37 – Eu sou a tempestade.
Fui até o nosso prédio, e entrei no elevador, secando meu Ark encharcado – acredite, nunca queira ver um Hyperion encharcado... ele fica muito... volátil: ou seja, TREINADO PARA MATAR.
Minha camiseta estava arruinada – AAARG!
Cheguei ao corredor, enquanto Ark se aninhava em meu ombro e estavam lá: Fred e Hope tentando falar com Melanie trancada.
- O que tá rolando? – perguntei.
- Ah! Benny, finalmente você voltou! – disse Hope, me abraçando, e recitou um pedaço de um livro que ela estava lendo... Já mencionei, que depois que Zoe morreu, Hope tinha se tornado uma nerdtotal? Yeep, ela leu todos os meus livros – duas vezes – e ainda mais uma coleção com o nome desconhecido. Sem contar as passagens de Ilíada de Homero, que era o seu favorito: CHEEEGA! – Já estávamos achando que você iria ficar no mundo dos imortais...
- Melanie... abra a porta, queremos falar com você. – resmungou Fred batendo na porta e me dando ‘oi’ com um aceno.
- EU NÃO QUERO FALAR COM VOCÊS!
- Qual é a dela? – revirei os olhos, com meus cabelos pingando.
- Ela está assim deste de Denny sumiu, Benny.
- NÃO FALE O NOME DAQUELE... Peraí, Benny?
- E aí, berrenta? – falei através da porta.
A porta se abriu de vagar. – Entre Benny, quero falar com você...
- Ah, maravilha Melanie, passamos a tarde toda tentando falar com você, e depois só abre a porta pra ela. Até mais, chatolina. – resmungou Fred entrando no quarto deles.
Entrei no quarto bagunçado – ou melhor – metade bagunçado, metade vazio;
- Eu sinto muito. – disse, afagando Ark, sem parecer sentir mesmo.
- Eu vou superar; - ela disse, limpando o rosto. – Mas... e como você está?
Era uma pergunta ótima.
- Eu ainda não sei, Mel. É complicado, entende?
- Imagino. Todos seus amigos esconderem de você o que você realmente é, e depois saber que toda sua vida... foi enganada. É mesmo complicado.
- Você não está ajudando.
- Desculpe.
Me sentei em sua cama e observei o teto.
- Pra onde foi Ariela? Não é ela, a responsável pela enfermaria?
Mel me analisou. – Sim, ela foi á Chicago. Queria que você fosse com ela, mas... acabou não voltando á tempo. Sharon foi no seu lugar...
- Sharon é uma vadia impostora. Não ligo pra isso, mas... Ela foi fazer o que exatamente em Chicago?
- Houve uma transformação na Academia Preparatória George Mensen. Era onde você estudava, não é? – ela mordeu o lábio.
- Yeep. – fechei os olhos e implorei: ELE NÃO! PELO AMOR DE ÉPHIRA MINHA PROVÁVEL MÃE, ELE NÃO.
- Você está legal?
- Claro. Eu só estou um pouco atordoada. – Ark ronronou em meu colo, como um gatinho, enquanto eu analisava meu anel.
- Otróplia, não é? – ela sorriu.
- Como sabe?
- Todos sabíamos, que a herdeira nasceria com o nome gravado na Otróplia em hipogrifoliano.
Bem... hã?
- Eu não consigo me acostumar á não saber de nada. – bufei.
- Acho que não sabemos muito mais, á partir de agora. Só que... – ela cortou abruptamente, ajeitando os cabelos, como se fosse, a coisa mais importante á fazer naquele momento. Haah! Por Ares, ela não poderia ser mais irritante?
- Só que o que? Se você disser que não pode me contar, eu juro que vou tostar a sua cara. – bufei.
- Não gosto muito de falar disso com ninguém. Na verdade, ninguém gosta. É meio que... o começo dos juízos. – ela tapou os olhos – Quando os Extradotados começam a ser... Escolhidos e aniquilados.
- Isso é bobagem.
Se há alguma coisa que eu não acreditava, eram em previsões de catástrofes... como a de 2012 por exemplo. Que grande porcaria, companheiros!
Melanie e eu jogamos conversa fora... falei sobre minha estadia no topo do arranha céu, e as conversas com Éphira e Apollo. Melanie me falou sobre o tempo. Que os deuses e seus pupilos, quando estão longe do mundo mortal, se esquecem por completo da noção do tempo.
Logo saí do quarto, e me despedi dela, dizendo que homens – em sua grande maioria – são uns porcos fedorentos... ele era assim. Não me faça citar nomes, companheiros.
Logo fui para meu quarto... mas na antes de passar da porta. Olhei para aquelas fotografias.
“Iceberg & Profetisa”
Estava escrito, como da primeira vez que eu li. As letras bonitas e aquelas duas fotos... Faziam sete meses queeu estava aqui. Olhei pata minha foto e me vi... á sete meses atrás. Era possível crescer tanto em tão pouco tempo?
Meu cabelo estava beeeeem mais comprido, e as mechas rosa flamingo, me davam um tom engraçado. Minha pele era pálida como leite – mas um leite delicioso, okay? – e agora ela era quase um caramelo. Meu busto era pequeno – quase como os de Suzie-Ervilha... – e agora tinham dobrado de tamanho – seus amigos, como Joe os chamou uma vez. Yeeeep, constrangedor. Meu olhar na foto, era como uma criança brincando de ser adulta – e sexy – quase como se... o antes e o depois fossem duas pessoas, completamente diferentes. Antes, a menininha filha de Lílian. Depois, a guerreira filha de Éphira.
Me doeu pensar naquilo. Quase como se esfaquear uma grande parte da minha vida. Dizer um: “Hey, mãe, pai, meus pais biológicos apareceram. Até loguinho!” Me desvencilhei desse pensamento e analisei o Joe de ontem e hoje.
Joe era um garotinho de pele clara e cabelos encaracolados, com um projeto de abdômen. Ele não era muito alto e tinha um sorriso branco e inocente. Os olhos eram tão profundos como uma poça d’água. O Joe de hoje, tinha abdômen super definido – mas conservara seu olhar de cachorrinho que caiu da mudança – aqueles cachinhos, tinham se tornado maiores e mais desgrenhados, não sendo exatamente... angelicais. Os olhos verdes, de agora, eram mais profundos e experientes, como se toda a coragem e o carinho – por moi – que ele sentia, estivesse se evocando naqueles dois pontos enormes e lindos. Seus belos e lindões olhos verdes.
Suprimi um soluço, e entrei no quarto. Ark pulou em minha cama, e não demorou nenhum segundo – e minha criaturinha cor caramelo e sem boca, estava dormindo profundamente.
Olhei alguns segundos para ele, e logo me desvirtuei.
Procurei pelo meu celular, e encontrei uma coisa que me deixou pior. Com o coração sangrando muito mais.
“19 ligações perdidas de: Mãe”
Um lado de mim tetou clicar em call mas o outro lado, me impediu. O que eu diria pra ela agora? Nada estava certo como eu gostaria...
Joguei meu celular contra a parede, olhei a chuva cair. Olhei a tempestade – muito rara em Los Angeles... que eu estava causando.
Uma tempestade de emoções.
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