Paris, fevereiro de 1825.

Uma semana havia se passado e era o dia o baile. Para os franceses era um dia de festa, finalmente um baile aberto todos, além de que estavam ansiosos para verem a princesa. Contudo, para os Amis ainda era um dia para seus discursos habituais. Em cima de um caixote como um palco improvisado, Enjolras fazia seu discurso contra a monarquia e contra o regime absolutista. A euforia causada pelo líder revolucionário durou pouco, tropas enviadas para acabarem com aquele momento e nesse dia eles pegaram mais pesado com o grupo. Bateram bastante nos jovens que por sorte conseguiram escapar e foram ao seu ponto de encontro, o Café Musain.

Joly já estava cuidando dos machucados de todos e dos seus, enquanto esperava Enjolras chegar. Normalmente ele demorava um pouquinho mais do que os outros, só que dessa vez o líder estava demorando mais. Foi só ele pensar em abrir a boca para falar disso com Bossuet que viu o loiro na escada. Ele estava pálido, quase sem forças que até caiu, se não tivesse segurado com uma mão no corrimão teria rolado escada a baixo. Quando foi o ajudar, Joly percebeu que a outra mão dele um pouco abaixo da costela esquerda, estava suja de sangue.

-Enjolras! – Joly exclamou – O que aconteceu?

-Um tiro de raspão.

-O que? Meninos! Ajudem-me aqui – ele chamou e Jean e Combeferre logo vieram. O pegaram e o levaram para cima de uma mesa onde Joly fez os devidos cuidados. – Olha Enjolras, eu acho melhor você nem ir ao baile.

-Não. Eu vou, prometi a Belle que eu iria. – ele falou enquanto tentava se levantar.

-Enjolras, olhe o seu estado. E se alguém descobre que você é o líder do grupo revolucionário? – Joly tenta convencê-lo.

-Eles não vão.

-Espero que você esteja certo. –Joly falou e foi ver se outra pessoa precisava de ajuda enquanto deixava Enjolras pensando.

**

O castelo estava sendo preparado para o baile, em todo lugar era visto alguém trabalhando para deixar o salão o mais perto do perfeito. Belle estava passeando pelo castelo com seu pai, tentando recuperar o tempo perdido e por onde passavam as pessoas mostravam respeito e não os atrapalhavam. Discutiam sobre política e o Rei havia ficado surpreso por tudo o que sua filha tinha aprendido com General Lamarque, sem dúvidas ele fora a melhor opção para sua filha, agora ela tinha pelo menos uma chance para sobreviver nesse mundo. Chegaram ao centro do salão e estavam observando a decoração quando Emanuelle, Charlotte, Leonor e Francine chegaram todas falando de uma vez que elas deviriam começar a se arrumar e conseguiram arrancar uma risada de Luís.

-Bom filha, acho melhor eu deixar vocês irem fazer o que acharem melhor. Estou indo para os meus aposentos e qualquer coisa não hesite em me chamar. – ele disse para Belle e depositou um beijo na testa de sua filha.

-Tudo bem papai. – Belle falou com um sorriso e viu seu pai ir em direção ao seu quarto. Foi despertada de seus pensamentos por suas amigas. – Meninas vão indo para o meu quarto que eu preciso só ver mais uma coisa e já encontro vocês lá. – disse e suas amigas logo saíram.

Não sabia por que, mas precisa ver mais o castelo já que não lembrava muito bem desse lugar. Em certo momento parou e se viu perdida pelo castelo. Para sua sorte ouviu algumas vozes vindas de uma sala e foi pra pedir ajuda, mas parou ao perceber que era seu tio Carlos e mais uma pessoa que ela achava ser o chefe da guarda dele.

-Você tem certeza que o meu irmão não sabe? – seu tio pergunta e Belle se esconde mais pela parede.

-Sim Alteza. O Rei não sabe.

-Melhor assim. Não sei o que deu no Luís, falar que essas pessoas têm direito de questionar a nobreza, onde já se viu.

-Dessa vez esse grupo de adolescente irão pensar duas vezes antes de fazer um discurso contra a família real.

-Acho bom. E agora a minha sobrinha exigindo que esse baile fosse aberto para todos, quem ela pensa que é? Assim que meu irmão morrer irei tomar aquela coroa pra mim, se ela acha que vai ser Rainha da França está muito enganada.

Assim que terminou de ouvir essa fala de seu tio, Belle saiu depressa de lá tentando achar alguém o mais rápido possível. Depois de pouco tempo viu uma mulher um pouco velha e se aliviou, falou que estava perdida e perguntou a mulher se ela sabia o caminho para seus aposentos. A mulher mais do que depressa a deu o caminho e Belle a agradeceu. Ainda meio atordoada tentou para de pensar no que seu havia dito e se concentrar no baile. Pensou em Enjolras e que ele viria, poderiam ficar a noite inteira conversando e quem sabe voltar a ter aquela amizade que tinham quando pequenos. Abriu a porta de seu quarto e logo suas amigas já começaram a falar.

