P.O.V – Pedro on

Meus olhos ardiam pelas lágrimas que insistiam em cair. Líder Leeteuk, como eu o odiava por ser tão falso e manipulador. Meus heróis estavam se tornando vilões, mas o que mais doía, não era ver que eles talvez não fossem tão heróicos assim, e sim, que o líder havia mentido o tempo inteiro para mim, fingindo ser a figura paterna que eu nunca tive. Ele devia ter feito de propósito, eu não devia ter descartado essa possibilidade tão fácil. E meus pensamentos voam alto, encontrando motivos e mais motivos para odiar aquele quarteto, ou pelo menos o líder, quando escutei Kyu gritar por nome. Olhei sutilmente para trás enquanto secava as lágrimas com o dorso das mãos e vi o mais velho correr todo desengonçado ao meu encontro, mas tudo do que eu menos precisava, era de alguém que vivia a sombra do quarteto, eu precisava ficar sozinho. Ignorando ao Kyu, dei um pequeno salto e lancei as palmas da mão em direção ao solo, criando instintivamente um campo de força que me lançou para o céu.

Voar não era assim tão difícil tanto parecia e antes que voltasse a cair, canalizei todo meu poder de telecinese para o meu próprio corpo, para que eu pudesse assim... Levitar! Uma sensação de liberdade incrível. Ainda escutei o nerd gritar pelo meu nome uma porção de vezes e pedir desesperado que eu voltasse, mas nem sequer olhei para trás, simplesmente sequei o que restava de lágrimas em minhas bochechas e abri meus braços com um sorriso mimoso a se formar no canto dos meus lábios, ganhando mais e mais altura, tentando com muito esforço chegar às nuvens.

A brisa fresca bagunçava meu cabelo que agora estava mais escuro, mas seu roçar em minha face era tão bom que pouco me importei em ficar descabelado. Voando - ou levitando, seja lá como for – eu conseguia esquecer as minhas preocupações, mas embora eu não planasse com perfeição, um pensamento um tanto riscado passou por minha mente. E se eu tentasse voltar para casa? Quem sabe quando eu adquirisse mais experiência, eu pudesse tentar, mas por enquanto seria suicido me lançar em uma viagem tão longa quanto aquela.

Novamente eu mergulhava em pensamentos até que avistei um prédio, um, dois, três... A cidade! Pensei alto abrindo um curto sorriso e comecei a perder altura. Ainda lutei para me manter no ar, mas há dois metros do chão meu corpo simplesmente afundou na vegetação rasteira. Levantei a cabeça atordoado e olhei em volta para ter certeza que ninguém havia me visto literalmente despencar do céu, mas não havia ninguém.

Com o corpo dolorido me coloquei de pé e dei novamente um salto, tentando projetar outro campo magnético que me lançaria para cima, mas isso simplesmente não aconteceu. Minha respiração começar a falhar e o meu coração acelerar. O que estava acontecendo comigo? Rapidamente apontei a palma da mão direita para um punhado de folhas secadas e tentei erguê-las, mas elas se moveram para a direita sendo conduzidas pelo vento.

– O que está acontecendo? – perguntei a plenos pulmões olhando para as minhas mãos que estavam com as palmas voltadas para cima e girei nos calcanhares tentando reconhecer o lugar onde eu estava.

A cidade que me dava boas-vindas com uma enorme placa verde, devia ser Seoul, na verdade eu conseguia reconhecê-la de outras vezes que eu havia ido para ela, mas a qual distância estava à casa do líder? Bufei alto por me lembrar do Park e bufei mais alto ainda por notar o pleno silêncio que fazia. Apenas o som do vento era presente, apenas. Nenhum dos três inúteis que estavam no sobrado teve a coragem de me seguir. Bem que eu sabia que não podia confiar neles, mas o que eu faria?

Com passos lentos e arrastados segui para o meio da autoestrada. Eu podia muito bem tentar ir para o sobrado do Leeteuk por me lembrar que não havia bifurcações pelo caminho, apenas a estrada longa e solitária, mas meu sangue ainda fervia de pensar em suas palavras e decidido, segui em direção a cidade.

