A Promessa

Pode Ser Que Sim. Pode Ser Que Não.


Depois de passar o final de semana deitada na cama, comendo barras de cereal com água, as vezes suco, consegui sobreviver para as aulas. Era a semana do Baile de Outono e Tay, como uma das organizadoras, estava nervosa e estressada antes mesmo de começar o dia. Andando pelo quarto falando ao telefone, resolvendo detalhes que pareciam não ter fim e muito menos se importou se eu estava dormindo – quase morta – na cama ao lado. As meninas sabiam sobre meu rompimento e apesar de não ter visto Júlia ou Letícia, gostaria de poder não vê-las agora, eu havia quebrado a promessa de ser forte, havia chorado a noite toda, chorado por Dylan, por Lethicia, por Maxon, pela minha mãe, por mim e eu não poderia arriscar chorar outra vez, já bastava meu rosto vermelho e inchado, já bastava meu rosto de quem dormiu mal, de quem estava doente.

Suspirei e levantei da cama, eu ainda precisava ser forte frente as pessoas, precisava ser – ridícula – idiota com Maxon e seus amigos, que se dane lado bom, que se dane ser legal, simpática quando no final das contas você acaba se machucando, você acaba sendo enganada. Vesti meu melhor jeans, uma blusa aberta demais para a primavera, peguei minha mochila e antes que pudesse esperar Camila, Manu ou Larissa caminhei até o prédio das aulas, tão lenta quanto podia, preparada e nervosa. Não via Robert desde o hospital e provavelmente não esperava vê-lo nas aulas, agradeci mentalmente por não ter aula com ele ou com algum Maddox.

— Hey Karlla. – alguém falou em minhas costas me fazendo virar rapidamente curiosa com a voz desconhecida.

— Sim? – perguntei confusa, eu o havia visto em uma das minhas aulas mas nunca pensei que ele iria lembrar de mim ou me conhecer. Era muito bonito para a idade, tinha os olhos verdes, os cabelos pretos e o maxilar forte.

— Desculpe, sou o Aspen Leger. Faço Economia com você. – ele sorriu e eu tive de acompanhá-lo, aquele sorriso não poderia ser ignorado, não poderia ser esquecido.

— Lembro de você. – falei por fim.

— Posso te acompanhar até a sala? – Aspen perguntou e eu concordei, caminhamos ainda mais devagar, conversando sobre a nossa aula, o professor, as matérias e percebi que estava atrasada demais em relação aos outros alunos. Conversamos sobre os próximos semestres e de como eu estava indecisa em qual curso seguir. Aspen prometeu me ajudar e eu aceitei sem hesitar. Ele era muito bonito para ser deixado de lado. Nos despedimos quando parei frente a porta da minha primeira aula, ele combinou de nos vermos no refeitório e concordei.

Realmente era impossível rejeitá-lo.

Mesmo sabendo que Maxon estaria lá, Aaron, Travis, Jamie, Jordan e qualquer pessoa que sabia sobre Maxon e eu, não me importei, não pensei nas consequências quando entrei no refeitório depois das aulas. Peguei uma bandeja e segui para as comidas servidas no lado oposto as mesas. Eu não estava preparada para sentar na mesa dos Ômega e sorri ao ver Aspen se aproximar com um sorriso – divino – no rosto.

— Hey. – ele disse beijando meu rosto, me deixando desconcertada. – Exagerado demais? – perguntou ao notar minha reação.

— Um pouco. – respondi franzindo a testa.

— Onde está sentada? – ele perguntou observando as mesas quase todas ocupadas.

— Na verdade, eu não sei. – respondi procurando os Ômegas, procurando Maxon ou Aaron mas encontrei apenas o time de futebol, Jace e Jordan.

— Pode sentar conosco, se quiser. – Aspen disse apontando para a mesa frente a janela, ali ficava os Beta e eu não fazia ideia de como me socializar com eles. Concordei com a cabeça e sorri, Aspen pegou minha bandeja e me guiou entre as mesas, passando propositalmente pelos Ômega, que me encararam tão confusos e eu nem mesmo arrisquei erguer o olhar. Não vi minhas amigas e não procurei por elas, sentei a mesa e sorri para cada um que Aspen me apresentava, sem decorar nomes, sem me preocupar com fama porque eu sabia o que ele queria de mim e quanto mais discreta melhor.

Ao terminar o almoçou sai da mesa com a desculpa de chegar cedo na sala, Aspen rapidamente estava ao meu lado, se ele percebeu ou não minha desculpa, eu nunca iria saber mas não importava mais. Estávamos caminhando pelo corredor vazio da minha próxima aula – eu fingindo ouvir enquanto ele tagarelava sobre algo tedioso – apressada para uma sala segura o bastante para o que eu estava prestes a fazer.

