—Mamãe, o que é vírus mortal?

Olhei para a porta do banheiro, encontrando Idris com uma expressão curiosa. Com oito anos, ela fazia mais perguntas do que um estudante confuso.

—Onde você ouviu isso, querida?-Perguntei, deixando a tesoura na pia. Meu corte de cabelo ia ter que esperar.

—Na tv. O moço do jornal, aquele que você não gosta, disse que tem um vírus mortal na China.

—Ah, é?

—Sim. O nome é... É... Covid-19. -Franzi a testa. -Eu não sei o que é isso.

—Bom, eu também não. Mas vírus mortal é... Um vírus que... Mata.

—Mata?

—É. Mas você não precisa se preocupar. É na China. Fica bem longe de Cardiff. Não vai chegar aqui.

Maldita boca. Eu estava errada.

O corona vírus se espalhou e chegou. Não havia nenhum caso confirmado em Cardiff, no começo, mas quando falaram em quarentena, Jack disse que devíamos colaborar. “É claro”, eu tinha dito. “Aposto que não vai demorar muito mesmo”. Errada de novo!

Jack e eu organizamos tudo, conversamos sobre as saídas necessárias e fechamos a base da Torchwood. Decidimos que manter reuniões em chamada de vídeo devia bastar, caso algo acontecesse.

—Só espero que esses ETs filhos da puta respeitem a quarentena. -Resmunguei, olhando pela janela. -Se eu não posso sair nas ruas, eles também não podem.

Os aliens foram mais respeitosos à quarentena do que alguns seres humanos. Os únicos que se arriscavam eram os Weevils, que pareciam muito confusos ao encontrarem as ruas vazias. Tosh os monitorava da casa dela, com câmeras que a Torchwood havia espalhado pela cidade e algumas hackeadas postas pelo governo. “Eles só andam por aí e depois voltam para os esgotos”. Eu apostava que o motivo era falta de humanos pra comer. Weevils eram estranhos.

***

—Onde acha que o Doutor está?-Perguntei, deitada ao lado de Jack. O silêncio lá fora era meio perturbador, e eu não conseguia simplesmente relaxar e dormir.

—Em algum lugar legal, vivendo aventuras.

—Por que ele não vem, Jack? Por que não vem nos ajudar? Tem pessoas morrendo e estamos vulneráveis.

—Talvez ele esteja ocupado...

—Ou talvez só não se importe.

—Não acho que você acredite nisso. -Suspirei.

—Não. Eu sei que não o vemos há seis anos... Mas não se trata da gente... E se for o fim de tudo?

—Tis...

—Eu sei, eu sei. Estou exagerando. -Esfreguei os olhos. -Essa quarentena tá me deixando maluca...

***

Continuei rabiscando uma arma nova, sem muita pretensão, enquanto fingia não notar Idris me encarando do outro sofá. Eu sabia que ela queria muito sair de casa, mas era uma criança muito educada para reclamar. Não fazia ideia de quem ela puxou tanta educação, por que de mim é que não foi.

—Já fez suas tarefas, querida?-Perguntei. Ela assentiu rapidamente. -Todas elas?

—Todas.

—E arrumou seu quarto?

—Arrumei. Quer que eu faça mais alguma coisa?

—Por enquanto não.

—Ah. Tudo bem. -Apoiou o rosto na mão.

—Eu sei, é um tédio, não é?

—O papai disse que a gente precisa ficar em casa.

—É verdade, mas ainda é entediante.

—Sinto falta de ir na livraria com você.

—Quando essa quarentena acabar, eu prometo que vamos na livraria e você pode comprar quantos livros quiser.

—Mesmo?-Seus olhos brilharam.

—Mesmo. Por que não vai fazendo uma lista?

—Boa ideia!-E saltou o sofá, correndo para o quarto.

Eu queria ser uma mãe mais criativa, que inventava distrações divertidas pra se fazer na quarentena. Infelizmente, não tinha boas lembranças da minha infância que poderiam servir de base para ajudar Idris a passar essa parte chata da vida dela. Fiquei até os 18 anos presa numa maldito orfanato de merda e isso não servia como uma boa experiência.

