A Princesa Noiva

Capítulo 16


Enquanto me arrumo novamente, recebendo os olhares maliciosos de outros homens bêbados, Robin e Gancho instantaneamente formam uma barreira de frente para os aproveitadores com os braços cruzados e encarando-os, dispostos a brigar se fosse preciso. Eu vejo tudo e não deixo de sorrir incrédula, mas com a certeza de que podia contar com ambos para qualquer coisa. Afinal, eu não sabia mais o que poderia encontrar ou se mais alguém podia me reconhecer como a verdadeira princesa, o que antes era um privilégio por ter que ser respeitada e agora não podia mais prever nada.

Henry sai do banheiro no mesmo segundo e então nós podemos partir, saindo da taverna para podermos pensar em algum plano. Faltavam três dias para o casamento e precisávamos pensar em algo para estragar o seu plano.

—Emma! – A voz de Regina chama a minha atenção e eu me viro rapidamente, aliviada por mais um rosto conhecido. – Eu sabia que tinha voltado...

—Regina! – Solto a tensão acumulada na minha respiração e sinto seu abraço caloroso – Como você... Você lembra de mim? Como sabia que eu tinha voltado?

—Pela confusão na vila, aposto. – Robin brinca.

—Não, é que... eu ainda sou uma bruxa, mesmo um tanto limitada – ela dá de ombros – e não fui atingida pela magia de Rumpel, o que me levou a imaginar que teria algo a ver com você, já que... ele meio que criou isso tudo pra te substituir, eu só esperava que você me explicasse por quê.

—Longa história. – Gancho dispara, vendo que eu não sabia por onde começar a contar – Mas podemos resumir no fato de que ele fez um “acordo” com Emma.

—Ele entendeu tudo errado, eu só... disse que não queria que a minha vida fosse como era, mas...

—Droga. – Robin suspira, incomodado. – Ele é traiçoeiro.

—Eu tentei convencê-la a... – Gancho olha para mim e desvia o olhar – na verdade a culpa é minha.

—Você assumindo seus erros? – Robin olha para Gancho, admirado.

—Pelo visto a viagem foi bem conturbada. – Regina estreita os lábios olhando para mim e Gancho.

—Não, eles não estão juntos. – Henry dispara, olhando para Regina com um leve sorriso de deboche – E sim, eu leio mentes.

—Henry... – Gancho o repreende com o olhar.

Por um tempo, o clima ficou um pouco sem graça por um tempo e olhares corriam em silêncio entre mim, Robin e Regina e de repente, me veio um flash da ilha. Minha mão começa instantaneamente a tremer e a cena do guarda em que cravei a espada em seu peito cruelmente para matá-lo e detê-lo. Era como se eu sentisse o sangue quente dele correr pelas minhas mãos de novo e eu quase podia afirmar que estava vendo minhas mãos ensanguentadas, até que alguém segura meu punho, olhando-me preocupado.

—Tá tudo bem? – Gancho me olha nos olhos como se estivesse preparado para arrancar o que me fazia mal, mas ele não podia.

—Está, eu... – Desvio o olhar e esfrego minhas mãos no vestido na tentativa de fazer pará-las de tremer. – E então, qual o plano?

—Eu... – Regina me olha desconfiada, mas tenta seguir com a conversa – Eu conheço alguém que pode nos ajudar a tentar reverter esse feitiço. Mas já vou avisando que ela não será muito receptiva.

—O que temos a perder? – Robin dá de ombros.

Regina nos guia pela floresta verde a leste do oceano, onde como o próprio nome diz, só há vegetação selvagem. Por isso, prefiro trocar o vestido por uma roupa mais confortável enquanto Robin passa em sua cabana para buscar sua arma de arco e flecha, seu acessório necessário e indispensável, proibido apenas de entrar com ele na taverna por motivos óbvios.

—Está tudo bem mesmo? – Gancho me pergunta quase num murmuro enquanto andamos pela trilha.

—Está, eu só... – Analiso minhas mãos novamente e elas tremiam bem menos que antes, mas tremiam – lembrei que matei cruelmente um guarda lá na ilha e... todo o sangue da guerra...

—Está tudo bem, é previsível nos sentirmos assim, eu senti o pavor me consumir também na primeira vez e...

—Não Gancho. – Eu paro de andar e encaro-o, consequentemente Robin, Regina e Henry também param e nos olham curiosos – Eu não sinto pavor. Eu sinto.... eu senti prazer.

Meus olhos lacrimejam e eu respiro fundo para não desabar. Era ainda mais difícil falar do que sentir tudo aquilo dentro de mim. Era como se meu corpo pedisse por mais sangue, por mais mortes, como se fosse saciar aquela inquietação. Gancho troca olhares com Regina, que cautelosamente se aproxima, com um olhar repleto de culpa.

—Me perdoa... – Regina segura minhas mãos e agora quem quase está chorando é ela – Eu fiz algo horrível e vou me arrepender até o fim da...

—O quê? Como assim? – Olho-a confusa.

—Eu era a rainha má da vila e isso todos sabem, mas... – Ela respira fundo antes de continuar e me olha nos olhos – Quando você nasceu, eu tive tanto ódio dos seus pais serem perfeitos e terem tanta sorte, que...

—O que você fez? – Recuo, tirando suas mãos de mim e olhando-a assustada.

—Emma, eu sinto muito... – Regina fecha os olhos – Eu não eu, estava tomada por inveja e...

—O que você fez?! – Encaro-a pressentindo algo de muito errado e então exalto a minha voz – O QUE VOCÊ FEZ COMIGO?!

—Eu coloquei a escuridão no seu coração! – Ela diz livrando-se daquele peso e percebendo minha reação de choque, continua – Cada vez que você matar alguém, a escuridão vai crescer até te dominar por completo.... Me desculpa Emma! Eu vou dar um jeito nisso! Eu juro!

—Você... – Por um momento jurei que desabaria em lágrimas, mas me contive e me concentrei na raiva que sentia naquele momento. A dor da traição.

—Pessoal... – Henry chama, desviando a atenção de todos – Desculpe interromper, mas acho que estamos chegando.

Henry toma a frente, destemido. E Regina tenta falar comigo mais uma vez, mas eu simplesmente viro as costas e sigo pela trilha junto com Gancho e Regina e Robin logo atrás. A partir daquele momento, não se ouvia mais nada além das aves e dos sons da floresta. Na verdade, uma voz dentro de mim parecia quase gritar implorando para que eu focasse na raiva que sentia, alimentando assim a sede de sangue, mas de alguma forma eu consegui lidar com aquilo concentrando-me apenas em não perder Henry de vista.

A trilha ficava cada vez mais estreita, até nos direcionar ao caminho de entrada de um castelo cinzento e aparentemente abandonado. Regina naquele momento se posicionou a frente do grupo, já que somente ela sabia com quem iriam lidar ali e com sorte, não seríamos atacados ao chegar perto do portão de entrada. E assim aconteceu.

—Quem estamos procurando afinal? – Gancho pergunta, olhando o castelo com desdém – Alguém provavelmente repulsivo, aposto.

—Minha irmã, Zelena. – Regina suspira toca a campainha mórbida ao lado da enorme porta. – E eu espero que ela não me odeie mais.