anos eu devia estar fazendo outras coisas além de ser assediado por hyungs, eu ficaria mais feliz em ser um viciado em internet, mas não, eu tinha que passar tempo demais cercado por homens. Descabelei-me inteiro enquanto pensava sobre o meu triste dilema e pulei na cama. Dormir me faria esquecer tudo aquilo e quem sabe quando eu acordasse, não descobrisse que tudo não havia passado de um pesadelo não é mesmo? Mas nem isso eu conseguia, dormir havia se tornado difícil demais, achar uma posição confortável naquela cama mais difícil ainda. Eu mudava de posição pela centésima vez, quando a porta se abriu vagarosamente. Um monstro, pensei esperançoso em acordar de um dos meus pesadelos gritando bastante, mas quem entrava em meu quarto sorrateiramente era o Leeteuk.

– O que faz acordado? - perguntou ele entrando completamente em meu quarto, pelo menos para a minha sorte ele estava muito bem vestido com uma calça e uma camiseta branca de mangas compridas. Realmente o sistema de refrigeração do apartamento de Heechul deixava tudo congelando, mas na minha insônia de madrugada eu não estava sentindo nada além do desconforto em qualquer uma das posições que eu tentava dormir.

– O que está fazendo no meu quarto? - perguntei semicerrando os olhos.

– Estava sem sono quando notei que a luz estava acesa, vim apenas apagar – respondeu o líder dando de ombros – Mas já que somos dois sonâmbulos, aceito sua companhia – disse o mais velho com um sorriso torto caminhando em direção a mim.

Soltei um sorriso nervoso, enquanto me encolhia na parede. Sem se importar nem um pouco com minha careta de pavor que eu tentava sem grande sucesso esconder, ele arrumou alguns travesseiros e sentou-se ao meu lado.

– Sai de cima do cobertor – pediu ele tentando cobrindo suas pernas, mas eu estava embolado no mesmo de tanto que rolava um lado e outro.

– Por que vai dormir aqui comigo? - perguntei me livrando daquele pano grosso que me prendia.

– Porque eu durmo melhor quando estou com você.

– Omo! Como isso é possível? - perguntei confuso.

– O quê? - perguntou o líder me fitando com aqueles olhos escuros, que por causa do cobertor eu tinha uma boa desculpa para ignorar.

– Como pode dormir com um homem e não sentir nada? Tipo, você não fica incomodado? - perguntei finalmente me livrando do cobertor e me sentando ao lado do líder para embrulhar nossas pernas.

– Primeiramente você não é um homem ainda – disse o líder sorrindo e me ajudando a embrulhá-lo – E segundo... - sua mão esquerda agarrou a minha direita que inocentemente tentava esticar o cobertor, fazendo-me fitar sua face e sem querer nossos olhos se encontraram – Você é o meu garotinho Pedro, você é irritante, mas quando está dormindo não fala, então não tem porque eu ficar incomodado com você – disse o líder finalmente soltando minha mão e levando ao meu cabelo. Ele bagunçou minhas mechas já desorganizadas e se acomodou melhor ao meu lado.

Eu não sabia se afundava mais na cama como o líder ou se continuava sentado, pelo menos de uma coisa eu tinha certeza, ele não viria com seus lábios nervosos para cima de mim quando eu estivesse dormindo e isso me tranquilizava, mas ao mesmo tempo parei para observá-lo. Sua pele era bem clara e delicada, seus olhos inocentemente fitavam ao teto com ar sonhador. Seu nariz pequeno e suas bochechas levemente salientes lhe davam ar juvenil e abaixando um pouco mais eu encontrava seus belos lábios. Seus lábios róseos formavam um gracioso e mimoso bico. Fiquei observando-o e sem perceber meu lábio inferior pesou deixando uma brecha. Novamente eu salivava de forma anormal quando a voz do mais velho rompeu o silêncio.

– Está sujo? - perguntou ele passando as mãos nos lábios.

– Não, não, não mais – disse nervoso, tentando não demonstrar meu nervosismo, mas ainda havia muito que aprender com Leeteuk e Heechul que quase o tempo inteiro demonstravam indiferença.

– Venha, deite comigo – chamou Leeteuk erguendo o cobertor sobre seu tórax.

Normalmente eu dormia abraçado a ele depois que ele me acordava de um de meus pesadelos, mas agora era tão estranho pensar nisso... Vamos lá, ele não vai te atacar durante a noite, repeti em pensamento tentando me convencer disso e embora relutante deitei minha cabeça e parte do meu tórax sobre peitoral de Leeteuk.

– Tenha bons sonhos maknae – desejou ele e apagou a luz com sua telecinese.

Respirei descompassado, tentando não sair correndo, quando escutei um som. Era um barulho repetido que embora no começo parecesse chato e irritante, depois começou a ser música para os meus ouvidos. Tum-tum tum-tum tum-tum, as batidas do coração de Leeteuk foram lentamente me acalmando, as batidas uniformes e ritmadas do coração de Leeteuk me trouxeram conforto. Quando menos esperava, eu estava dormindo.