A Princesa Noiva

Capítulo 18


Mal havíamos chego na trilha pelo meio da floresta novamente, quando Gancho disse que precisava muito “tirar água do joelho”, então mesmo um tanto relutante, esperamos por ele pouco mais a frente perto de uma ribanceira que a propósito, tinha uma vista linda para o mar. Dava para se ver apenas uma fina linha azul sobre as montanhas, mas foi o suficiente para perceber que de alguma forma sentia falta da viagem pelo mar.

—Foi mesmo uma viagem incrível. – Henry comenta ao meu lado, olhando para o horizonte assim como eu. – E continue olhando para esse lado, Robin parece que vai se declarar para Regina.

—O quê? – Sussurro, animada.

—Shhh.

Robin vai até Regina, que no momento encara parte do barranco coberto por plantas das mais variadas espécies, apenas para se distrair dos pensamentos que não a largavam desde o encontro com sua irmã. E parece que Robin pensava nas mesmas coisas.

—Regina... – Ele se aproxima e ela se vira para ele, apreensiva sobre o rumo da conversa – O que sua irmã falou sobre... Como posso ser o amor da sua vida se você sequer me deu algum motivo para o nosso término?

—Robin... – Ela desvia o olhar, negando com a cabeça.

—Eu preciso saber, porque nesses anos todos, eu não tirei aquele maldito dia da minha cabeça. Aliás, você não sai da minha cabeça. – Ele se aproxima mais e ela apenas presta atenção no que ele estava prestes a dizer – Eu preciso saber...

—Tudo bem. – Regina franze a testa, um tanto sem graça – Naquela semana eu tinha completado meus 30 anos e desencadeei uma maldição de família, é quase irônico, eu sei. E eu comecei a me tornar a Rainha Má por conta das atitudes que me dominavam, até descobrir que meu coração estava sendo tomado pelo mal. E a última coisa que eu queria era te ferir.... então eu te afastei.

—Com certeza você ter se afastado foi a maneira mais cruel de me ferir. – Ele diz, deixando-a sem palavras – Eu iria ter enfrentado o mal com você, eu teria feito qualquer coisa pra estar com você. Por que eu te amo e sempre te amei!

Então por alguns segundos eles se entreolharam em silêncio e eu nem preciso dizer que os dois se beijaram como se fosse a primeira vez. Henry e eu comemoramos com um soco de leve nas mãos por finalmente os dois se acertarem.

—Voltei, o que eu perdi? – Gancho volta, parecendo um tanto perdido na situação.

—Nada. – Robin e Regina respondem rapidamente e se afastam tentando disfarçar.

Já estava escuro o suficiente para dificultar a caminhada, então decidiram escolher um lugar para fazer uma fogueira e passar a noite. O caminho pela floresta era mais longo até o castelo, mas era mais privado, evitando olhares desconfiados e curiosos.

A fogueira estava pronta e finalmente acesa. Henry fica chateado por não termos marshmallow para deixar a noite ainda melhor, então ele se deita para dormir cedo. Robin e Gancho decidem ir procurar mais lenha para a fogueira, restando apenas eu e Regina, sentadas ao redor do fogo. Naquele instante, lembrei da maldição que ela havia posto sobre mim e por isso, uma grande decepção a tomou novamente.

—Sabe, foi bom ter esclarecido tudo. – Regina cutuca o fogo com uma varinha de madeira para que a lenha se ajeite. – Eu só lamento que tenha demorado tanto...

—Por que sua família te amaldiçoou? – Apenas pergunto, encarando o fogo.

—A nossa mãe era uma verdadeira Rainha Má e não aceitava o fato de ter duas filhas que não demonstravam interesse pelas trevas. Segundo ela, não seríamos nada sendo boazinhas.... – Regina dá um sorriso indignado e então suspira – A verdade é que a escuridão está dentro de todos nós e só cabe a cada um escolher alimentá-lo ou não.

—Mas não é o meu caso, não é? – Olho para ela firmemente, vendo-a desviar o olhar.

—Não. – Ela diz, sincera. – Mas... eu acho que finalmente percebi o que pode te salvar.

—Sabe? – Olho-a, interessada em ouvir o que tinha a dizer.

—O amor. – Ela me olha com ternura – Eu achava que Robin seria minha fraqueza durante a escuridão, mas na verdade quando eu me permiti sentir, foi ele quem me deu força pra lutar. Talvez se você....

—Não, sem chance. – Eu fico tão transtornada que quase começo a rir pelo nervosismo – Eu não sou do tipo que se apaixona e casa, você me conhece perfeitamente...

—Você precisa permitir sentir, Emma. – Ela pousa sua mão sobre a minha, ainda olhando-me com ternura.

—Não... – Me levanto por fim e esfrego as mãos no rosto – Você está romantizando um assunto sério e tentando consertar só porque beijou Robin e se acertou com ele. Não, o amor não é a resposta pra tudo, Regina. E pensando bem, está tarde... eu vou dormir.

Vou até a cama improvisada ao lado de Henry e me deito, apoiando minha cabeça num travesseiro improvisado com minha jaqueta, enquanto encarava o nada por um tempo. Robin e Gancho voltaram naquele mesmo minuto e por alguma razão, observei Gancho por alguns instantes na tentativa de apenas observá-lo, mas instantaneamente me veio os momentos no navio e de como parecíamos de certa forma sintonizados. Isso ainda não significava nada, todos nós nos sintonizamos com alguém e isso não significa necessariamente que há algum sentimento muito profundo, apenas... sintonia. Só podia ser. E ao vê-lo se virar na minha direção, desvio rapidamente o olhar e pateticamente finjo estar dormindo, como se ele não tivesse percebido fazendo com que eu me sentisse levemente corada.