Mais algumas horas conversando e cada uma seguiu para seus respectivos quartos. É claro que Júlia sentia algo por mim e com certeza não era afeto ou simpatia, ela estava do mesmo modo que eu estaria se terminasse com alguém ou amasse platonicamente um garoto e mesmo assim, ninguém se atreveu a perguntar sobre isso. Poderia ter sido o tal do professor, minhas teorias poderiam está certas em relação a eles de qualquer forma.

Já Letícia era com certeza alguém que eu queria conversar mais vezes, ela era sorridente demais, poderia me deixar irritada em meus momentos de TPM, mas iria adorar tê-la como amiga. Ela estava no mesmo corredor que Manu e Larissa, mas não havia falado nada sobre sua colega de quarto. Quanto a minha, Tay não estava quando cheguei no quarto e suspirei aliviada caindo na cama. Ela provavelmente estaria comemorando com os Ômegas e senti uma pontada de inveja, a promessa me impedia de amar, mas não de querer uns amassos no corredor.

Afundei o rosto no travesseiro e só acordei quando ouvi a porta do quarto ranger lentamente. Parecia um filme de terror, onde a luz do corredor ilumina apenas minha cama e meu rosto confuso, uma única sombra apareceu na porta e quando eu estava prestes a gritar, Tay acendeu as luzes que me fazer cobrir o rosto com o cobertor.

— Que horas são? – choraminguei.

— Quase cinco. Ka, meu amor. Kate da minha vida. Preciso de um favor seu. – ela disse suavemente se ajoelhando ao lado da minha cama.

Revirei os olhos e suspirei.

— O que é?

— Preciso de uns minutos. – ela disse, ouvi um coçar de garganta e ao tirar o cobertor do rosto vi um homem esperando na porta, ele sorriu, acenando com a mão.

— Cinco minutos? – perguntei a ela.

— Dez! E eu te amarei para sempre. – disse me puxando pelos braços.

Como se eu fosse precisar de mais alguém me amando e me pedindo para acordar de madrugada e deixar meu quarto. Peguei meu casaco, calcei os tênis e sai com a calça de moletom para o frio que era aquele corredor, algumas meninas estavam voltando da comemoraçãozinha passando pela porta de entrada do Morgan. Me encostei na parede ao lado do quarto esperando pacientemente minha colega de quarto terminar o que fazia. A luz da manhã já entrava pelas brechas da porta me fazendo levantar para me esticar, pensei em bater e apressar as coisas ali, mas me contive, afinal, se fosse eu no lugar dela, com certeza iria odiar. Respirei fundo passando as mãos no rosto e antes de voltar a sentar, Letícia apareceu no fim do corredor.

— Ficou presa do lado de fora? – ela perguntou se aproximando, usava jeans claros, uma blusa com casaco florido e uma coroa de flores no cabelo. – Está um lindo dia lá fora. – disse sorridente.

— Ah, eu com certeza prefiro a noite. – falei, ela sorriu e assentiu com a cabeça. – Estou indo tomar café, quer ir? Tem uma cafeteria aqui perto e tenho que dizer, só tem do melhor. – eu sorri e olhei para minha roupa, Letícia percebeu e completou rapidamente. – Você está ótima, vamos. – e me puxou pelo braço até o lado de fora.

Caminhamos por cerca de dez minutos e a única coisa que me passava pela cabeça era o “aqui perto” que ela havia dito. Letícia nem ao menos notou minha carranca ou ignorou, falando sobre seu curso de Botânica – o que explicava suas roupas – e o quanto adorava a cidade. Tive que confessar que não a conhecia muito bem, havia chegado há dois dias e o único lugar além da faculdade que eu havia ido era o Setor 45, praticamente o ponto de encontro dos alunos. Ela afirmou conhecer, mas rapidamente avisou que não gostava do lugar, preferia campo aberto, flores e natureza.

Com certeza ali tinha muito disso.

— Por favor Kate, me mande parar se você não aguentar minha voz. – ela pediu com um sorrisinho, eu sorri de volta e antes de responder algo, lá estava ela voltando a falar outra vez.

Eu não era uma boa companhia pela manhã e estava aliviada por apenas ouvir. Ao chegarmos à cafeteria, Letícia pediu um chá e sanduíche vegetariano, eu apenas um café quente e sentamos a mesa vaga ao lado das grandes janelas que davam para a rua.

— O que tem nesse sanduíche? – perguntei fazendo uma careta. – Folha? – ela riu e deu uma mordida mostrando alface, peito de frango e bacon.

— Bacon? – perguntei chocada, Letícia deu de ombros como se ouvisse minha pergunta não dita e voltou a comer.

Ficamos em silêncio ouvindo o gole do café ou o mastigar do sanduíche até a porta da cafeteria abrir e um sino tocar atraindo nossos olhares curiosos.

— Letícia! – ela gritou fazendo todos se virarem para nossa mesa e me assustar. Letícia era maluca? Olhei para ela com a minha cara de "você não é normal" e não vi a garota que havia entrado com dois homens se aproximar saltitante.

— Letícia! – ela falou pulando para um abraço. Eu estava confusa, olhando de uma para a outra completamente atordoada. Letícia riu e limpou a garganta.

— Kate, esta é Lethicia. Com h, ok? – as duas riram e eu concordei ainda atordoada. – Leth, esta é Kate. Ela está no Morgan. – Lethicia com h, me olhou por um instante e abriu um grande sorriso que ia de uma orelha a outra.