Cerrando os dentes com tamanha força, que era capaz de fazer minha mandíbula doer, não tirei os olhos do molho de chaves por um segundo sequer, a não ser... As chaves se distanciaram centímetros do chão e vi aquilo como um sinal. Cerrando os punhos com força, pulei em cima do líder, fazendo-o perder o controle do objeto. Caímos no gramado e antes que ele pudesse responder ao meu ataque surpresa, estiquei a palma da mão direita para o taco de madeira e o trouxe para mim. Leeteuk esticou os braços para mim tentando me empurrar com a telecinese, mas nesse instante, captei com os cantos dos olhos o molho de chaves tocarem o chão.

– Não pode tocar o solo – falei com a voz cheia de sadismo e o golpeei no antebraço esquerdo.

Consegui arrancar um grito alto do líder, mas não tive tempo de me levantar. Meu corpo foi simplesmente lançando para o alto por uma força invisível. Antes que tocasse o solo, fechei os olhos já sentindo a dor nas costas, mas fui amparado pelo ar. Aquela era sem dúvidas umas das sensações mais estranhas do mundo, seu corpo ser controlado por terceiros. Tentei me mover no ar, mas Leeteuk me prendia completamente com seu poder.

– Não posso deixá-lo tocar o solo? - ele perguntou com um sorriso torto e sádico delineando seus lábios.

Pensei em minhas últimas palavras, mas um sentimento legítimo de coragem invadiu meu peito e mesmo sem mover os braços, me concentrei no molho de chaves. Pelo seu tamanho e peso, movê-lo sem usar as mãos, era a coisa mais fácil do mundo e sem pensar muito, o ergui do chão, parando-o ao lado da face do líder.

– Isso que você não pode deixar cair - respondi friamente e liberei da minha telecinese.

O afobamento do líder foi visível enquanto o objeto despencava para o chão e rapidamente ele me soltou, voltando-se para as chaves. Meu corpo foi de encontro ao solo, fazendo-me sentir um incomodo nas costas, mas não me desconcentrei das chaves, com esperança que líder as derrubasse ou as tocasse, mas não foi o que aconteceu. Ele as parou no ar e falou de forma alta e controlada.

– Pegue – e as lançou para mim.

Sem toque, sem toque. Pensei rapidamente e percorri o lugar com os olhos. Quando o líder me lançou para o ar, o taco havia caído de minhas mãos e agora descansava isolado na grama. Sem pensar duas vezes, estiquei a palma da mão direita para ele e o trouxe para mim a tempo de rebater as chaves. O líder franziu o cenho indignado, enquanto eu sorria presunçoso.

– Eu não toquei – comentei rapidamente.

Ele apenas balançou a cabeça negativamente e explorou a floresta com os olhos, atrás do objeto que caia em direção ao solo terroso. Eu estava preparando o meu braço para desferir um bom golpe no líder, quando ele simplesmente deu impulso para cima, ganhando o céu. O observei confuso, vendo-o voar para uma árvore, mas senti meu coração se desesperar quando ele lançou o molho de chaves para o chão. Ele havia ficado preso em uma das copas e na velocidade na qual se encontrava, era impossível pará-lo, mas corri em sua direção e me joguei no chão em uma tentativa de alcançá-lo com o taco, mas ele tocou o chão diante dos meus olhos, fazendo-me afundar a face na terra. Não contestei quando o líder tomou o taco de mim, mas soltei um grito abafado quando ele me acertou no braço direito. Maldito líder, pensei cheio de raiva e me ergui no mesmo instante.

Tão presunçoso quanto eu havia sido, ele apoiava o taco simples de madeira no ombro direito, mas ignorando sua pose, me concentrei nas chaves que novamente repousavam no ar. Reiniciamos nossa disputa fazendo o tilintar de chaves ser o único som além da minha respiração forte. Park era magnífico naquele aspecto, sem esforço ele pegava a chave com sua telecinese e me lançava de volta, que tinha que correr de um lado para o outro ou lançar o taco para alto, para que a rebatesse. Vez ou outra, tio KangIn parava para nos observar, mas ele estava parecia mais interessado em seu jornal.

Minha respiração não poderia ser mais alta, na derradeira vez que rebati o objeto com o taco sendo movido pela telecinese. Naquele momento meu cansaço mental era gigantesco e o líder, não demonstrava qualquer tipo de incomodo. Escutei o barulho do metal chocando-se contra a madeira e pedi totalmente o controle do taco que caiu em direção ao gramado. Cai de joelhos respirando com dificuldade, mas notei que o líder não havia se dado por vencido. Com um movimento ágil de mãos, ele parou as chaves no ar e fitou minha face.