—Cheguei!-Jack anunciou, abrindo a porta e a fechando. -Ainda não me acostumei com as ruas vazias. -Deixou as compras no chão, dentro do limite marcado com fita adesiva vermelha, e tirou a máscara. -O mercado, em compensação, estava lotado.

—Parece a porra de um apocalipse zumbi. Acabei de ver na tv que os mercados de Sheffield estão tendo os estoques esgotados. E se essa merda acontecer aqui? O que a gente vai comer?

—Não vai acontecer aqui. E não vamos montar um estoque. -Às vezes parecia que ele lia meus pensamentos.

—A gente devia. Todo mundo tá fazendo.

—E foi dito que não é certo. Se comprarmos tudo, como ficam as outras pessoas? Não é hora de ser egoísta. -Deixou a roupa no cesto dentro da área isolada. -Vamos ficar bem.

—Mas eu vi na tv que...

—Tis, acho que a regra de não deixar a Idris assistir os noticiários deve valer pra você também.

—Eu tenho que me manter informada.

—A única coisa que eu vejo é você surtando. -Foi pro banheiro.

—E tem como não surtar?

Peguei as compras e lavei as embalagens duas vezes. Talvez eu estivesse só um pouco paranoica e misofóbica (calma, militância, isso significa fobia de germes, sujeira e contaminação). Não costumava me importar com doenças por que raramente ficava doente. Talvez ser mãe tenha me deixado assim... Ou a porra do corona vírus.

***

—Você tá bebendo vinho as oito da manhã?-Jack perguntou.

—Não. -Menti. Ele apontou para a taça nas minhas mãos. —É chá.

—Ah, claro.

—Não pode me julgar, sou sua esposa e estou surtando.

—Tudo isso vai passar. -Sentou ao meu lado no sofá. -O isolamento social vai reduzir o número de infectados, logo inventam uma vacina... E pronto. Tudo volta ao normal.

—Queria ser tão otimista... 2020 é um ano de merda, e eu não aguento mais. Às vezes quero pegar o Manipulador de Vórtex e sumir pelo tempo. Aí eu lembro que sou mãe e esposa, e tento me contentar com vinho.

—Se você acha que precisa viajar...

—Não. Eu sou uma escrota, mas jamais deixaria vocês.

—Você não é...

—Nem tenta, eu tô me sentindo péssima. -Deixei a taça na mesinha de centro. -Acho que acabou a fase de negação... Começou a do surto... Eu juro, Jack, que quando o Doutor der as caras eu vou fazer picadinho dele e servir pros weevils.

—Não pode fazer isso com o padrinho da sua filha.

—Posso sim, apenas me observe. Ele tá fodido. -Começou a rir. -É sério... -Ri também. -Aquele filho da mãe...

—Ele vai aparecer. Ele sempre aparece. -Olhou as horas no celular. -E temos uma reunião.

Abrimos o notebook na mesa da cozinha e esperamos enquanto Gwen, Tosh, Owen e Ianto iam entrado na chamada de vídeo.

—Alguma novidade?-Jack perguntou. Quatro negações. -As coisas estão paradas.

—É, e eu não aguento mais. -Murmurei.

—Eu tenho, na verdade. -Owen disse. -Mas não é sobre... Nosso trabalho.

—O que, você finalmente tomou juízo?

—Hilário, Tis. -Deu um sorriso falso. -A UNIT me recrutou.

—O que?-Gwen perguntou. -Por quê?

—Eles estão montando uma base hospitalar, e estão recrutando. Eu sou médico, então... Eles me querem.

—Eu não quero ser grossa... -Comecei. Todo mundo faz aquela cara, a de quem sabia que eu ia ser grossa. -Mas você?

—Eu sou médico, Tis. De verdade. E fiz uma tese de imunologia. Trabalhei na enfermaria real de Cardiff...

—Já era esse babaca bêbado nesse tempo?-Fez cara feia. -Owen, é a porra do corona vírus.

—Eu sei.

—Então você aceitou?-Ianto perguntou.

—Aceitei. -Houve um silêncio estranho após isso. Olhei para o pequeno quadrado onde Tosh estava, e ela parecia muito triste e preocupada. Eu não sabia como estava seu relacionamento com Owen, eles eram imprevisíveis. -As coisas estão calmas em Cardiff, sem Ets... Vão ficar bem sem mim. Quando tudo acabar, eu volto.

