No meio do caminho, Paulo lembrou que havia esquecido em casa o pacote de bombons que ia entregar de presente a Virgínia. Como ele andava com a cabeça nas nuvens, ultimamente! Felizmente ainda não havia chegado no ponto de ônibus. Deu meia volta, e entrou correndo na casa. De pronto escutou inconfundíveis ruídos vindos do corredor. Não teve tempo para pensar: olhou pela porta entreaberta do quartinho de Carla e viu dois corpos nus abraçados na cama, o da prima e o de Júlio. Paralisado, contemplou a cena por poucos segundos até que os olhos de Carla se cruzaram com os dele.

— Oh

— Oi gente, desculpa - Conseguiu enfim dizer.

Mas o estrago já estava feito. Júlio levantou-se e pôs-se a vestir-se. Paulo teve a impressão de que ele ia sair correndo pela janela, como nas velhas anedotas, mas o rapaz manteve o semblante tranquilo.

— Foi mau.

Na cama, Carla parecia assustada, e limitara-se a subir a coberta para esconder os seios. O namorado procurou tranquiliza-la.

— Calma, meu bem, foi tudo culpa minha. Eu vou sair agora. mas depois eu explico para a sua tia tudo o que for necessário. Fica suça!

— Aí, gente, desculpa eu ter aparecido...

— Desculpa eu ter feito o que eu fiz!

Júlio retirou-se, digno. Carla levantou-se ainda meio enrolada nas cobertas, e alcançou o vestidinho que havia sido deixado ao lado. Paulo pôde contemplar bem detalhes de seu corpo até então inéditos, como o bico dos seios e os pelos pubianos. A prima era mesmo muito bonita, ou seria o caso de dizer, gostosa? mas a impressão que Paulo tinha era que o corpo dela predominava sobre a cabeça.

— Ai, Paulo, você vai contar para a sua mãe?

Paulo não respondeu, mas fez uma cara que dizia: que mais eu posso fazer?

— Ai vou apanhar pra cacete...

Carla sentou na cama e começou a chorar. Ainda sem saber o que fazer, Paulo respondeu:

— Eu vou sair agora. Você fez uma besteira e tanto, mas na volta a gente conversa.

Pegou o presente de Virgínia e saiu. Na casa da namorada, ela não pôde deixar de notar que ele estava meio aéreo.

— Ai Paulo, em que você está pensando?

— Em você!

— HAHA bobo.

Mas a questão não saía da cabeça de Paulo. Sabia que tinha a obrigação de contar tudo à mãe. Ficar calado? Nem pensar! Seria voltar à condição de moleque irresponsável, faltar com a palavra à mãe, trair a confiança de tia Francisca que lhes confiara a filha para ser vigiada. Mas a contradição estava na cara. Carla havia feito exatamente o mesmo que ele fizera com Virgínia, então que sentido fazia Carla ser punida, e ele não?

Chegando em casa, o dilema pesava como uma pedra sobre a cabeça de Paulo. Para piorar o clima, Luana e a mãe estavam discutindo de novo. Melhor acabar logo com aquilo. Mas primeiro chegou para Carla, e cochichou-lhe ao ouvido:

— Pode deixar, eu vou explicar umas coisas para a mamãe, ela vai entender!

Resoluto, voltou para a sala, onde a discussão entre mãe e filha havia recém cessado.

— Mãe, eu tenho uma coisa para te dizer. Aliás, duas coisas. A gente pode ir lá para dentro?

O rosto da mãe ficou sério, e ela largou o celular na mesa. Luana olhou-os com o interesse de quem quer saber.

— Vamos, meu filho.

Sentaram-se ambos no quarto. Luana ficou na porta escutando.

— O que foi, meu filho?

— Eu peguei a Carla transando com o namorado.

A mãe deu um longo suspiro, e resmungou:

— Essa menina está me dando um trabalho! Mas eu me comprometi, ajoelhou, tem que rezar! Muito obrigado por haver me contado, meu filho.

— Mas tem outra coisa que eu queria te contar.

— Ai, o que é? Vai, fala!

— Eu também já transei com a Virgínia!

A mãe encarou-o surpresa por um instante, mas logo depois recobrou aquele olhar de quem tem o controle da situação e sabe exatamente o que vai fazer.

— Muito obrigado mais uma vez por me haver dito.

Paulo estava de todo confiante na mãe, que sem demonstrar aborrecimento ou contrariedade, dirigiu-se a Carla:

— Quando você terminar de passar essas roupas, vai lá para o quarto que vamos conversar. Paulo, você vem também!

Carla fez sim com a cabeça. Luana contemplou a cena com um sorriso mesquinho.