– Pegue – disse ele calmamente e as soltou de uma altura de dois metros e meio.

Meus olhos estavam voltados para o chão e senti mentalmente a dor do golpe de madeira nos meus braços que latejavam. Se as chaves caíssem, seria muito doloroso e em uma última tentativa de me salvar, estiquei a palma da mão esquerda para o objeto que caia e ordenei mentalmente que parasse. Minha respiração cessou junto com os movimentos do objeto. Meus olhos se arregalaram no mesmo instante e apenas meu coração foi contra tudo, acelerando seus batimentos. Senti um borbulhar estranho na barriga e vagamente passei meus olhos pela face do líder que sorria.

– Como você é lerdo Pedro – comentou ele ainda sorrindo e agachou ao lado molho de chaves.

Franzi o cenho sem entender seu comentário, mas não disse nada quando o vi passar a mão por baixo das chaves e tomá-las na mão tirando-as do meu controle, que finalmente conseguia pará-las no ar. Eu não podia estar mais feliz e cansado do que naquele momento e simplesmente afundei meu corpo na relva. Mal pude aproveitar a grama fresca espetar delicadamente minha pele quente, quando escutei o roncar do motor de um carro. Não que isso havia feito eu me levantar e ir até a varanda, na verdade eu estava sem forças para me mover, mas é que alguém que desceu do carro, agarrou meu corpo e me jogou no ombro como se eu fosse um saco de batatas.

– O que vocês estavam treinando? - perguntou Heechul com a voz distante. Quem me carregava casa adentro era Simão, mas não contestei, apenas aproveitei a carona.

– Parar as coisas no ar – respondeu o líder acompanhando aos outros dois.

– Porque não nos esperou? Podemos jogar beisebol – retrucou Simão rapidamente.

– Por isso que eu estava o treinando, não quero deixá-lo sem mãos – respondeu o líder animado.

Espera, eles iam me deixar sem mãos? Fui jogado no sofá como um saco de batatas e pouco demais do farto e delicioso almoço preparado por Heechul, entendi o que eles queriam dizer com deixar sem mãos. Imagine um jogo individual de beisebol, super improvisado, sem luvas e com um homem capaz de arrancar sua cabeça com uma mão, como lançador, era isso ai mesmo. Por pura perseguição comecei como receptor, Heechul como batedor, Leeteuk como defensor na interbases e tio KangIn como... Muitas coisas.

Antes que assumíssemos nossas posições, tio KangIn simplesmente parou no meio do campo e fechou os olhos respirando pesadamente. Uma névoa clara e misteriosa, exalou de seus pés, acompanhada de mais três tios KangIn's. Era aquilo mesmo que eu havia visto? Continuei observando pasmo ele conversar com suas cópias e após algumas regras do original, os outros três seguiram para as três bases e o original ficou como juiz. Se eu sobrevivesse ao jogo, perguntaria a ele quais eram todos os poderes deles quatro, porque sinceramente eu estava ficando confuso com tantos poderes aparecendo assim do nada, mas sem nenhum tipo de proteção, eu sentia que o espaço gramado entre o sobrado do líder e a autoestrada, seria o meu túmulo.

– Donghae, caso eu não acerte, você tem que parar a bola com a telecinese ouviu bem? Nem pense em pegar com as mãos – avisou Heechul que estava a minha frente, segurando um legitimo e longo taco de beisebol.

Engoli a seco e a muito custo, movi a cabeça positivamente, mas por dentro eu queria gritar pela minha mãe. Eu só havia parado algo no ar uma vez, como eles queriam que eu parasse uma bola de Simão que me carregava no ombro como se eu fosse um saco bem leve de batatas? Ao escutar o som do apito, paralisei por completo minha respiração. Na interbases eu conseguia ver o líder estralar os dedos e o pescoço, a minha frente, eu tinha Heechul apertando o taco com ambas as mãos, nas bases as cópias de tio KangIn se aqueciam, um pouco distante estava o verdadeiro que se concentrava nos movimentos do lançador e Simão, girava sutilmente o braço com um sorriso malicioso nos lábios. Engoli a seco mais uma vez, dando adeus a minha curta vida.

O campo havia sido timidamente marcado por tio KangIn e por exigência de Heechul, todos usávamos o uniforme azul marinho e branco dos Yankees, que a propósito, eu nunca havia ouvido falar, mas segundo Heechul era um time famoso de beisebol. Entrando em um controlado desespero, não consegui me conter parado ao ver Simão lançar a bola. Simplesmente me joguei para o lado direito. A bola passou zumbindo por meu ouvido, assustando até mesmo Heechul que estava concentrado em acertá-la.

– Falta! - berrou tio KangIn que estava próximo ao Leeteuk.

