Finalmente o som de fechadura aberta aliviou todo meu corpo, me libertei dos ferros nos pulsos e corri até Celeste, não vi seu rosto ao tentar encontrar a chave para a sua fechadura, mas arriscaria dizer que ela estava surpresa e o mínimo que eu poderia fazer era tirá-la dali, depois de ter me ajudado. Ao conseguir desprendê-la ela se ergueu rapidamente e correu até o corpo estirado no chão chutando o rosto, a costela e as pernas de Adam antes de irmos até a porta. Eu poderia agradecê-la por isso, poderia sorrir e erguer o polegar para ela, mas estive tão focada que não lembrei, fechei a porta com a chave e as guardei no bolso, o próximo passo era encontrar Maxon.

Celeste me guiou além das escadas do subterrâneo para o primeiro andar, além dos corredores iluminados por luzes em cada parede vinho, além dos cômodos e portas fechadas que não me atrevi a perguntar o que eram. Estávamos na casa de uma fraternidade e não havia nenhuma mulher passeando por ali, não havia qualquer som em toda casa e por um instante achei que estivesse sendo levada a uma armadilha, achei que fosse ser traída pela pessoa que andava silenciosamente em minha frente.

Entre esquerdas e direitas, salas de jantar e cozinha, Celeste parou em uma porta discreta da mesma cor que todas as paredes dali, respirou fundo e se virou para mim. “Talvez não seja nesta sala” foi o que me disse e eu iria perguntar do que ela estava falando até perceber que ela havia me levado até Maxon, que ela estava me ajudando a encontrá-lo, a salvá-lo e por um segundo lágrimas vieram até meus olhos. Concordei com a cabeça e tirei o molho de chaves do bolso entregando-as a Celeste que, como se já soubesse qual usar, não demorou muito para encontrar a chave para a fechadura da porta. Ela respirou fundo mais uma vez ao ouvir o som de trinco aberto e empurrou a única entrada que me separava de Maxon, empurrou a porta brutalmente me deixando ver o que havia ali sem que entrássemos porque ela estava apreensiva com o que iríamos encontrar e aquilo era como um aviso para mim, para que eu veja antes que pudesse fazer alguma coisa.

A sala minúscula era conhecida e a imagem da sala branca me veio a mente no mesmo instante, a imagem do lugar iluminado demais, pequeno demais e perigoso demais. Havia sido naquela sala que And me contara sobre Júlia e Maxon, havia sido ali que Adam me chicoteou e era ali que Maxon estava.

Meus olhos se encheram de lágrimas, minhas mãos estavam apertadas em minha boca e o nó na garganta estava aumentando. Eu não conseguia respirar meu coração estava parado, morto e congelado com aquela cena. Celeste olhou para mim com ternura e arriscou colocar uma mão em meu ombro, mas eu não conseguia sentir seu toque, não conseguia sentir meu corpo, não conseguia acreditar. Meu estômago revirava, minha mente estava rodando e minhas pernas ameaçaram cair. “Karlla?” era Celeste me chamando, preocupada com aquele silêncio, preocupada com o que poderia acontecer e eu não estava pronta para respondê-la, me segurei ao lado da porta e observei todo aquele lugar, o teto branco com a luz forte, as paredes brancas que agora estavam num tom de vermelho até alguns metros do chão e o chão...

O chão branco e limpo estava sujo de sangue.

Sangue Maddox.

O soluço veio em minha garganta e eu o ignorei, corri até o corpo caído no canto da parede e me ajoelhei ao seu lado chorando por tudo, chorando por ele, chorando por nós. Não me importei com o moletom sujo de sangue, com um pé sobre a poça de sangue, não me importei e não poderia porque era meu Maxon ali, era o amor da minha vida e eu estava desesperada, soluçando e tremendo, deixando as lágrimas escorregarem em meu rosto, o nó na garganta insuportável e tentando acordá-lo, chamando seu nome, chorando ainda mais sentindo-o mole, puxando-o para meus braços e chorando por não querer perdê-lo, acariciando seu rosto sujo de sangue e chorando por querer seus olhos abertos e olhando para mim.

Lembrei de quando o vi pela primeira vez, não na saída do Morgan mas antes das aulas, havia visto conversando com dois homens que só agora percebi que era Aaron e Sebastian, lembro de tentar ignorá-los mas era impossível e agora sei o quanto os Maddox me encantavam, o quanto Maxon me encantava. O apertei em meus braços e pedi por favor que ele acordasse, pedi entre as lágrimas que ele sorrisse para mim e lembrei da noite no Setor 45 de seu sorriso charmoso e estratégico, suas covinhas e suas palavras “Ouvi dizer que na terceira vez em um mesmo dia, dá casamento.” E sorri entre as lágrimas porque queria casar com ele, queria ficar com ele para sempre, queria tê-lo ao meu lado, queria que ele voltasse para mim. “Maxon, acorde” pedi com a voz trêmula e entrecortada pelos soluços, apertando-o cada vez mais em meus braços, encostando minha cabeça em seu cabelo molhado de suor.