—Se você não morrer. -Murmurei. Jack olhou pra mim.

—Qual é, Tis. -Riu. -Você tá torcendo por isso desde que eu te conheci. Me odiou mais do que odiou Ianto.

—Ianto nunca foi um filho da mãe. -Sorriu.

—Vou sentir falta disso. Não dá pra ficar sem suas provocações.

—Não ouse morrer, seu bastardo desgraçado.

—Não vou te dar esse gostinho, Ametista. -Olhou por cima do ombro. -Bom, preciso terminar de arrumar as malas. Eu saio hoje. Mais alguém quer dizer o quanto me odeia?

Desligamos a chamada depois de alguns minutos de despedidas e recomendações para Owen. Permaneci sentada, imóvel, pensando em que merda todo mundo tinha se metido. O mundo tava de ponta cabeça e um vírus nos fazia de refém, isso quando não nos matava.

Owen estava indo para a linha de frente, se juntando à outros médicos, enfermeiros, pessoas que estavam lá, ajudando os outros. Me perguntei se Martha tinha sido convocada ou se voluntariado. Isso fez meu estômago afundar. As chances deles se infectarem e morrerem longe dos amigos e da família eram grandes. Eu não queria que isso acontecesse.

—Owen é como um vaso ruim, Tis. -Jack disse, andando pela cozinha. -Ele vai ficar bem. E depois, no fim de tudo, ainda vai se gabar por ter se arriscado e saído ileso, você vai ver.
—Espero que sim.

***

—... E eu fiz esse desenho pra você. -Idris disse, exibindo a folha de papel na frente da web can. -Vou te entregar quando você vier.

Ela tinha desenhado o rosto de River, e usado cada espaço em branco para o cabelo loiro e encaracolado dela. Sorri. Idris adorava aquela mulher.

—Ficou muito lindo, querida!-River exclamou. -E olha só o meu cabelo. Ninguém nunca o desenhou tão bem quanto você. Vou pendurar no meu quarto.

—Eu vou guardar pra você. -Deixou o desenho de lado. -Como tá o seu hotel?-Idris não sabia que River estava presa, ela acreditava que a mulher morava num grande hotel no espaço onde crianças não podiam ir. Eu não queria mentir, mas a situação era complicada demais.

—Muito bem, têm tido umas festas... O de sempre.

—Não tem ninguém doente aí?

—Não.

—E você tem visto o Doutor?-Abaixei o celular lentamente, prestando mais atenção na conversa.

—Hum... Não. Mas eu sei que vou vê-lo em breve. Quer que eu dê um recado?

—Pode dizer pra ele vir nos ajudar? Está todo mundo ficando doente e não podemos sair.

—Eu vou dizer, querida, prometo. Mas sabe, acho que se você tiver alguns biscoitos gostosos, ele pode aparecer.

—É mesmo?

—O Doutor não resiste à uns biscoitos. Oh. Eu preciso ir. O gerente está me chamando, acho que por que saio demais. -Riu. -Até logo, Idris.

—Até. -Acenou. Fingi prestar atenção no celular de novo. -Mãe.

—Sim?-Olhei pra ela.

—Por que a River mora num hotel?

—Por que ela viaja muito, então não precisa se preocupar com arrumar a casa e essas coisas chatas.

—Ah. -Assentiu. -A gente pode fazer biscoitos?

—Claro que podemos. -Levantei, largando o celular no sofá. -E podemos... -Batidas na porta. -Quem...?

—Achei que não podia ter visitas.

—E não pode. Quem é o maluco?-Fiz uma pausa. E se fosse o Doutor? Atravessei a sala e abri a porta, ficando atrás da fita vermelha.

—Olá, vizinha!-Suspirei. Não era o Doutor. Era a mulher sem noção do quinto andar. -As coisas andam tão chatas com essa coisa de quarentena... Decidi fazer uma visita.

—Uma visita? No meio de uma pandemia?

—Acho que a tv tem exagerado um pouco...