-Belle! – exclamou Leonor – Você precisa escolher o seu vestido. Eu particularmente gosto desse vermelho com rendas na parte de cima – ela falou mostrando o vestido em cima de sua cama. ( https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564x/e9/a0/b6/e9a0b6e51bfb6f587d1f2de484e77767.jpg )

-A não Lê. – reclamou Francine – Eu gosto desse preto com esses detalhes dourado aqui na parte do pescoço. (https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/15/e5/bd/15e5bdce26ab61731d3e9b472dc4f872.jpg )

-Mas eu gosto desse meio verdinho aqui. – falou Charlotte e enquanto as três começavam uma discussão sobre qual vestido Belle deveria usar Emanuelle viu que a princesa estava diferente e chegou mais perto dela. (https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/54/3a/e1/543ae18dee7672b5103c485f0ba336a7.jpg )

-Belle, está tudo bem? – ela pergunta.

-Absolutamente tudo não Manu, mas deixa que eu não quero estragar essa noite. – Belle fala colocando um sorriso no resto e pega a mão de sua amiga. – Vamos nos arrumar.

-Sim, mas antes você precisa escolher o seu vestido e eu já tenho o meu palpite.

-A não. Lá vem a Manu – fala Charlotte – A Belle sempre escolhe o que a Manu escolhe.

-A culpa não é minha se eu conheço a Belle melhor do que vocês Lotte – responde – Esse aqui!

-Preto e dourado! Cheguei perto. – Francine fala e todas caem na risada.

-Sente aqui princesa. – Emanuelle falou apontando para a cadeira – Vou arrumar seu cabelo. E vocês ai já vão se arrumando!

Como já era de se esperar, as cinco meninas demoraram até demais para terminarem de se arrumarem. Foram muitas às vezes em que General Lamarque veio até o quarto para apressá-las, mas não que adiantou muito. O baile já havia começado e depois de um tempo elas finalmente saíram do quarto e desceram para o baile. Quando chegaram ao corredor ouviram a voz de um homem anunciando a entrada do Rei. A essa altura, Belle já levava seus pensamento a Enjolras, queria saber se ele já havia chegado. Tinham ficado a semana inteira sem se ver e ela não aguentava mais isso, já havia ficado muito tempo longe do seu melhor amigo. Chegaram à entrada do salão e Belle olhou para o homem acenando com a cabeça para que ele a anunciasse e assim o fez. Quando entrou no salão buscou pelo rosto que procurava, mas o primeiro rosto que viu foi o de seu tio, o sorriso que tinha vacilou um pouco ao pensar na conversa que ouviu e só voltou a sorrir quando viu quem esperava.

Enjolras estava sentado, mas quando viu Belle se levantou e viu que ela estava vindo em sua direção. Ela está mais linda do que o normal, pensou o revolucionário encantado com a princesa. Quando ela chegou olhou rapidamente para os Amis que estavam junto com ele e todos fizeram uma reverência para a princesa. Ela se virou para as meninas e falou que elas poderiam ir para onde quisessem que ela iria conversar um pouco com eles e somente Emanuelle disse que iria ficar com ela, as outras foram para algum outro lugar.

-Oi Enjolras – ela disse

-Olá Belle. Ham... esses são meus amigos, Joly, Jean, Courfeyrac, Grantaire, Bahorel, Feuilly, Bossuet e Combeferre. – Enjolras apresentou eles.

-Muito prazer em conhecer vocês meninos – a princesa disse cordialmente.

-O prazer é todo meu, Princesa Belle – Jean passa na frente do amigos e fala beijando a mão de Belle, mas paralisou ao reparar na amiga dela.

-Jean, é Jean né? – Belle pergunta e ele simplesmente acena com a cabeça concordando – Esta é Emanuelle, minha amiga.

-Muito prazer senhorita Emanuelle – ele diz beijando a mão dela agora.

-Prazer Jean. Pode me chamar somente por Emanuelle ou Manu.

-Parece que o nosso poeta finalmente achou sua musa inspiradora! – Courfeyrac fala e Jean fica sem graça.

-Combeferre – Belle diz – É você quem estava junto com Enjolras no dia em que eu cheguei não é?

-Sim Alteza – ele responde

-Ora, pare com isso! Agora vocês me chamem somente por Belle, quem é amigo do Enjolras também é meu amigo. E já peço perdão para você Combeferre, aquele dia nem cheguei a falar com você.

