A Nova Legião

Uma nova geração começa quando se é preciso.


O despertador tocava intensamente no meu ouvido, com a visão turva de quem havia acabado de acordar dava apenas para ver que eram 08h30mín de um dia que deveria ser inesquecível, e eu mal sabia que seria completamente diferente do que eu acreditava. Do meu quarto, percebi que era mais um dia comum em São Paulo, ou seja, com chuva. Até aquele ano não havia acontecido muita coisa surpreendente na minha vida, apenas estudos, provas, trabalhos, nada mais cotidiano e comum; porém, neste ano, eu gostaria de algo diferente, uma dose de adrenalina e novos horizontes; e assim eu decidi.

Desde a última década, as indústrias Stark obtiveram grande sucesso durante os projetos de conexão entre os grandes países de cada continente, entre eles o Brasil, Japão, Austrália, África do Sul, Inglaterra e os próprios Estados Unidos da América, procurando desenvolver em cada país, sua economia e a transição de pessoas, principalmente, de estudantes. A cada ano, um país solicitava dez alunos para um tipo de intercâmbio no prédio principal do renomado milionário Tony Stark, nos EUA; e naquele ano, eu enfim era um desses sortudos.

O avião irá partir de São Paulo em direção aos EUA às 15hrs em ponto, então eu deveria acabar de me aprontar, comer algo e zarpar para o aeroporto. Minha mãe parecia mais animada com essa viagem do que eu mesmo, mal acordara e já estivera preparando meu café da manhã e passando roupas que lhe pedi para levar na viagem; eu passaria cinco meses fora no início do intercâmbio, mas isso não afetou muito ela, por mais que eu achasse isso muito estranho.

De malas prontas, barriga cheia e um tanto quanto nervoso por ser a primeira viagem sozinho que faria em dezoito anos, eu estava pronto para ir; me despedi dos restantes dos familiares, pois só minha mãe me acompanharia até o embarque e assim seguimos caminho. Ao chegar na área de embarque definido pela Stark, dava para se ver um grande número de seguranças por todos os cantos, e todos os estudantes que passavam deveriam estar com um crachá que eles mandaram por correio e sua carteira de identidade; prendi-o e virei para encarar minha mãe, havia lágrimas em seus olhos mas não eram de tristeza mas sim, de emoção, como se um sonho tivesse se tornado realidade; fui em sua direção e apenas a abracei dizendo que logo mais estaria de volta e que ficaria tudo bem; limpando as lágrimas ela me dizia – “Lembre-se de tudo que já te falei hein, sobre festas, bebidas, pessoas estranhas e tudo mais. Se dedique muito pois essa é uma oportunidade única! ”. Como sempre eu apenas respondi com uma careta e uma risada e ela fez o mesmo; e lá estava eu caminhando em direção ao avião, e assim a nova jornada começava.

Estava em um sonho, tinha certeza disso, só não sabia o que estava sonhando ao certo, apenas via várias luzes e algumas explosões e uma mulher vestida com um traje vermelho escarlate, me observando, como se visse meu passado, presente e futuro e esperasse o que fosse acontecer. Com um pasmo eu acordara, ainda no avião e logo depois uma mensagem de voz da aeromoça dizia que estávamos adentrando no território americano. Aproveitando o tempo restante, comecei a olhar ao meu redor para as pessoas que eu iria conviver a partir daquele dia, havia quatro meninos e cinco meninas com as cores do Brasil em seus crachás; dois deles eram muito parecidos de uma certa forma e uma menina de cabelos ruivos como o fogo conversava com um menino loiro, e eu? Bem, eu não estava muito afim de fazer amizades agora, como o restante do grupo, mas todos nós já sabíamos que dividiríamos dormitórios. E com um alarme suave, a aeromoça nos avisara que havíamos chegado e que um representante de cada país iria nos chamar; e por ordem de alfabética fomos os terceiros a sair. Um homem vestido elegantemente para a ocasião nos explicava como seria nosso dia, os horários de cada visita, palestrar e almoço/janta, e que seríamos levados até as nossas hospedagens por um veículo híbrido que flutuava pelas ruas de New York sem ter que passar por semáforos ou vias de tráfego comuns. Já dentro do “carro voador”, um dos meninos cujo nome era Thalles, puxou conversa com o grupo e se apresentou, e assim, cada um fora se apresentando; os meninos eram: Felipe, que era muito parecido com o Thalles, Nelson, que possuía descendentes indígenas e gostava de ser chamado de Tomi, e Lyu, que possuía o mesmo nome que o meu então decidimos deixar ele como Lyu e eu como Lucas; as meninas por fim se chamavam Lorenna, Julia, Giulia, Helena e a menina dos cabelos ruivos de antes, Sabrina. Apresentações a parte, fomos compartilhando de nossas experiências antes daquela viagem e nos conhecendo melhor, até o motorista nos comunicar que havíamos chegado no território da empresa e da janela conseguíamos ver a imensa Torre Stark, e logo estávamos na porta dos dormitórios dos alunos.

Após arrumar nossas coisas no quarto fomos designados a um grande auditório, onde o diretor geral do Intercâmbio dos Cinco Polos se apresentou e nos informou de algumas regras e normas que deveriam ser seguidas à risca caso quiséssemos durar até o fim. Depois disso, mandaram um e-mail para nossos celulares com nossa grade curricular e horários diários, e o meu grupo teria que ir em uma visita ao laboratório Parker após o almoço.

