Talvez nem meu pai acreditaria se eu falasse que estava conversando com Leonor Estrela. Talvez, se minhas amigas não estivessem lá, elas também não acreditariam e eu queria tirar fotos com ela, mas estava com medo de assustá-la. Queria pedir um autógrafo, mas não queria ser rude. Não queria afugentá-la. Robert parecia tranquilo ao seu lado, sorridente enquanto falava sobre algo que eu não estava interessada em ouvir – mesmo sorrindo e concordando com a cabeça – estava mais interessada em olhar Leonor Estrela, saber que ela estava em minha frente, que ela havia me abraçado e falado com tanta simpatia. “Estamos aqui a algumas semanas” foi o Alec disse. “Não tem homens bonitos aqui?” Bea perguntou a nós, tão íntima e divertida. Eu poderia respondê-la, falar sobre a família Maddox e os irmãos que ela precisava conhecer, mas o ciúme de dividi-los era maior do que qualquer coisa. “Vamos sair algum dia” Manu disse, ela parecia natural para uma fã. “Eu adoraria conhecer seus amigos” Magnus disse a Robert, fazendo Alec revirar os olhos e as duas meninas rirem como que entendendo uma piada interna. E eu ri, porque queria entrar no grupo, queria ser um deles, queria ser amiga deles.

— Oi pessoal. – era Conor e seu cabelo loiro quase branco, um sorriso enorme no rosto e um brilho nos olhos, que eu poderia arriscar ser por Leonor. – Achei que vocês não viessem. – disse as duas.

— Magnus praticamente implorou. – Bea respondeu com um sorriso. – Já conhece nossas amigas? – ela perguntou fazendo-o olhar para cada uma de nós, escondendo um sorriso divertido.

— Claro, Beatriz. Estamos na mesma faculdade. – ele respondeu com uma gargalhada que me fez rir, não para ser amiga dela, mas por ser contagiante demais. – Oi meninas. – Conor disse a nós, se aproximando para um beijo no rosto.

— Oi. – Camila respondeu, eu poderia ter falado algo se não tivesse embriagada com o cheiro do perfume dele.

A noite passou e estávamos sentados em volta de uma mesa com inúmeras doses de tequila e conversas fiadas, conversas sobre a vida profissional da cantora que se tornou minha amiga. Sobre a vida amorosa do Magnus e Alec, mesmo este não gostando tanto de comentar. Conversas sobre Beatriz e sua enorme vontade de permanecer mais tempo, sobre Camila e Manu a convidarem para uma tarde no shopping e não havia conversas sobre algo ruim, triste ou misterioso. Conversávamos sobre o lado bom da vida. Não havia Maxon ou algum Maddox. Não havia mensagens, jogos, mortes e apenas coisas boas.

Robert estava sorridente e conversava mais do que o normal com Leonor, mesmo assim estava feliz por ele porque além de tudo, além de fraternidade o impedindo de amar uma garota, além do jogo idiota e da fase idiota, ele estava feliz.

Conor estava sentado ao meu lado, embriagando qualquer um com seu perfume, encantando qualquer uma com seu sorriso charmoso, o aceno de cabeça ou até mesmo o piscar de olhos. E por Deus, espero que ninguém tenha me notado encarando-o mais que o permitido. Porque de alguma forma ele me acalmava. De alguma forma inexplicável eu não lembrava o jogo, a aposta, a promessa. E de alguma forma eu não percebi quando levantamos da mesa para dançar. “Eu adoro essa música” Leonor disse levantando de sua cadeira, rodando o indicador no ar e balançando – desajeitadamente – seu corpo. Robert levantou no mesmo instante a seguindo, Conor fez o mesmo e lá estávamos todos nós dançando na pista de dança. Balançando os braços e corpos, sorrindo para a falta de prática, gargalhando para os passos estranhos que cada um chegava a fazer.

— Eu não sei dançar assim. – gritei para Conor em minha frente.

Ele imitava os passos do Elvis Presley e sorriu quando me ouviu dizer.

— Deixe a música te levar. – ele gritou de volta, fazendo algo como Michael Jackson provocando gargalhadas a quem o assistia. – Me deixe mostrar. – pediu puxando minhas mãos para ele, descansando meus braços em seu ombro e deslizando suas mãos até minha cintura.

Eu já não sabia como estava dançando, mas imitava seus passos para lá e para cá. Conor sorriu orgulhoso e antes que eu pudesse pensar em me libertar dele, ele me puxou para mais perto. Perto o bastante para sentir seu peito subir e descer com a respiração. Perto o bastante para sentir seu cheiro em seu pescoço. Perto o bastante para ele sussurrar em meu ouvido.

— Fica comigo. – foi o que ele disse.

Meu corpo enrijeceu, minha mente dava voltas e meu estomago estava cheio de borboletas.

— O que? – perguntei ao afastar minha cabeça o suficiente para encará-lo.

Seus olhos azuis brilhavam para mim, seus lábios se erguiam em um sorriso e uma mão viajou até minha nuca, puxando meus cabelos, forçando minha cabeça permanecer ali pronta para ele.

E eu permaneci.

Estávamos nos beijando no meio da pista de dança e eu não me importava. Sua mão viajava pelas minhas costas e eu estava adorando. Seus lábios puxando os meus, sua língua confrontando a minha, seu halito, seu cheiro. Não me importava se tínhamos espectadores, não me importava com nada além de seus beijos. “Vamos sair daqui” foi o que eu disse entre o beijo, sentindo-o enrijecer em suas mãos e concordar mesmo assim, apanhando minha mão e com um sorriso maldoso me puxando para fora dali.

