Skye não sabia ao certo como reagir: Jemma encontrava-se a vinte gramas de sua morte; o cara que a havia traído, agora fazia parte da sua equipe; um louco que podia se camuflar estava trabalhando com Raina, e Raina estava com um homem que dizia ser o seu pai. Sua cabeça não tinha espaço para mais bagunça.

– Jemma, relaxa. Nós vamos tirar você daí. – Skye pronunciou, sem desgrudar os olhos de Cal, como se precisasse mudar de foco por alguns instantes. – Você vai desativar essa bomba agora, aberração.

– Eu?! Aberração?! - Charles se materializou na frente dela, rápido como um raio. - Agora você pegou pesado, maninha.

– Ora, ora, Skye – Raina desfilou até onde ela estava, sem receio das armas que se voltavam para sua direção. – Isso são modos de se tratar o seu pai? Ele a procurou por anos e você o ignora como se ele fosse um pedaço de lixo? Isso não se parece nadinha com você...

– Você não me conhece, Raina. E… Você sabe que eu não confio em você.

– Confie em mim, então. – Cal deu um passo para frente, com os braços abertos e um sorriso que não conseguia sair de seus lábios. – Você sabe que eu sou o seu pai. Você pode sentir isso, Daisy.

– Por favor, não me chame assim. – Skye deu dois passos para trás e encarou Jemma novamente, percebendo que a amiga já estava perdendo a sensibilidade da perna. – E, se você é realmente meu pai… Por que machucaria minha melhor amiga? É algum tipo de punição?

– Não, não – Cal apressou-se em responder, olhando para Raina com certo desespero. – Não viemos machucar ninguém. Só queríamos um contratempo para chamar sua atenção.

Skye estreitou os olhos e esboçou um “o quê?” mas o som não saiu de seus lábios. Que espécie de pai colocaria uma amiga de sua filha em perigo apenas para chamar sua atenção?

– Pois bem, você está fazendo isso muito errado. – Skye deu dois passos em direção a Cal, jogando sua arma no chão e cruzando os braços. – Se queria chamar minha atenção, poderia aparecer fantasiado de Batman. Não precisava colocar uma mina debaixo do pé da minha amiga.

– Ai que coisa enfadonha!

Em questão de segundos, Jemma estava caída de um lado e a mina produziu uma pequena explosão no outro, apenas levantando poeira e fazendo os agentes perderem um pouco da visibilidade.

– Pronto! Satisfeitos? Era só uma bombinha de nada, seus dramáticos! Agora continuem a conversa séria, por favor. – Charles bufava com seu sarcasmo imperativo. – Já estou ficando verde de enjoo aqui!

– Alguém costura a boca desse sapo, por favor. – Hill olhou com tédio para Ward.

– É Camaleão, dona – ele corrigiu, levantando o indicador.

– Charles – Raina o olhou com um sorriso provocador. – Deixe-nos a sós, querido. Os adultos precisam fazer uma reunião chata. Pode dar uma volta por aí.

– Reuniões… Bleh!

Charles desaparecia rapidamente por entre as cores da floresta, ora desaparecendo, olha esgueirando-se rapidamente pelas árvores. Ward e Hill mantinham as armas empunhadas enquanto Fitz ajudava Simmons a se levantar do chão.

– Okay, agora vamos ao que interessa – Skye olhou para Raina e suspirou. – O que raios você está fazendo aqui?

– Na verdade, isso é assunto meu, mas acredite se quiser, nos encontramos por pura coincidência do destino.

– E eu nasci ontem. – Samantha deu o ar da graça, aparecendo logo atrás de Skye.

– Eu estou falando sério. – Raina fez sinal para que eles a seguissem até o jato alugado por Cal – Estávamos sobrevoando Hunan e eu avistei o avião de vocês. Quando olhei pelo radar, vi que o sinal era mesmo da S.H.I.E.L.D e decidi fazer uma visitinha. Mas olha o que acabou acontecendo! Encontramos você antes do que prevíamos!