– Que falta o quê – retrucou Heechul – Jogue de novo Siwon e você fique paradinho ai trás – completou o mais velho me espreitando com seus olhos.

Descontente, o tio KangIn original correu velozmente para pegar a bola, enquanto eu voltava a minha posição. Em poucos segundos, a partida voltava para o ponto onde parou. Eu servindo de alvo vivo e Heechul fingindo que ia me defender. Após o sinal de KangIn, apenas fechei os olhos e rezei baixinho para que não doesse muito. Um barulho alto e agudo chegou aos meus ouvidos. Abri os olhos rapidamente, buscando o local aonde havia sido atingindo, mas tudo o que vi, foi o taco caindo na relva e Heechul correndo com tudo para a base um, enquanto o líder corria para a bola que havia passado bem por cima de sua cabeça, indo para dentro da floresta. Separei os lábios desacreditado, enquanto me levantava. As expectativas estavam por conta do líder, que de onde estava, lançou a bola para a base dois. Heechul ultrapassou a primeira base sem dificuldade, mas ao ver a bola ir em direção ao KangIn da base dois, ele desesperou aumentando a velocidade da corrida. Com agilidade a cópia agarrou a bola, antes que Heechul chegasse até ele, arrancando um grunhido irritado do mais velho. A cópia também sorriu com malicia e falou:

– Está fora.

– Como uma cópia consegue ser tão irritante quanto o original? - resmungou Heechul apoiando ambas as mãos nos joelhos.

– Agora é o líder – avisou KangIn, esperando que Leeteuk chegasse até onde eu estava.

A bola foi devolvida a Simão e Heechul assumiu a posição da base dois, enquanto a cópia foi para o lugar do líder. E novamente eu corria risco de vida.

– Alguns poderes precisavam de raiva para serem liberados no início, outros de medo, outros de desespero... Não creio que vai ser acertado – comentou o líder para mim e arrumou a postura no seu lugar.

O que ele estava querendo dizer com aquilo? Pensei enquanto ele separava as pernas, para ter maior apoio. Infelizmente a resposta veio após o apito de KangIn. Simão estava preparado para o lançamento e ao som do apito, ele lançou. Leeteuk que estava na posição para rebater, simplesmente golpeou o ar, enquanto a bola passava velozmente por baixo de seus braços, vindo em minha direção. Com esperanças que o líder fosse rebater mais forte que Heechul, não estava pronto para fugir e simplesmente senti a bola chocar-se contra minha testa, com toda força possível. Senti meu crânio afundar e meu corpo ser impulsionado para trás. A dor veio no momento em que toquei o gramado com as costas, sentindo minha testa ser tomado por um líquido de odor inconfundível.

– Ai! – soltei com a visão embaçada, mas sem me mover do lugar.

Leeteuk foi o primeiro a se inclinar sobre mim, analisando cuidadosamente minha testa. Pela sua expressão, conclui que não estava nada bem e logo depois, os outros chegaram.

– Como é você é cruel Siwon – esbravejou Heechul dando um tapa no braço do mais forte, que nem deve ter sentido.

– Tudo bem, eu cuido disso e continuamos com o jogo – disse o líder calmamente e levou a mão direita para o ferimento.

Continuar com o jogo? Pensei sofrendo. Em poucos instantes, minha testa estava como nova, mas eu ainda me sentia um pouco zonzo pelo impacto. Mesmo morrendo de medo, fui obrigado a voltar a minha posição, porque segundo os mais velhos, aquilo me estimularia a usar mais da telecinese e quando eles estivem de bom humor, eu poderia ser promovido a defensor interno.

– Você é mais lerdo do que eu pensei – comentou o líder dando de ombros e voltou a se concentrar no jogo.

Também ignorei a sua afirmação e me concentrei em parar a bola de uma forma. Na verdade o que eu realmente precisava, era de um bom batedor que não perderia a bola de jeito algum, mas na falta de um, me concentrei em levitar tudo e qualquer coisa que chegasse perto de mim. Embora isso parecesse não dar certo, fixei meus olhos na bola e prendi a respiração quando Simão a lançou. Ela veio tão veloz, que em dado momento, cheguei a me perder, mas para a minha sorte Leeteuk a rebateu para longe e saiu correndo. Dessa vez quem saiu correndo floresta adentro, foi uma das cópias de KangIn e facilmente o líder venceu a primeira e a segunda base, mas quando saia da segunda, a bola foi arremessada para a terceira e ele também estava fora. Não sei porque, mas eu sorri animado.

– Agora vai o Pedro? – perguntou tio KangIn para o Park, fazendo-me olhar para ele assustado.

– Pode ser – respondeu Heechul, já que o líder estava muito bravo para responder.