—Eu não acho. Tchau, Karen. -Fechei a porta com força. -Dá pra acreditar nisso?

—Maluquinha. -Idris disse.

—Completamente. -Revirei os olhos. -Vem, vamos fazer nossos biscoitos...

***

Contei à Jack sobre a nova peripécia da Karen e ele apenas riu, nada surpreso com a atitude da maluca. Não era novidade que a nossa vizinha não batia bem das ideias.

Ah se fosse só ela... Nós víamos na tv e na internet o número de incrédulos crescendo, mesmo com o de mortos aumentando. Como alguém podia ser tão estúpido? Isso era absurdo e irritante. A humanidade se mostrava egoísta e burra, mesmo no século 21. Não era espantoso notar que o Doutor tinha nos deixado.

Isso me deixava furiosa, mas também triste, então eu não queria pensar nisso mais do que já pensava.

—O que está fazendo?-Jack perguntou, sentando no sofá.

—Me detestando por pensar tanto. E você?

—Acho que o mesmo. Parece que é o padrão de uma quarentena. Ah. A vizinha de baixo, a garota que fala sozinha, colocou um cartaz no elevador com o nome e o número do apartamento dela dizendo que se os vizinhos mais velhos precisarem de alguma coisa de mercado ou farmácia, podem pedir pra ela. Coloquei meu nome também, outros fizeram o mesmo.

—É uma boa ação. Estou orgulhosa.

—Acho que eu preciso disso, Tis.

—Ajudar nosso vizinhos idosos?

—Boas ações. Fiz muitas coisas erradas, e todo dia me pergunto quando a conta vai chegar. Tenho... Medo que o universo me puna usando você ou a Idris.

—Isso não vai acontecer...

—Você não faz ideia das coisas que eu fiz.

—Posso dizer a mesma coisa. Mas me arrependi... Não de tudo, mas de boa parte. Isso é o que importa.

—Queria acreditar nisso.

—Então acredite. Eu sei que fizemos coisas bem erradas, mas... Nosso passado, mesmo tão sombrio, só fortaleceu nossa ligação. Você é meu melhor amigo, Jack. E uma das pessoas que eu mais amo no mundo. Isso me ajuda quando penso que... -Hesitei.

—Que...?

—Eu sei que casou comigo por que o Doutor disse que deveria, e que você ama de um jeito diferente. Com você nunca é “até que a morte nos separe”. E eu não me importo. Estamos juntos há oito maravilhosos anos, e se... E quando você não quiser mais...

—Eu não vou a lugar algum. -Se aproximou, ajeitando meu cabelo. -Eu amo você e a Idris, amo como as coisas são. Acho que nenhum de nós nunca imaginou essa vida de agora, mas aqui estamos. Se eu soubesse que ia acontecer quando te conheci na Agência do Tempo...

—Teria transado com a Marion em vez de comigo?

—Não, eu transei com a Marion. Na verdade, com todo mundo da Agência do Tempo.

—Eu devia ter imaginado.

—Mas só você se tornou minha melhor amiga.

—E tinha o John Hart.

—Sim, aí ele foi um filho da puta com você e nunca mais o vimos depois que quebrou a cara dele. Estou feliz com a vida que temos agora, é o suficiente. Eu sou imortal, e serei grato pelo tempo em que terei Idris e você comigo. Não sei quanto tempo teremos, mas espero que seja o suficiente. -Isso me pegou de surpresa de tantas formas diferentes... Eu não sabia o que dizer, então decidi usar meu método de fuga mais eficaz.

—Caralho, Harkness, quem vê você é o homem mais romântico do mundo. Foda-se o Romeu Montecchio. -Riu.

—Sério? Romeu é o cara mais romântico que conhece?-Dei de ombros.

—Não sou exatamente fã de romances.

—Que bom que eu não esperava uma declaração em retorno então. -Mordi a ponta da unha.

—Eu te amo... Pra cacete. -Riu de novo.

—Estou emocionado.

—É o máximo que consigo.

—E eu adorei, você foi ótima. -Fez uma pausa. -E estamos sendo espionados.

—Como foi que soube?-Idris perguntou, a cabeça aparecendo acima do encosto do sofá.