Chegado o momento da visita, nos reunimos de novo no nosso veículo híbrido e fomos em direção ao laboratório; apenas acrescentando uma informação pessoal, de que eu sempre fui fã do trabalho de Peter Parker desde que ele herdou as empresas do Doutor Octavius e virou assim um dos grandes gênios do mundo ao lado de Tony Stark e Reed Richards, então eu estava meio que surtando, desculpem; a viagem foi rápida e logo já podíamos avistar o grande prédio com uma aranha escarlate como simbolização das conquistas de Parker como super herói. Com um salto do banco, Jujubs se aterrorizou com o enorme aracnídeo aumentando a cada vez que chegávamos perto. – “Mas eu não entro aí nem fodendo, olha o tamanho desse bicho nojento e horrível, argh. ” - Todos ao mesmo tempo, como um coro, começaram a rir mal sabendo que ela possuía fobia de aranhas e assim começamos a confortá-la. – “ Relaxa Ju, apenas não olhe para cima e peça para as assistentes, que não deixem você perto da área das aranhas. ” – Eu disse tentando reconfortá-la; - “ Não acho que você ajudou muito Japa, pela cara que ela fez” – Disse o menino índio,Tomi.

Assim que saímos do carro, cada um recebeu um jaleco e uma prancheta para anotar informações importantes e dados pessoais que deveríamos apresentar no guichê de entrada. Ao entrar fomos designados para várias atendentes e assim nos cadastrar. Depois de um tempo nos reunimos no salão central e esperamos o grupo até o último integrante que no caso foi a Sabs, ela entrou com uma cara de poucos amigos dizendo – “ Eles demoraram 10 minutos só para achar meu endereço, não acredito, só porque moro no Grajaú. “ – Resolvemos não comentar muito, afinal, ela era do Grajaú. E então fomos, sendo acompanhados por uma linda loira chamada Gwen Stacy, passamos por várias salas e mini laboratórios, onde vacinas e soros eram produzidos; uma sala de projetos de novas acomodações para futuros pacientes para análise; o incrível (ou temido) viveiro de aranhas cujas teias aguentavam mais de cinquenta toneladas quando esticadas e uma última sala que infelizmente não pudemos entrar por ser um soro secreto da Shield. Quase no final da visita fomos surpreendidos, como sempre eu não prestei atenção onde andava e esbarrei em um senhor, e ele se apresentou como Peter Parker, o próprio chefão e líder de tudo aquilo, estava na minha frente. Ambos se desculparam pelo descuido (pelo menos ele era desligado também) e ele cumprimentou a todos e seguiu caminho em direção a tal sala do soro secreto. Ainda pasmo com o aparecimento de um ídolo, Tomi e eu nos entreolhamos com a óbvia cara de fã – “ C A R A L H O, ERA ELE MESMO! “ – Disse ele. – “SIM MANO, ERA O PETER” – Concordei. – “Tudo bem fangirls, vamos andando, precisamos ir para os dormitórios e continuar nossa agenda programada para hoj... “ - Dizia Lorenna mas antes que ela pudesse concluir, ela fora interrompida por um enorme estrondo de explosões e tremores no edifício. – “ O que está acontecendo?! “ – Indagavam-se todos. –“ Esperem aqui enquanto eu confiro com o setor de segurança” – E saiu correndo corredores adentro. – “Não podemos ficar parados aqui sem fazer nada! ” – Gritou Lena tentando ultrapassar o som das explosões contínuos. Como instinto Lorenna e eu corremos em direção ao corredor que a senhorita Gwen havia seguido caminho, liderando o grupo. Pelo labirinto que havia se tornado aquele gigante laboratório, deparávamos com escombros e destruição por todo lado até nos depararmos com Gwen, caída aparentemente inconsciente, com uma parede perto de desabar. O grupo fora rápido e como se tivéssemos feito isso por nossas vidas inteiras, socorremos a cientista. Deixamos Julia na frente carregando Gwen, com Tomi ajudando-a; corria tudo bem até que fomos surpreendidos por uma explosão muito maior do que as anteriores e quando percebemos, uma parede se desabava em cima de nós. Mostrando grande agilidade Tomi empurrou Julia para um lugar a salvo e tentou voltar para ajudar o restante de nós, fracassando ao ser derrubado por destroços da explosão.

Eu ouvia os gritos de Ju de longe, como se ela estivesse à mil quilômetros de distância, chamando cada um de nós para se levantar, em vão. Provavelmente o meu pensamento era o mesmo de todos, iríamos morrer ali? Depois de tudo que havíamos conquistado? Com um serrar de olhos pude ver Lorenna e Giulia tentando se levantar, incapacitadas de se levantarem com o tempo passando diante de nossos olhos, o grupo foi desistindo, esperando o momento final chegar. Eu acordava e apagava em vários momentos, como se horas houvesse passado diante de mim. Ver novos amigos, que poderíamos realizar incríveis descobertas ali em diante, agora derrotados. Comecei a desistir, soltei meu corpo aos poucos, deixando de tentar sobreviver, meus ouvidos já não ouviam os gritos atônicos nem as explosões. Era o fim... ou parecia ser o fim. No último indício de vida, senti um abraço reconfortante no coração; o peso que havia antes de mim, não existia mais; e no lugar da parede de concreto havia dois braços me erguendo e me tirando da zona de perigo. Abri levemente meus olhos, sem acreditar se estava vivo ou não e apenas vi um vulto das cores azul e vermelho com uma grande estrela prateada entre elas e voltei a apagar.