A Noiva do Meu Pai.

Capítulo Único.


De volta para minha casa, ou seria minha ex- casa?

Eu não sei como Mindy conseguiu explicar tudo. Eu sinceramente não faço a mínima ideia. No entanto, meu pai deve ter achado estranho, seu filho nerd, que tinha ido a um “acampamento de verão” com sua suposta “amiga”, voltar para casa desmaiado e afogado. Eu não tive a chance de dizê -lo que estava salvando o mundo. Não acho também que vou dizê-lo. Meu pai certamente não entenderia. Não mesmo.

Eu sei que lá estava eu, abrindo os olhos. Fazia pouco mais de três meses que eu não o via. Teria engordado? Não. Ele ligava muito para o corpo para isso. Estaria namorando? Com filhos? Não. Três meses são muito pouco tempo para isso Dave Liweski. É óbvio que não.

Estranhei a princípio. Estou no meu quarto. Quer dizer, estava nele, não? Aquilo certamente não era o meu quarto. Não da maneira como eu o deixei. Ele estava arrumado. Era óbvio que estava. Isso não era coisa do meu pai. Ele não costumava se preocupar com arrumação. Acho que ele só entrou duas vezes no meu quarto até hoje. Não, também não tinha sido a Mindy. Ela já tinha se acostumado com minha bagunça. Quem teria sido então?

Era óbvio que tinha alguém. Não havia mais livros por todos os cantos. As roupas estavam guardadas no armário e até os restos de comida que eu eventualmente deixara por ali tinham desaparecido. Levantei-me da cama, voltando para ela rapidamente.

Mindy abriu a porta no exato momento que voltei as cobertas. Eu estava corando e ela percebeu isso. Céus! Quem tinha tirado minhas roupas? Onde estavam as malditas roupas molhadas? Eu preferia ter continuado com elas do que estar de frente com Mindy nu.

Ela não sabia disso, não é mesmo?

–Você está bem? – Ela perguntou. Era óbvio que eu não estava bem! Que pergunta!
–Estou indo. Ér... Onde está meu pai? – Perguntei. Estava muito desconfortável com Mindy ali. Eu não ia pedir uma peça de roupa para ela. Não mesmo.
–Ah. Ele? Já está vindo. Bom, por via das dúvidas, você não sabe nadar e se afogou no lago quando fugimos do acampamento. Caiu direitinho.

Mindy era muito boa com mentiras. Ela deu um leve sorriso que pareceu iluminar toda a sua face de anjo. Acabei tentando olhar para outro lugar antes que eu tivesse alguns incidentes agora que estava completamente nu. Não deu certo. Não deu nada certo. No entanto, fui salvo por meu pai que pedia para Mindy se retirar enquanto ele entrava. Ela prontamente o fez e eu peguei o meu travesseiro tentando esconder a proeminência de meu pai.

–Olá pai.– Disse completamente desconfortável. Meu pai tinha mudado muito. Não conseguia acreditar que ficar longe de mim tinha feito bem ao meu pai. Não era possível. Seria eu os problemas dele? Porque então ele estava um pouco mais gordinho? Com um sorriso no rosto? O que tinha acontecido naquele tempo enquanto eu e Mindy estávamos tendo alguns problemas combatendo os crimes por ai?

–Nossa pai! O senhor está ótimo! O que houve? – Perguntei e então decidi brincar com ele– Já sei! Decidiu aproveitar a vida enquanto eu não estava aqui né? Arrumou uma cozinheira de mão cheia? Uma namorada né? – Meu pai deu uma leve risada enquanto coçava a nuca, desconcertado.

–Não sabia que a Mindy já tinha te contado... – Ele mencionou. Obviamente, eu não esperava aquilo. Acabei ficando mudo, olhando meu pai que sorria afavelmente enquanto uma mulher entrava no quarto. Então era eu sair e meu pai arrumava uma. Eu não fazia nenhuma diferença? Era realmente assim? Bufei.
– O senhor foi rápido para quem perdeu o filho por três meses. – Mencionei. Estava tudo explicado. Porque meu quarto estava arrumado? Por causa daquela mulher! Porque meu pai tinha engordado? Por causa daquela mulher. Não é como se eu sentisse ciúme. Na verdade, eu realmente sentia. Eu e meu pai estávamos bem sozinhos. Fomos deixados assim por minha mãe e assim ficaremos. Não tinha porque uma mulher se intrometer na nossa vida. Éramos filho e pai.

–Você está crescendo e... Eu estava ficando sozinho. E aí apareceu a Susan...
–Então o nome dela é Susan? – Perguntei olhando para a mulher ao lado do meu pai. Ela tinha longos cabelos loiros e os olhos brilhavam transluzindo o azul deles. Tinha volumosos seios que estavam apertados pela blusa vermelha e usava uma faixa vermelha com bolinhas brancas nos cabelos sedosos, como se fosse uma camponesa de New Hempshire.

–Sim Dave. Essa é Susan, minha noiva.

Não. Eu achando que era namorada! Mas não! Ela era a noiva de meu pai! Não podia ser. Passei então pelo ridículo de esquecer que estava nu e quando me levantei já era tarde demais. Seja lá quem tinha tirado minha roupa molhada, ela se encolheu toda, colocando a cabeça no braço do meu pai para não me ver e eu aproveitei para procurar cuecas limpas. Eu me entendia bem mais na minha bagunça! Onde estavam minhas cuecas?

