A noite anterior ainda era um borrão quando acordei zonza e sem forças para desligar o despertador na pequena cômoda ao lado da cama. Tay choramingou em sua cama do outro lado do quarto me obrigando a levantar e desliga-lo ainda grogue de sono. Me arrastei até o banheiro com a cabeça pesada e os pés doloridos, depois do banho eu estava quase nova em folha.

— Kat... – Lari disse abrindo a porta do quarto e então parou. – Posso entrar? – a pergunta me fez ri.

— Tay está no banho. – avisei arrumando a mochila. Larissa soltou um suspiro aliviado e entrou fechando a porta atrás dela.

— Ufa. Eu nunca vou esquecer aquela cena. – disse caindo em minha cama ainda desarrumada, concordei com a cabeça sem conseguir disfarçar o sorriso. – Estou com vergonha por ela. Juro.

— Eu também vi. – falei fechando o zíper. – Mas nada que ela se envergonhasse. – completei revirando os olhos. Larissa me olhou franzindo a testa e automaticamente olhei para o espelho procurando algo de errado. – O que foi?

— Você nem parece que bebeu ontem.

— Nem você. – respondi rapidamente. Lari levantou lentamente da cama e bocejou.

— Não sei como estou de pé. Ou foi a vontade de sair do mesmo quarto que aquela garota ou foi a água quente. – fiz uma careta, Larissa não estava sendo irônica e era difícil ela não se dá bem com alguém.

— Quem é sua colega de quarto?

— Celeste Newsome. – respondeu revirando os olhos. – Ela é simplesmente... Terrível. Acha que estou lá para fazer tudo o que ela quer.

— Jura? – perguntei indo até a porta.

— Juro. – Lari respondeu me seguindo, passou pela porta quando a abri. – Eu não sei por que ela não está em uma dessas fraternidades. Ela é a cara dessas... Pessoas.

— Pode falar Larissa. Diga que ela é uma... – parei ao ouvir o som de salto alto ecoar no piso de mármore do corredor.

Lari e eu olhamos na direção quase que instantaneamente, uma garota de longos cabelos castanhos apareceu. Ela andava como se estivesse em uma passarela, segurava uma bolsa Louis Vitton na dobra do braço e nem ao menos olhou quando passou por nós. Virei para Lari que com o olhar já disse tudo.

— Bom dia. – falei a garota que continuou a andar e bateu a porta da frente quando passou.

— Eu disse. – Lari falou indo até a porta do quarto de Camila.

— Que vadia! – sussurrei me encostando a parede ao lado da porta.

Manu apareceu apressada no corredor no mesmo instante que Camila abriu a porta com sua mochila em um ombro. As aulas continuaram sem muito assunto, poucos professores começaram a dá matéria e pouquíssimos alunos estavam interessados nas aulas. No refeitório, sentamos na mesma mesa e por um ridículo momento me peguei procurando Maxon entre as inúmeras cabeças que haviam ali.

Nas aulas depois do almoço, apenas uma foi a que mais me interessou por que, além do professor ser extremamente novo para o cargo, era bonito e tinha lindos olhos azuis por trás dos óculos de grau. Sua aula era de História Geral e ao invés de discutir o plano de ensino, ele preferiu conversar conosco. A princípio, a ideia de responder perguntas sobre guerras, presidentes e história do país me deixou nervosa, mas assim que a primeira pergunta veio e era tão fácil, todos os meus músculos relaxaram. Consegui responder duas perguntas entre várias que ele havia dado e era a primeira aula em que todos os alunos participavam sem a mínima pressão.

— Gostei muito dessa turma. Por hoje é só pessoal. – o Sr. Herondale disse.

A sala inteira se levantou como um foguete e eu atônita com tanta beleza, fiquei por último arrumando minha mochila. Levantei da cadeira distraída, esbarrando acidentalmente no professor que ia em direção à porta. Ele me segurou para não cair e eu mal podia conter o choque, achei que estivesse sozinha! Sorrimos sem graça e voltei a ficar de pé puxando uma alça da bolsa para o ombro.

— Will? – a voz veio da porta fazendo tanto o professor, como eu olharmos assustados em direção a ela.

Era uma aluna. Eu me lembrava dela na recepção dos calouros e o estranho foi se referir ao professor de forma tão intima. O Sr. Herondale se distanciou a meio metro de mim, era impossível não notar sua cara de choque.

— Não é o que está pensando. – ele disse rapidamente.

Mas o que ela estava pensando? Ela é só uma aluna!

— Ah não? Você quer adivinhar o que eu penso? – ela me olhou como se fosse atear fogo com os olhos e continuou. – Adivinhe este. – se virou e saiu com passos pesados. Olhei pelo canto do olho e vi o professor rígido, talvez pensando no que fazer.

— Desculpe. – sussurrei antes de sair apressada da sala. Não precisei olhar para trás para saber que ele a seguiu.