Pamela trabalhara muito naquele dia. Aaron estava se ausentando mais do que o esperado para um adolescente. Pamela suspeitava que ele estivesse enamorado de alguma garota. Era bom para ele ligar-se romanticamente a alguém, mas seria melhor se não passasse disso. Afinal ele era um lobisomem.

_Aaron, onde esteve?

_Estive aqui por perto. Você não sabe que Londres é excitante?

_Ok! Pergunta errada. Com quem esteve?

_O nome dela é Rosa Carnes, uma garota muito bonita.

_Hispânica?

_Não perguntei isso, mas ela fala inglês fluentemente.

_Ok, Aaron. Pensei que ainda estivesse procurando por Nebiros, seu benfeitor.

_Não me esqueci de Nebiros, mas vou tentar agir como os garotos da minha idade, pelo menos nos dias sem lua cheia.

Ela ficou com pena de Aaron. Parou o que estava fazendo e foi até ele dar-lhe um abraço apertado. Logo mais Aaron, aproveitando que não havia lua, vestiu sua melhor roupa e saiu com sua nova namoradinha. Pamela deu-lhe algum dinheiro para pagar o cinema e pipocas. Despediu-se com um adeusinho.

Pamela ficou sozinha novamente. Decidiu preparar chocolate e tomar um pouco enquanto assistia DVDs de filmes antigos. A noite estava fria e uma companhia seria bem vinda, mas ela estava a tanto tempo sozinha que já se habituara à solidão.

Ela sentiu uma presença peculiar na mesma sala que estava. Sabia quem era. Serviu um pouco de chocolate quente, em uma caneca. Virou-se e a ofereceu a Belus. Este aceitou a caneca e passou a bebericar. Pamela serviu-se também. Ficou encarando Belus. Não queria admitir, mas ele era seu amigo mais fiel.

_Então, o que tem feito ultimamente Belus?

_Quer mesmo saber, Pamela querida?

_Quando foi que passamos para o estágio de \"Pamela querida\"?

_Bem, respondendo a sua primeira pergunta, eu andei dando uma mãozinha a uma de suas clientes. Acho que o nome dela me é de alguma forma familiar. Hell.

_Seu demônio diabólico, o que você fez?

_Acho que houve uma redundância em demônio diabólico. Mas sim, eu arranjei para ela alguns livros de feitiços.

Pamela ficou preocupada, aquilo não era bom. O deque de cartas que ela havia lido não era favorável a Hell. Ela considerou que mesmo sem a ajuda de Belus, Hell iria atrás de encrenca.

_Calma não precisa arranjar rugas antes da hora. - Gracejou Belus.

Pamela avançou perigosamente para Belus. Segurou-o pelo colarinho. Seus rostos ficaram próximos, e ela pôde ver desejo nos olhos dele. Mas a última coisa que ela queria com Belus era aquele tipo de envolvimento.

_Se alguma vez eu souber que você importunou, ou de alguma forma prejudicou algum de meus clientes...

_Você vai fazer o que? Atirar-me ao quinto dos infernos?

Ao dizer isso Belus roçou os lábios dela com os dele. Foi algo muito leve, mas tão poderoso quanto uma descarga elétrica. Pamela empurrou-o longe. Estava irritada com aquele lampejo de desejo que sentiu. E mais ainda porque Belus havia procurado Hell.

Afastou-se e ficou encarando Belus com desgosto. Belus sustentou o olhar dela. Se havia uma coisa no mundo que ele tinha em excesso era tempo. E paciência. Pamela era o jogo mais intrigante e excitante que ele havia tido em séculos. Subitamente ele percebeu algo. Baixou a cabeça. Olhou para o alto e deu um sorriso irônico.

_Acho que você tem um cliente para atender Pamela. Desculpe-me não me demorar mais, mas eu não me sinto bem em ficar no mesmo ambiente com este cliente em particular. Até-logo.

Belus retirou-se pela porta da frente. Não havia ninguém lá fora. Pamela recolheu as canecas de chocolate e levou-as para a cozinha. Ao retornar para a sala percebeu que havia alguém lá. Um jovem de cabelos negros e franjinha sobre as sobrancelhas. Havia algo de bom nele, ela podia sentir isso.

_Em que posso ajudá-lo?

_Boa noite Pamela. Vim pedir-lhe um favor.

Ele então estendeu a mão aberta na qual havia uma conta do colar de Berial. Pamela a pegou. Mostrou o caminho da sala de leitura para o jovem. Ele a seguiu e sentou-se à mesinha do tarô. Ela seguiu o ritual de deposição das cartas.

_O mágico, os enamorados, o sacerdote, o eremita, o mundo.

O jovem observou as cartas e Pamela, ele era sereno e parecia esperar por estas cartas. Pamela o observava, ele passava-lhe tranqüilidade e sentimentos bons. Compreendeu porque Belus quis ir embora.

_As cartas significam que você tem um trabalho altamente qualificado. Conheceu uma jovem por quem se apaixonou, mas de alguma forma ela não se encaixa nas suas atividades e responsabilidades. Você fez a opção da solidão, pois não quer repartir a cruz que carrega com ninguém. Entretanto o futuro lhe é favorável, você deveria repensar a escolha que fez. Há uma chance de ser feliz com ela.

_É isso que lhe diz a carta o mundo? - Perguntou-lhe o jovem, segurando uma bela carta com uma jovem no centro do globo terrestre, por sua vez dividido em quatro partes, cada qual com um animal sagrado.

_Não. Esta carta diz que você é um homem público. Mas é uma boa carta. É minha opinião que você deve se reconciliar com ela.

_Você sabe quem é ela Pamela?

_Hell, e você deve ser John.

_Helena é seu nome de batismo. É por causa dela que eu estou aqui.

_O que você gostaria que eu fizesse?

_Ela não está bem. Quero dizer, ela tomou a decisão sensata de procurar uma clínica de desintoxicação. Está internada. Em sua ânsia de ajudá-la, os médicos a entupiram de remédios que afetam a mente. Ela dorme sem sonhar. Não consigo mais visitá-la. Ela está sozinha, deprimida, tem pensamentos tristes. Ela pensa que eu brinquei com seus sentimentos e que a abandonei. E isso não é verdade. Eu a amo.

_Por que não consegue falar com ela como fala comigo?

_Você está dormindo Pamela. Se for até a cozinha verá que não saiu de lá.

_Eu deveria ter adivinhado. Como Belus percebeu a sua presença se ele não estava sonhando?

_Há muitas coisas sobre Belus que você não sabe. Mas não me pergunte sobre ele, não tenho autorização para intrometer-me neste assunto.

_Você sabe sobre a minha situação?

_Sim, já me contaram. Tudo no mundo ocorre por um motivo e com um propósito. Só posso falar isso.

_Qual o motivo que o fez ligar-se a... Helena?

_Eu por assim dizer, deveria ser uma espécie de anjo da guarda. Acho que não cumpri com as minhas obrigações.

_Cumpriu até demais. Bem, vamos fazer o seguinte. Eu visitarei Helena e falarei de você para ela. Procurarei a família dela e vou sugerir que a levem a outro médico, um que não abuse de remédios, ok?

_Já é um começo. Muito obrigado Pamela. Só mais uma coisa. Minha opinião, como você deu a sua. Não valorize tanto as contas de Berial. Existe algo mais valioso que elas.

_E o que é?

_Amor.

Fim

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.