O conjunto harmônico de concreto, ferro e vidro. Os mais diversos e maiores prédios, veículos apressados, pessoas ocupadas e o inquieto som das buzinas. Sempre me imaginei vivendo em uma cidade assim, mas na minha cabeça, eu tinha uma casa onde morar. Preferi ignorar meus pensamentos e comecei a explorar aquela cidade de forma diferente, seria bom estar com a câmera do Sungmin hyung comigo, na verdade tê-lo como companhia seria algo realmente bom, mas o líder estava enganado ao dizer que eu era uma criança de muita sorte.

Balancei a cabeça negando aqueles pensamentos, mas por mais que eu tentasse fugir, todos meus pensamentos acabavam com a imagem do mais velho. Eu queria humilhá-lo, esmurrá-lo, e depois esquecê-lo, mas tudo o que eu de fato fazia, era encher meus olhos de lágrimas. Lágrimas de frustração, lágrimas de raiva, lágrimas principalmente de decepção... Por que ele havia sido tão rude comigo? O que eu havia feito de errado? Eu me perguntava sem perceber.

E sem me dar conta o sol foi dando adeus a cidade. Parei em um cruzamento movimentado sentindo minhas pernas doerem e minha cabeça latejar. Tantas pessoas com feições semelhantes a minha ao meu redor, e eu me sentia completamente perdido. Em momento algum eu havia visto o apartamento luxuoso de Heechul hyung ou qualquer outro ponto de referência. Como não conseguia ler as placas, elas não serviam de nada para mim e minhas habilidades não estavam dando sinal de vida a um bom tempo.

Foi então que senti um arrepio vindo da espinha. Um arrepio acompanhado de um forte tremor. Era como se meu sexto sentido me avisasse que eu corria perigo. Rapidamente olhei em volta e notei a aproximação de um grupo de jovens. Eles eram um total de cinco, com aparência de dezoito a vinte e um anos, e usando roupas escuras e largas, mas não estavam interessados em mim, não ainda, e vulnerável do modo como eu estava, abaixei a cabeça e me misturei as outras pessoas, mas até quando eu fugiria? E se aquele não fosse o real motivo do meu alerta? Eu era apenas um garoto de doze anos tão inútil quanto qualquer comum. Eu não estava mais na minha pacata cidade sob a proteção da minha mãe, eu estava em um país completamente diferente em todos os aspectos possíveis.

Enterrei minhas mãos trêmulas dentro do blazer azul bebê que usava, na tentativa de esconder meu nervosismo, e senti algo fino em meus dedos. Intrigado, segurei o pequeno e rústico pedaço de papel e trouxe para meu campo de visão.

– O cartão do Rosbife – falei em um sussurro surpreso tentando me recordar de como ele havia ido parar ali.

Depois de muito pensar, lembrei que antes de sair para almoçar com o Heechul hyung, eu havia passado o cartão para o meu novo blazer, com medo que o mais velho o encontrasse no outro e me desse uma bronca. Reconhecendo uma sequência de números no cartão, olhei em volta até encontrar um telefone público. Para a minha sorte havia um cartão esquecido ali e rapidamente disquei o número. A cada segundo que chamava, meu coração acelerava se perguntando se o que eu estava fazendo era certo, mas pela falta de certeza, eu que não ficaria a mercê de assaltantes, sequestradores, assassinos e afins.

– Quem fala? – perguntou abruptamente uma voz masculina do outro lado da linha um tanto fria e grossa.

– Ahn... Donghae...? – falei um tanto apreensivo.

