Infantil. Entediante. E necessário.

Não havia muita coisa que eu pudesse fazer no orfanato para qual me mandaram depois da morte dos Sullivan – o Orfanato de Meninas St. Mariana – além de pintar, o que costumava a ser uma das poucas coisas que eu gostava de fazer, mas que me irritava quando tinha de ser no jeito de Esther.

Desenhar uma leoa, por exemplo, não era de meu feitio como Leena.

Mas naquele dia, eu estava mais empolgada com a atividade do que habitualmente. Irmã Abigail, uma das freiras do orfanato, tinha nos avisado que uma família nova viria nos visitar naquele dia, e eu queria ser adotada. A família – Coleman, era assim que se chamava – iria se impressionar com meu desenho e se interessar por mim. Pelo menos, se fossem imbecis como todos os outros. Como Richard e Eliza Sullivan tinham sido havia alguns meses.

Misturei tinta laranja com tinta marrom, para conseguir um tom alaranjado mais escuro para continuar pintando. Eles sempre eram imbecis. Não existia muita gente inteligente no mundo naqueles dias, para minha sorte e raiva.

Seria prático poder ouvir quando o carro em que eles provavelmente viriam chegasse, mas os sons exteriores não chegavam à sala de artes, no primeiro andar do orfanato. Pelo menos, os sons da festa que estava acontecendo no andar debaixo também estavam abafados, e eu não tinha de ouvir os barulhos das crianças.

Boa parte de minha pintura já estava feita, agora. Eu ia ter de ir mais devagar para ainda estar pintando quando os Coleman chegassem.

Larguei meu material de pintura por um instante e fui para a janela. Queria vê-los chegando – o rosto do casal, como se vestiam.

Passaram-se alguns minutos. Eles estavam atrasados. Mas enfim, um carro preto passou pelos portões do orfanato, e pressionei minha testa contra o vidro da janela afim de poder ver melhor quando eles saíram do automóvel.

Ambos morenos. Com casacos escuros. A mulher, após olhar em volta, dirigiu seu olhar diretamente à minha janela, possivelmente por sentir estar sendo observada. Com uma exclamação de surpresa, me abaixei. Esperei um instante, para ter certeza de que ela não estava mais olhando, e me levantei de novo, para continuar olhando-os enquanto a Irmã Abigail ia recebê-los. Só quando os três entraram no orfanato eu corri de volta para o meu cavalete para continuar a pintura da leoa, e comecei a cantar alto para que me ouvissem quando passassem por aqui.

Eu tinha uma boa história para contar para os Coleman.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.