– Como assim “do que prevíamos”? – Skye olhou assustada para Ward e Samantha.

– Skye, querida. Eu e seu pai temos uma ótima história para lhe contar, mas primeiro, terá que se sentar. – Raina apontou para uma casa específica, assinalada em um mapa antigo da cidade. – Você pode não estar preparada para o que irá ouvir.



(…)



Sem a menor discrição ou receio, Graviton movia-se bem acima das nuvens, sentado de pernas cruzadas, apenas sentindo sua capa sendo hasteada pelo vento bravio. Seus olhos fechados conseguiam sentir a vibração de qualquer corpo vivo, bem como podia sentir o campo gravitacional que mantinha as coisas em ordem no mundo. Cada corpo possuía um peso e exercia força sobre outro. E disso, Graviton entendia mais do que nenhum outro. Mais do que proteger a Ordem, ele detinha o poder de analisar as relações de polaridade, de entender onde ficava o centro. Em outras palavras, Graviton sempre localizava o lado mais pesado de uma balança.

– Hunan. – ele abriu os olhos com voracidade e pôde sentir o poder que o atraía como um ímã. – Os gêmeos, o amuleto… Os filhos de Attilan… Mister Hyde. Todos em Hunan.

Graviton era atraído pelo brilho que emanava do amuleto, que apenas se intensificava com a presença de Samantha e Ward. Skye e Cal também eram sentidos por ele, assim como Raina e Charles. Parecia uma enorme coincidência encontrar todos eles juntos em Hunan, mas Graviton sabia que ia muito além disso. O poder de atração do Amuleto do Caos havia sido forte o bastante para acordá-lo e agora estava reunindo as peças do quebra-cabeças, quase como se fosse um organismo vivo. A primeira metade da Gema da Morte estava bem acordada e ansiava sofregamente pela outra metade, perdida em outra dimensão. E a missão de Graviton era simples: destruir de uma vez por todas as duas partes do fruto proibido. A lendária e mortífera Kleinod Todes.

– Ali se encontram eles – Graviton os avistava há alguns quilômetros abaixo de si. – Está na hora de acordá-los, também.

E estendendo os braços em posição de cruz, Graviton descia lentamente, como se um cabo invisível o trouxesse suavemente de volta à superfície. Espalmou uma das mãos e apertou os olhos, atraindo assim um objeto prismático que ficou suspenso no ar sem tocar-lhe a mão. O Obelisco que Raina e Cal estavam procurando, agora estava sobre o domínio do Guardião Supremo da Ordem. Graviton estaria disposto a sacrificar-se para proteger a barreira que separava os nove reinos. E qualquer um que se colocasse em seu caminho teria seus ossos esmagados. Exatamente como terminou Ian Quinn.



(…)



– Coulson, eu não estou gostando desse silêncio.

Melinda levantou-se subitamente da poltrona do escritório. Já havia se passado horas sem que Skye ou Fitz-Simmons fizessem contato, e ao que parecia, o modo de camuflagem do Bus estava ativado. Ela não conseguia rastreá-los e nenhum os agentes atendiam às ligações. Nem mesmo Maria Hill.

– Eu também não.

– Skye disse que se houvesse qualquer complicação ela me comunicaria imediatamente, mas ao invés disso… Todas as transmissões caíram! Ela não poderia nos comunicar de qualquer forma...

– Não podemos levar o Alan para o campo, May… Ele é só um garoto...

– Eu sei, Phil. - Melinda olhava o garotinho sentado do outro lado da sala, balançando as pernas e sorrindo enquanto jogava damas com Steve Rogers – Se ao menos eles pudessem nos comunicar alguma coisa… Mas nem Maria está atendendo!

– Acho que vamos precisar de reforços, May.

– No que está pensando, Coulson? - Melinda seguiu o olhar de Phil até encontrar o Capitão América.

– E no que mais poderia ser, Melinda? – a asiática sorriu de lado, enquanto assitia Alan ganhar mais uma partida de damas. – É hora de chamar os Vingadores.