—Senti o cheiro do seu shampoo. Tem cheiro de morango e criança limpinha. -Ela sorriu.

—Vem cá, pestinha. -Convidei. Ela pulou pro sofá, caindo entre nós. -O que eu e ensinei sobre espionar?

—Que eu não devo ser pega.

—Exatamente, boa menina. -Olhou para Jack e eu.

—Vocês são bonitos juntos. É por que se amam?

—Bom, -Jack começou. -nós somos naturalmente bonitos, mas acho que estarmos juntos aumenta isso.

—Eu vou ser bonita com alguém?

—Quando crescer, sim. Vai encontrar um garoto, ou uma garota e ser bonita com essa pessoa.

—Mas você já é bonita agora. -Completei.

—Eu sei. -Ela disse, confiante. -Mas é outro tipo de bonito. É como pão com pasta de amendoim: eles são ótimos juntos. -Eu já disse que amo a filosofia infantil?

—Entendo.

—A tia River é bonita com o Doutor?

—Eu só os vi juntos uma vez, mas acredito que sim. -Assentiu.

—Mas eles se amam, não é?

—Eles se casaram, então... Sim.

—Queria ter ido no casamento deles, tia River disse que eu teria sido uma boa daminha.

—Teria sim. Por que tantas perguntas sobre amor, assim de repente?

—Eu ouvi você e o papai dizendo que se amam, e vocês são felizes. As pessoas na tv parecem muito tristes. Eu não quero ser triste quando crescer. Posso ter uma pessoa com quem vou ficar bonita e viajar pelo tempo e espaço, por que o Doutor viaja pelo tempo e espaço e ninguém nunca disse que ele estava triste.

—Você às vezes me assusta com essa sua inteligência. -Jack brincou. -De quem é que você puxou isso?

—Eu acho que vocês são inteligentes. A mamãe sabe fazer panquecas com carinhas felizes e você nunca esquece de comprar achocolatado quando eu peço. -Jack e eu rimos.

—Idris Harkness, -Comecei. -Você definitivamente é a melhor coisa que já nos aconteceu.

***

ALGUM TEMPO DEPOIS

—Idris, levanta os pés. -Pedi. -Ou vou varrê-los e você nunca vai casar.

—Pode varrer então, mamãe. -Ergui uma sobrancelha.

—Você não quer casar?

—Acho que não. Vestidos de noiva são bonitos, mas... -Deu de ombros.

—Bom, você ainda tem muito tempo pra decidir isso. E se quiser usar um vestido de noiva sem casar, ninguém tem nada a ver com isso.

—Legal. -Cruzou as pernas. -Você usou um vestido de noiva?

—Não.

—Por quê?-Me apoiei na vassoura.

—Seu pai e eu tivemos um casamento rápido, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Casei de jaqueta de couro e seu pai usava aquele casaco azul. No fim das contas, roupas não são o mais importante num casamento. Então você pode escolher o que quiser.

—Até uma roupa de astronauta?-Assenti.

—Até uma roupa de astronauta. A escolha é sua.

—Legal. -Sorriu. -Ei, olha!-Apontou pra TV. Aumentei o volume.

A vacina Pfizer foi aprovada.—A repórter disse. -A vacinação deve começar em alguns dias, de acordo com...

—Eles fizeram uma vacina!-Idris ficou de pé no sofá. -A gente vai poder sair de casa! A gente vai poder ir na livraria!-Jack saiu do quarto.

—A vacina está pronta?-Perguntou.

—Está. -Respondi. -Prontíssima. Provavelmente vão vacinar os mais velhos e as pessoas do grupo de risco primeiro. Em breve podemos tomar.

—Mãe. -Idris chamou, eu conhecia aquela cara interrogativa. -Como é tomar uma vacina? Que gosto ela tem?-Jack olhou pra mim.

—Hã... Bom... Querido?

—Nem vem, Ametista. -Pediu, achando graça. -Você é quem disse que ela não precisava de vacinas.

—Foi a River que disse isso!

—E você concordou. Boa sorte. -Saiu a sala como um foguete. Idris ainda estava olhando pra mim com aqueles olhos curiosos.

—Então, pestinha, -Comecei cuidadosamente. -você sabe o que é uma agulha?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.