KangIn jogou o apito para Heechul e caminhou até mim. Ele exibia um grande e animado sorriso, tão animado e otimista, que chegava a me causar arrepios. Aquele seria o meu fim. Apenas com um gesto de mão, ele puxou o taco para si e me entregou.

– Você só tem que bater na bola.

– Por que você ou o Simão não vira o batedor? – perguntei pegando o taco que era mais pesado que o qual o líder usava para me bater... Quer dizer, treinar.

– Eu correndo em volta do campo não teria graça, se é que me entende e o Simão... – ele soltou uma curta risada antes de continuar – Lançaria a bola muito longe... É melhor deixar para uma partida mais animada – falou o tio soltando um sorriso malicioso e se posicionou um pouco atrás de mim.

Fiz uma careta confusa e apertei o taco fortemente entre as mãos. Era só acertar a bola, nada além, pensei comigo mesmo, tentando adquirir um pouco do otimismo. Ao som do apito, Simão foi liberado para lançar e me encarando completamente sério, ele girou o braço três vezes e lançou com toda a força em minha direção. Perdi o controle das minhas pernas no mesmo instante e antes que eu despencasse para o chão, a bola estouro na minha costela esquerda, jogando-me para cima de tio KangIn.

– Falta! – berrou tio KangIn desvencilhando-se de mim.

– Que falta o quê – retrucou Leeteuk de mau humor – Mas o Pedro ganha uma base na contagem final e Siwon jogue certo.

Sentindo minha costela latejar, fiquei de pé com o auxílio de tio KangIn e segurei o taco reprimindo uma careta de dor. Simão fez uma careta de tédio e pegou o arremesso de tio KangIn com a mão esquerda. Ao som do apito, Simão que talvez tenha o nome de Sion, mas nesse ponto eu estava mesmo querendo dar com o taco na cabeça dele, girou o braço três vezes e lançou a bola mais uma vez. Dessa vez até tentei rebater, mas ela novamente acertou minha costela esquerda, me lançando para cima de tio KangIn.

– Falta! – berrou o tio novamente se livrando de mim, enquanto eu quase morria de dor.

Nunca fui bom em anatomia, biologia e afins, mas pelo ar que escapava dos pulmões e a dor dilacerante na costela, meus ossos desviam estar perfurando e pressionando meu pulmão esquerdo com força. Fui levantando inteiramente por tio KangIn, mas a dor era tanta, que ele teve que me apoiar para que eu não caísse.

– Leeteuk... – chamou tio KangIn demonstrando preocupação.

– Duas bases para o Pedro e último lançamento – berrou ele dando de ombros.

Cerrando os dentes com força, me apoiei com o taco no chão e deixei com que tio KangIn lançasse a bola de volta para Simão. Realmente minhas costelas estavam doendo, mas se o líder insistia... Respirando com dificuldade, apoiei o taco no ombro esquerdo e esperei pelo som do apito. Eu não podia continuar com aquilo, mas Leeteuk me fuzilava com os olhos, como se eu tivesse culpa de ele não ter conseguido as duas bases. Heechul em espreitava do mesmo modo preocupado que tio KangIn, mas com um pouco hesitação, apitou. Tirei o taco do ombro, segurando-o com as mãos trêmulas e vi com o canto dos olhos Simão girar a bola três vezes e lançar em minha direção, mas quando o lançamento foi de fato efetuado, apenas apoiei o taco de volta ao chão e fechei os olhos, pedindo silenciosamente que a bola não me atingisse.

Escutei o estrondo alto do impacto da bola com algo e senti pela centésima vez, minhas pernas fraquejarem, mas a dor, em nada aumentou ou diminuiu. Apenas continuou a latejar sob a minha pele e a parte interna do meu corpo. Olhei cautelosamente para o lado esquerdo e vi a bola caída no chão. Levantei um pouco mais minha visão e encarei Simão que balbuciava algumas palavras.

– Ele... Ele...

– Magnetocinese? – perguntou o líder fitando Simão.

– Dois poderes idênticos? – questionou tio KangIn.

Senti minhas têmporas arderem e perdi completamente o controle das pernas, indo de encontro ao gramado. Pressionei minha testa com força escutando os passos de tio KangIn se aproximar, mas a dor era tamanha, que me encolhi no chão sentindo meu corpo fervilhar. Ele era tomado por uma sensação estranha de formigamento, enquanto minha cabeça vibrava com força tão intensa, que parecia como se milhares de agulhas a penetrassem. Quando tio KangIn tocou gentilmente meu ombro direito, tudo aquilo que fervilhava dentro de mim, explodiu para fora, levando junto minha consciência.

P.O.V - Pedro off