— Karlla. – Celeste chamou da porta da sala, revezando seu olhar entre os corredores e a nós.

— Max! – exclamei deitando-o no chão, apertando suas bochechas em minhas mãos e o encarando, esperando que ele acordasse, esperando que ele abrisse os olhos. – Ele não está respirando! – gritei a Celeste.

— Ele só está desmaiado. – ela disse olhando os corredores.

— Ele não respira. – choraminguei afundando o rosto em seu peito.

Eu não poderia aguentar viver sem ele, não iria conseguir continuar sem tê-lo comigo, não saberia viver sem seus sorrisos, seus braços em minha volta, não poderia vencer algo sem saber que ele estará lá me protegendo e eu não iria a lugar nenhum sem ele. Não sairia sem Maxon.

— Por favor, acorde. – sussurrei em seu peito. – por favor, meu amor.

— Karlla! – Celeste exclamou apressada, ignorei-a fechando os olhos envolvendo um braço pela cintura dele, apertando meu rosto em seu peito, apertando os braços em sua volta e rezando para Maxon viver, chorando e prometendo não o colocar em perigo outra vez.

— Por favor meu amor.

Eu não poderia deixá-lo ir, não poderia deixá-lo morrer sem ter falado meus sentimentos a ele, sem dizer o quanto o amava, o quanto estava feliz e grata por tê-lo conhecido, por tê-lo em minha vida. Precisava informar que nunca deixei de pensar nele, que eu havia quebrado a promessa quando nos beijamos, que nossa primeira vez estava sempre em minha mente, que seus sorrisos eram tudo o que me faziam sorrir. Queria dizer que trocaria minha vida pela a dele, que eu faria tudo para salvá-lo, tudo para trazê-lo de volta. Queria dizer tanto e de repente o mundo congelou em nossa volta, meu corpo gelou e travou ao sentir uma mão em minhas costas, ao senti-la pesada e confortável, segura e protetora.

Ergui a cabeça rapidamente e não poderia acreditar, não conseguia acreditar. Sabia que meu queixo estava caído e meus olhos arregalados em surpresa, sabia que estava chorando mas que se dane, ele estava erguendo os cantos dos lábios permanecendo de olhos fechados e a respiração fraca.

Meu Maxon. Meu. Meu Maddox.

Me arrastei até seu rosto, puxando-o novamente para mim, para meu amor, meus carinhos. “Maxon?” Falei apreensiva por ter imaginado aquilo, encarei seu rosto, suas mãos e as vi se mexerem deixando meu coração acelerado, completamente louco.

Uma respiração profunda.

— Tive que apanhar para ouvir você me chamar de amor. – Maxon disse sem muito movimentar os lábios cortados e eu sorri e chorei aliviada e feliz por não perdê-lo.

— Meu amor. – sussurrei em seu rosto fazendo-o sorrir e que se dane tudo o que estava acontecendo, que se dane se Celeste estava lá fora eu só precisava cuidar dele, precisava ajudá-lo e antes de tudo, beijei seus lábios, seus olhos e sua testa. – Vou te tirar daqui.

— Não tem como sair. – Maxon disse em um sussurro, a respiração fraca e todo seu corpo ainda imóvel. Neguei com a cabeça acariciando seu rosto tomando cuidado nas partes feridas, em seu nariz, seus lábios bastante machucados. – Não tem saída. – ele repetiu.

— Vou achar, meu amor. – falei confortando-o o quanto poderia. – Celeste. – falei erguendo o olhar a porta. – Celeste? – perguntei nervosa a não vê-la ali.

Voltei a olhar para Maxon ainda com os olhos fechados, ainda com um sorriso nos lábios e ainda com uma mão em minhas costas tão calmo, tão tranquilo mesmo com todo aquele sangue. O abracei mais forte confortando-o para checar o que havia acontecido, Celeste não poderia ter ido embora sem nós, ela não poderia ter feito isso comigo.

— Meu amor, eu volto daq...

— Atrapalho? – a voz trouxe um frio a minha espinha, me fazendo erguer a cabeça rapidamente em direção a porta e quase cair para trás com a surpresa de ver Daniel parado na porta do cômodo, conseguia ver Adam com um braço em volta ao pescoço de Celeste e minhas chances de sair dali evaporaram. – Ia embora tão cedo, irmã? – ele perguntou com um sorriso debochado no rosto.