A Promessa

Última Atuação.


Corri até a avenida cortando caminho entre os carros que passavam por ali. Eu sabia que poderia está enganada quanto a Daniel está em meu quarto na faculdade, eu poderia nunca chegar a tempo, poderia ser um fracasso frente a ele, mas eu precisava tentar.

Lembrei de tudo o que Maxon passou por minha causa, o que aconteceu a Dylan e Lethicia, que nem mesmo conheciam Daniel ou a mim. Lembrei de Tay, lembrei do corpo de minha mãe e nada daquilo seria em vão.

Nada.

Cheguei ao campus, corri até o Morgan Hall e bati na porta de meu quarto diversas vezes antes de alguém abri-la. Daniel caminhou de volta a minha cama, deitou esticando os braços atrás da cabeça e me observou com um sorriso no rosto. Naquele momento eu não estava cansada, estava com raiva. Não estava com medo, estava irracional e pela primeira vez em minha vida, quis bater em meu irmão.

— Ora, ora quem resolveu aparecer. – Daniel disse.

— O que está fazendo aqui? – perguntei entre dentes.

— Que pergunta é essa? Estava esperando por você irmãzinha. Você já está melhor?

— O que você quer Daniel? – perguntei empurrando a porta com uma mão para que ela fechasse.

— Você sabe o que eu quero. – ele disse sentando-se na cama, descansando uma mão sobre uma mochila preta ao seu lado.

— Esses são os vídeos que você gravou?

— Há copias com...

— Há copias com alguém e blá blá blá. – resmunguei revirando os olhos. – Você poderia ser original se quer tanta fama assim. – os olhos de Daniel se estreitaram para mim e lentamente ele levantou da cama.

— Sabe, eu posso até ganhar algo de você se eu ameaçar matar seu namoradinho.

Aquele foi o que faltava para minha raiva estourar, meus braços tremeram, minhas mãos fecharam em punho e quando dei por mim, Daniel estava xingando caído no chão com uma mão no nariz. Olhei minha mão erguida arqueando as sobrancelhas em surpresa, que se dane se vai doer daqui a pouco, ele mereceu.

— Você não vai fazer nada com Maxon! – falei mantendo o tom calmo, um tanto ameaçador, enquanto me aproximava de Daniel. – Você nunca mais irá mandar mensagens para ele, para mim ou meus amigos. Se não...

— Se não o que? – Daniel gritou erguendo seus olhos para mim, tirando a mão do rosto mostrando o nariz inchado, vermelho e sangrando.

Não era certo bater nele. Não, de maneira nenhuma estava certo mas eu estava com raiva. Tamanha raiva que precisava despachá-la para longe e claro, precisava de um saco de pancada. Ergui a palma da mão para trás e quando desceu, o eco foi forte no quarto. Daniel riu com o rosto virado para o lado e voltou a perguntar o “se não o que?” aquilo me deu nos nervos. Ele achava que poderia me enganar pela segunda vez? Ele estava me subestimando.

— Estou falando sério. Se não eu mato você! – falei entre dentes e não importa se era mentira por eu não conseguir matar alguém, eu estava com raiva. Daniel riu mais alto e voltou a olhar para mim, estranhamente ele não se esforçava para levantar do chão e estranhamente aquela posição era favorável a mim. Mais um soco em seu lábio o fez cuspir sangue no chão.

— Sua vadia! – Daniel gritou chutando minhas pernas me fazendo cair sem equilíbrio e completamente desarmada dando chance a ele de pular em cima de mim e com as mãos fortes e duras, fechadas em meu pescoço.

A coragem foi embora, a raiva se dissipou e o ar estava cada vez mais difícil de respirar. Daniel não hesitou, não vacilou nem um instante e o desespero começou a tomar conta de meu corpo quando a porta do quarto abriu de repente e Maxon passou por ela.

— Larga ela! – ele disse e só quando ergui o olhar o vi com a arma que guardava em sua cômoda ao lado da cama.

Minutos depois Thomas entrou com colete do FBI e mais uma arma. Louis estava logo atrás e mais alguns três homens fardados. Daniel sorriu, ergueu as mãos para cima da cabeça e se levantou. Como se por mágica minha coragem estava de volta e eu estava tão perto, tão perto...

— Só estava conversando com minha irmãzinha. – Daniel disse com um sorriso apaziguador. Canalha! Era o que eu queria gritar e antes que alguém o fizesse sair daquela posição, minha perna o chutou bem entre as pernas, fazendo-o gritar de dor e cair sobre os joelhos no mesmo instante em que eu me levantava.

— Nunca... Jamais ouse me chamar de irmã outra vez. – falei apontando o dedo para ele.

Maxon pegou meu braço e me puxou para fora, pude ouvir a voz de Thomas quando disse “Daniel Morgenstern, você está preso!” e uma onda de paz inundou meu corpo, junto com a tonelada de preocupação que saiu dos meus ombros. Olhei para Maxon suspirando aliviada, ele sorriu para mim me puxando para seus braços no instante em que Daniel passava pelo corredor de cabeça erguida e sorrisos como se ele fosse a atração. Afinal, não era o que ele sempre quis? Alunos e pessoas que passavam pelo Morgan pararam para ver aquela cena.

— As fitas. – sussurrei a Maxon me libertando de seus braços e entrando de volta ao quarto. A mochila ainda estava sobre a cama, havia CDs de várias cores dentro dela e claro, a única coisa que pensei foi em destruí-las.

— São provas, Kar. – Maxon disse como se adivinhasse meus pensamentos. Olhei para ele em suplica.

— São nossas coisas. Ele gravou sabe se lá o que, Maxon.

Maxon hesitou, é claro que hesitou. Quem não? Fechei a mochila colocando-a sob meu ombro, parei frente a ele esperando uma ação. Se ele fosse comigo seria ótimo, mas se ele negasse, eu iria de qualquer modo destruir tudo aquilo. Maxon respirou fundo passando uma mão em seus cabelos e então me encarou por um instante, como se derrotado com minha suplica, pegou minha mão e me levou até os fundos do Morgan Hall.

Dois dias depois, o maior assunto nos noticiários de TV, era a história de Daniel. Eu estava grata por não terem dado tanta ênfase a mim ou a Maxon, o assunto realmente era meu irmão e em como havia sido tão frio e cauteloso ao planejar tudo aquilo. As pessoas comentavam entre si sempre com repugnância ao mencionar seu nome e por alguns dias, estive trancada em casa fugindo de repórteres.