Ainda era difícil acreditar que eu estava fazendo aquela ligação, pois parte de mim ainda estava ligada ao quarteto e sua proteção que me dizia para não falar com estranhos, ainda mais se esse estranho tentou me raptar em um passado não muito distante, mas eu não possuía o número de nenhum deles, então só me restava o Rosbife. Por longos segundos esperei por uma resposta, mas tudo o que ouvi foi uma respiração pesada e arfante. O jovem do outro lado não parecia nada bem, mas antes que eu perguntasse quanto a isso, escutei ele dizer:

– Senhor Donghae, desculpe-me minha audácia, eu não fazia idéia que era o senhor – implorou o loiro desesperado, pelo menos eu reconhecia aquela voz desesperada como sendo a dele e, além disso, era o número dele, então por que raios outra pessoas atenderia? – A que devo a honra de sua ligação? – perguntou ele na esperança de esquecer o assunto anterior, mas ainda era possível sentir o medo exalar em sua voz.

– Olha Rosbife, não precisava ficar todo nervoso não, eu só liguei mesmo porque eu estou perdido e... Bem, você tem esse seu dom de teletransporte... – e cada vez mais, eu me enrolava com as palavras, mas após uma curta pausa para tomar fôlego, consegui conclui minha fala – Indo direto ao ponto, você pode me encontrar?

– Sim senhor – respondeu ele prontamente – Onde o senhor está? Como é o lugar a sua volta? Preciso de uma referência para encontrá-lo – falou o mais velho de modo submisso e altamente centrado. Nem parecia mais o jovem que havia atendido a ligação e entrado em desespero por ter sido desrespeitoso comigo.

– Eu estou em um cruzamento movimentado, tem alguns prédios grandes em volta e também uma passagem subterrânea. Mais a frente eu posso ver um enorme prédio cinza com inúmeras janelas de vidro escuro, sabe? Para não pegar sol e bem... Tem algumas árvores aqui também.

– Você não tem nenhuma placa por perto? Qual o nome da avenida? – perguntou o loiro em um tom mais calmo, mas deixando uma ponta de preocupação escapar-lhe.

Fiz uma careta olhando em volta e até encontrei uma placa, mas sem conseguir reconhecer todos aqueles riscos – porque eu só me recordava das vogais e olhe lá -, ela era completamente inútil. Buscava por um ponto de referência mais sólido, como a proximidade de uma praça ou algo semelhante, quando a ligação caiu. Tentei ligar novamente, mas os créditos do cartão haviam acabado. Irritando-me com a situação, bati o fone com força no gancho e virei-me bufando, mas antes de sair praguejando pela minha falta de forte, paralisei completamente atônito.

– O garotinho está bravinho – debochou um dos jovens do grupo que a pouco eu havia fugido. Então pelo jeito, por mais que eu não acreditasse muito nessa de 'sexto sentido', pelo menos uma vez ele havia acertado, se bem que aquilo também poderia ter outros nomes, mas eu estava correndo risco demais para ficar pensando com minhas abotoaduras.

– O que foi moleque? Se perdeu do papai e estava ligando para ele vim te buscar? - perguntou um segundo em igual tom de deboche, acrescentando até mesmo desprezo, mas quem sentia real desprezo no momento, era eu.

Bufei alto por causa de tal referência e dei um passo à frente tentando ser intimidador, mas não deu muito certo por causa da minha baixa estatura e cara de criança.

– Eu não tenho pai – retruquei ainda me sentindo importante e ameaçador, mas segundos depois e eu me arrependia de ter dito aquilo.

– Melhor pra gente vocês não acham galera? – perguntou o primeiro abrindo um sorriso malicio recebendo o apoio dos outros e parou me espreitando com seu olhar maldoso, enquanto agarrava a gola delicada do meu blazer despojado que Heechul hyung havia comprado especialmente para mim – Passe toda a grana moleque e essa roupinha de granfino também – falou o primeiro cerrando os dentes em uma vaga tentativa de se assemelhar a um animal feroz.

– Vem buscar – respondi de modo realmente feroz e desferi um soco na face esquerda do jovem.

Meu punho direito que estava cerrado, ardeu em dor, mas tentei não demonstrar. Pela força empregada e pelo fator surpresa, o jovem a quem eu havia golpeado, cambaleou para trás, deixando-me livre, mas antes que eu cantasse vitória, ou até mesmo choramingasse de dor, ele disse aos outros de modo realmente feroz:

– Peguem esse pivete.

Engoli em seco realmente desesperado e sai correndo.