— Karlla. – a voz me fez enrijecer dos pés a cabeça.

Me trouxe toda lembrança dos dias anteriores, da aposta, da promessa, das mortes, do jogo. Maxon estava ali, parando com as mãos nos bolso frente para mim, desviando seu olhar para Conor. – Conor. – ele disse tão sério, tão – irritado.

— Max! – Conor exclamou animado, sem perceber o clima, sem perceber que Maxon poderia matá-lo com um olhar. – O que está fazendo aqui? Achei que só fosse te ver no baile.

— Não sei o que vim fazer aqui, na verdade. – Maxon respondeu coçando a nuca, nervoso. – E você Karlla?

Eu estava muito bêbada.

— Vim conhecer Leonor Estrela. – gritei animada fazendo Conor sorrir.

— Vem sentar com a gente, Max. – Conor pediu e eu queria balançar a cabeça freneticamente mas não poderia porque era Maxon Maddox, meu Maxon. Meu Maddox.

— Eu já devo ir. – Maxon falou encontrando meu olhar.

— Já? O que aconteceu com o nosso Maddox? – Conor perguntou irônico, deixando suas mãos na cintura ao encará-lo.

Maxon sorriu e concordou com a cabeça.

— Pois é. Ele mudou faz um tempo. Te vejo depois Kar. – Maxon disse ao se virar e sair pela porta.

Minha noite já não foi a mesma, eu não conseguia sorrir para Conor ou beijá-lo. Não conseguia pensar em mais nada a não ser em Maxon. Não consegui ser a mesma e notando ou não, Conor não comentou sobre o assunto e preferiu conversar do que qualquer outra coisa. Não demorou muito para que eu voltasse ao Morgan – de carona com Conor – e agradecida por ele não tentar nada, agradecida pelo beijo no rosto e por não insistir em descer comigo.

Eu sabia que – agora – tinha minha vida, que não precisava se importar com Maxon, mas era tão difícil. Era angustiante saber que ele está naquele jogo demoníaco e sem mim. Era triste não saber o que ele estava fazendo agora e o pior era está longe dele, porque além da aposta que havia feito com Aaron, além da minha promessa, além de qualquer mulher ou homem, além do nosso passado, eu gostava dele. Gostava o suficiente para conseguir esquecer, o suficiente para ser forte, o suficiente para me permitir chorar.

— Kar. – a voz me fez querer gritar, apressar ao abrir a porta do Morgan e me trancar no quarto, mas ao invés disso me virei para ele.

Maxon estava com a mesma roupa, as mãos nos bolsos no primeiro degrau da escada. Seus cabelos desarrumados me deixando louca, seus olhos castanhos me olhavam tão tristes e seus lábios não estavam sorrindo.

Não. Aquilo não era um sorriso.

— Maxon? O que está fazendo aqui? – perguntei sem sair do lugar, apreensiva demais com o que eu poderia fazer.

— Recebi uma mensagem dizendo que você estava lá. Só não sabia que era com Conor. – ele disse fazendo careta no nome, me deixando nervosa.

— Mensagem de quem? – era a única coisa que eu queria saber.

— Isso não importa. – Maxon respondeu subindo lentamente cada degrau, sem tirar os olhos dos meus. – Você foi com ele?

— Fui com minhas amigas. O que iss...

— Oh. – ele suspirou aliviado jogando seus braços em minha volta, tão apertados, tão seguros e ao menos tempo apreensivos.

— Está tudo bem? – perguntei ao sentir sua respiração cortada.

— Não. Não está tudo bem.

— Maxon. O que aconteceu? – perguntei ao me afastar o suficiente para encará-lo, suas mãos pesaram em minha cintura e eu sabia que não estava tudo bem. – Porque você est...

— Me desculpa.

— O que? Pelo o que? – perguntei nervosa. Maxon deu um passo para trás e ergueu as palmas de suas mãos, vermelhas em carne viva, marcadas com linhas rosadas que destacavam em sua pele branca. Minha cabeça estava rodando e achei que fosse vomitar.

— Maxon! – exclamei chocada, as mãos na boca impedindo qualquer coisa que viesse de dentro.

— Me desculpa. – ele disse mais uma vez. – Eu tentei abrir aquela caixa, mas é impossível. Tentei o que pude.

— M-mas... – parei por um instante e respirei fundo segurando delicadamente cada mão, encarando cada traço ferido. – Como isso aconteceu? – perguntei confusa, nervosa, chocada.

Maxon riu sem graça e as puxou para dentro de seu bolso.

— Tinha algo na fechadura, algo que me queimou e mesmo que eu tentasse abrir de todos os jeitos, acabou que... – ele parou e suspirou profundamente, encolhendo os ombros. – Vai ficar uma puta cicatriz.

Eu queria dizer que não importava. Queria gritar e bater em alguém. Queria fazer aquela dor que ele sentia desaparecer. Porque Maxon não merecia nada do que estava acontecendo. Maxon estava tentando me ajudar e se machucou.

— Por favor. Me desculpa. – ele pediu mais uma vez, me encarando com seus olhos tão tristes, seus ombros mostrando o quanto estava decepcionado.

Ou chateado.

Ou derrotado.

Tentei engolir o nó na garganta mas já era tarde demais, as lágrimas embaçaram minha vista e me joguei nos braços dele.