–Onde estão minhas cuecas? – Perguntei. Ela murmurou num muxoxo:
–Na primeira gaveta. – Abri encontrando cuecas organizadas em cores. Ela tinha se dado ao trabalho de arrumar em cores? Que fosse. Coloquei as primeiras que pude e vesti calças jeans pegando a primeira blusa que vi pela frente.
–Para onde você vai? – Perguntou meu pai, dessa vez de modo sério. Percebi que a tal de Susan chorava no seu braço. Para que tanto escândalo?
–Eu preciso pensar um pouco. Me deixem. – Não esperei que eles respondessem. Não queria resposta, se quisessem saber. Bati a porta do meu quarto sem me preocupar com o que eles falariam. Certamente seria eu que teria que consertá-la depois.

Mindy percebeu que eu estava indo até a praça próximo de casa e correu em minha direção. Não liguei para sua miniperseguição até que sentei no banco da praça para pensar. Era muito para mim. Três meses. Tinha passado tão rápido! Não podia ser tempo suficiente para que ele conseguisse arrumar uma noiva, não?

As árvores sacolejavam conforme o vento percorria-as. Parecia um pequeno concerto, onde os barulhos de adultos andando na noite fria se misturavam ao vento gélido que movimentava as árvores, fazendo -as perder folhas. Mindy também observava.

–Então eles te contaram? – Concordei com a cabeça.
–Você está chateado com isso? –Ela perguntou cautelosa. Virei-me para ela.
–Mindy. Foram só três meses. Como ele pode fazer isso comigo?

Ela voltou a olhar para o alto. As estrelas brilhavam no tom escuro que principiava sob a imensidão. Não demorou para que ela me respondesse:

–Já parou para pensar como deve ter sido angustiante para ele Dave? Pensa, agora, ao menos, ele tem alguém para cuidar dele caso algo aconteça com você. Não que algo acontecerá Dave. Mas... – Ela umedeceu os lábios para falar – Mas você é o Kick-Ass não é? Ele precisa de alguém. Não se sinta mal porque foram três meses. Ao menos agora ele tem alguém, não é mesmo?

Percebi quão idiota tinha sido da minha parte. Na verdade, Mindy tinha toda a razão. Eu não era mais o nerd que não fazia nada da vida. Embora meu pai não soubesse da minha dupla identidade, era necessário que ele tivesse alguém do lado dele. Para suprir minha necessidade.
Susan tinha surgido na hora certa.

Mindy me acompanhou de volta a casa. Os dois estavam preparando a mesa de jantar, o que achei engraçado, já que eles brigavam sobre que cor escolher.

–Verde.
–Azul.
–Verde! –Ela gritou e ele jogou o pano Verde nela que começou a gritar tentando tirar o pano da cabeça. Quando finalmente conseguiu tirar, ela percebeu que eu estava na soleira da porta, observando tudo e parou por um instante para me observar.

Eu sabia que tinha parecido um péssimo filho para Susan. Certamente ela esperava um garoto mais tranquilo, do tipo nerd que pouco fala e observa muito. Dei- lhe um sorriso, pegando -a de surpresa quando comentei:
–Bem Vinda a família Susan.

As coisas podiam ter mudado um pouco. No entanto, estava bem melhor. Meu pai já não estava tão fissurado em coisas como malhar até morrer. Estava até engordando um pouquinho! Olha que maravilha! E Susan nem parecia ser uma má pessoa. Ao menos o cheiro do guisado dela estava insuportavelmente bom. Estava, inclusive, me matando. Eu estava com fome. Nem me lembrava qual tinha sido a última vez que eu tinha feito uma refeição decente. Certamente fazia muito tempo.

Ela deu um leve sorriso e acabou sussurrando um “Obrigada”. Me senti mal. Era eu que devia dar o obrigado. Afinal, ela tinha cuidado do meu pai em toda a minha ausência. E olha, até que meu quarto não estava tão mal assim... Não. Realmente estava mal. Estava severamente mal.

–Só não toque mais no meu quarto. Por favor, Susan? – Ela riu e Mindy aproveitou para comentar:

–Ele fica brabo quando organizam o quarto dele.

No fim estava tudo certo. Nada de problemas. Eu até que podia me acostumar com Susan. Ela, talvez, fizesse bem ao meu pai. Afinal, estar no mundo lutando contra o crime não é nada fácil. Quem saberá o dia que morrerei? Não sei. Preciso estar vigilante. É melhor o meu pai com alguém. Assim ele poderá conviver com a minha possível morte.

Ser herói requer muitos sacrifícios e, certamente, ver meu pai com uma noiva é um deles. Ser herói, conviver com a dupla identidade. Precisava me acostumar com essa vida de perder a “normalidade” dos dias. No entanto, aquele dia, com certeza, não seria um deles. Eu estava com fome e o cheiro estava uma delícia.

É hora de comer antes que acabe. Todo herói precisa estar bem alimentado.
Obrigado Susan, essa comida está demais!

Fim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.