-Não tenho o que desculpar... Belle. – ele fala e ela abre um sorriso.

Belle percebeu que nesse meio tempo Enjolras já havia voltado a se sentar e viu que seu rosto estava pálido e se aproximou um pouco mais dele perguntando se estava tudo bem só ouvindo uma afirmativa dele. Percebeu também que ele estava com a mão posta abaixo da costela esquerda e foi ver o que tinha nesse lugar e, quando viu sua blusa branca suja de sangue ficou assustada. Perguntou o que ele havia feito e ele só respondia que não era nada de mais e quando olhou para outro garoto do grupo, se não lhe faltava memória, o Grantaire, viu que seu punho também estava machucado e pela cor, era de hoje. Então, Belle foi juntando os fatos e percebeu eles eram o grupo de adolescentes que seu tio havia mandado repreender. Só não entendeu o porquê de Enjolras ser contra a monarquia.

-Vocês são aquele grupo revolucionário! – ela fala e todos a olham – Por isso que você está sangrando.

-É, seu pai mandou força dobrada hoje. – Enjolras falou, ela já havia descoberto e não tinha motivo para esconder isso dela.

-Não! Não foi meu pai que mandou. – ela fala e todos desconfiam – Foi meu tio Carlos – ela diminui o volume da voz – Ele não quer que ninguém faça oposição a nós e meu pai não sabe de nada disso, eu juro. Eu sem quere acabei ouvindo uma conversa do meu tio com o chefe da guarda dele – ela fala olhando para todos – Venha Enjolras, vamos limpar esse sangue e trocar a sua blusa, meu tio não sabe quem são vocês e eu pretendo manter isso assim. Não é certo o que ele está fazendo. – ela diz e começa a sair e todos ficam somente a olhando, todos surpresos – Vamos Enj. – ela o chama mais uma vez e ele se levanta e a segue.

No meio do caminho encontraram General Lamarque, mas é claro que Enjolras não sabia quem ele era de verdade e os dois o trataram por Pierre. Pierre ajudou os dois e conseguiu novas roupas para Enjolras, agora na cor preta se acaso o machucado começasse a sangrar novamente tinha como disfarçar. Ficaram por lá mais um tempo só para terem certeza que Enjolras estaria bem. Após poucos minutos foram em direção do salão novamente, só que agora ele estava apoiado um pouco em Belle, devido à dor que estava sentido. Quando adentraram no salão viram que a cadeira que estava sentado antes ainda estava disponível e estavam indo na direção dela quando ouviram as palmas daquele mesmo homem que anunciava as pessoas.

-Músicos! Toquem uma música para a Princesa e seu acompanhante. – ele diz e Belle olha para Enjolras assustada como quem avisasse que não sabia daquilo.

-Enjolras, nós não temos que fazer isso. Eu posso dar uma desculpa – ela fala enquanto andam para o centro do salão

-Não. Eu quero dançar com você. – ele diz

-Tem certeza? Consegue fazer isso?

-Sim. Só espero que eu não faça feio do seu lado. – ele fala enquanto Belle começa beijando sua mão e logo depois ele beija a mão da princesa. Começaram a dançar e todos começaram a prestar atenção na dança. Belle sentiu que Enjolras ainda não estava sem por cento então decidiu ajudá-lo um pouco. – Você está conduzindo. – ele fala

-Só mantenha seus olhos em mim. – ela responde. Após levantar Belle, Enjolras soltou um suspiro e ela continuou a incentivá-lo – Fique comigo, fique comigo. – Enjolras se concentrou nos olhos de Belle e ambos continuavam a dançar. Num momento, Belle sorriu para ele e para Enjolras pareceu que aquilo foi uma força a mais.

Ao final da dança, Enjolras não aguentou e caiu de joelhos na frente da princesa que, rapidamente disfarçou fazendo uma reverência, como se fosse de agradecimento e levou uma de suas mãos para o rosto de Enjolras, que a segurou como se precisasse daquele toque. Belle deu uma ajuda para ele se levantar e continuaram o caminho até a cadeira. Os Amis estavam chocados e surpresos, nunca pensariam que Enjolras sabia dançar. Emanuelle, Leonor, Francine e Charlotte estavam maravilhadas, torciam ao máximo para aquele casal acontecer de verdade. Além de todos os olhares, Luís e o amigo Jean estavam lado a lado e se entreolharam, eles sentiam que tinha algo a mais entre seus filhos. General Lamarque também sentiu isso e ficou feliz por Belle, ele sabia que ela gostava de Enjolras de uma maneira mais do que um amigo. A única coisa ruim foi que o olhar de Carlos para o casal não foi nada como os outros, ele agora estava disposto a terminar aquilo antes mesmo de começar.