O refeitório estava completamente lotado, era um falatório que ecoava por todas as paredes, sussurros que se transformavam em risadas histéricas em uma mesa, gritos na outra, múrmuros na outra e só ao parar atrás das portas da entrada percebi que a mesa onde eu sentava com as meninas estava ocupada por pessoas que eu nunca havia visto ali.

— Ei, vocês demoraram ein. – a voz outra vez.

Olhei para o lado e vi Maxon encarando a mesa que, a um segundo atrás, eu estava observando. Ele sorriu e como se fosse mágica, Júlia e Mylena desapareceram.

— São meus amigos. Do clube de xadrez lembra? Falei que eles poderiam ficar ali.

— O quê? – perguntei nervosa me afastando para encará-lo frente a frente. – E quanto a mim? E minhas amigas? – o sorriso ficou maior quando ele ergueu o queixo em direção a mesa do Ponto Ômega, ao lado das loiras com silicones.

— Vocês não podem simplesmente saírem dali e sentarem no canto. – ele disse, franzi a testa cruzando os braços no peito.

— Ah. Você precisa falar para sua amiga Celeste, então. Porque foi ela quem nos avisou sobre a mesa já está cheia para nós. – falei apontando para mim.

Maxon me encarou por um segundo e relaxou passando uma mão pelos cabelos macios macios macios. Suspirei e caminhei em direção a mesa, eu estava faminta, mas precisava dá as costas a ele e precisava sair de perto.

Rostos conhecidos e amigáveis encontrei em volta a mesa, sentei entre Camila e Manu observando cada um ali. Time de futebol? Confere. Lutadores, confere. Meninas, confere. Aaron, confere. Maxon, confere. Celeste? Olhei de volta ao começo e repassei o olhar em cada pessoa ali, mas Celeste não estava e por um instante quis pular de alegria, soltar fogos de artifício quando Manu suspirou encarando sua comida na bandeja.

— O que aconteceu? – sussurrei entre as duas que comiam em silêncio e de cabeça baixa.

— Ainda preocupada com Dylan. – Manu respondeu. – Você está bem? – perguntou ao me observar com mais atenção.

Concordei com a cabeça rapidamente mas não queria falar sobre mim.

— Mas o que...

— Lembrei! – alguém gritou do outro lado da mesa atraindo os olhares de praticamente todos no refeitório.

Jake estava me encarando, sorrindo com os olhos e lábios e apontava para mim freneticamente. Percebi que ele estava entre Conor e Aaron, Maxon sentava um pouco mais a frente.

— Lembrei de onde conheço você. – disse, todos os pescoços se viraram para mim.

Eu não sabia o que fazer. Sorrir? Chorar? Correr? Se esconder atrás das mãos? Os pescoços se viraram novamente para Conor.

— Você cantou na sexta do karaokê no Setor 45. Eu lembro! Você foi... – ele parou apertando os lábios e lembrei de Maxon falando sobre “os homens que foram ao banheiro depois do meu show” e queria um buraco para enfiar minha cabeça. – Você foi muito engraçada. – completou. – Eu com certeza ri muito. Na verdade, foi uma das poucas vezes que ri pra caramba.

Os pescoços se voltaram para mim.

— Que bom que você achou engraçado. – resmunguei olhando a mesa.

Os pescoços voltaram-se para ele.

— Eu? Ah qual é, Conor você a viu cantar? – todos os olhares estavam em Conor que encarava Jake com algum código interno entre eles. Jake bufou, se virando para o garoto a sua frente. – Sam, você a viu...

— Sam foi um dos que foram ao banheiro. – Jace, do time de futebol, o interrompeu enquanto mexia em sua comida com o talher e nem ao menos se importou com os pares de ouvidos que estavam atentos a conversa.

Eu, por outro lado, gelei sentindo meu rosto esquentar do queixo até a testa porque eu não imaginava que Maxon estivesse certo. Jake e Aaron riram e não arrisquei encarar o pobre coitado do Sam. Maxon limpou a garganta fazendo com que todos se virassem para ele.

— Todo mundo viu quem saiu para o banheiro depois daquele showzinho. – ele colocou todo desprezo em sua voz na última palavra que me surpreendeu, respirou fundo e continuou. – Mas ninguém precisa falar enquanto ela estiver na mesa.

Maxon não ergueu o olhar para saber se eu tinha escutado, para saber se eu o observava e eu o encarava fixamente, queria gritar “vocês falam de mim pelas minhas costas?” mas a vergonha era maior, muito maior. Queria xingá-los até a cota de palavrões acabar e dizer por final alguma frase de efeito e sair como aquelas mulheres fortes e sedutoras dos filmes de ação. Mas minha mente interceptou qualquer ilusão minha afirmando que além de eu não ser sedutora, eu não era – de jeito algum – forte.

— Sem ofensas Kate. – era Aaron erguendo as palmas das mãos na defensiva, levando uma até a boca para disfarçar a risada. – Mas eu nunca imaginaria ver você dançando e rebolando e...

Deus, poderia abrir um buraco para mim, por favor?

Maxon se levantou fazendo a cadeira ranger no piso e Aaron parar engolindo as palavras de volta enquanto encarava o irmão. O mundo parou mas eu não queria descer, queria ficar ali olhando e observando enquanto os dois irmãos, mais lindos que já vi, se encaravam e usavam a linguagem do olhar para conversar ou repreender ou aconselhar. Maxon estava sério demais para essa última opção, mas Aaron parecia tranquilo, devolvendo a mesma intensidade no olhar e eu poderia tirar uma foto e pendurar no teto do quarto e não dormir nunca mais apenas observando-os.

— Ok. Já chega com essa ceninha. – um lindo sotaque britânico falou se aproximando da nossa mesa.