— Então, o que você acha? – ele perguntou virando-se para mim, eu gelei sem saber do que ele estava falando, futebol? Música? Era tão difícil! Sorri e antes que pudesse dizer alguma coisa, a porta de uma sala se abriu de repente enquanto passávamos, Maxon saía com um braço em volta do pescoço de uma morena tão alta quanto Celeste, só que ainda mais elegante e charmosa. Os dois riam um para o outro e meu coração parou pelos cinco segundos em que ele ergueu o olhar para mim. Meu coração gelou quando o choque em seu rosto era visível ao me ver, minha cabeça estava girando e por um instante achei que iria cair sobre meus joelhos.

Maxon olhou para Aspen dos pés a cabeça, olhou para mim e enrijeceu soltando o braço da garota que me observava como se já me conhecesse, sorrindo tão superior como eu no Hunter’s Moon. Aspen sorriu para ela, falando seu nome que eu fiz questão de não ouvir por eu está encarando Maxon além do permitido, talvez procurando algo que eu mesma não sabia o que. E ele fazia o mesmo comigo. A garota sorriu para Aspen e puxou Maxon pela mão, seus dedos entrelaçados me deixaram doente. “A gente se vê Maddox” Aspen falou sob os ombros quando Maxon já estava a alguns passos de nós e eu não arrisquei olhar para trás, olhei para a sala vazia, puxei Aspen pela blusa e tranquei a porta atrás de nós.

Para minha eterna felicidade o dia passou tão rápido que mal notei quando os alunos saíam da aula de História, mal notei quando Will passou por mim, deu um tapa de leve em meu ombro e saiu fechando a porta. Eu poderia ficar ali encarando meu caderno, na mesma folha branca para sempre porque de algum modo, era tranquilizador para minha mente já cheia de pensamentos. Suspirei e joguei o caderno na mochila saindo o mais rápido possível, pensando em voltar ao Morgan e cair na cama para só acordar amanhã para a aula.

— Karlla! – alguém gritou quando passei pelo prédio do refeitório. – Espera. – me virei reconhecendo a voz, desejando que eu esteja errada mas não, vi Aspen sorrir e correr em minha direção. – Aonde está indo? – ele perguntou.

— Morgan. – respondi desviando o olhar dele para as pessoas ao nosso redor, para as pessoas no refeitório, para os rostos conhecidos que nos observavam através das grandes janelas. – Desculpe Aspen, mas eu realmente preciso ir. A gente se vê ok? – me virei antes de esperar uma resposta, apressei o passo rezando para que ele não me seguisse e ele não fez.

Subi as escadas do Morgan e entrei no quarto fechando a porta, jogando a mochila no canto e caindo na cama. Não notei que estávamos com visitas até alguém limpar a garganta na cama do outro lado do quarto me fazendo enrijecer, me desculpar e sair tão rápido como entrei, amaldiçoando Taylor por não trancar a porta, amaldiçoando a mim e a Maxon, porque de alguma forma ele tinha culpa de tudo isso.

Sentei no corredor abraçando minhas pernas e apoiei o queixo nos joelhos encarando a parede em minha frente, tentei manter meus olhos abertos, tentei não cair no sono que estranhamente estava presente vinte e quatro horas do dia comigo. Eu não tinha fome, tinha sono. Não tinha vontade de sorrir, tinha de dormir. Não estava preocupada com o final do semestre e sim com quantas horas irei dormir até lá.

Eu estava realmente amaldiçoando Maxon por tudo isso.

— Karlla. – a voz me fez enrijecer, abrir os olhos e perceber que eu estava cochilando sentada no chão do corredor. Ergui o olhar e o vi em pé me observando, a roupa deixando-o tão sexy e charmoso. Seu rosto, com barba por fazer mas o mesmo cabelo bagunçado, o mesmo olhar. – Porque está aqui? – perguntou ao se aproximar.

— Minha colega de quarto está com visita e como não estou com vontade de entrar na brincadeira, preferi esperar aqui. – respondi voltando a encarar a parede, que além da cor branca, além de algumas rachadoras e falhas, era mais atraente para mim nesse momento do que Maxon.

Ele suspirou.

— Está amiga do Leger agora? – perguntou ao sentar ao meu lado.

— Pode ser. – respondi testando como andava minha indiferença em relação a ele, tentando parecer não me importar com ele, com seus sentimentos ou os meus sentimentos.

— Pode ser? – ele perguntou me encarando com uma sobrancelha erguida. – Como assim pode ser?

— Você ouviu Maxon, pode ser que sejamos amigos. Pode ser que não. Ainda não decidi isso. E quanto a você? – perguntei me virando para ele. – Dificuldades para voltar a antiga vida? – perguntei com um sorriso – extremamente – falso que eu queria deixar bastante visível para ele.

— Na verdade não. – Maxon respondeu passando uma mão pelo cabelo. – Até porque não teve tanta diferença, teve? Nós saímos, nós bebíamos, nos divertíamos.

— Eu já entendi. – interrompi.

— A diferença é que eu me importo com você. – ele disse encarando a parede. – Ainda me importo o bastante para vir saber se está bem. – ele se virou para mim, mas não arrisquei falar ou encará-lo. – E eu preciso te dizer uma coisa.

— O que? – perguntei curiosa.